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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Na boca do crocodilo

Retirado daqui.

Val.nom.est.ar compr."Esper.p/peç"

Até parece latim, mas não é. Isto foi o que resultou da tradução de uma frase completa, originalmente em alemão, depois de aplicar a delimitação de caracteres imposta pelo cliente, esse ser estranho e maniento. O processo para verificar a delimitação é bastante moroso, pois implica que aplique a fórmula em cada célula individual, sendo que, para este trabalho em concreto, estamos a falar de, em média, largas centenas de células por ficheiro. São 8 ficheiros. O maior deles tem 2832 linhas.
Mas prometo terminar este texto antes de dar um tiro na cabeça.

E quem vai ler, ou melhor, perceber uma frase destas? Pois, não sei. Nem sequer sei em que visor de que maquineta é que é suposto isto aparecer. Provavelmente uma embaladora de garrafas ou uma máquina de termocolagem, que é o que me costuma calhar na rifa.

Isto é o meu trabalho,  a maior parte das vezes. Não é tradução. É contagem de caracteres e invenção de abreviaturas. De vez em quando lá aparece uma tradução médica, que eu adoro, ou a revista bimensal de arquitectura, onde costumo atingir o nirvana. Mas as traduções que exigem que mais puxe pela cabeça são as que têm prazos mais (ridiculamente) apertados, ou seja, mais propensas a causar crises de stress. Lá se vai o nirvana.

Muitas vezes me pergunto porque é que ainda não mudei de emprego. Uma vez por ano costumo ter uma grande crise profissional-existencial, longas conversas com o homem da casa que me faz sempre ver porque é que eu tenho um trabalho e uma vida espectaculares, mas, nunca acreditando nele, lá vou eu a uma ou duas entrevistas. Mas nunca nada que me encha as medidas. Porque, na verdade, eu não sei o que fazer para além disto. E porque há sempre a esperança (e a possibilidade) de fazer, nas horas vagas, uma tradução jurídica ou de carácter empresarial. E disso eu gosto e nem sinto o passar do tempo. E depois há os meus chefes. Que são, possivelmente, os chefes mais porreiros do mundo. E o facto de trabalhar em casa. Se eu fosse trabalhar para outro sítio, como raio é que poderia fazer máquinas de roupa à hora de almoço?

De qualquer maneira, é nestas ocasiões em que costumo pensar naqueles trabalhos que ninguém quer ter, para me dar algum ânimo nos dias em que só me apetece chorar e dar murros no Excel. Esta lista é um bom exemplo dos piores trabalhos do mundo. Mais sugestões para incluir no post-it a colar no ecrã ao 14º dia de desânimo?


P.S.- E dispenso comentários do género "Ao menos tens trabalho". Como me disse uma amiga há pouco tempo, não temos de gostar do trabalho que temos e não é por outros estarem no desemprego que temos de dar graças diárias por fazermos aquilo de que não gostamos. Eu gosto do que faço. Dois dias por mês. Por isso, nos outros 20 dias costumo sonhar em ter dinheiro para me poder dedicar àquilo que realmente me dá prazer. Que é? Ah, isso agora.

Weekend shots

Poder-se-ia dizer que foram manhãs e tardes perfeitas de um fim-de-semana passado em família sem grande obrigações ou compromissos familiares ou sociais, só nós os 3 e os planos que fomos fazendo ao sabor do vento. E o gato, mamã, e o gato! (Como quando lhe expliquei quem vivia na nossa casa e me esqueci, imperdoavelmente, de incluir o Dexter.)

Uma manhã passada no Parque das Nações com direito a escaladas de montanhas e altos voos no teleféctico. Sim, como o eléctico.



Sempre bem seguros, não fosse a coisa cair.

Um jantar com amigos ao ar livre sem quase darmos pelo frio de Fevereiro.
Só o Nenuco passou mais frio,coitado. 


Muita sede depois de uma manhã bem passada no Parque do Jamor, entre corridas, jogos de bola e aventuras no parque de madeira. Uma canseira.



Porque os olhos também comem

Ah e tal, esta é a minha nova guru da comida saudável, disse-me ele, quando me anunciou que queria fazer este pão. Ao princípio não liguei muito, mas as constantes referências de outros blogues de cozinha saudável à Sarah B. acabaram por me fazer visitar o seu site com mais atenção. E, se ela é uma apaixonada por comida (orgânica, saudável e vegetariana), eu fiquei apaixonada pelas fotografias da sua comida (e pelo papel de parede da sua cozinha!). Apesar de não cozinhar muito, gosto de blogues de culinária, assim como gosto de livros de culinária, principalmente vegetariana e macrobiótica, pois é como defino 90% da minha alimentação (pelo menos durante a semana, vá). Mas, para mim, um bom blogue de culinária é aquele em que cada receita é uma história e se faz acompanhar por fotos tão belas que mais parece que é a receita que faz a legenda das fotos e não ao contrário. 
O My New Roots é um blogue desse género, em que não só temos receitas interessantes, diferentes e muitas vezes a dar para o artístico, como nos prova que a cozinha vegetariana é muito mais rica, diversificada e saborosa do que se pensa, a avaliar pela oferta nos restaurantes de buffet que para aí andam (já disse que odeio buffet?), e nos contagia com a sua paixão pela comida.
My New Roots é uma celebração da cozinha saudável e, assim de repente, apetece-me comer isto tudo, kimchi incluída. E de cozinhar, também. Cozinhar e comer, dias a fio.





Todas as fotos foram retiradas do My New Roots.

Lema da quaresma infiel

Nunca deixes para correr amanhã o que podes correr hoje.
De boas intenções está o inferno dos gordos cheio e, de qualquer maneira, amanhã a piscina pode estar fechada para instalação do novo quadro eléctrico ou o céu pode abrir as comportas assim que pões o pé na rua. Não interessa se te levantaste antes das sete para isso. O que interessa é quando o Endomondo começa a marcar km.

Just do it.
(sempre sonhei dizer isto)

Andar à pata ou, neste caso, à pinguim

Teria dado jeito ter visto isto há 9 anos atrás (já?) quando fui para a Alemanha e desenvolvi um pânico disfarçado de andar no gelo. Foram várias as vezes em que caí, especialmente à noite quando é difícil distinguir o que é gelo e o que é neve e especialmente sempre que levava na mão um tupperware com muffins acabadinhos de sair do forno que tinha feito para a festa de uns amigos e cuja tampa, pelos vistos, não estava bem fechada...
Acabei por aprender sozinha vários truques que me permitiram não voltar a cair nos invernos seguintes e a distinguir os tipos de solas de sapatos mais antiderrapantes. De qualquer maneira, nunca me livrei do andar à pinguim...


Então uma sessão de 15 minutos de meditação corre mais ou menos assim

Inspirar, expirar, inspirar, expirar, tenho de me concentrar na respiração, inspirar, não escolhi bem a posição, expirar, deixa cá experimentar assim, inspirar, pronto, olha, o gato já foi para cima da caixa da máquina de costura, muito gostam os gatos de caixas, é como aquela BD..., inspirar, expirar, espero que ela não acorde já, dormiu tão bem hoje, inspirar, expirar, não acordou vez nenhuma, não que me possa queixar muito, mas odeio quando ela acorda a meio da noite e não quer que eu me vá embora e eu tenho de ficar ali ao frio, temos de fazer alguma coisa sobre isto, ai, inspirar, expirar, agora abri os olhos sem querer e vi as dezenas de livros de culinária na estante em frente, voltei logo a fechar os olhos, tenho de me concentrar, inspirar, expirar, bolas, temos mesmo muitos livros de culinária, é uma parvoíce se acabamos sempre por só fazer receitas dos mesmos livros, resumem-se a uns 4 ou 5 os que verdadeiramente usamos, no outro dia apareceu em casa com o livro da Gwyneth Paltrow, imagine-se, mas vai-se a ver e é daqueles livros que dão gosto folhear, é bonito, simples e elegante, bem ao jeito dela... Como será estar casada com o gajo dos Coldplay? Dizem que ele é um grande bruto e antipático, mas se calhar com a família é bem diferente... Inspirar, expirar, inspirar, expirar, tenho de mudar de posição outra vez, já me estão a doer os joelhos, inspirar. Assim, está bom, expirar, hoje vou correr, portanto visto já o fato de treino para não haver desculpas, assim o tipo do café fica logo a saber que vou correr, é cá um cusco, controla tudo e daqui a uns dias lá vem a boquinha "Então, tem ido correr...", ai, inspirar, expirar, isto não está a correr bem, não me consigo concentrar nisto, será que algum dia vou conseguir meditar durante 2 minutos seguidos? Como fazem aquelas pessoas que conseguem meditar durante horas? Santo deus... Então, vamos lá, não pensar em nada, inspirar, expirar, concentrar-me só na respiração, assim, inspirar, expirar, estar com uma narina meia entupida não ajuda, inspirar, expirar, agora estou a pensar que estou a pensar na respiração, acho que não é suposto, é não pensar em nada, inspirar, expirar, pensar que não estou a pensar em nada, inspirar, expirar, nunca mais acaba o tempo, inspirar, expirar, inspirar, expirar, e se eu hoje fizesse assim...
...

(não está fácil, portanto)

MUSIC BOX #18 - Nick Cave & The Bad Seeds



Tive um namorado que adorava Nick Cave. Na altura Nick Cave, para mim, resumia-se às Murder Ballads que se resumiam aos duetos com a Kyllie Minogue e a PJ Harvey. Tudo o resto era sinónimo de tortura às mãos da PIDE. De cada vez que ele punha Nick Cave a tocar no autorádio era como se me estivessem a arrancar as unhas uma a uma, com um alicate de podar flores e, claro, sem anestesia. Numa certa altura ele lembrou-se que a antiga banda de Nick Cave, os Birthday Party, é que era, e obrigava-me a ouvir uma música horrorosa em que eles (o Nick e o namorado, por imitação) se punham a zurrar, repito, zur-rar como se fosse uma coisa mesmo fixe de se fazer. Mais valia terem-me mergulhado as mãos, ensanguentadas das unhas arrancadas a alicate, num balde cheio de álcool puro, que a dor teria sido menor do que ter de ouvir/assistir àquilo.
Um dia eu e o namorado acabámos. Ou melhor, ele deixou que eu pensasse que tinha sido eu a acabar com ele. Deixou também de ter piada alimentar um ódio só para fazer pirraça. Libertei-me do jugo do burro e estava tão imersa na minha dor que achei que o facto de o Nick ter, daí a poucos meses, lançado um álbum com o título No More Shall We Part cheio de músicas de cortar os pulsos e arrancar o coração só podia significar que entendia o que eu estava a passar. Ele e o Manel Cruz.
E foi aí, nesse álbum, que me (re)apaixonei. A partir daí, foi um amor sem fim, em que valeu tudo menos burros a zurrar (há limites, sim?). Até hoje, dia em que o último álbum de Nick Cave & The Bad Seeds pode, por fim, tocar no meu autorádio iTunes. O homem teima em manter o penteado idiota, mas felizmente já rapou o bigode e a sua voz continua a tocar cá bem no fundo como se só (*suspiro*) cantasse para mim.

Desamor

Há aquela frase proferida por alguém famoso que diz algo do género "Quanto melhor conheço as pessoas, mais gosto dos animais". Um tanto ou quanto exagerada, a meu ver, mesmo sendo eu defensora dos animais, porque não se pode generalizar e nem toda a gente tem atitudes que revelam um  nível de inteligência emocional inferior ao de uma galinha. Mas, às vezes, as pessoas magoam-nos e magoam-nos muito e quando essas pessoas que nos magoam muito são aquelas que mais nos deviam amar, então nessas alturas só dá vontade de nos fecharmos num casulo com o bicho da seda.

Nas últimas duas semanas (ou serão dois anos?) tenho pensado muito sobre como as pessoas que nos são mais próximas são também aquelas que têm mais capacidade de nos afastarem, de nos magoarem, espezinharem e nos fazerem sentir seres execráveis, ingratos e mal-amados. Não devia ser assim. Não faz sentido. Onde há amor não devia haver espaço para o desamor. Porque assim mais difícil. É fácil esquecer os desaforos do desconhecido que nos passou à frente na fila do supermercado ou do maluco na Praça da Alegria que chama nomes pouco dignos a qualquer um que passe. Mas já não é tão fácil esquecer os desaforos e acusações que partem daqueles que mais amamos, quando esses nos cobram e reclamam o amor que nós julgáramos ser de graça, isento de contrapartidas, quando, mesmo antes de nos dizerem que sentem a nossa falta, nos acusam de sermos os culpados por isso, por toda a infelicidade que lhes causámos a eles e ao mundo, por pouco também pela bomba de Hiroxima.  E nós ficamos, assim, com vontade de os abanar e lhes abrir a cabeça e meter alguma sensatez lá dentro, mas, por outro lado, com raiva e angústia por percebermos que não podemos querer mudar os outros, que vai ser sempre assim porque foi sempre assim, que a única coisa que podemos fazer é protegermo-nos a nós próprios, criarmos barreiras para que as acusações nos passem a afectar cada vez menos, para que consigamos viver em paz com isso, na medida do possível, refazendo a nossa vida a cada dia que passa porque já somos adultos e responsáveis e, afinal, só queremos ser felizes e boas mães.
Mas como raio é que isso se faz foi o que me ocupou os pensamentos da insónia desta noite e aqui estou, numa sexta-feira, mal dormida e mal amada, com a nítida sensação de que é segunda e que tenho ainda à minha frente uma semana inteira de desassossego que não sei se sou capaz de aguentar. A raiva deu lugar à magoa que deu lugar à tristeza que retirou espaço para o amor. Agora percebo como é tão fácil deixar entrar o desamor.

Ironicamente, ontem foi o dia dos Namorados. Felizmente, não tem nada a ver.

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