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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Contexto

Há alguém na Sapo que deve gostar muito de mim para já ser a terceira vez que me põem nos destaques. Noto-o pela afluência pouco habitual a posts que deveriam passar despercebidos. Estou grata por chegar a mais gente, mas quem aqui chega de pára-quedas num post que fala de saias e calças, poderá interpretar-me mal. Sinto-me no dever de dar algum contexto aos recém-chegados. Mas para o texto que tenho na cabeça preciso de mais tempo do que aquele de que disponho.

Com um pouco de paciência, chegará o dia em que vos contarei um pouco mais sobre o que me levou a não usar saias uma única vez durante 23 anos. Até lá, podem ir lendo os seguintes posts nos quais fui falando da minha sofrida viagem de auto-libertação:

 

Um longo texto autobiográfico ao estilo yes, you can!

É este o espírito

Da coragem

Um passo de cada vez

 

(Devia pensar numa etiqueta para isto...)

 

Podem também ver este vídeo e ler mais sobre o Body Image Movement que me tem inspirado ultimamente.

 

 

As modas não servem para nada

Passei 23 antes só à procura de calças e saias compridas nas lojas, condicionada pelas modas que nem sempre contemplavam os meus gostos/necessidades. Pode parecer difícil de acreditar, mas houve anos em que não se encontrava uma única saia comprida nas lojas que fosse apresentável.

Ontem, entrei numa loja à procura de saias curtas e só havia saias e vestidos compridos. "Agora é o que se usa", disse-me a senhora, de sobrolho franzido por eu não estar a par da estação. Já vem tarde, pensei eu.

As modas só servem para quem as segue.

Por sorte, umas horas antes tinha trazido uns retalhos lindíssimos da Feira dos Tecidos para fazer vestidos de praia para mim. Agora só tenho de arranjar tempo para os fazer e coragem para os vestir.

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Em casa

Hoje a mais velha ficou connosco em casa. Como temos de trabalhar, há que mantê-la entretida ao pé de nós a fazer "coisas importantes". Estou fascinada com tudo o que se encontra na Internet para entreter e estimular os petizes, desde desenhos para colorir, a jogos, labirintos, desenhos para encontrar as diferenças, you name it! Há pouca coisa em português de Portugal, mas muita coisa em português do Brasil e em inglês e para pintar ou encontrar o caminho certo num labirinto, as crianças não precisam de saber ler. 

Se algum dia precisarem:

 

- Desenhos para encontrar as diferenças, aqui.

- Labirintos para imprimir, aqui e aqui.

- Desenhos para colorir aqui.

- Desenhos para ligar os pontos aqui.

- A página da Crayola tem desenhos para todas as idades e gostos, para recortar, para desenhar, para jogar. É só escolher. Aqui.

 

E muito mais, mas a malta tem de trabalhar...

 

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Mamã

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Agora tinha de fazer contas, mas a Alice deve ter uns 18 ou 19 meses e ainda não fala.

Toda a gente acha que já devia dizer umas coisas, mas toda a gente acha sempre alguma coisa e nós vamos sempre respondendo com uns pois e uns tem tempo e não ligamos. Mas começa a fazer falta que se consiga exprimir e até nós já começamos a ficar impacientes, embora eu cá ache que ela só não fala porque não quer. Seja por preguiça ou sentimento de superioridade, o certo é que ela percebe tudo, diz tudo sem nada falar e tem uma expressão facial guardada para cada momento. No outro dia, ironizou com o pai à mesa ("Ela está a gozar comigo, não está?"), sem uma palavra dizer. Bom, na verdade em Abril disse pela primeira vez gato e mamã, mas depois disso voltou a calar-se e a meter-se na sua vida e só agora, durante estes dias quentes, é que começou a desenrolar a língua e a formular sons que se parecem com aquilo que nós queremos ouvir: não (a palavra preferida), mamã, papá, papa, não quero, morango. Ok, já estou a exagerar, ainda não disse morango, embora eu pudesse jurar que sim...

Ficamos sempre deliciados a olhar para ela, a sorrir e a dizer baboseiras parvas (virá algum pediatra dizer que não devemos dar demasiada importância a isto, mas eu acho irresistível ouvir a voz dela sem ser através de grunhidos). A malandra, que já goza com o pai à mesa, percebe que a casa pára de cada vez que emite um conjunto de fonemas e abusa do "mamã" à hora de deitar. Hoje, por exemplo, a Alice não achou muita piada ter ido o pai deitá-las e emitiu um mamã tão bem pronunciado, tão doce, tão sôgrefo, tão desesperado, tão nasal que quase desfaleci de tanta ternura.

Ouvir mamã pelas primeiras vezes é capaz de fazer parte daqueles momentos reveladores em que a maternidade faz todo o sentido. Vou tentar lembrar-me disto quando ela voltar a atirar a sopa para o chão.

Sabor a férias

Ainda não sabemos muito bem como vão ser as férias este ano. Eu já tive uns diazinhos em Berlim e em Agosto teremos mais uns dias naquele sítio especial. As férias prolongadas estamos a pensar tirá-las, como de costume, no Outono e ir para longe da chuva e das folhas caídas. Mas, não sei se é por viver na praia, trabalhar em casa e não ter de correr para lado nenhum a não ser no pontão, temos a sensação de que estamos sempre de férias e de vez em quando trabalhamos. Na verdade, eu até trabalho muito, não se pense que é só rambóia. Mas trabalhar para nós tem outro gosto e às vezes até sabe a praia e piscina - porque posso levar o computador para o Algarve e trabalhar enquanto elas dormem a sesta, sem ter de dar satisfações a ninguém. Não me canso de dizer: a liberdade continua a ser a melhor parte de trabalhar por conta própria. Isto de poder decidir quase em cima da hora pegar nas miúdas à quinta-feira, ir para o Algarve e só voltar no domingo.

Elas adoraram. Nós também. As birras deram lugar a muito calor, mar e areia. Também houve piscina, onde a minha filha mais velha brincou em estrangeiro e a mais nova descobriu várias novas alegrias. Eu andei sempre de vestido e calções a pensar em tudo aquilo que deixei de fazer ou nunca quis experimentar por causa do meu pé, mas que que agora vou começar a fazer (por exemplo, piscinas públicas, spas, caminhadas longas, standup paddle, entre muito mais coisas, mas não vos quero cansar).

Agora, de volta à rotina, trabalhamos com afinco para, no fim-de-semana, voltarmos a partir por aí.

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Um passo de cada vez

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Sabem quando saem de casa e têm a sensação de que se esqueceram de alguma coisa importante, as chaves, o telemóvel, a carteira? Procuram na mala, nos bolsos, e encontram tudo aquilo de que precisam, mas, mesmo assim, continuam a sentir que se esqueceram de alguma coisa? Assim estou eu, neste primeiro dia que saí à rua de vestido curto. Mais do que medo ou vergonha dos olhares alheios, é esta sensação constante de que me falta alguma coisa. Um dos meus pesadelos recorrentes, que tenho em períodos de mais stress, é sair à rua de saia. O que para muitas pessoas é uma coisa perfeitamente normal, a mim causava-me suores frios. Por isso, achei bastante normal que hoje, a primeira vez que saí de casa de saia curta desde os 12 anos, me tenha sentido como estando a viver um dos meus pesadelos de sempre. Mas, mesmo assim, fiz o passadiço todo até à praia, fui e voltei do café, fui ao supermercado, fiz conversa com a senhora da caixa e fui almoçar a um restaurante onde abri a porta para uma sala cheia. Se me encolhi? Houve alturas que sim, que fiquei zangada por me ter colocado nessa situação. Mas a verdade é que tenho calor e o vestido sabe bem. Ainda não o tirei e vou mantê-lo até à noite onde vou a outro restaurante com sala cheia. E estou cada vez mais a borrifar-me para o que pessoasque não me conhecem possam pensar de mim. Um passo de cada vez.

O impensável

Eu não o conheço de lado nenhum, mas faz parte do meu Top 10. A notícia da morte do seu filho de 15 anos deixou-me muito triste e relembrou-me, como me relembra sempre uma notícia deste tipo, que nenhum pai está imune a uma tragédia deste tipo. Gela-me o sangue só de pensar que me pode acontecer a mim. Às vezes penso nisso, quando um carro passa depressa demais na estrada, por exemplo. Logo afasto o pensamento e penso que o presente é o que temos de mais precioso.

 

 

Da coragem

Tinha 12 anos da última vez que usei uma saia acima dos tornozelos. Hoje, aos 35, entrei numa loja com o propósito definido de experimentar um vestido curto. Quase não me reconheci. E gostei. Tanto que entrei em mais lojas e acabei por comprar três vestidos curtos e dois calções (confesso que aqueles calções cor-de-rosa foram um desvario dos saldos e fruto imperdoável do entusiasmo...). Tenciono usá-los, fora de portas, sem calças, ainda este verão. Decidi isso há coisa de pouco tempo, já aos 35 anos, que é aquele marco simbólico que, na minha cabeça, faz sentido existir. Quando lho comuniquei, ele respondeu-me: "Não sei porque não o fizeste há mais tempo. Ou melhor, sei. Mas era inevitável. Já estavas no bom caminho há algum tempo."

Este texto, e especialmente a frase em que ela diz "(...) people are going to stare at you. They’re going to have ideas about you. The only thing that you can control is your reaction to that." foi o que me inspirou a tomar a derradeira decisão. Mas esse texto foi apenas a gota de água. O trabalho a sério já vem a ser feito há anos... Praticamente desde que o conheci, ao meu amor. Foi por causa dele que cheguei aqui, com a ajuda dele. É por ele, mas é essencialmente por mim. 

 

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P.S. - Entrei ainda numa quarta loja, de outro tipo, à procura de um gafanhoto de plástico. Decidi seguir a sugestão de uma querida leitora (Olá, Dulce!) e comprar um gafanhoto de plástico para ter cá por casa e ir perdendo o medo (glup). Tinham aranhas, baratas, carochas, moscas. Não tinham gafanhotos. Azar. Isto da coragem às vezes só se tem uma vez...

Vantagens de viver fora da capital

Sem contar com a praia aqui ao lado, o espaço ao ar livre, ir a pé para a escola das miúdas (ok, só às vezes), a minha jardinagem, ginásio com PT a metade do preço de qualquer ginásio em Lisboa e a sensação de viver constantemente acompanhada (o lado bom da falta de anonimato), descobri agora as massagens de relaxamento* a 8 euros. Também acho que adotámos mais um felino.

É que não quero mesmo mais nada.

 

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* pronto, é só na cervical/lombar, durante meia hora e ainda tenho de levar com sacos quentes nas costas antes da massagem propriamente dita, mas 8 euros??

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