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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Hora da lamechice



Uma das rotinas preferidas durante a minha licença era a hora do banho. Quando todos saíam de casa e ficávamos as duas sozinhas, deliciava-me na preparação do banho, antevendo aqueles momentos ternurentos de namoro prolongado com a minha (já não tão) recém-nascida.
Desde que voltei ao trabalho, é esta a rotina que mais me custou a mudar. Não me custou assim tanto voltar a trabalhar como pensava que me iria custar, nem me custa (muito) deixar a Alice no berçário. Custa-me, sim, saber que só a posso ir buscar a partir das quatro e meia e saber que agora os banhos são dados à pressa no fim do dia, enquanto supervisiono a mais velha que também quer participar e passo por cima do "namoro" porque tenho de ir a correr preparar a papa ou outra coisa qualquer.

Ontem, contudo, ficámos inesperadamente sozinhas em casa ao final do dia, eu e a Alice. Enquanto o pai não chegava com a mais velha, deliciámo-nos as duas num banho prolongado com direito a creme, massagens, brincadeiras e muitos beijinhos. Foi um consolo.

Penso muitas vezes que gostava de parar o tempo e mantê-la assim bebé para sempre, de pezinhos descalços e sorriso fácil. Mas depois olho para a mais velha e vejo-a tão espectacular que só me resta repetir as palavras do pai, num momento especialmente divertido que ela nos proporcionou há dias: 
"Se ter uma filha assim é tão espectacular, imagina duas?".

Agora que penso nisso, a culpa foi do queijo

Depois do pesadelo da noite de ontem, cujo total de horas dormidas não deve ter ultrapassado as três, quando hoje acordei às duas e meia da manhã, depois de estar a dormir há 3 horas sem interrupções, senti-me profundamente feliz e afortunada. Dormir 3 horas sem interrupções é, desde há várias noites, uma bênção dos deuses. Como sempre que acordo feliz e recuperada me costuma dar a fome, antes de voltar ao quarto ainda passei pelo frigorífico e roubei uma fatia de queijo que é daquelas coisas que gosto de comer no escuro (whatever).

Tivesse eu sabido o que me esperava no quarto e tinha-me demorado um pouco mais à porta do frigorífico. Entre amamentar a Alice e perceber que o motivo por que ela não conseguia voltar a adormecer era fome (maminhas já viram melhores dias) passaram três horas, (caso não tenham percebido: 3 horas), durante as quais houve tempo ainda para acudir à mais velha, que acabou por se vir enrolar na nossa cama, e adormecer a mais nova ao colo, tal era já o desespero. Quando voltei a adormecer, já perto das seis, ainda levei com uma série de pontapés da mais velha para acordar com o despertador pouco depois e não acreditar muito bem no que me estava a acontecer. Só acreditei quando me olhei ao espelho e percebi que, no lugar da cabeça, tinha uma grande e redonda bola de râguebi. Ou qualquer outra coisa de forma e tamanho semelhantes.

Coração de mãe

São quase cinco da manhã e eu só consigo pensar que daqui a umas horas vou deixar a Alice no berçário pela primeira vez.

Quem diz que ao segundo filho custa menos é um grande mentiroso.

(Além disso, não dou de mamar há 24 horas e não sei o que sinto mais vazio, se as mamas ou o coração.)

Liberdade

Amanhã celebra-se a liberdade.
Ontem a pediatra da Alice deu-me uma nova razão para celebrar a liberdade.
"Mãe, o seu leitinho já não chega. Está na hora de passar para o leite artificial."

Eu, que sempre achei isto do leite materno já não ser suficiente 1) um azar do catano, 2) sabedoria popular de pacotilha e 3) uma boa desculpa para as mães beberem vinho, senti-me a ser atropelada por um camião TIR. Daqueles com atrelado e com carga até ao tejadilho.

Apesar de já saber que a Alice não andava a engordar o que era suposto e de ter optado por iniciar as papas e sopas mais cedo do que o previsto, não estava preparada para isto. E, apesar de achar que dar de mamar depois dos sete, oito meses não é para mim, deixar aos cinco parece-me demasiado cedo.

A porra é que me custa imenso começar a separar-me dela, cortar este vínculo tão íntimo, tão nosso, que me custou tanto a conquistar para agora ter de ser numa questão de dias.

E depois a sacana também não está para aí virada. Biberão? Mas que merda é esta?!? E como eles sentem a nossa ansiedade, a magana hoje já nem a sopa quis comer e eu estou aqui assim numa espécie de frangalho a pensar que, se calhar, adiava bem aquele copo de Merlot por mais duas semanas de amamentação.

Mas é o que temos e não vale a pena chorar. Só espero que o primeiro copo de vinho que beber seja bem melhor que um Merlot.

O importante é não perder a compostura

No fim-de-semana passado fui a um baptizado e levei uns sapatos de salto que, não sendo muito altos, a meio da tarde já me provocavam um desconforto tal que nem conseguia descer escadas sem parecer uma atrasada mental.
Foi assim, nesta tormenta, que levei a Alice ao piso inferior para lhe mudar a fralda. Sem elevador, as escadas de acesso eram bastante íngremes para o meu sapatinho de donzela e, muito pouco habituada a estas andanças, comecei a descer as escadas uma a uma, tentando equilibrar-me com a bebé meio deitada num braço e o fraldário na outra mão. Lá em baixo vinha uma outra mãe, daquelas que fica logo linda e vaporosa depois de sair da maternidade, com um corte de cabelo todo fashion e óculos escuros à diva, a subir as escadas tal qual uma pluma de pavão (já tinha reparado nela e proferido interiormente uns quantos nomes feios).
Ora eu, que gosto pouco de fazer figura de anormal, achei que não lhe iria ficar atrás, mesmo que não me tivesse penteado para o evento, muito menos aquela coisa do vaporoso, e resolvi descer também eu as escadas qual pluma no ar, leve como uma donzela e sem ter de olhar para baixo porque "saltos é o meu nome do meio"!
Esqueci-me foi que levava uma bebé nos braços e que as escadas tinham um corrimão à altura do meu cotovelo. Na verdade, eu não me esqueci. Na verdade, eu suava por dentro a tentar equilibrar-me sem deixar cair nada, fraldas ou bebé, mas tão focada em não deixar cair nada acabei por me esquecer de afastar a cabeça da Alice da parede.
E foi então que o inevitável aconteceu. Ao dar balanço para descer as escadas sem parecer uma anormal  (percebo agora que não me saí bem), dei com a cabeça da Alice no corrimão. 

Esta é a parte em que vocês esperam que eu diga que parei imediatamente de descer, examinei a cabeça da piquena e a acalmei, alheia a tudo o resto. A história acabava aqui com uma boa lição de moral, certo? 
Errado.

Houve aqueles dois segundos de espera entre bater com a cabeça e começar a chorar. Foram dois segundos de profunda esperança. Esperança de que ela não se tivesse aleijado a sério, mas, principalmente, que ninguém tivesse dado por nada, sobretudo a lambisgóia de penteado fashion! Foram dois segundos em que ainda consegui descer mais um degrau como se nada fosse, a tentar equilibrar-me sem deixar cair nada e a cerrar os dentes com aquele sorriso amarelo não-se-passa-nada.

A lambisgóia, provavelmente, não devia estar a acreditar na negligência que acabara de testemunhar, pois ainda parou a meio das escadas, talvez com a intenção de me avisar "Olhe que a sua bebé bateu com a cabeça...". Mas eu, como se nada fosse, achei por bem nem dar pela sua presença e fingir-me surpreendida quando a Alice, por fim, abriu a goela. 
- Oh, bebé, o que foi bebé? Tem a fraldinha cheia, tem?

A lambisgóia seguiu caminho e eu, quando cheguei lá abaixo, ainda encontrei uma amiga à porta da casa-de-banho a quem confidenciei, com o ar mais natural do mundo:

- Nem sabes, acho que acabei de dar com a cabeça da Alice no corrimão...




* Para que conste, está tudo bem com a Alice. E, até a lambisgóia se ir embora com o seu rebento-capa-de-revista, fui muito bem-sucedida em escapar-me da sua vista.

Dos segundos [versão actualizada]



A propósito deste artigo da Up To Lisbon Kids sobre ter um terceiro filho, e eu que (ainda só) vou no segundo, vai  não vai lembro-me de algumas diferenças sobre a forma como as minhas duas foram/são recebidas neste mundo.

Começando pela diferença abismal do número de visitas no hospital e em casa na era do puerpério (salvo os avós e dois casais amigos, a Alice foi praticamente ignorada por toda a gente) e do tipo de prendas que recebemos para ambas (enquanto a primeira recebeu desde roupa a brinquedos, linhas completas de cosméticos e banheiras, a segunda foi corrida a rocas...), a Alice leva com todos os brinquedos e roupas usadas da irmã e é se quer. As roupas ainda as lavei antes de as usar. Mas os brinquedos foram directamente da caixa onde estavam guardados há dois anos para a boca dela. Nem vale a pena dizer que, quando foi da Inês, esterilizava tudo e um par de botas. Pelo menos até perceber que não era preciso cair em exageros.
O tipo de fraldas usado também sofreu uma grande alteração. Na verdade a marca nem importa. O que importa é a promoção. Só sou esquisita com as toalhitas, que compro na farmácia, mas de resto a mais nova é muito pouco dada a frescuras. Tanto que, à força de ter a mais velha para deitar, ler a história e o diabo a sete, a Alice aprendeu a adormecer sozinha bem cedo.

Isto são as coisas óbvias.

Depois há aquelas nuances da segunda maternidade mais relaxada como quando saio à rua sem fraldas nem toalhitas, a miúda bolça e eu limpo com o que está mais à mão: a écharpe. Assim como assim, ando sempre despenteada, com nódoas de bolçado e a cheirar a papas e leite azedo.
Sim, porque há coisas que nunca mudam.

Isto já passa

Belém
Há dois anos passei por uma família francesa que viajava por Portugal de bicicleta e levava o seu filho pequeno num atrelado. Descobri-lhes a página no Facebook e ainda lhes segui as aventuras durante algum tempo, mas entretanto perdi-lhes o rasto. 
Este Verão, o pai das minhas filhas subiu ao Pico e, durante a subida, conheceu uma família com duas filhas que tinha ido acampar com as miúdas lá para cima. Ainda hoje ele fala nisso e em como gostava de levar as suas filhas a fazer o mesmo daqui uns anos.
O ano passado, ou há dois anos, já não sei bem, a família viajante mais mediática de Portugal começava uma volta ao mundo com uma criança de 5 anos, deixando muitos horrorizados com a ideia de levar uma criança tão pequena para destinos tão longínquos e exóticos, outros surpreendidos com tamanha coragem e ainda outros, como eu, com a garantia confirmada de que ter filhos não tem de ser impedimento para nada e que está tudo nas nossas cabeças. É claro que tem de haver dinheiro para isso e uma série de condições favoráveis, como a mobilidade do trabalho de, pelo menos, um dos progenitores. Mas reunindo-se essas condições, é só mesmo uma questão de mudar o chip.
Há poucos dias, li a notícia num blogue de que gosto muito de que esta família com dois filhos decidiu largar tudo e partir em viagem durante um ano. A única diferença dos casos acima citados, é que estas crianças já estão em idade escolar. Para não perderem o ano, os pais vão ensiná-los em viagem de acordo com o programa curricular, em regime de homeschooling.

Sesimbra
Depois do sentimento inicial de inveja, fiquei maluca. Comecei imediatamente a pensar que nós também nos devíamos atirar para uma aventura destas. E quando. Quando as miúdas tiverem pelo menos cinco anos, para que as memórias da viagem não se desvaneçam com as dores de crescimento. Tendo em conta que a Alice nasceu há poucos meses, isso dá-nos uma margem de cinco anos para começar a poupar e planear, o que acho que é razoável, tanto para aprofundarmos esta ideia como para a largarmos de todo (o mais certo). Imagino, com um encolher de ombros, o que os avós iriam dizer. Mas imagino, com um sorriso nos lábios, as marcas profundas que uma viagem deste tipo poderia deixar nas minhas filhas. O que lhes poderia ensinar, sobre elas, sobre os outros, sobre elas com os outros, sobre a entreajuda familiar, sobre o desapego aos bens materiais, sobre o aproveitar o aqui e o agora, sobre isto e tanto mais, tanto mais.
Muitas vezes penso que me faltou dar uma volta ao mundo antes de ter filhos. Como se a porta se tivesse fechado permanentemente agora que já tenho duas. Como se ir viajar agora só puder ser feito a dois, porque o preço dos bilhetes de avião sobe exponencialmente quando somos quatro, porque também precisamos de uns dias só a dois e porque elas também ficam tão bem com os avós e lhes é basicamente indiferente ir passar uns dias ao Brasil ou ali a Montegordo. Isso é tudo muito verdade, pelo menos enquanto ainda são pequenas. Mas quando deixarem de dar tanto trabalho, quando começarem a perceber as coisas e a ver o mundo com outros olhos, gostava de pensar seriamente nisto de as levar a conhecer o mundo, de lhes dar as bases para viverem em comunidade, descentradas de si próprias, com consciência do lugar que têm no mundo e do que nele e dele querem fazer.
Podemos começar com uma viagem por Portugal durante três semanas. Ou com uma viagem pela Europa durante as férias do Verão. Ou se isto for pedir muito acampar na Galiza também servirá para me apaziguar as ganas de lhes querer proporcionar a melhor infância do mundo fora da rotina quadrada que muitas vezes levamos.
Tapada da Ajuda
Sonhos, não passam de sonhos num breve momento de loucura temporária. Quando o homem chegar de viagem e me fizer uma ou outra pergunta, porque ele pensa sempre em tudo, e eu puser de vez os pés no chão e vir que isso afinal é para os outros, vou engolir em seco e continuar na  minha vidinha que não é má de todo e contentar-me em levá-las a passar uns dias num bungalow em Peniche. Ou apanhar pedrinhas para o parque perto de casa. 
Se formos a ver bem, é tudo uma questão de gestão de expectativas.

Linda-a-Velha

Mensário

Está uma conversadora que só ela. Ri e sorri muito, quer para os da casa, quer para os de fora, para conhecidos e estranhos, para os de bem e para os outros, que isto a gente nunca sabe da verdadeira intenção das pessoas que se chegam para ver a infanta, mas é acreditar que tudo vai sempre correr bem. Pouco chora, a vida corre-lhe de feição, e quando o faz é invariavelmente porque tem fome ou sono e isso é coisa para depressa se remediar. Adormece que é uma beleza, o verdadeiro sonho de qualquer mãe. Já descobriu que as mãos são mesmo dela e dão um jeitaço para pegar naquilo que os dedos não lhe falhem e já se entretém muito naqueles ginásios apropriados para a idade. Também adormece que é uma beleza,  já tinha dito? De resto, não dá trabalhinho nenhum, a minha santa menina. Deixa-me ir almoçar fora com as amigas e é a única pessoa que consegue olhar para mim com verdadeiro fascínio e admiração logo pela manhãzinha. Também me lança olhares de pura satisfação sempre que a levo ao parque com bom tempo e a ponho a olhar para as árvores. Há que respeitar tanta gratidão por coisa nenhuma. Não sei que fiz eu para ter tamanha sorte com os bebés, mas há-que dizê-lo finalmente à boca grande: a vida corre-nos bem aos 4 meses.

Da eficiência

Domingo de manhã. De todas as coisas que se podem fazer a um domingo de manhã, visto que dormir deixou de ser opção há muito, nós escolhemos ir com a mais velha ver o Tom Sawyer. Como a mais pequena ainda mama, acaba por andar sempre atrelada e, por isso, nem sequer colocámos a hipótese de a deixar com alguém durante a manhã. Mas a pequena portou-se bem. Acordou já a peça decorria. Dei-lhe mama e aguentei-a caladinha durante uma boa meia-hora, o que foi um feito, tendo em conta que estávamos sentados ao lado de uma coluna ensurdecedora para os ouvidos de um bebé. A dez minutos do fim da peça, a Alice começa a choramingar. Nada de mais, nenhum choro desalmadado, apenas uma breve choraminguice de 3 segundos que não provocou nenhum voltar de pescoços nem "chiuuus" reprovadores. Vamos a ver, estávamos numa peça infantil, não era propriamente À Espera de Godot! Mesmo assim, estava já a preparar-me para sair com a choramingas, quando chega a Guardiã do Silêncio em Salas de Teatro Infantil (não sei se estão a ver a ironia...) pedir-me, se não me importasse, para abandonar a sala. Foram três segundos, senhores, três segundos e já estava a ser posta na rua em salvaguarda do bem-estar e decoro do público. E depois ainda dizem que em Portugal não se trabalha bem.

Quanto à peça, olhem, não sei bem. A mais velha diz que gostou, mas isso foi imediatamente antes da épica birra na casa-de-banho e depois ficou tudo assim meio desfocado para as duas.