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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

A mana mais velha

Pergunta constantemente se a mana ainda não sabe fazer isto (e faz uma pirueta) ou isto (e levanta uma perna) e diz que ela é que vai ensinar a mana a fazer isso tudo - e outras coisas incríveis como estalar os dedos. Perguntava constantemente quando é que a mana nascia, mas agora já percebe que está quase e repete as palavras que tem guardadas para ela - a bebé - "não chora, não chora". Diz que é ela quem lhe vai dar o biberão, pois ainda não percebeu muito bem a história da maminha - que coisa esquisita... Colocou, generosamente, uns bonecos seus no berço da mana, para ela não se sentir sozinha, e nem perguntou porque é que a mana vai ficar no quarto dos pais e não no dela (a seu tempo!). Está ansiosa por fazer a festa dos 3 anos e até deixa a mana ir à festa. Uma querida (entretanto, decidiu que a mamã só vai se se portar bem, a mãe, não ela). 
Enquanto a mana não nasce (e já lá vão 38 semanas e meia, quem diria?), vamos passeando ainda só a três e desfrutando dos momentos de exclusividade, exclusividade dela e exclusividade nossa, enquanto duram. Foi um prazer tê-la só para nós durante estes quase 3 anos. E será um prazer dar-lhe uma irmãzinha para o resto da sua vida. Dizem-me que aí tudo fará ainda mais sentido. 
Mas, se já faz?











Este podia muito bem ser o último post antes de as nossas vidas ficarem um bocadinho mais cheias.

Mãe ranhosa

A minha filha recebeu dois convites para festas de anos de meninos da creche que eu não conheço, num fim-de-semana que se adivinha solarengo e propício ao dolce far niente e em que não dava mesmo jeito nenhum ir para uma festa de putos, com cujos pais sou capaz de nunca ter trocado mais do que duas palavras, reunião de pais incluída.
Para resolver a coisa, mostrar-lhe como não é assim muito importante ir às festas, resolvi sondá-la quanto ao grau de familiaridade com os respectivos colegas.

- Quem é o C.? Não é da tua sala, pois não?
- Não.
- É de que sala?
- Não sei.
- Mas tu conhece-lo, sabes quem é?
- Sim.
- És amiga dele?
- Não. Sou amiga da .... (e enumera as 3 amigas preferidas), mas do C. não.

Resolvido. Venha o próximo.

- E a M.? É da tua sala?
- Sim, ela deu-me um chupa no outro dia.
- Ai deu? Porquê?
- Porque fez anos e fez uma festa na escola.
- Então já fez festa? Que bom saber isso!

(Isto faz de mim uma mãe ranhosa?)

Todos os nomes - mesmo todos

Já ouvi muitas histórias de malta que escolhe o nome dos filhos só depois de eles nascerem. Nunca pensei que, chegada às 34 semanas, ainda não tivesse esta questão resolvida, mas é a mais pura das realidades. Não é que eu não tenha um nome escolhido e preferido, porque já toda a gente está farta de saber qual é. O pior tem sido acertar num nome de que ambos os progenitores gostem.

Para me inspirar, há tempos saquei uma app com todos os nomes permitidos em 2010 (a app chama-se SobreNome Optimus) e que me possibilita marcar os favoritos e criar, assim, a própria minha lista Top 19 (o desespero já é grande). O pior é que, tendo já percebido que tenho mesmo de tirar o cavalinho da chuva com Alice, não há nome nenhum que me encha as medidas. Até mesmo os nomes que tinha como segunda e terceira opções (Clara e Rosa) me parecem agora absolutamente desinteressantes e descontextualizados. O outro nome a que já me tinha vindo a habituar, Rita, foi recentemente posto fora de combate e sinto que, às 34 semanas, voltámos à estaca zero.

De modos que voltei a pegar na app e a refazer a minha lista. Daí resultaram 19 nomes favoritos, dos quais constam coisas esquisitas como Selma, que juro que não sei como lá foram parar. Mas é claro que me diverti imenso a percorrer a lista. Encontrei nomes que, de tão descabidos, chegam a ser engraçados e, se formos a ver bem, a pessoa é que faz o nome e não há nome nenhum a que não nos habituemos! Por exemplo, quem não gostaria de ter uma filha chamada Agonia (nas suas imensas variantes tipo Carla da ou Maria da), Anália ou Auxília, a Samaritana? Coisas impronunciáveis também estão no cardápio como Basilissa, Carsta ou Lízie. Depois há o grupo das Marias-Vão-Com-Todos, como Libertária e Marquesa (aquela das massagens). Curiosamente, Marilú não consta da lista, vá se lá perceber porquê.
Há ainda o rol das meninas que se adivinham muito viajadas, como Ásia, Argentina, Índia e Oceana, ou aquelas cujos pais querem fazer render desde o berço e que lhes dão nomes de marcas, pensando eles ganhar alguma compensação monetária com isso, como Mimosa ou Séfora (como sugeriu um amigo meu há pouco tempo, Milupa também havia de ficar bem). Os abomináveis nomes transferidos a papel químico do brasileiro, como Vanderleia e Iracema, do alemão, como Ingeborga, do hebraico, como Hadassa, ou do raio-que-o-parta, como Quaiela, já me aumentam a azia. 

Os exemplos são muitos e podia estar aqui o dia todo, mas o tempo urge e, por isso, prefiro dedicar-me intensamente à minha lista sensaborona de nomes comuns e tentar ter uma epifania, ou fazer o pai ter uma epifania, com um nome qualquer legível e pronunciável à primeira, preferencialmente com quatro ou cinco letras, que não seja demasiado linha-de-Cascais (coisas como Concha estão fora de questão) e que fique assim a meio da lista das presenças, que isto há que ser prático.

E, no fim do Verão, ela nadou

Não sei por que é que, de todos os miliários da vida de uma criança (primeiro dente aos seis meses, primeiros passos aos 13, primeiro dia de escola), não se inclui a primeira vez em que uma criança nada sozinha no mar com braçadeiras. Não falo do dia em que a criança aprende a nadar efectivamente, sem quaisquer ajudas. É óbvio, e acho que ninguém nega, que esse é um dia memorável (quem não se lembra ainda do dia em que aprendeu a nadar?). Falo do dia em que uma criança consegue nadar sozinha com braçadeiras em pleno mar. É um passo enorme, um acto de coragem inegável, especialmente se estamos a falar de uma criança que ainda não fez 3 anos e ainda no início do Verão morria de medo de ir a banhos e agora já consegue largar a mão da mãe ou do pai e avançar dez metros para "mar alto". Nunca ninguém fala disso, nunca ninguém se lembra (eu não me lembro do dia em que nadei sozinha pela primeira vez com bóia ou braçadeira...), nunca ninguém dá a importância devida a esse marco, só porque é com braçadeiras e não é realmente nadar. Pff para vocês que só aprenderam a nadar aos 8 anos.

A felicidade estampada no rosto dela ao ir do pai para a mãe e da mãe para o pai, a auto-estima que florescia e o nosso orgulho por termos conseguido proporcionar-lhe tamanha sensação são sentimentos absolutamente impagáveis. Inestimáveis. Inexcedíveis. Não trocaríamos este fim-de-semana que passou por programa nenhum que nos trouxesse qualquer outro tipo de felicidade efémera. A nossa filha cresceu mais um bocadinho, nós estávamos lá para ver e se alguém me diz que qualquer criança de 2 anos consegue nadar com braçadeiras leva já com uma nas trombas!

É só estilo

Hora de deitar. Lemos um livro, invariavelmente Anita viaja de comboio...
- Mamã, o papá da Anita é um estiloso.
- Ai é? (contenho o riso). Pois, está de fato e gravata, está mesmo com muito estilo.
Continuamos a história. Na página seguinte, aparece a mãe da Anita. Eu comento:
- A mamã da Anita também é uma estilosa, não é?
- Não. É uma princesa.
- Ah, pronto... (contenho o riso).
Continuamos a história. Cinco segundos depois, põe a mão na minha cara, vira-me a cabeça para ela e diz:
- Mamã, tu também és uma estilosa!

Não sei quem lhe ensinou esta palavra, mas lá que a sabe aplicar, lá isso é inegável!

O dia em que a pirralha disse "fixe" pela primeira vez

Foi ao jantar, estávamos num jogo parvo a ver se ela comia a quinta colher de sopa, eu fiz qualquer coisa que deve ter sido engraçada e ela, do alto dos seus 2 anos e 8 meses, fechou a mão, espetou o polegar, esticou o braço e disse:
- Boa! Fixe, mamã!
...

Ainda não tenho de me preocupar, pois não?



fixe |ch| 
(alteração de fixo
adj. 2 g.
1. [Portugal, Informal]  Que agrada ou tem qualidades positivas (ex.: o livro é muito fixe). = BOM, PORREIRO
2. [Portugal, Informal]  Que inspira simpatia (ex.: os teus colegas são fixes). =SIMPÁTICO
3. [Popular]  Que é fixo, firme ou seguro.
4. [Brasil]  Compacto; inteiriço; maciço.
interj.
5. [Portugal, Informal]  Usa-se para exprimir satisfação ou consentimento (ex.: Fixe, eles já chegaram.).
s. m.
6. Retângulo de madeira ou ferro, sobre rodas, para sustentar a máquina do comboio.

in Priberam.



Deixar as crianças ser crianças

Este domingo juntámos uns quantos amigos e respectiva criançada para uma sardinhada. Depois de almoço assentámos arraiais no terraço de um deles e as crianças foram dar um mergulho na piscina enquanto as mães vigiavam e os pais iam passando do vinho para o licor Beirão (...). Às tantas, começou a ficar frio e as meninas começaram a sair da piscina. Já depois de seca e vestida, depois de ter parado de tremer e de os lábios terem ganho alguma cor, a Inês quis voltar para dentro do tanque em imitação de uma das outras crianças. Opus-me fortemente, com medo que se constipasse, mas o pai, naquela atitude laissez faire laissez passer tão típica de quem já passou do licor Beirão para uísque, encolheu os ombros e fez-me o sinal de "deixa lá ir a miúda, pá". Meio contrariada, lá a despi.

Então o que aconteceu? A Inês, normalmente medrosa e pouco arisca em coisas aquáticas, pôs as braçadeiras e começou a nadar sozinha, ou a esboçar aquilo que mais tarde será nadar, a mergulhar a cabeça na água depois de gritar "Mamã, olha!" e a saltar e chapinhar, destemida, com um sorriso de orelha a orelha e uma felicidade que lhe saía da garganta às golfadas.

Acabou por só sair da água quando quis, não se constipou e eu senti-me um pouco envergonhada porque tinha tido uma atitude parecida à daquelas mães chatas e galinhas que costumo ouvir no parque a apregoar de 20 em 20 segundos: "Vê lá, não caias!", "Veste o casaco, não te constipes!", "Não subas isso que sujas as calças!", "Não se mexe na areia!" e irra, que tanto me irritam.

Se eu nunca a tivesse deixado voltar à água, supostamente para não se constipar, ela nunca teria tido a oportunidade de "nadar" e mergulhar sozinha sem estar agarrada às pernas dos pais e sem choramingar de cada vez que lhe escorria água pela cara. Não tinha, também, tido aquele momento de profunda felicidade que lhe ficaria marcado na memória caso fosse mais velha. Eu teria levado a minha avante, sim, teria podido sentar-me confortavelmente a comer petiscos sem estar preocupada em antecipar possíveis afogamentos, mas teria provavelmente impedido a minha filha de uma nova experiência. E essa possibilidade deixa-me muito triste.


Espero sinceramente que me sirva de lição para o futuro. Não quero ser daquelas mães chatas e rabugentas que querem os filhos quietos e sentadinhos para não amarrotar os calções. Quero ser daquelas mães que deixam os filhos mexer na lama para inspeccionar a vida das minhocas e chapinhar em poças de água e espalhar as tintas no chão da sala e subir às árvores e correr sem medo de cair e comer framboesas à mão sem medo de sujar o vestido e apanhar grilos para trazer para casa (humm, ainda tenho de pensar bem nesta). Quero ensinar-lhe a sentir-se livre. Mas, para isso, tenho de me libertar primeiro dos preconceitos parvos das nódoas que não saem e da febre que pode atacar. É preciso ter bom-senso e deixá-los ser crianças. Afinal, eles não sabem ser outra coisa.

Poizé

Sempre que a minha filha contra-argumenta comigo com um daqueles argumentos que arrasam pelo inesperável (são 9 da noite e eu digo está na hora de ir dormir e ela responde mas ainda é de dia e eu olho pela janela e constato de facto ainda é de dia e penso como raio é que lhe vou explicar isto do horário de verão), se põe a brincar comigo ao jogo da cara séria e percebe perfeitamente que se se rir perde (e perde sempre, claro), ou responde a uma afirmação com um "Poizé!", como nós dizemos, "poizé" e não "pois é", com ponto de exclamação e tudo, e um aceno de cabeça e arquear de sobrancelhas como fazem os adultos perante uma verdade irrefutável ou, ainda, se esquece do que ia a dizer, põe a mão na cabeça e murmura "ai, esqueci-me", sou sempre mas sempre tentada a espetar-lhe com um teste de QI à frente, mas depois penso que sou apenas mais uma mãe babada e que todos os pais acham que os filhos são os mais bonitos e inteligentes do mundo e remeto-me humildemente para a bazófia blogosferiana. Poizé.

Entreter, mas longe do ecrã

Há uns tempos dei com um livro sobre como arranjar tempo para ter uma profissão freelance quando se é mãe e se cuida dos rebentos em casa. Chama-se "Mom, Inc." e falam sobre ele aqui. Não o comprei na altura nem acho que faça sentido no meu caso e lembro-me de ter pensado que era um pouco disparatado haver necessidade de escrever um livro sobre isto. Quem quer ter uma profissão, que ponha os filhos na creche, ora. Mas compreendo que, em início de carreira para quem está a tomar conta dos filhos há muito tempo (a realidade americana é algo diferente da nossa), se opte por não aumentar as despesas, p. ex., com o infantário, antes de o negócio começar a dar frutos. Logo, há que estabelecer regras e rotinas para conseguir trabalhar com a criançada em casa.

Esta semana fiquei em casa com a minha filha com varicela. Não tinha propriamente trabalho para fazer, tirando as fantásticas tarefas da lida da casa, mas mesmo assim percebi que requer bastante criatividade e paciência entreter uma criança de 2 anos o dia todo sem sair de casa (entreter bebés é outra coisa completamente diferente). Se ela pudesse sair de casa, seria fácil: íamos ao parque, íamos passear, íamos almoçar com o pai ou mesmo ao supermercado. Mas atacada como ela ficou não seria nada aconselhável sair de casa nos primeiros dias e, depois de passar a febre, a miúda estava com toda a energia típica de uma criança de tenra idade e era preciso canalizá-la para algum lado. 


Nos dois primeiros dias de convalescença, deixámo-la ver todos os bonecos e filmes que quis no iPad e foi com consternação que reparámos que, deixando-a, ela é capaz de ficar o dia todo agarrada ao ecrã. Mas assim que começou a ficar mais bem-disposta, tratei de limitar o iPad para situações concretas em que precisava de a ter sossegada ao pé de mim, como quando queria tomar duche ou fazer o almoço.
No resto do tempo, eu e a cachopa andámos sempre a fazer coisas: pintámos no papel, pintámos em madeira, pintámos conchinhas e pedras do mar, fizemos colagens, demos banho às bonecas, brincámos às compras com dinheiro de brincar que encontrei como por milagre e lemos todas as histórias que ela quis. Mas, fora isso e os cuidados diários a ter com a varicela (banhos com amigo de milho (!), creme nas borbulhas 53 vezes por dia, ver a febre, impedir que se coce, etc. etc. etc.), eu não fiz mais nada. Se tivesse de trabalhar, teria de aproveitar a hora da sesta (mas porque não aproveitar e dormir com ela??). Confesso que fiquei mais cansada do que se tivesse sido um dia normal de trabalho/creche. Especialmente porque a miúda já argumenta, já negoceia, já resmunga e refila, desafia-nos sempre que pode e andou com tão pouco apetite que era um esforço meter-lhe qualquer coisa à boca.
É sempre nestas alturas em que sinto a máxima admiração por todas as mães solteiras e todas as stay-at-home-moms que têm de ter diariamente doses industriais de paciência e um sistema de organização de tarefas e gestão do tempo que a mim me parece obra de Super Mulher. Respect!

(Cinco dias depois voltei ao trabalho, ela foi para a avó acabar de convalescer e eu tento não me sentir demasiado contente por me poder deitar no sofá a ler um livro descansada às seis da tarde...)