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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Saudades de Berlim

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Está a fazer um ano que voltei a Berlim. Tenho sempre muitas saudades desta cidade e guardo a certeza de que, por muitos anos que passem e por muitas vezes que volte, nunca perderei este sentimento de pertença, a sensação de estar em casa sempre que lá estou. Quando voltei o ano passado, a minha filha mais velha ficou fascinada com os relatos da língua esquisita, dos gelados com sabores exóticos, dos cafés de gofres, das drogarias que vendem sais de banho às cores e shampôs de princesa em miniatura e da existência de parques infantis em cada esquina. Fez-me prometer que a levaria lá. De vez em quando pergunta-me: "Mãe, quando é que me levas à Alemanha?" E eu, que de bom grado lá voltaria todos os anos, digo-lhe apenas: "Um dia, minha querida, um dia."

Amoras

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Não cozinho muito, mas sou a mulher dos pequenos-almoços, dos snacks e dos lanches. Agora tenho uma nova bíblia, esta, de onde tenho retirado inspiração para as minhas manhãs e meios da tarde. Nesta mousse de chia e manga, a receita original não leva frutos vermelhos, mas não costumo comprar amoras, são raras e caras, por isso quando as tenho, todas as desculpas são perfeitas.

O fundo das coisas

Ultimamente tive uma série de crises de ansiedade que se revelaram inúteis. A divisa irritante de que a vida se resolve sozinha mostrou ser, afinal, fidedigna. Não valia a pena ter passado meses a debater-me com uma questão que, no final, acabou por ser bastante simples. No seguimento disto, percebi que quanto mais importância dou às coisas, quanto mais falo delas ou penso nelas, mais elas crescem em mim, tomando proporções por vezes desajustadas que só me causam ansiedade. E depois volto ao início. Isto parece um bocado como a lógica da batata, mas sinto que cheguei a uma grande conclusão.

 

E foi assim que resolvi deixar de dar tanta importância a certas coisas. Talvez até comece a ler sobre Mindfulness e isso. Fiz ontem um exercício para ver se resultava e correu bem. O exercício consistiu em não fazer nada sobre uma coisa que aconteceu, não falar sobre ela, não ligar, simplesmente deixar ir. E a verdade é que deixei de pensar nela. Depois, por um feliz acaso agraciado pelo bom tempo que tudo seca, consegui ver o fundo ao cesto da roupa suja, que era coisa que não acontecia há uns largos meses. Mesmo que seja feito para não durar muito, é sempre bom ver o fundo às coisas.

Facadinhas

Acabei por ter de ir trocar a prenda da Zara e constatei que 1) ir às compras de roupa quando se decidiu passar a comprar de forma sustentável e consciente é como ir ao supermercado quando se está de dieta: apetece comprar exactamente aquilo que decidimos não voltar a comprar, e 2) era bem mais despreocupada antes de ter visto o The True Cost. Precisei de dar 3 voltas à loja a inspeccionar todas as etiquetas. Ainda assim, consegui encontrar duas peças de roupa Made in Portugal: uma blusa que não me ficava bem e um camiseiro em linho que acabei por trazer (a par de uma coisa giríssima feita na Índia, mas facadinhas na dieta damos todos...).

 

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Guarda-roupa sustentável

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Desde a primeira vez que escrevi aqui sobre a questão de saber o que se compra, isto é, comprar com consciência, saber de onde vem a nossa roupa (extensível a todos os produtos que compramos, desde brinquedos a comida), quem a fez e em que condições, a par do impacte ambiental das nossas escolhas, aconteceram algumas coisas que gostaria de partilhar convosco.

 

1. Escrevi à Lanidor e à Salsa a perguntar sobre as políticas de ética e responsabilidade das marcas. No caso da Salsa, perguntei ainda especificamente porque é que tenho um par de calças Made in Portugal e os restantes Made in Tunisia e Made in India. A Salsa respondeu de imediato e passo a citar:

"(...) a Salsa é uma marca portuguesa, e como tal, todo o valor acrescentado dos nossos produtos é criado em Portugal, desde o estilismo, design, modelação, escolha de matérias primas, confecção, lavagens, acabamentos finais, etc. … Para ter uma ideia, temos uma lavandaria (em Vila Nova de Famalicão) com mais de 150 especialistas que efectuam manualmente os acabamentos dos nossos jeans, mesmo que não tenham sido totalmente confeccionados em Portugal.

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A Salsa é uma marca global – estamos presente em mais de 35 países - e estamos em concorrência directa com as marcas mais conhecidas no mercado dos Jeans. Neste sentido existem algumas situações em que para conseguirmos manter-nos competitivos efectuamos parte do processo de confecção noutros locais. O que podemos assegurar é que a maior parte do valor acrescentado associado à nossa actividade fica associado a Portugal.
No processo de selecção de fornecedores internacionais asseguramo-nos que cumprem os mesmos padrões de qualidade e respeito pelas normas de trabalho que os fornecedores nacionais."
Traduzindo em miúdos: para manter os preços competitivos, recorrem a mão-de-obra mais barata. No entanto, afirmam estar atentos (acham eles) às condições em que isto acontece. Eu acho que estão a tentar deitar-me areia para os olhos, mas agradeço a disponibilidade de resposta e transparência. Irei estar atenta às linhas Made in Portugal.
 

A Lanidor não respondeu. 

 

2. Durante este tempo, não comprei uma única peça de roupa para mim. Têm-me valido as roupas que herdei da minha avó e que tenho vindo a modificar para que me assentem na perfeição e não pareça que ando de bata. De vez em quando, lá faço uma ou outra peça.

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O vestido preto foi mandado apertar (confesso que não sei apertar roupa) e tem sido bastante usado em celebrações. O vestido verde estava todo alinhavadinho e só precisou de ser cosido à máquina. Das roupas da avó, ainda tenho dois vestidos prontos a usar, à espera do Verão, mais três vestidos e quatro saias neste momento na costureira. Com tanta roupa "nova", acho que não vou precisar de comprar trapos novos este Verão.

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Nos anos, recebi uma peça da Zara dos meus cunhados que, uns queridos, me disseram que se viram gregos para encontrar alguma feita que não fosse feita na Índia ou na China. É giro ver como as pessoas se esforçam quando conhecem os nossos valores. Acabaram por me dar uma túnica feita na Turquia, porque foi o mais próximo da Europa que encontraram :) Valeu o esforço, além de que, como não sou fundamentalista, vou certamente usar o que me deram com muito gosto.

 

3. Para as miúdas é mais difícil. Não tenho tido tempo para lhes fazer a roupa que gostaria e o facto de estarem em crescimento faz com que me custe dar o triplo do preço por uma t-shirt que vai ser usada apenas durante 6 meses. Por isso, no outro dia fui com elas à H&M. Optei pela linha Conscious, mas tenho plena consciência que não foi a melhor escolha. Redimi-me com um upcycling de roupas e a compra de três camisas para a Alice feitas à mão por uma senhora que encontrei na Etsy

 

4. Tinha prometido publicar aqui uma lista de marcas de roupa éticas e sustentáveis, mas a verdade é que não sou nenhuma autoridade no assunto e percebi que a minha pesquisa nunca terá fim. Tenho alguns nomes, mas além de não querer fazer grande publicidade, não tenho a certeza de constituirem uma solução definitiva e inequívoca de moda consciente. Isto é, o facto de uma marca se autodenominar de "nacional" não quer dizer que as roupas sejam cá feitas (vejam o caso da Salsa), ou o facto de na etiqueta dizer Made in Portugal não quer dizer que essa roupa tenha sido inteiramente feita em Portugal. Sobre isto, chamo a atenção para o Manual da Origem das Mercadorias, que elucida este ponto na página 11:

"Quando dois ou mais países estão envolvidos na produção de uma mercadoria (é o caso na maioria dos produtos manufacturados), o artigo 24º do CAC estabelece a “última transformação ou operação substancial” como o factor decisivo para a determinação da origem da mercadoria em causa. Assim, nos termos do CAC, um produto obtém a origem do país onde teve lugar a última transformação ou operação de complemento de fabrico substancial, desde que:

- seja economicamente justificada;

- seja efectuada numa empresa equipada para esse efeito;

- resulte na obtenção de um produto novo ou represente uma fase importante do fabrico.

Os dois primeiros requisitos são: a de que a transformação ou operação deve ser a última e deve ser substancial. Estes dois requisitos têm de se verificar em simultâneo, uma operação substancial que não é a última já não cumpre a regra, podendo, igualmente, acontecer que a última operação efectuada não seja substancial."

Isto é tudo muito chato e complicado, especialmente para quem vive sem tempo para grandes reflexões. Por isso, o melhor é cada um, sem fundamentalismos, adoptar estratégias que melhor se adequem a si. Quem não tem jeito para a costura, pode mandar fazer ou transformar roupa, em vez de a deitar fora; vender e comprar roupa em segunda mão ou apoiar aquelas marcas pequenas que se encontram no Facebook e no Etsy. Quando comprarem nas grandes cadeias de roupa, procurem as linhas sustentáveis. As grandes marcas já vão tendo linhas que apostam na redução da quantidade de água usada na confecção da roupa, que usam algodão orgânico, ou até mesmo que apoiam determinadas associações de beneficiência.

Estas são algumas opções a que já recorri ou que considero para mim, mas estou aberta a novas sugestões. O meu guarda-roupa atual não é de todo sustentável, mas para lá caminha. Não sou fundamentalista, nem gosto de andar a pregar e impor os meus valores a outros. Ainda assim, acho que o melhor seria mesmo reduzir o número de roupa que compramos e nisso acho que estou a fazer grandes progressos. O meu não é ainda um roupeiro cápsula, mas sou a pessoa nesta casa que tem menos roupa e que vive bem com isso.

Desejo para os 36: serenidade

Amanhã faço 36 anos num dia de maio chuvoso. O início de maio tem este dom de ser sempre imprevisível. Já houve anos em que fiz piqueniques em Monsanto e outros anos em que a chuva me obrigou a alterar os planos, como agora. Não gosto de chuva, mas gosto de fazer anos. Gosto muito de fazer anos. Continuo a sentir aquela alegria de criança e o desejo de que todos me façam as vontades neste dia. Gosto de estar rodeada pelas pessoas mais importantes da minha vida e costumava sempre juntar muitos amigos neste dia. Mas este ano, à semelhança do ano passado, optei por estarmos só em família. Confesso que não me apeteceu ter trabalho a organizar uma festa, pensar num sítio, num menu, na decoração (e depois limpar no dia seguinte), decidir quem vou convidar e chegar à triste conclusão que tenho poucos amigos e, ainda por cima, alguns deles moram noutros países e continentes. Isto dos amigos dava um post, mas o fim dos 35 já me está a dar demasiado que pensar, por isso este tema ficará para outra vez. Se. Não ando com muita vontade de partilhar a minha vida.

 

Dizem que a idade traz maturidade, por isso o meu desejo para os 36 é apenas um: acordar com um pouco mais de serenidade. E iniciar a minha despedida do Inverno - o Inverno que tem o dom de nos esconder e fazer esquecer que não precisamos de nos esconder. É hora de recomeçar a caminhada. Com muita serenidade.