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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Hábitos em desuso

Este ano resolvi mandar fazer postais de Natal para enviar aos meus clientes. Seleccionei 10 clientes portugueses e 10 clientes estrangeiros e vai de mandar votos de Boas Festas e boas colaborações para o ano vindouro. O critério de escolha foi mais ou menos óbvio: clientes com quem trabalho assiduamente e cuja colaboração quero manter, clientes esporádicos mas com quem correu sempre tudo muito bem e quero que se vão lembrando de mim e clientes que deixaram de me enviar trabalho quando aumentei as minhas tarifas, mas que merecem à mesma um cartão de agradecimento pela confiança depositada. É claro que, subjacente, está uma simples estratégia de marketing: não cair no esquecimento dos gestores de projectos das empresas de tradução e, dos outros clientes, dar o meu toque pessoal para que se lembrem de mim naquela altura em que precisam mesmo de uma tradução.

Confesso que não estou à espera de ter nenhum retorno com isto. Não é uma estratégia de angariação de clientes, mas sim de manutenção de clientes. No entanto, os clientes que gostam do meu trabalho vão continuar a gostar se eu continuar a fazer um bom trabalho e não por mandar bonitos postais de Natal.

Ainda assim, num mundo cada vez mais digital, acho que é um investimento interessante. De dinheiro, porque não sai tão caro assim, e de tempo porque é o que de melhor podemos dar aos outros e, bom, para voltar a escrever à mão.

Na verdade, escrever à mão 20 moradas em envelopes fez-me chegar a duas conclusões. A primeira é que já não sei escrever à mão. A mão recusa-se a escrever aquilo que o cérebro lhe dita e mais parece a mão de uma pessoa com Parkinson do que de uma pessoa que ainda há uns anitos (cof, cof...) tirava apontamentos a alta velocidade na faculdade. Uma boa resolução para o novo ano seria passar a escrever mais à mão, o que me leva à segunda conclusão: é que com tanta coisa que já tenho que fazer, se calhar mais vale investir em etiquetas pessoais impressas e perceber, finalmente, como raio se imprimem bem, e à primeira, moradas em envelopes...

Linha ténue

Melhor do que receber um documentário sobre a vida animal para legendar, só mesmo se não for preciso legendar. Isto é, basta traduzir para sonorização - ou dobragem, trocado por miúdos. Traduzir simplesmente, sem preocupações com tempos nem limitação de caracteres. O paraíso!

O chato é ter mil e um trabalhos a acontecer ao mesmo tempo e não só não me poder deliciar vagarosamente com a águia-cobreira, como ainda ter de adiar o paraíso para a última hora, quando deixar de ser um paraíso e passar a ser o inferno...

Correr por gosto

correr por gosto.jpg

 

(Foto armada ao pingarelho retirada daqui

Há quase duas semanas, fui à minha primeira conferência de tradução. Foi uma conferência de tradutores para tradutores, portanto não se tratou tanto de arranjar clientes, mas sim de alargar a rede de networking (de onde cada vez vêm mais clientes) e de nos motivarmos uns aos outros a fazer mais e melhor e, principalmente, a darmos o devido valor à nossa profissão.

Faço parte de vários fóruns e grupos de tradutores e em muitos o discurso é o mesmo: o tradutor é um coitadinho que é explorado e vive na sombra. Se é isto o que os próprios tradutores acham de si, imagine-se o que pensarão os outros de nós, que ainda nem sequer existimos como classe profissional! Os tradutores que estão mais expostos ao olho do público são os tradutores literários e os tradutores de audiovisual. Houve palestras dedicadas quer a uns quer a outros, mas foi a palestra sobre o mercado da legendagem que mais polémica levantou e é exactamente sobre isso que gostava de falar agora.

(Sim, vou armar-me um bocadinho em coitadinha, mas prometo que são só dois parágrafos.)

 

A maior parte das pessoas não faz ideia do trabalho que está por trás de um episódio do Castle que vemos enquanto passamos a ferro... Não apenas o trabalho, mas o desprezo a que o legendador é votado pela indústria cinematográfica, que gera milhões... Paga-se uma ninharia por um serviço sem o qual não haveria televisão, nem cinema, nem TED Talks acessíveis a meio mundo. Sem a tradução para audiovisual (TAV, como é conhecida no meio) só quem dominasse muito bem o inglês é que iria ao cinema. Filmes de realizadores ilustres suecos, árabes ou japoneses nem sequer chegariam às salas de cinema por não haver quem os entendesse. Não haveria TV por cabo. O culto da Guerra dos Tronos teria ficado pelos livros. E por aí em diante.

Acreditem ou não, o legendador ganha à hora o mesmo, ou menos, do que uma empregada de limpeza. No outro dia, não acharam bem que comparasse a minha profissão com a de uma emprega de limpeza, acharam desprimor. Eu não vejo assim. Estou apenas a comparar o preço à hora de uma profissão qualificada com o de uma não qualificada, que é igual. Serve perfeitamente de exemplo para perceber que algo não está bem.

 

Mas voltemos ao Castle. É uma série divertida e levezinha que se vê bem sem se dar muito por ela, mas em que as personagens basicamente não se calam durante 40 minutos. Um episódio de, repito, 40 minutos leva, em média, 8 horas a traduzir e legendar (sincronizar a legenda com a fala). Há quem consiga por menos tempo, há quem precise de mais, depende da estaleca que já se tem com o software de legendagem (que, já agora, o legendador tem de comprar pela módica quantia de 1700 euros) e da experiência em traduzir séries do género.

8 horas é um dia inteiro de trabalho. Mas como a legendagem é paga ao minuto de série e não de trabalho, no final do dia, contas feitas, eu ganhei tanto quanto tenho de pagar à empregada por me ter limpo a casa enquanto eu estava a legendar.

 

Isto tem-me feito pensar muito, especialmente desde que vim da conferência. Já estive de mail escrito, vai não vai, para enviar às agências de audiovisual para as quais trabalho a explicar porque é que vou deixar de trabalhar com elas. Mas acabei por apagar o e-mail. Porque, felizmente, eu não faço só legendagens. Felizmente, eu consigo ocupar mais de 80% do meu tempo de trabalho com traduções que me compensam financeiramente e pagam as contas. A legendagem tem sido uma espécie de hobby, uma coisa que gosto de fazer, que me diverte e fascina e me tem ensinado imenso, porque isto de legendar filmes colombianos passados no gueto tem muito que se lhe diga. Mas não me paga as contas e até impede que esteja a ganhar o dobro nos dias em que estou a legendar porque, para legendar, não posso aceitar outros tipos de trabalhos mais bem pagos.

O meu homem dá-me muito na cabeça e acha que eu devia pôr de lado a parvoíce das legendagens. Mas, a verdade, é que não quero. A verdade é que, mesmo ganhando uma miséria, eu quero que 10 a 15% do meu tempo de trabalho seja passado com filmes e séries. Porque quando, em Agosto, me despedi do meu trabalho com contrato sem termo, não me despedi para continuar a fazer a mesma coisa. Despedi-me porque as traduções demasiado técnicas me aborreciam de morte e não acrescentavam valor nenhum à minha vida, para além do financeiro. O dinheiro é importante, é certo, mas nem só de dinheiro vive o homem. O homem, ou a mulher, neste caso, também vive da paixão, do fascínio, da realização pessoal. E quando me despedi de um contrato sem termo foi para fazer menos aquilo de que não gosto e passar a fazer mais aquilo de que gosto. E eu gosto de legendar.

Por isso, vou continuar a aceitar traduções técnicas para poder alimentar as minhas filhas e a aceitar legendagens para poder alimentar a alma. Tenho a sorte de poder conciliar as duas coisas: o que tenho de fazer e o que gosto de fazer. Por isso, sou feliz.

Executiva

Preparei os cartões de visita, arranjei um outfit business casual jeitoso que já me fica bem desde que perdi aquele quilograma peçonhento, pedinchei à sogra uma mala adequada à ocasião porque a minha estava cheia de bolor e o site está finalmente online. Pode dizer-se que já sou uma mulher de negócios.

Ao despedir-se de mim à porta da estação, ele avisou-me, em jeito de brincadeira, que não me habituasse demasiado a fins de semana deste, mas ambos sabemos que estou bastante feliz (apesar de estar a ser obrigada a ouvir a RFM porque não trouxe iPod e o menino do lado guincha demasiado alto).

Sei perfeitamente que não vou conseguir abordar as pessoas que me interessam amanhã, na conferência de tradução. Não sou boa a vender-me, penso eu, não me está no sangue abordar potenciais clientes e apresentar-me como a tradutora espectacular que tem um site espectacular e traduz espectacularmente bem. E mesmo se conseguisse, pediria um preço espectacularmente baixo, porque tenho pena que as pessoas gastem muito dinheiro. Sou assim, o que querem. Levo na cabeça constantemente por causa disto e um dia hei-de aprender, eu sei. Até lá, vou tentar distribuir uns quantos cartões de visita espectaculares e tentar desfrutar ao máximo deste sentimento de me sentir importantemente dona do meu destino.

Psicotécnicos

Entre ontem e hoje, passei 8 horas a traduzir e legendar um documentário de 46 minutos, daqueles em que está sempre alguém a falar. Feitas as contas à miséria a que está o minuto, ganhei 6,9€ por hora. Há empregadas da limpeza aqui da zona que ganham mais do que isso.

 

Eu sabia que não devia ter faltado ao dia dos psicotécnicos.

Algumas regras básicas para tradutores

É preciso dizê-lo com sinceridade: ser freelancer nem sempre é pêra doce. Tudo é muito bonito quando conseguimos organizar o nosso horário e sair às 11 da manhã para ir fazer o buço ou marcar férias para quando nos apetecer sem ter de pedir autorização a ninguém. Mas quando o trabalho aperta, como tem sido nas últimas três semanas, não só não há tempo a perder com coisas que não sejam indispensáveis, como a vida pessoal e familiar acaba por levar por tabela. No entanto, aceitar os trabalhos que nos pedem é, muitas vezes, uma decisão ponderada, muito mais do que uma questão de sobrevivência.
Há vários factores a ter em conta, como a relação custo/benefício, que foi uma das poucas coisas que retive da aula de Economia na pós-graduação de Tradução Económica, talvez por todos os meses lhe achar um sentido prático: será que o retorno financeiro que este trabalho me vai proporcionar compensa os sacrifícios pessoais que vou ter de fazer para o executar? É a tal história do tempo e da liberdade que o dinheiro não compra. Estou a falar, no meu caso em concreto, de três fins-de-semana seguidos em que passo, pelo menos, o sábado a trabalhar, em que cancelo encontros de amigos, em que falto a almoços, em que mando as miúdas para a avó ou com o pai para o centro comercial... As pessoas dizem-me: ser freelancer é assim, tens de aproveitar o trabalho enquanto há. É verdade, principalmente no início, como eu, que ainda nem fez 6 meses que trabalho por conta própria. E mesmo quando tentamos organizar as coisas de modo a meter todo o trabalho durante a semana, há sempre que contar com os imprevistos, com as falhas técnicas, com os programas que empancam, os computadores que avariam. Esta semana, por exemplo, vi-me obrigada a trabalhar no sábado, hoje, porque perdi a tarde de quinta e a manhã de sexta com problemas técnicos. Mas o que me irritou mais nem foi isso. O que me irritou mais foi ser por causa de um trabalho que aceitei sem saber porque o fiz. Aceitei um dos tipos de tradução por causa dos quais me despedi, num software que odeio sobre um tema que odeio, ao preço mínimo aceitável. Estariam reunidas todas as condições para recusar o trabalho. A acrescer a isto, este mês já estou financeiramente relaxada e não precisaria de fazer fretes para pagar as contas. É claro que nunca sabemos como será o mês seguinte e nunca se diz que não a um extra a que recorrer quando o trabalho falta.
Mas aceitei o trabalho quase sem pestanejar. E porquê, perguntam vocês? Primeiro porque tenho o cliente em grande estima. É um cliente que me conhece há bastante tempo, sabe como trabalho, confia em mim e eu, por minha vez, confio nele, conheço a mecânica da casa e sei que pagam a horas. É uma situação win-win e, por vezes, há que fazer alguns fretes para manter os clientes satisfeitos. Mas, em parte, foi também por burrice pura que aceitei o trabalho. É que me arrependi logo porque antevi três dias de grande frustração. Além disso, quando aceitei o trabalho com prazo para terça de Carnaval, esqueci-me que as miúdas não têm escola na terça de Carnaval, logo, teria de terminar o trabalho antes. Quando começaram os problemas técnicos, então, toda eu bufava, porque o trabalho se estava a empurrar exactamente para o dia em que não podia trabalhar. E isto fez-me pensar muito ali na tal questão da relação custo/benefício e em algumas regras básicas para aceitar traduções. São elas:

1 - Nunca negociar prazos sem ter a agenda à frente, especialmente ao telefone, enquanto estamos a caminho de ir pôr as miúdas à escola. São distracções mais do que suficientes para dizermos que sim irreflectidamente.
2 - Nunca aceitar uma tradução sem ver o original primeiro. Quando me disseram que era um catálogo, pensei que podia ser um catálogo com descrições de produtos, com um registo algo comercial e frases publicitárias, coisa que até nem me desagrada muito. Mas não me disseram que era um catálogo daqueles só com listas de produtos e descrições crípticas e abreviadas, sem perceber se pedem o plural, o feminino, o masculino ou o quê. E isso é coisa para, além de exasperar, levar o dobro do tempo. Tempo que já não temos porque não olhámos para a agenda...
3 - Se me disserem que é para usar um determinado tipo de programa que eu odeio, é meio caminho andado para recusar o trabalho, educadamente, com outra desculpa, mas recusar. Nem sempre temos de fazer fretes. Afinal, despedi-me exactamente para não ter de fazer fretes destes, certo? Pois.
4 - Quando, apesar de tudo isto, aceito o trabalho, pois então paciência. Tenho de me aguentar, desenrascar e entregar um trabalho irrepreensível. Acima de tudo, temos de ser profissionais.
5 - Se se aplicar o ponto 4, aplica-se também a lei da recompensa: tirar um dia, uma semana, o resto do mês de folga.

Posto isto, estou seriamente a pensar não aceitar mais nada para além dos trabalhos que já me foram atribuídos este mês e que já me vão dar que fazer, mas não me vão obrigar a trabalhar fora de horas. Queria ver se ainda acabava o quilt da Inês este mês... tenho tudo pronto para o acabar numa tarde de costura... Vou mesmo convencer-me de que isso é mais importante para a minha sanidade mental do que passar mais um sábado a trabalhar...

Porque nem tudo são más notícias, a ver se em breve escrevo sobre as coisas boas de ser freelancer. Porque as há e não são poucas. Valha-nos isso.

Este ano vai ser diferente

Se ainda estivesse a trabalhar por conta de outrem, neste momento (às 16:15 de domingo) estaria a entrar no modo neura porque amanhã recomeça a semana de trabalho, principalmente depois desta época festiva, em que as miúdas ficaram em casa e o pouco trabalho que tive me deu um gostinho de férias. Logo à noite, estaria insuportável, ansiosa e deprimida, simplesmente porque amanhã tenho de voltar ao trabalho, sentar-me ao computador, deixar de fazer as coisas de que gosto para passar o dia a traduzir textos aborrecidos. Iria passar o dia a suspirar, com um mau-humor descomunal e a contar as horas para me ir embora.

Tenho a certeza de que sabem do que estou a falar.

Mas este ano não sinto nada disso. Confesso até que estou ansiosa pela positiva, excitada por finalmente retomar a rotina, expectante para ver que trabalhos me calharão na rifa ou que clientes me contactarão. Não espero ter muito trabalho este mês. Como já aqui disse, Janeiro costuma ser um mês meio parado no mundo da tradução. Mas, em vez de me lamentar, vou investir o tempo naqueles trabalhos que não pagam a curto prazo, como organizar e optimizar o meu sistema de trabalho, preparar notas de honorários e facturas predefinidas, melhorar o meu website profissional para poder, finalmente, mostrá-lo ao mundo (na verdade, já está online, mas ainda está longe de ser perfeito) e preparar uma nova estratégia de marketing dos meus serviços.

É por estas e por outras que não me arrependo da decisão que tomei há uns meses de me tornar freelancer. É claro que, em termos financeiros, um mês com pouco trabalho não augura nada de bom, e mentiria se dissesse que não estou preocupada com isso. Mas aprendi que há outras coisas que compensam a falta de dinheiro para extras, desde que haja dinheiro para o essencial, e isso felizmente não faltará. A liberdade que sinto e a alegria pelo que faço são a melhor recompensa.

Por isso, e porque ainda tenho dúvidas sobre a melhor forma de abordar uma carreira freelance bem-sucedida, contribuí para que o projecto da Monika Kanokova vá para a frente, um livro, intitulado "This year will be different" que reúne entrevistas a mulheres empreendedoras (inclusive a uma portuguesa) que se tornaram freelancers, com truques e dicas para ser bem-sucedida. O sucesso no feminino para quem, como me aconteceu a mim, sente que tem de dar o passo, mas não sabe como ou não tem coragem. Sei, pelo menos, de uma querida leitora que anda a pensar nisto. Toma, é para ti.

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Para saber como contribuir, saibam mais aqui. Eu já tenho o meu exemplar digital assegurado.
Este ano vai mesmo ser diferente.

As Leis de Murphy aplicadas à tradução freelancer (ou ao trabalho freelancer no geral)

Podes passar dias ou semanas sem receber trabalho, ou com aqueles trabalhos de caca que se fazem numa manhã e não trazem nada de novo em termos financeiros, mas sabes que vais arranjar trabalho de certeza quando:
- Já tens trabalho. Não é incomum aparecerem dois trabalhos volumosos ao mesmo tempo (literalmente no mesmo minuto, sei do que falo), ou o volume de trabalho aumentar quando já tens um volume de trabalho considerável;
- A tua filha ficou em casa doente;
- Tu ficas doente ou com uma daquelas enxaquecas de morrer;
- Resolves sair para ir tratar de algum assunto ou, simplesmente, relaxar. Já me aconteceu estar no carro pronta para arrancar, lembrar-me de ir ver o e-mail no telemóvel, pois não o via há 5 minutos, e ter de voltar para casa.
- Quando a tua filha faz anos e tens uma festa para preparar.

É que não falha. 

A Inês faz anos na próxima segunda-feira e, se por enquanto o volume de trabalho está bastante razoável, nem muito nem pouco, assim como se quer, já sei que vai ser mesmo no dia 22 que vou receber aquela proposta. Quanto apostam?

Por aqui vai tudo bem

Houve um dia esta semana em que, entre as 10:02 e as 10:05 (não são horas ao calhas), recebi 3 pedidos de trabalho volumosos. Nos primeiros cinco segundos fiz aquilo que qualquer freelancer que acabou de entrar no mercado faria e que se assemelha a algo parecido a uivar de alegria, mas isso foi só até ao sexto segundo em que me caiu a ficha e me lembrei que afinal sou só uma e, sendo só uma, dificilmente me conseguirei desdobrar em mais. É claro que não pensei por um segundo que fosse em recusar nenhum dos trabalhos. São daqueles clientes que pagam e pagam bem, por isso fiz o que qualquer freelancer inteligente faria: tremi um pouco, limpei o suor e pus-me à procura de gente para me ajudar dentro da minha rede de networking, a qual revelou ser surpreendente. No final do dia já tinha cinco pessoas disponíveis para me ajudar, que distribuí pelos vários trabalhos e com quem foi muito fácil acertar tarifas e condições. Duas delas já me enviaram as suas partes com uma qualidade bastante acima da média e as outras têm vindo a dar-me feedback do seu progresso com uma dedicação que não esperava.
Chama-se a isto outsourcing ou necessidade urgente de criar um ficheiro com co-workers e NIBs para pagar a esta gente e um sistema que me lembre dos dias em que acabam os prazos de entrega, porque isto com agenda e post-its já era.
Se calhar temos de fazer um site, diz-me ele.
De modos que isto vai.

Nice work

Quais são as probabilidades de sintonizar a Oasis FM e estar, nesse exacto momento, a dar Oasis, a banda? Não gosto nem de uma nem de outra, mas não tive outro remédio senão deixar estar e trautear as partes que toda a gente sabe de cor. And so Sally can wait... É que só podia ser um sinal divino. Um sinal de que as coisas estão a correr bem, os chakras começam a alinhar-se e os astros se conjugam em meu favor.

Esta semana começaram, finalmente, a responder aos meus e-mails, o trabalho começou a chegar em catadupa (ok, quase...), aquele cliente novo gostou do meu trabalho e disse-me "Nice work!", ainda aquele cliente que julgava perdido voltou a lembrar-se de mim e ainda há aqueloutro que acabou por se decidir por mim, entre tantos outros profissionais. Esta semana readquiri uma rotina de trabalho que me agrada muitíssimo, sem pressas, com possibilidade de ir ao café às horas que quiser e as vezes que quiser sem parecer que ando a fugir de ninguém. Nesta semana os dias acabaram com um sentido de dever cumprido e uma satisfação enorme e assentei a cabeça na almofada com a certeza de que no dia seguinte teria trabalho à minha espera, e nos dias a seguir a esse. Nesta semana tudo começou a fazer sentido e os motivos que me levaram a despedir-me de um trabalho fixo e estável vieram finalmente ao de cima para fazer brilhar os meus dias.

Ainda aqui não falei sobre a minha saída da empresa porque não é um assunto fácil, especialmente porque sou lida pelas minhas ex-colegas (olá meninas!) que, com certeza, terão feito o seu juízo de valor sobre as circunstâncias da minha demissão. Não vou estar com grandes explicações sobre a minha saída, mas já era sobejamente conhecido neste blogue que estava descontente com a minha situação, com o tipo de traduções que fazia e a monotonia dos meus dias (podem ler aqui, aqui, aqui e aqui). Sentia que chegara a um impasse a nível profissional (e pessoal) e que, ou mudaria, ou iria passar o resto da minha vida a traduzir as mesmas coisas, sem espaço para novas aprendizagens nem grandes saltos. Um dia fartei-me de me queixar. As circunstâncias em que isso decorreu é que não foram as melhores e passei por um período difícil, de grande incerteza, desconfiança e amargura. Mas já passou, já passou, como tanto canta a minha filha. E depois de umas semanas algo incertas em termos de trabalho, mas que me deram um jeitaço para reorganizar a casa (ainda das mudanças...), estou finalmente a instalar-me confortavelmente no escritório e a trabalhar, para mim, só para mim. Não respondo a chefes, não reporto a ninguém, oriento os meus dias e saio às horas que me apetecer, ainda não me posso dar ao luxo de escolher as traduções que quero fazer (e nem sei se esse dia chegará), mas não me posso queixar nada do que me tem calhado na rifa e o dinheiro, esse malvado que tanta falta nos faz, tem chegado e chegará, certamente, sempre para as coisas mais importantes.

Estou feliz. Tranquila. Animada. E mesmo que voltem aqueles dias vazios em que os e-mails não chegam, não perderei o ânimo. Porque já chega de duvidar das minhas capacidades. Não sei se já aqui disse isto, mas esta coisa do self-employment faz maravilhas à auto-estima. Haviam de experimentar. A sério.