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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Preso por ter cão e por não ter

Há muita gente parva por essa blogosfera. Quanto mais leio os comentários a posts de bloggers mediáticos*, quer seja no Facebook quer seja directamente no blogue, tanto mais convencida fico: as pessoas são parvas, burras e gostam de bater no ceguinho. Se diz é porque diz, se não diz é porque não diz. Basicamente, as pessoas acham que estão no direito de se sentirem atacadas e isto sempre, mas piora quando o assunto é polémico. É mais ou menos como os velhos à porta do Centro de Saúde que falam mal da chuva que cai de uma vez como se falassem mal do Passos Coelho, com direito a manguito e tudo. As pessoas têm necessidade de se sentirem injustiçadas, de procurarem bodes expiatórios, de se defenderem contra-atacando, e isso mete raiva. Ou será que dá pena? Já nem sei.
Se um blogger, mesmo que nada mediático como eu, põe um post menos consensual, exprimindo aquilo que não passa de uma opinião pessoal, tem logo um rol de gente a maldizer, a criticar, a injuriar e a desejar a pena de morte para o autor do texto, como se não vivêssemos numa democracia do pensamento e da expressão individual. Podem dizer, mas, por essa ordem de ideias, os leitores também têm o direito de comentar como bem lhes apetecer e criticar quem bem lhes apetecer. Pois têm, respondo eu. Mas que o façam de uma maneira informada e respeitadora, sem passarem de imediato a acusações pouco fundamentadas ou a argumentos que, sinceramente, não têm ponta por onde se lhes pegue. E não estou a falar de discussões salutares, de trocas de ideias inofensivas e construtivas, estou mesmo a falar de gente com língua bífida e transtornos passivo-agressivos cujo passatempo preferido é procurar falhas nos outros and so on and so on.
Se eu acho que um blogger que leio expressa opiniões que vão totalmente contra aquilo em que acredito, o mais provável é deixar de o ler, não tenho que ir para lá criticar a forma de pensar alheia. Se um determinado blogue me irrita porque faz uso de demasiada publicidade gratuita, o mais provável é deixar de o seguir (como aliás já aconteceu), em vez de lá ir acusar a pessoa de fazer dinheiro com o blogue. Se eu sou gorda e não gosto que determinado blogger expresse a opinião de que os gordos são gordos porque se deixam andar e não por causa das desculpas que arranjam circunstâncias da vida, se calhar faria melhor em olhar para mim mesma e apurar o que raio me impede de deixar de ser gorda, em vez de acusar o outro, que nem sequer me conhece, de se estar a meter onde não é chamado ou de falar de boca cheia só porque é magro. Há com cada comentário de bradar aos céus que, se eu fosse uma blogger mediática, acho que me cansava disto. Como não sou, vou só ali retirar a opção dos comentários anónimos. Só por causa das coisas.

*Foram este e este posts que me inspiraram ao desabafo, mas este sentimento de descrença na saúde mental e emocional dos leitores de blogues já vem de há muitos outros posts atrás, deste que mencionei ou de outros blogues que sigo. Precisaria da tarde toda para dar mais exemplos, mas tenho de ir arrumar gavetas.

Querida Alice

Querida Alice,

às 37 semanas acabou-se o perigo. Nasce quando quiseres, mas, já agora, era bom que esperasses que a tua irmã ficasse boa da virose, que não estava nada a apetecer entrar em trabalho de parto enquanto a mais velha anda com febre a vomitar pelos cantos. Fora isso, está mesmo tudo pronto para a tua chegada.
Dica 1: o teu único tio direito está no país até ao fim do mês e acho que ele era capaz de gostar de te conhecer antes de se ir embora.
Dica 2: a tua mãe já não tem posição para quase nada, doem-lhe as costas e praticamente tudo o resto, levanta-se do sofá a gemer e curvada feita velhinha, não há casaco de inverno que consiga abotoar e o teu pai acha que ela passa o tempo a choramingar. Estamos na iminência de uma crise familiar...

Enquanto isso, a mãe agradece as palavras de apoio e esperança que lhe têm chegado e pede só que se refreiem de lhe perguntar de dois em dois dias se já nasceu. É que pode ser bastante enervante, tendo em conta que, a bem ver, ainda faltam 3 semanas para cumprir o tempo. Também dispensa as histórias macabras de como os irmãos mais velhos regrediram com a chegada do mais novo, a ponto de fazerem os pais recordarem a fase como "ai, foi mesmo horrível!", mas entende que certas pessoas tenham uma necessidade incontrolável de contar a sua experiência. Desejem-lhe mas é uma hora pequenina que, muito sinceramente, (Dica 3) para além de uma bebé sem cólicas, é tudo o que ela quer neste momento.

Até breve, minha pequenina.

A tua mãe, com uma barriga que chega ao Arco do Triunfo.

A culpa foi do Trifle

Sábado. Festa de aniversário da sogra com direito a jantar pré-festa e a almoço pós-festa. Uma alarvidade e uma indecência, se considerarmos a quantidade maléfica e a aparência perniciosa das sobremesas. Parece que também houve leitão, sopa de peixe, rissóis, pastéis de bacalhau e salada de polvo, mas foi coisa que não retive na memória. Lembro-me apenas daquele Trifle ma-ra-vi-lho-so, do outro Trifle também quase tão bom, da sobremesa de suspiros estilo Trifle (nota-se um padrão nesta família), da tarte de maçã e da deliciosamente enjoativa mousse de Oreo. Comecei no Trifle, acabei no Trifle, pelo meio ainda fui ao Trifle. Por mim ter-me-ia escondido atrás da tenda das bebidas com a taça de Trifle na mão e a concha da sopa, mas algo me impediu de o fazer. Certo é que há qualquer coisa de indecente na relação de uma grávida terminal (por que é que isto me soa a doença?) e uma sobremesa cheia de doces. E no modo como os outros nos olham, de sorriso aberto, quase a esfregarem-nos a mão nas costas e a darem-nos chapadinhas amigáveis, como quem diz "Isso, aproveita agora... Sua lambona!"

Ora.

Expectante

Tenho andando a refrear um pensamento que não me sai da cabeça. Como aquelas pessoas que preferem arranjar bodes expiatórios na inveja dos outros e no mau olhado da lua para os seus problemas ao invés de analisarem a génese da coisa como gente grande, eu meti na cabeça que a miúda vai nascer com a lua cheia. Espera, a miúda já tem nome! Confesso que, depois de 8 meses a chamar-lhe bebé, criatura, coisa, ela, miúda, aquela a quem serão renegados os direitos de primogénita para todo o sempre, tenho de fazer um esforço para me recordar do nome real... Alice. Alice. Depois, quando me lembro, gosto tanto, que me apetece repeti-lo até à exaustão. A Alice vai nascer esta semana - pensa o diabinho cornudo. Não vai, não, ainda não está no tempo - sussurra o anjinho no canto da orelha. Mas há já uns dias que parece que a sinto já com uma orelha de fora e a barriga que parece que já não está tanto lá em cima e cada vez que dou um passo depois de ter vindo da casa-de-banho parece que a bexiga continua a querer explodir e os sonhos em que me rebentam as águas em pleno espaço público à la filme preenchem as minhas noites tão bem dormidas (reparem na ironia) e depois a lua cheia é dia 17. E eu ainda com tanta coisa por fazer!

Que esta superstição não vos iluda. Não sou quase nada supersticiosa. Não gosto de ver o pão virado para baixo nem de tesouras abertas, mas fora isso não há nenhum medo popular que me tire o sono. Por isso não se explica bem esta minha ideia feita de que, lá porque uma nasceu com a lua (e não com o toque da médica nem as caminhadas infindáveis que dava nesses dias, não, nada disso), não quer dizer que a outra repita a façanha. Acho que é a ansiedade a curiosidade de saber como é ter um bebé recém-nascido e uma miúda de quase 3 anos que, apesar de o pai dela me contradizer neste ponto, gosta de enfiar os dedos nos olhos dos bebés e de os estrafegar com aquela meiguice só dela, a conviver na mesma casa, sendo que temos ainda o problema acrescido de o gato Dexter pensar que o berço para a Alice afinal era a prenda dos donos para ele e eu não saber como lhe dizer, sem ferir susceptibilidades felinas, que daqui a uns dias umas semanas vai ter de saltar de lá para fora.
Estou tão expectante que já não caibo em mim. Literalmente. O ponteiro da balança acabou de chegar a um novo recorde e eu já tenho a mala feita há 3 semanas. 

Reparem no ar tranquilizador do bicho: só para que saibas, tenho um olho meio aberto e as garras em riste prontas para te dar uma valente unhada ao mínimo movimento para me tirares daqui. 

Mãe ranhosa

A minha filha recebeu dois convites para festas de anos de meninos da creche que eu não conheço, num fim-de-semana que se adivinha solarengo e propício ao dolce far niente e em que não dava mesmo jeito nenhum ir para uma festa de putos, com cujos pais sou capaz de nunca ter trocado mais do que duas palavras, reunião de pais incluída.
Para resolver a coisa, mostrar-lhe como não é assim muito importante ir às festas, resolvi sondá-la quanto ao grau de familiaridade com os respectivos colegas.

- Quem é o C.? Não é da tua sala, pois não?
- Não.
- É de que sala?
- Não sei.
- Mas tu conhece-lo, sabes quem é?
- Sim.
- És amiga dele?
- Não. Sou amiga da .... (e enumera as 3 amigas preferidas), mas do C. não.

Resolvido. Venha o próximo.

- E a M.? É da tua sala?
- Sim, ela deu-me um chupa no outro dia.
- Ai deu? Porquê?
- Porque fez anos e fez uma festa na escola.
- Então já fez festa? Que bom saber isso!

(Isto faz de mim uma mãe ranhosa?)

Todos os nomes - agora, por fim, o único e derradeiro!

Imagem retirada daqui
Foi um parto difícil este, o do nome da mais nova.
Eu queria Alice desde o início, ele desde o início que se fez esquisito.
Falámos noutros nomes. Eu não gostava de uns, comecei-me a habituar a outros, ele não se decidia. 
Os meses foram passando e houve aquele dia em que eu me chateei a sério. No restaurante, quando ele anuncia que afinal já não queria Rita, o nome pelo qual eu já estava disposta a renunciar a Alice, e já me via a chamar a petiz da janela da varanda "Ó Riiiiiiiita, vamos comer!", estive quase a espetar-lhe com o garfo no olho direito. Juro. Foi assim por pouco. 
E foi então que o encostei à parede e lhe disse que não aguentava mais, que já com 8 meses precisava urgentemente de aprofundar a relação com a criatura, de lhe dar um nome, de imaginá-la com esse nome, fosse qual fosse, eu já estava por tudo, e voltei a fazer a lista com os meus nomes preferidos. 
Calhou ser no Porto, no último fim-de-semana romântico a dois que tínhamos planeado em Maio, calhou ser no restaurante da Dona Nanda onde o Miguel Esteves Cardoso foi com a sua amada Maria João que, entre o arroz de feijão e a salada de pêssego (que o MEC gabou como se se tratasse da melhor iguaria do mundo - é boa, mas não exageremos...), ele me disse, com a mesma cara com que me pediu para ir morar com ele e, calculo, com a mesma cara com que me pediria em casamento, se estivéssemos para aí virados, qual era o nome pelo qual já se tinha decidido há muito tempo, mas que achou que era giro fazer-me sofrer.
Podia ter-lhe, agora sim, espetado o garfo no olho direito por me ter feito esperar oito meses para me dizer que, não senhora, o raio da música não interessa para nada e, sim senhora, Alice é um nome giro para caraças, mas contive-me, dei-lhe muitos beijinhos, segurei as lágrimas* de emoção e ataquei a salada de pêssegos trauteando os nomes em silêncio, Inês e Alice, Inês e Alice, e concluindo que é, sem dúvida, uma combinação do catano!


* o raio das hormonas...

Todos os nomes - mesmo todos

Já ouvi muitas histórias de malta que escolhe o nome dos filhos só depois de eles nascerem. Nunca pensei que, chegada às 34 semanas, ainda não tivesse esta questão resolvida, mas é a mais pura das realidades. Não é que eu não tenha um nome escolhido e preferido, porque já toda a gente está farta de saber qual é. O pior tem sido acertar num nome de que ambos os progenitores gostem.

Para me inspirar, há tempos saquei uma app com todos os nomes permitidos em 2010 (a app chama-se SobreNome Optimus) e que me possibilita marcar os favoritos e criar, assim, a própria minha lista Top 19 (o desespero já é grande). O pior é que, tendo já percebido que tenho mesmo de tirar o cavalinho da chuva com Alice, não há nome nenhum que me encha as medidas. Até mesmo os nomes que tinha como segunda e terceira opções (Clara e Rosa) me parecem agora absolutamente desinteressantes e descontextualizados. O outro nome a que já me tinha vindo a habituar, Rita, foi recentemente posto fora de combate e sinto que, às 34 semanas, voltámos à estaca zero.

De modos que voltei a pegar na app e a refazer a minha lista. Daí resultaram 19 nomes favoritos, dos quais constam coisas esquisitas como Selma, que juro que não sei como lá foram parar. Mas é claro que me diverti imenso a percorrer a lista. Encontrei nomes que, de tão descabidos, chegam a ser engraçados e, se formos a ver bem, a pessoa é que faz o nome e não há nome nenhum a que não nos habituemos! Por exemplo, quem não gostaria de ter uma filha chamada Agonia (nas suas imensas variantes tipo Carla da ou Maria da), Anália ou Auxília, a Samaritana? Coisas impronunciáveis também estão no cardápio como Basilissa, Carsta ou Lízie. Depois há o grupo das Marias-Vão-Com-Todos, como Libertária e Marquesa (aquela das massagens). Curiosamente, Marilú não consta da lista, vá se lá perceber porquê.
Há ainda o rol das meninas que se adivinham muito viajadas, como Ásia, Argentina, Índia e Oceana, ou aquelas cujos pais querem fazer render desde o berço e que lhes dão nomes de marcas, pensando eles ganhar alguma compensação monetária com isso, como Mimosa ou Séfora (como sugeriu um amigo meu há pouco tempo, Milupa também havia de ficar bem). Os abomináveis nomes transferidos a papel químico do brasileiro, como Vanderleia e Iracema, do alemão, como Ingeborga, do hebraico, como Hadassa, ou do raio-que-o-parta, como Quaiela, já me aumentam a azia. 

Os exemplos são muitos e podia estar aqui o dia todo, mas o tempo urge e, por isso, prefiro dedicar-me intensamente à minha lista sensaborona de nomes comuns e tentar ter uma epifania, ou fazer o pai ter uma epifania, com um nome qualquer legível e pronunciável à primeira, preferencialmente com quatro ou cinco letras, que não seja demasiado linha-de-Cascais (coisas como Concha estão fora de questão) e que fique assim a meio da lista das presenças, que isto há que ser prático.