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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

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Como não fazer um piquenique (na verdade, este texto é sobre gafanhotos)

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O Tiago já lá tinha ido de paddleboard e este fim-de-semana resolvemos ir até lá a pé. Para isso, tivemos de estudar mapas e desenvolver uma estratégia, fazer a marmita e enrolar a manta do piquenique. Bom, talvez não tenha sido assim tão romântico. Foi o GPS que decidiu qual o melhor caminho e a estratégia consistiu em pular a cerca, literalmente, junto ao observatório de aves. A marmita consistiu num frango assado que comprámos no dia, batata frita, tomatinhos, queijo e pão e num bolo de iogurte com mirtilos que eu e a Inês tínhamos feito no dia anterior. Descomplicar é mais ou menos a palavra de ordem. (Também havia uma garrafa de tinto que muito me acalmou, cuja razão se perceberá mais à frente).

 

O posto de observação de aves da Lagoa Pequena (ali como quem vai para o recinto do SBSR no Meco) está fechado aos domingos e na maior parte dos outros dias, vá-se lá saber porquê, mas há um caminho pedestre onde a cerca está rebaixada e deu para passar com as miúdas.

 

Íamos contentes. Bom, eu ia um pouco apreensiva pois num sítio daqueles cheio de mato, por onde é raro pisar pé humano, devia haver gafanhotos aos montes - se restavam dúvidas até aqui sobre a minha fobia, este relato é capaz de elucidar bem os mais desatentos. Não ajudou que um gafanhoto do tamanho de uma unha tivesse aterrado no vidro do carro quando lá chegámos, mas o pior foi quando os comecei a ver, de tamanho considerável (do tamanho de um dedo, portanto, enormes!), a saltitar pelo caminho. Havia também uns moscardos, ou o raio, que saltavam e voavam e me batiam nos braços e comecei a entrar em pânico ao fim de 500 metros. Ou talvez fosse 200 m. Ou 100, vá. Ainda tentei disfarçar, tirar umas fotos do caminho, respirar fundo, tentar com que a Inês, já de si algo medrosa, não se apercebesse, mas não deu. Eu estava de saia e chinelos, caramba! - se não percebem a relevância desta informação é porque são pessoas normais. Parabéns! - Resumindo: obriguei a família a dar meia volta e a improvisar o piquenique por baixo do toldo do posto de turismo do observatório de aves e passei o resto da tarde a sobressaltar-me com qualquer mosca! Sim, sou um bocado triste, eu sei. Como se não bastasse, passei o medo à Inês que, como ela explicou muito racionalmente no rescaldo da coisa, aconteceu da mesma maneira como, há uns tempos, lhe passei a gripe.

Portanto, há muitas formas de ser boa mãe. Uma delas é não passar os nossos medos (nem as nossas gripes) aos nossos filhos e conseguir transmitir-lhes sempre a segurança de que eles precisam para viver felizes. Neste dia, eu não consegui. Bom, há muitos outros dias em que não consigo, mas neste dia posso dizer que falhei redondamente no meu papel de mãe segura e autoconfiante. Ela ficou aflita por me ver aflita, com verdadeiro pânico no olhar como reflexo do meu pânico e tive de fazer o caminho de regresso com ela ao colo (18 kg...) a sussurrar-lhe ao ouvido que não se devia ter medo de gafanhotos e que os insectos eram nossos amigos. Ainda por cima, menti-lhe.

 

Se calhar não acreditam, mas quando chegámos a terreno seguro e nos acalmámos, o piquenique acabou por ser um sucesso e prometi à família que voltamos em Outubro para ver a migração dos patos. Contando que, em Outubro deste ano, já esteja frio e os gafanhotos já tenham ido para África, claro.

Agora tento brincar com o assunto, mas depois deste dia, sinto que estou numa posição muito má. Aquela em que sinto que, para a minha filha não ter medos, eu também não os posso ter. E só isso mete-me medo.

 

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