No último post, quando disse que não ia fazer pressão para acelerar o parto, é claro que estava a mentir. O que eu queria mesmo dizer era que ia (tentar) deixar-me de ansiedades contraproducentes, mas não posso simplesmente depositar o meu destino nas mãos da Virgem Maria, que a gente já sabe como reza o ditado.
Esta quinta-feira, daqui a dois dias portanto, entro nas 40 semanas. A médica tem vindo a anunciar há algumas semanas que, na consulta das 40 (que também calha na quinta), me vai marcar a indução. Ora, se bem me lembro da última vez que me quiseram marcar a indução depois das 40 semanas, não é coisa para ansiar com excitação.
Tendo calhado na semana antes do Natal, a maternidade parecia o Colombo em vésperas de Natal. Não havia camas suficientes para quem não estivesse em iminente trabalho de parto, posto o que todas as grávidas que esperavam indução se tinham de juntar no átrio dos internamentos a partir das 8 da manhã e esperar até ao meio-dia que lhes dissessem se tinham vaga. Como critério de entrada, contava-se o tempo de gestação das grávidas, sendo que eu, apenas com 40+5 semanas, fiquei sempre em último lugar nos dois dias em que andei nesta rambóia. As manhãs passávamo-las a jogar Angry Birds (note-se: estávamos em 2010) e a tentar adivinhar o tempo de gestação da concorrência só por olhar para o tamanho das barrigas. Por volta do meio-dia, a enfermeira chegava e lia os nomes das contempladas. Às outras aconselhava-as a voltar no dia seguinte. Assim um pouco como acontece em qualquer repartição pública do país. Só que ali tínhamos camas à nossa espera e a promessa de que só sairíamos de lá com um bebé nos braços e seis quilos mais magras.
Na segunda manhã, lembro-me de ver uma das grávidas que tinha entrado na manhã anterior a deambular pelos corredores da maternidade, vestida com uma camisa de dormir encardida e um robe muito pouco sexy, pantufas do chinês e meia branca, o cabelo pastoso e olheiras até ao umbigo, de mão nas costas a segurar as dores e eu, com tão pouca inveja, pensei na figura que faria, eu que nem robe tinha. Vinte e quatro horas depois a rapariga ainda por ali andava, provavelmente cheia de oxitocina artificial e vontade de ir para casa enrolar-se no colo do marido, mas ali presa à espera que o corpo colaborasse.
Mais uma vez me foi negada a entrada, mais uma vez voltei para casa e fui caminhar. Foi nessa caminhada que comecei a sentir umas dores esquisitas e implorei ao meu treinador que me deixasse ir para casa. Horas mais tarde, estava a dar entrada na maternidade pelo meu próprio pé e não me foi negada nenhuma cama. Vinte e três horas depois nascia a Inês. Menos tempo do que a rapariga que tinha visto essa manhã, mas com a benesse de poder ter ido para casa, tomar um duche na minha banheira e comer uma última refeição de pizza mesmo que, a alturas tantas, já não me soubesse a nada.
Na próxima quinta a médica vai marcar a indução e eu posso dizer-lhe que não quero. Posso, mas não vou. E, portanto, tenho duas opções. Ou me preparo para me pavonear em roupa de dormir nos corredores do hospital ou continuo a fazer a minha parte nisto de tentar
induzir o parto naturalmente e pode ser que me safe das esperas por vaga. Muitas caminhadas, muitas escadas, agachamentos - e certas posições de yoga, descobri eu hoje. Já não posso com os glúteos. Mas nem tudo custa, também há a parte do sexo. Yey! Ou de coisas parvas como
isto.
No entanto, pelo sim pelo não, não vá o corpo preguiçar mais uns dias, já tenho um robe de fazer inveja a qualquer parturiente. Pois. E é nisto que estamos.