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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

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O restaurante vazio, completamente vazio, eu sentada, sozinha, numa mesa a ler um livro enquanto espero pela comida. Chega um casal de espanhóis, que mais tarde viria a perceber também falarem um alemão incompreensível, e pergunta onde se pode sentar. E que mesa escolhem eles? Exactamente a mesa ao lado da minha, a uns míseros 30 cm, o que me permite ouvir sempre tudo o que dizem e distrair-me da minha leitura. Fiquei a saber que amanhã vão para Viana do Castelo, de onde depois se dirigem a uma terriola mais para o interior para assistir a um casamento de una chica que, era evidente, a rapariga não estava ansiosa por conhecer. Era escusado. Vivemos em democracia, mas porra, não podiam escolher outra mesa?

Peregrinação

O peregrino lá foi e já deve estar a (tentar) atravessar os Pirinéus. Entretanto, a minha peregrinação é por outros caminhos, mais ali para o Centro de Saúde, que os senhores da Saúde 24, alarmistas como só eles, acham que estou a ter uma reacção alérgica à vacina do tétano que tomei há dois dias e proibiram-me de ficar sozinha em casa por largos períodos. Tão atenciosos. O gato Mr. Dexter já está de pré-aviso e já o ensinei a marcar 112 no telefone caso me dê a solipampa. Entretanto, vai-se trabalhando e teclando com um só braço... O que me leva a pensar na falta que um braço nos faz...


Fim de relação

Querido Álcool,

Foste um querido amigo em muitas ocasiões. Ajudaste-me a perder a timidez e a divertir-me como nunca pensei que fosse possível. Graças a ti passei alguns dos momentos mais felizes da minha vida. Graças a ti, também, passei algumas das manhãs mais complicadas da minha vida. Por isso, e porque as manhãs complicadas se arrastam para tardes e noites e dias seguintes complicados, acho que devemos repensar a nossa relação.
O que nós temos um com o outro não é saudável. É dependente, viciante e venenoso. Faz-me mal ao fígado e ao coração. Aos rins e aos neurónios. Podia continuar a enumerar todos os males que advêm da nossa relação, mas acho que já percebeste onde quero chegar. Não vale a pena estar com mais rodeios. A nossa relação, tal como a conhecemos, chegou ao fim. A partir de agora, não me quero deitar mais contigo no corpo. És daqueles one night stands de que nos envergonhamos no dia seguinte. Acabaram-se as noites de loucura desenfreada, o dançar música indiana descalça como se não houvesse amanhã porque o amanhã existe e não é sorridente. Já vou no segundo dia pós-ressaca e ainda sou movida a Guronsan. Por isso, vamos lá a ver se nos entendemos: estás proibido, ouviste, proibido de me prometeres a melhor noite da minha vida. De promessas está o inferno cheio. Quero-te fora da minha vida já! E se não entendes o que quero dizer, lê isto. Antes de mim houve alguém que chegou à mesma conclusão: és um traste.
Vai chatear miúdos de 16 anos.

Atencionamente,
A Iluminada.

Chegou o homem

Chegou e começou logo a mudar fraldas, foi ao supermercado, encheu o frigorífico e fez uma sopa à lá polaco. Era mais um panelão de inverno, daquelas sopas ricas de legumes e lentilhas super nutritivas e super quentes, mas está bem. Para o próximo regresso quero uma Paella.

Ou, como lhe chama o pai, Furacão


As pessoas com filhos acusam-se logo, quanto mais não seja para dizer "O meu também era assim". Foi por isso que soube que as meninas da loja não tinham filhos e que, assim que eu saí, devem ter suspirado de alívio por, de facto, assim ser.

Entrei na loja para lhe comprar uma t-shirt de emergência. Ainda não eram 4 da tarde e já lhe tinha trocado a roupa 3 vezes. Esgotado o meu stock "take away" e, uma vez mais, entornada meia garrafa de água corpo abaixo, a última coisa que eu queria era que, no meio daquilo tudo, ela se constipasse.
Se, até então, já estava no estado "furacão", assim que entrou na loja entrou no estado "Katrina". Não houve calças, t-shirts ou sapatos que não vieram ao chão. Até para cima da montra quis subir e escondia-se atrás (deitava abaixo) dos expositores. Eu, era ver-me a correr atrás dela e a dizer mil vezes "Não", tentando aparentar uma descontracção que não sentia e, no meio de tudo, ainda tentando escolher uma das t-shirts que a menina me ia pondo em cima do balcão. Acabei por escolher 4 porque o meu cérebro parou e riscou o disco... 

As pessoas que entravam riam-se, as meninas da loja achavam um piadão. Até àquele olhar do "que pestinha" e ao condescendente "deixe estar, nós arrumamos"... Não valia a pena eu dizer que ela não é sempre assim. Porque sempre que estamos com amigos ela é amplamente elogiada como uma bebé "tão calma e tranquila que dá gosto". Na verdade, não tinha de me justificar. E não me justifiquei. Continuei a minha odisseia de domingo, que o dia ainda ia só a meio.

Chegada a casa, ela dormindo estafada da excitação do dia, consegui finalmente tomar banho e sentar-me no sofá durante 10 míseros minutos em que senti um misto de esgotamento nervoso e vontade de me autoflagelar. Na verdade, tudo tinha sido evitável. Toma lá para aprenderes que da próxima fazes melhor. E tudo não passa do resultado de 9 dias de single parenting que, não me venham com merdas, não é pêra doce quando se está habituado a dividir a atenção por dois. Numa altura em que ela começa a desafiar os limites e a perceber que a vida está cheia de coisas interessantes e proibidas que ela quer ver, sentir e comer, ou que o sofá é mais giro se der para se atirar dele abaixo, entre duas mil outras coisas que quem tem filhos sabe exactamente o que quero dizer, as minhas pseudo tentativas de gentle parenting começam a dar de si. Neste domingo, não só lhe mandei dois berros, como tive uma vontade louca de lhe dar uma valente palmada. Não dei, mas tive vontade. Pensamento que logo me envergonhou e me fez querer redimir-me e falar-lhe a seguir com a voz mais doce do mundo, a tentar explicar-lhe o porquê de não poder fazer aquilo, e a tentar contrariar o desejo de rematar com um "fazes o que eu te digo e acabou a conversa!". 

Não quero ser assim. Nós não batemos. Nós não gritamos. Nós tratamos o outro com respeito e avisamos sempre que vai acontecer alguma coisa. Vou-te pegar ao colo. Vou-te mudar a fralda. Vamos entrar no carro. Vou-te tirar a chucha. Vais fazer ó-ó.
Na verdade, nem sempre é assim. Mas é o que tento(amos) implementar a maior parte das vezes. Quando falha, porque falha, é porque não somos super pessoas, nem budas, nem gurus do attachment-helicopter-positive-slow-spiritual-unconditional parenting e mais porra nenhuma parenting.
Na verdade, apetece-me mandar todas estas teorias à merda, respirar fundo, e seguir o meu instinto. Toda a gente falha, toda a gente fraqueja. Há que aceitar, compreender o que nos conduziu até ao limite da paciência e, para a próxima, tentar evitar chegar lá. E respirar fundo, bem fundo. Porque, eventualmente, daqui a 10 minutos tudo passa e ela já se está a esconder nas minhas pernas cheia de vergonha de alguém e a precisar que eu a guie nesta vida tão tortuosa.

Dobrador de pessoas


E-mail ao Centro de Terminologia Europeu IATE, uma fonte que, lá por ter Europeu no nome, não quer dizer que seja fidedigna.

Dear Sirs,
The Portuguese Translation for the entry “parachute packer” [1567401], [en] is somewhat funny. If a parachute packer refers to a person skilled in stowing parachutes, is definitely not a “people packer” as implied in the offered translation “dobrador de pessoas”. I would suggest something like “pessoa responsável por dobrar paraquedas”.
Thank you for your time.
Best regards,

A Super Mulher também vai à bola?


Qual urso polar em hibernação, mas menos fofo e em igual perigo de extinção, assim é o meu gosto por futebol: acorda de 2 em 2 anos enquanto a Selecção não perde. (In)felizmente que a coisa não costuma durar muito. É que o pobre do coração não aguenta.
(Assim o diz o meu estado pré-enfarte do miocárdio durante aquele mítico jogo dos penaltis de Portugal-Inglaterra no Euro 2004 e o jogo dos 16 cartões amarelos com a Holanda e no Mundial 2006. Juro, estive assim para cair para o lado de nervos.)

E, já que falamos em futebol, por causa desta brincadeira no Euro, o pai da minha filha tem estado em  terras polacas e ucranianas a ver a bola e só voltará daqui a 6 dias. Para além destes 11 dias fora (e não os 10 dias que me vendeu), pouco depois de voltar partirá de novo para se pôr a pedalar o Caminho de Santiago desde França (há quem seja Ironman, há quem goste da borga associada a  ajuntamentos internacionais de fãs da bola, e que há quem ache que pode conciliar as duas coisas no espaço de um mês...).
Assim sendo, este é o Mês da Mãe Solteira Mãe Sozinha! E, para já, não me posso queixar muito. Ao contrário do que esperava, tenho conseguido coordenar os meus horários com os dela sem precisar de me levantar às 6 da manhã nem de prescindir de grande coisa (exceptuando o Optimus Primavera Sound e a noite de Santo António, que, confesso, me custou um booocadinhooo não ir...) e sinto que até ao final da provação a vida vai-me continuar a correr sobre rodas. Senão, vejamos:

- Ela pensa que o pai dela foi viver para trás da televisão verde e guarda todos os abracinhos só para mim.
- Eu sinto-me a Super Mulher e tenho estado tão ocupada que não tenho tempo para pensar em comida, o que só é benéfico, visto a balança ter deixado recente e inexplicavelmente de ser minha amiga.
- Ele vai chegar cheio de saudades nossas e vai-me compensar o "trabalho" nas 137 noites seguintes em que vai ficar responsável por ir se ela acordar.

Só coisas boas, portanto. Mas, mesmo assim, não queria deixar de expressar a minha profunda admiração pelas mães solteiras/divorciadas/sozinhas. É nestas alturas que percebo que vocês são Super Mulheres. A minha vénia. A sério.

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