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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Para a próxima, sem gato

Há coisa de um ano, uma amiga contava-me como a sua filha, na altura de dois anos e meio, já fazia companhia quando iam passear as duas e, por exemplo, se sentavam numa esplanada a comer um gelado.
Não duvidando que assim fosse, não conseguia perceber bem até que ponto é que uma criança tão pequena podia fazer companhia mais do que nos obrigar a estar constantemente atentos aos seus movimentos. "Mas vocês conversam?", perguntava eu, incrédula, "E falam sobre o quê?" E a minha amiga ia-me relatando as conversas básicas que tinha com a filha, sobre o gelado que estava tão bom, sobre o menino que estava a chorar duas mesas ao lado, sobre os pombos que vinham comer as migalhas, sobre o estado do país. Ok, esta última era a brincar.

Não há muito tempo voltei a lembrar-me desta conversa. Porque comecei a sentir isso mesmo, que a minha filha agora, com quase dois anos e meio, me presta mais companhia do que me faz andar atrás dela quando vamos passear. Se nos sentarmos as duas numa mesa de café a lanchar ou simplesmente a comer um gelado (um Corneto inteiro para cada uma - sim, sou uma má mãe!), é tão agradável que eu desejo, por instantes, que o momento se prolongue indefinidamente. Costumamos falar sobre o gelado que está tão bom, sobre o que se vai passando ao nosso redor, sobre o que vamos fazer a seguir e o que já fizemos, e, invariavelmente, acabamos com uma série de disparates que envolvem fotografias, troca de gelados, bocas lambuzadas e barrigas de abade.

Como hoje, na Feira do Livro. Foram mais de quatro horas sempre muito cúmplices e divertidas, com direito a ida ao parque porque chegámos cedo de mais, conto infantil da Formiga Juju, compra de livros da Miffy e da Anita, almoço e gelado. Até consegui comprar mais um livro para mim (ai, ai...). E, se não fosse o raio do gato de  peluche de um metro e oitenta que se veio meter com ela logo no início, a coisa teria corrido muito melhor...

Finalistas



Dos nove títulos finalistas que tinha na minha lista, trouxe oito. Não consegui trazer o nono, um qualquer da dupla Lars Kepler, não por os sacos já estarem muito pesados, mas porque as capas me assustaram de morte, principalmente esta. Apesar de me terem garantindo a pés juntos que a história não tem nada de sobrenatural, simplesmente não deu. Acho que este livro só com uma capa daquelas de tecido (eu sou uma pessoa que nem sequer viu O Sexto Sentido porque metia almas do outro mundo e, no dia em que vi O Exorcista, aos 16 anos, a minha mãe teve de ir dormir comigo duas noites seguidas...) 
Portanto, o saldo final: quatro policiais, três romances e um livro de crónicas (três destes de produção nacional). Acho que foi uma selecção equilibrada. O pior é decidir qual escolher para começar...

P.S.- Tenho a agradecer a esta e a esta meninas que muito contribuíram para esta pequena lista. Se não gostar dos livros, já sei a quem posso ir pedir explicações!

Há mais vida quando se lê



A Feira do Livro de Lisboa começa hoje e urge fazer uma lista dos livros que quero comprar, para que não aconteça o que os nutricionistas desaconselham às pessoas que querem emagrecer: nunca vá às compras com fome.
E eu ando com fome de ler.
Desde que a minha filha nasceu que não tenho lido nada de jeito. Leia-se: nada de jeito em quantidade, porque não sou pessoa para perder tempo com livros que não me cativam ou literatura de cordel. Não gosto, não leio, volta para a prateleira ou, como tem acontecido ultimamente, vai pelo correio para outra pessoa. Este ano já li umas coisas jeitosas, como João Tordo, José Luís Peixoto (que nunca, mas nunca desilude) e valter hugo mãe, uma preciosa descoberta este ano. Mas, tirando isto, tenho-me limitado a livros técnicos sobre parentalidade, minimalismo e felicidade (não é bem auto-ajuda, mas percebo que facilmente se confunda) os quais, em dias de maior cansaço, são a desculpa ideal para nem lhes tirar o pó da capa.
Quando o homem foi para o Nepal, eu deitava-me sempre cedo. E lia todas as noites. Descobri que ando a precisar de histórias, não de conceitos. Preciso de histórias que me cativem, que me façam querer pôr palitos nos olhos e ficar acordada até às 3 da manhã para ler (onde é que isso já vai...), histórias que me façam pensar nelas durante dois dias para além da última página, histórias que me levem até às ruas geladas de Reiquiavique (diz que é assim que se escreve). Histórias de assassínios no gelo e detectives solitários em busca da verdade em detrimento da vida familiar e pessoal que se vai desmoronando à medida que se aproxima o desenlace. E a neve, sempre a neve e a escuridão. Adoro. Policiais escandinavos, é do que eu gosto. Um gosto esquisito, pois então. Há quem goste de histórias adolescentes sobre vampiros, há quem nem sequer goste de ler. Eu gosto de policiais do frio. Pois então.

Quando estava na Alemanha, descobri alguns autores que me acompanharam fielmente durante meia dúzia de anos. Henning Mankell, Arnaldur Indridason, Ake Edwardsson e Karin Fossum, cujo A Noiva Indiana foi capaz de ser um dos melhores policiais que já li.


Quando voltei para Portugal, continuava a mandar vir os livros em alemão, até que ler em alemão me começou a cansar, mais do que me custar. Experimentei mais um ou outro em português, mas, com algumas desilusões pelo meio (Camilla Läckberg foi uma delas - aquela Princela do Gelo facilmente confunde policial com crónicas da Bridget Jones, por que raio é que a protagonista há-de estar sempre preocupada com o peso e com o que veste, por deus?), pouca coisa encontrei que me enchesse as medidas. E estou a falar apenas do género policial.

Agora que a segunda gravidez me voltou a tirar neurónios, sinto que preciso de histórias simples, pouco descritivas ou conceptuais e com muita acção e suspense para evitar que adormeça ao fim de duas páginas. Eu, que sempre fui mulher de gostar de clássicos e livros que exigem mais concentração, dou por mim a não conseguir sequer acabar um Murakami por ser demasiado surreal e pouco emocionante (convenhamos, o senhor volta sempre ao mesmo).

Posto o que, com a Feira aí à porta, preciso urgentemente de sugestões de leitura para as férias que também se avizinham. Só numa tarde já consegui reunir uns quantos títulos graças a dicas dadas por amigos, mas todas as sugestões são poucas quando a sede de ler é tanta.

Ora, faz favor de chutar.

Dos segundos* - do que perdem e do que ganham

* ou dos terceiros e quartos e quintos, credo.

"It is inevitable that I worry once in a while about what she might be missing, being that we're spread in our parenting energies by the needs of five little ones. Unlike her oldest brother, she doesn't have years of time alone with us. She has one day a week, she has bedtimes, she has moments here and moments there. It is quite different. But I am reminded so often, at her little birthday party especially, of what more she has. Not just two parents, but in essence, six people looking out for her. So many people right nearby who will read to her, give her a lift, help her get something out of reach, and give a kiss when she falls down. She runs to each of us for comfort - everywhere she looks, there's love. And for that...well, for that...I'd say she's a blessed little one."

É isso, Soulemama, às vezes irritas-me com os teus cinco filhos e a tua vida perfeita, mas desta vez fizeste-me ver bem aquilo que terei de ter em mente daqui a uns tempos. Mesmo que, no nosso caso, estas seis pessoas sejam só quatro: os pais, a irmã e o gato, claro.

O lobo mau e outras histórias




Desde que comecei a ler histórias à pequena à hora de deitar, que me preocupo em "ler-lhe" só aquilo que interessa. Ou seja, as histórias infelizes que apareceram lá por casa, que ela é que escolhe para ler, que eu nunca recuso (mas devia!) e que ainda ninguém se lembrou de considerar como altamente nocivas para menores de 8 anos, como o Pequeno Polegar (história de uns pais pobres que, por não terem dinheiro, decidem abandonar os seus 7 filhos na floresta não uma, mas duas vezes!) ou o Capuchinho Vermelho (história de uma menina que, por ter desobedecido às ordens da mãe para não ir pela floresta, acaba perseguida por um lobo que a quer comer e vê a sua avó ser sacada da barriga do dito - macabro, para dizer pouco!), têm um desenlace completamente diferente quando lidas por mim.
Ou tinham.

Até há bem pouco tempo, o lobo não comia a avó, estava era atrás dos queques de laranja que a Capuchinho levava no cesto e tinha combinado com a avó, de quem era amicíssimo, pregar um valente susto à Capuchinho, mas na mais inocente das brincadeiras. A avó estava escondida no pomar por trás da casa a rir-se à socapa e o caçador apareceu ali por um mero acaso, não sendo caçador, coisa nenhuma, mas um inocente observador de pássaros.
Quanto ao Pequeno Polegar, os irmãos tinham decidido iniciar, sozinhos, uma excursão pelo bosque à procura de um tesouro escondido no palácio do gigante para ajudarem os pais pobres. Tão simples quanto isto.

Mas alguém se lembrou de lhe ler a história do Capuchinho toda, na íntegra, sem tirar nem pôr, tal como vem no livro, a pensar que a miúda não percebe ou que as crianças são imunes à crueldade da selecção natural (ou não tão natural assim). De modos que, vai disto, um dia a pequena diz-me: "Não, mamã, o lobo comeu a avó."
...

A partir daí, depois de me ter gelado o sangue no corpo, não tive outro remédio senão ler a história original, poupando-a apenas aos pormenores mais sádicos. Dar um tiro no lobo mau?? Abrir-lhe a barriga? Santo deus. Já agora, não querem já pôr miúdos de 2 anos a ver o Saw?

Mas agora a cachopa não faz senão falar do lobo mau. É o lobo mau que está no parque escondido atrás da árvore, é o lobo mau que está na cozinha, debaixo da toalha da mesa, é o lobo mau que lhe vem tirar a chucha, fora todas as vezes que o vê e não me diz. 
Não lhe pressinto nenhum medo nas suas visões, parece-me, antes, que é algo que a diverte. De qualquer maneira, tento sempre amenizar-lhe futuros medos quando lhe digo que temos de dar maçãs e cenouras ao lobo mau (e nunca coelhos ou ovelhas, credo) porque ele só tem fome e não faz mal nenhum. Mas o tempo dos pesadelos aproxima-se. E cheira-me que já sei qual será o primeiro protagonista.

Agora que penso nisto friamente, acho que o melhor é dar sumiço a certos e determinados livros e chicotear-me cem vezes por ainda não o ter feito. A miúda ainda é muito novinha para alimentar o imaginário com monstros e bichos maus. Ele já tem medo de moscas, por deus! Moscas...

Uma ou outra coisa sobre o desfralde

Ressentimentos à parte, a minha filha está uma crescida. Do alto dos seus 2 anos e... hmm... cinco meses? (uma pessoa às tantas perde-se), temos uma cachopa que ao final de uma semana de desfralde já está em perfeito controlo da coisa. Pronto, já passaram umas 3 ou 4 semanas e, vá, não totalmente em controlo, que não quero dar uma de mãe-mete-nojo, mas a verdade é que o desfralde correu tão bem, mas tão bem, que hoje em dia já só saio de casa com uma muda de roupa, só naquela de descargo de consciência, e não com 3 mudas e 3 sacos de plástico e mais um resguardo e o arco da velha como na primeira semana.
E como consegui isto? A juntar ao facto de ter uma miúda super ultra espectacular (!), que percebe as coisas e quer ser uma menina crescida e gostou tanto de ser promovida a utilizadora de cuecas que, num dia quente no parque, andou a mostrá-las a toda a gente (conversas sobre pudor só mais lá para a frente), acho que fizemos bem uma coisa: ou é ou não é. Se é para tirar a fralda, é para tirar a fralda, não há cá excepções e desculpas "ah e tal, vamos passar o dia todo fora, coitadinha da bebé".

Primeiro - e agora vou dar uma de guru de parentalidade que não sou - uma criança em fase de desfralde quer tudo menos ser tratada como um bebé. Uma criança em fase de desfralde (bem como em qualquer outra fase de promoção individual e crescimento), quer ser tratada com respeito e confiança. Temos de lhes mostrar que confiamos neles e que, mesmo que haja um descuido debaixo do escorrega no parque (check!), nós estamos prontos para resolver a coisa sem ralhetes nem recriminações. Porque os descuidos acontecem e eles ainda só estão no princípio. 
Quando oiço alguns pais queixarem-se que com eles está a correr tão mal e percebo que só lhes tiram a fralda em casa, dá-me vontade de lhes dar um calduço e perguntar: "Mas assim como é que vocês querem que o vosso filho perceba quando é que é para fazer na fralda e quanto é que é para pedir para ir ao bacio?" Se ele tiver a fralda - e uma fralda cueca é, ao fim e ao cabo, uma fralda e não uma cueca! - ele faz na fralda, ponto.
Segundo, o problema dos pais é serem preguiçosos e quererem sair de casa descansados sem ter de andar a perguntar de 10 em 10 minutos se o menino quer fazer chichi. Mas se não for agora, terão de o fazer mais tarde e é melhor aproveitar o facto de na creche já terem começado o processo.

Por isso, deixem-se de tretas, deixem, sim, os miúdos crescer. 
Está dito. Foi um bocado mete-nojo, mas estava-me entalado.

Quem diz a verdade...

Depois de um primeiro trimestre de gravidez completamente desinteressada das costuras, lá recuperei a vontade de costurar umas coisinhas para a descendência. Comecei por umas botinhas de bebé (imbuída de espírito maternal depois de ter visto o segundo aos pulos no ventre), mas que não me correram bem e estão à espera de dias melhores (ou do dia em que vou descobrir como enfiar uma coisa tão pequena debaixo do pé calcador - diz que é possível!).
Optei, então, por repetir terreno conhecido e fazer saias e vestidos básicos-mais-básico-não-há para a primogénita. O primeiro correu bem, vai daí, resolvi dar-lhe com força e repescar as capulanas que trouxe de Moçambique nas últimas férias.
Feita a "saia dos elefantes" que ela adorou mas que não lhe serviu (...), resolvi fazer-lhe outra saia, desta vez com as medidas certas. Não sei o que aconteceu, mas a saia passou de saia a blusa por um acaso inexplicável, com fita para o cabelo a condizer. No dia seguinte - hoje - mostrei-lhe, para a primeira prova, convencida de que ia gostar só porque o tecido tinha elefantes.
Quando lhe coloquei a fita na cabeça, foi-se ver ao espelho e saiu-se com um:
- Mamã, isto é do cozinheiro!
(Oi?)
E depois fez um esgar de dor para que lhe tirasse a fita.
Perdida por cem, perdida por mil, vamos lá experimentar a blusa.
Assim que a viu, a reacção não podia ser mais esclarecedora:
- Mamã, é feio!

E eu, literalmente com cara de cu, ainda ouvi o pai dela a rir no quarto e a vir a correr desmentir, por piedade ou sinceridade, não interessa agora, antes que me desse uma crise de choro de grávida. Não deu, mas, depois de pensar em colocar aqui uma foto dos espécimes, percebo que, depois disto, a minha auto-estima ainda não está completamente refeita.

Pesadelo

Este é o meu maior pesadelo.

Praga de gafanhotos em Israel em Março deste ano,
fotografia tirada por Uriel Sinai, Getty Images

E ultimamente tenho mesmo tido pesadelos com gafanhotos gigantes, gafanhotos de várias cores e formas, gafanhotos do tamanho de pássaros, gafanhotos que me bloqueiam a entrada de casa, fazendo-me prisioneira nas minhas próprias quatro paredes, passando a noite banhada em suores frios a congeminar um plano para escapar dos monstros.
No outro dia também sonhei com tigres e leões que me cheiravam e abriam a bocarra prontos a engolir-me. Mas esse sonho até foi suave, em comparação com os esvoaçantes do sonho de hoje.

Para quando os sonhos surreais de grávida em que me imagino a parir uma galinha ou um bebé com cara de velha enrugada? Para quando, por deus??

33

Ontem fiz 33 anos. Seria uma idade como as outras, não proporcionasse ela a única oportunidade de se fazer referência à idade de Cristo. Mas não houve uma única alminha que se tenha lembrado disso. E eu que fiz tantas vezes a piada. Dá que pensar que, de facto, pode não ser uma piada. É simplesmente de mau gosto. Mas adiante.

Ontem fiz 33 anos. Recebi poucas prendas, mas muitos miminhos. Entre eles contam-se telefonemas e mensagens de pessoas que não esperava e me deixaram um calorzinho no coração. A prenda de que mais gostei foi a da minha filha (porque daqui a uns anos me pode render uns valentes milhões!)



e das mil vezes que ela me disse "Parabéns, mamã!" acompanhado de muitos beijinhos peganhentos.

Ontem fiz 33 anos. Adoro fazer anos e adoro receber prendas, mas este ano, fora a pintura de autor e à pala de muito me andar a queixar que não tinha calças que me servissem, só recebi roupa de grávida. Não me estou a queixar. Mas alguém podia ter-me avisado disso quando, no dia anterior, fui às compras de calcinhas para barrigudas de 12 semanas



e ter constatado não ser tarefa fácil (e que, daqui a 5 meses, qualquer semelhança entre mim e uma baleia não será pura coincidência!)

Ontem fiz 33 anos. Adoro fazer anos e adoro fazer festa de anos. Este ano tive direito a um piquenique com muito sol e muita gente que, não sendo no meu dia de anos, serviu para prolongar o dia de anos por três (e com um dia da mãe pelo meio).

Ontem fiz 33 anos. Foi uma segunda de trabalho quase como as outras, não fossem os telefonemas que pouco contribuíram para a minha produtividade e o facto de termos ido jantar a uma pizzaria fina para os lados do Chiado. A Inês só cuspiu para o prato umas cinco vezes e não fez chichi à mesa, o que corresponde a ter-se portado lindamente. Mas estas excursões a restaurantes de Chef acabam por deixar sempre um gostinho amargo na boca. Sentimos que estamos a pagar mais pelo nome do que pelo bem ou original que sabe...

Ontem fiz 33 anos e à vinda para casa, às 22 horas, já me sentia tão cansada como se tivesse feito 83. Felizmente acabei de entrar no segundo trimestre. A partir de agora tenho 3 meses para me sentir como a Super Mulher. Que é, como quem diz, de volta aos 20!