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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Entre irmãs

Primeiro deu-lhe um beijinho da testa. Seguiu-se outro. E mais outro. Depois deixou-se ficar ali, perigosamente perto, completamente debruçada sobre o seu frágil corpo, com os olhos em cima do seu pequeno nariz, a sentir-lhe a respiração e a transmitir-lhe umas quantas bactérias acabadinhas de trazer da rua. Deu-lhe o dedo a segurar e ali ficou a admirar-lhe a mão, a examinar cada unha, a averiguar cada cutícula, perdida em pensamentos de mana mais velha.
Depois levantou-se e foi brincar com o puzzle.

Breves notas sobre um nascimento


Chegou e deu-me um passou-bem. Atrás de si vinha a aluna, de ar doce e quase tímido. Ele, e o seu bigode, ia lançando piadas e gracejos às grávidas que estavam para indução e a quem ele próprio, pouco mais tarde, se encarregaria de escoltar até ao bloco de partos.
Avisei-o para não pisar as águas que me haviam rebentado há 20 minutos. Ele fez então o que tinha a fazer, o famoso toque seguido pela aluna, que foi bem mais gentil. Mas às horas tantas já só queremos que nos arranquem a criança, mais toque menos toque pouca diferença faz.
Em menos de nada estava pronta para ir para baixo, "já tem três dedos". Eu já só ouvia a palavra epidural.
Dizem que as dores de uma indução são muito mais intensas do que num parto espontâneo. Nem tudo o que se diz por aí se aplica a todos os casos (como o segundo filho ser sempre mais cedo do que o primeiro!! Ha ha ha!), mas esta posso eu confirmar. Desci e subi dos infernos durante a hora que levou todo o processo desde a ruptura da bolsa de aguas à epidural, foi uma só hora intensa de dor profunda em que me agarrava às grades da cama e continha os gritos. Eu não grito de dor, porra, eu não grito de dor. Agora já não sei se gritei, nem isso me interessa muito. Porque logo chegou a epidural e logo entrei naquele estado zen de que o mundo podia acabar que eu não me importava.
O enfermeiro Fernando, chamemos-lhe assim, ainda veio ver como avançava a coisa, como o treinador de castigo no balneário que espreita pela janelinha do duche do fundo aos 80 minutos.
A coisa avançaria definitivamente pouco depois, num rol de acontecimentos e pormenores que não interessa agora aqui expor, e terminando na vinda ao mundo do segundo ser excepcionalmente belo e perfeito que, vejam só, saiu mesmo de mim.
No dia seguinte, o enfermeiro Fernando e a sua extremosa pupila haveriam de me visitar no quarto para ver o resultado da sua "obra" e me desejar as mais sinceras felicidades. Há pessoas assim, únicas, que nos roubam um espacinho no coração quando julgamos já tê-lo todo reservado.

...
A Alice chegou ao mundo na noite de quarta-feira para me arrebatar todo o coração de uma só vez. Olho para ela e por vezes julgo recuar três anos, tais são as parecenças com a irmã. Mas, depois, quando o olhar dela encontra o meu e levanta a cabecinha de tartaruguinha para olhar em redor, percebo que estou perante outro ser completamente diferente, outra parte de mim, que em breve manifestará a sua individualidade e logo me vai fazer perceber melhor porque é que isto faz todo o sentido.

Maternity fashion

Já percebi por que é que a camisa de dormir da outra (ver alguns posts atrás, sem paciência para fazer hiperligações) era tão farelosa. Aqui ninguém anda de camisa de dormir da Intimissimi. A moda é mesmo a bata do hospital daquelas que deixam o rabo à mostra. Yep. Sempre sexy!

Induzir, sim, mas só com um robe à altura

No último post, quando disse que não ia fazer pressão para acelerar o parto, é claro que estava a mentir. O que eu queria mesmo dizer era que ia (tentar) deixar-me de ansiedades contraproducentes, mas não posso simplesmente depositar o meu destino nas mãos da Virgem Maria, que a gente já sabe como reza o ditado.
Esta quinta-feira, daqui a dois dias portanto, entro nas 40 semanas. A médica tem vindo a anunciar há algumas semanas que, na consulta das 40 (que também calha na quinta), me vai marcar a indução. Ora, se bem me lembro da última vez que me quiseram marcar a indução depois das 40 semanas, não é coisa para ansiar com excitação. 
Tendo calhado na semana antes do Natal, a maternidade parecia o Colombo em vésperas de Natal. Não havia camas suficientes para quem não estivesse em iminente trabalho de parto, posto o que todas as grávidas que esperavam indução se tinham de juntar no átrio dos internamentos a partir das 8 da manhã e esperar até ao meio-dia que lhes dissessem se tinham vaga. Como critério de entrada, contava-se o tempo de gestação das grávidas, sendo que eu, apenas com 40+5 semanas, fiquei sempre em último lugar nos dois dias em que andei nesta rambóia. As manhãs passávamo-las a jogar Angry Birds (note-se: estávamos em 2010) e a tentar adivinhar o tempo de gestação da concorrência só por olhar para o tamanho das barrigas. Por volta do meio-dia, a enfermeira chegava e lia os nomes das contempladas. Às outras aconselhava-as a voltar no dia seguinte. Assim um pouco como acontece em qualquer repartição pública do país. Só que ali tínhamos camas à nossa espera e a promessa de que só sairíamos de lá com um bebé nos braços e seis quilos mais magras.
Na segunda manhã, lembro-me de ver uma das grávidas que tinha entrado na manhã anterior a deambular pelos corredores da maternidade, vestida com uma camisa de dormir encardida e um robe muito pouco sexy, pantufas do chinês e meia branca, o cabelo pastoso e olheiras até ao umbigo, de mão nas costas a segurar as dores e eu, com tão pouca inveja, pensei na figura que faria, eu que nem robe tinha. Vinte e quatro horas depois a rapariga ainda por ali andava, provavelmente cheia de oxitocina artificial e vontade de ir para casa enrolar-se no colo do marido, mas ali presa à espera que o corpo colaborasse.
Mais uma vez me foi negada a entrada, mais uma vez voltei para casa e fui caminhar. Foi nessa caminhada que comecei a sentir umas dores esquisitas e implorei ao meu treinador que me deixasse ir para casa. Horas mais tarde, estava a dar entrada na maternidade pelo meu próprio pé e não me foi negada nenhuma cama. Vinte e três horas depois nascia a Inês. Menos tempo do que a rapariga que tinha visto essa manhã, mas com a benesse de poder ter  ido para casa, tomar um duche na minha banheira e comer uma última refeição de pizza mesmo que, a alturas tantas, já não me soubesse a nada.
Na próxima quinta a médica vai marcar a indução e eu posso dizer-lhe que não quero. Posso, mas não vou. E, portanto, tenho duas opções. Ou me preparo para me pavonear em roupa de dormir nos corredores do hospital ou continuo a fazer a minha parte nisto de tentar induzir o parto naturalmente e pode ser que me safe das esperas por vaga. Muitas caminhadas, muitas escadas, agachamentos - e certas posições de yoga, descobri eu hoje. Já não posso com os glúteos. Mas nem tudo custa, também há a parte do sexo. Yey! Ou de coisas parvas como isto.
No entanto, pelo sim pelo não, não vá o corpo preguiçar mais uns dias, já tenho um robe de fazer inveja a qualquer parturiente. Pois. E é nisto que estamos.

A teoria do parto anunciado

Em vez de andarem para aí com políticas de austeridade, que tal se tratassem de arranjar uma maneira de mudar as leis naturais da gestação e implementar a minha nova teoria: o parto devia estar ao mesmo nível de, por exemplo, um exame de admissão à faculdade, uma operação cirúrgica, uma viagem à volta do mundo ou o casamento. Passo a explicar. Todos estes acontecimentos exigem uma preparação prévia, em alguns casos ao longo de mais do que 9 meses, e todos eles permitem ou sugerem uma espécie de comemoração/ritual de preparação no dia anterior, desde a despedida de solteiro, a jejum ou uma noite bem dormida. Não seria bem mais fácil se no parto fosse igual? Salvo os partos que são marcados, devia haver um sinal infalível que nos indicasse que iríamos entrar inequivocamente em trabalho de parto nas próximas 24 horas e nos permitisse providenciar os arranjos necessários (levar a miúda aos avós, fazer as últimas comprinhas, fazer a depilação ou simplesmente dormir) com a certeza de que não teríamos de repetir tudo daí a uma semana ou mandar vir a miúda dos avós com um sorriso amarelo. Principalmente para a depilação dava jeito não sofrer em duplicado. Já basta... Saía-nos o rolhão mucoso ou qualquer coisa nojenta e gelatinosa do género e já sabíamos, pronto, amanhã é o dia, vamos lá comer uma última feijoada, dizer à família que já podem parar de nos telefonar dia sim dia sim e preparar o último jantar romântico dos próximos seis meses.
Mas não. Ainda ninguém se lembrou disto e, portanto, cá andamos nós à espera que o corpo deixe de brincar às contracções, a caminhar e subir escadas não como se não houvesse amanhã, mas consoante o que o corpo nos permite nesta fase, e a constatar que os nossos bebés gostam mesmo é de ficar cá até à última. Se, quando entrei de baixa às 28 semanas com risco de parto prematuro, alguém me dissesse que ia chegar às 39 semanas e meia, rir-me-ia. Mas como não sabia, nunca esperei chegar a esta fase e acabei por deixar que a ansiedade e a frustração tomassem conta de mim na passada semana, o que foi assim meio contraproducente. Por isso, optei por uma estratégia diferente. A estratégia do que se lixe. Ai estás com contracções? Vai mas é ver uma série. Pode ser que tenha um desfecho mais adequado à situação do que desatar a subir escadas assim que as contracções começam a atingir a regularidade desejada. Já percebi que não adianta. Assim como assim, ela não vai ficar cá dentro para sempre, certo? Então mais vale começar um novo livro ou a quarta temporada do Parenthood e deixar-me de cenas. É quando quiseres, filha. Juro que agora só te pressiono outra vez contra a tua vontade quando me vieres pedir para ir para a catequese. Palavra de mãe.

A mana mais velha

Pergunta constantemente se a mana ainda não sabe fazer isto (e faz uma pirueta) ou isto (e levanta uma perna) e diz que ela é que vai ensinar a mana a fazer isso tudo - e outras coisas incríveis como estalar os dedos. Perguntava constantemente quando é que a mana nascia, mas agora já percebe que está quase e repete as palavras que tem guardadas para ela - a bebé - "não chora, não chora". Diz que é ela quem lhe vai dar o biberão, pois ainda não percebeu muito bem a história da maminha - que coisa esquisita... Colocou, generosamente, uns bonecos seus no berço da mana, para ela não se sentir sozinha, e nem perguntou porque é que a mana vai ficar no quarto dos pais e não no dela (a seu tempo!). Está ansiosa por fazer a festa dos 3 anos e até deixa a mana ir à festa. Uma querida (entretanto, decidiu que a mamã só vai se se portar bem, a mãe, não ela). 
Enquanto a mana não nasce (e já lá vão 38 semanas e meia, quem diria?), vamos passeando ainda só a três e desfrutando dos momentos de exclusividade, exclusividade dela e exclusividade nossa, enquanto duram. Foi um prazer tê-la só para nós durante estes quase 3 anos. E será um prazer dar-lhe uma irmãzinha para o resto da sua vida. Dizem-me que aí tudo fará ainda mais sentido. 
Mas, se já faz?











Este podia muito bem ser o último post antes de as nossas vidas ficarem um bocadinho mais cheias.

Amigas assim...

Ai estás-te a deitar no sofá em vez de ires dar 5 voltas ao estádio nacional para ver se a miúda nasce? Deves pensar que te vou deixar ficar nessa posição durante muito tempo. Lá porque hoje já subiste 8 andares de uma vez e os desceste de elevador não quer dizer que possas descansar o rabo. Ora toma lá mais umas horas de nariz entupido que é para veres se vais amolecer esse colo do útero. Mandriona.

A tua amiga Sinusite, que nunca te deixa ficar mal.

MUSIC BOX #19 - Arcade Fire

http://www.youtube.com/v/7E0fVfectDo?autohide=1&version=3&feature=share&autohide=1&attribution_tag=znnfioBkjDhatDCs1EXM0g&showinfo=1&autoplay=1

Lembro-me da primeira vez que ouvi Arcade Fire. Foi em 2004, numa playlist feita por uma amiga. A Neighborhood #2 (Laika) era a segunda música e lembro-me bem de, à primeira audição, ter sido acometida por num misto de assombro e humildade perante uma manifestação divina. Os Arcade Fire chegavam numa altura de algum desencanto musical e vieram oferecer à cena indie uma sonoridade completamente nova e arrojada mas despretensiosa. E, para uma pequena legião, foi amor à primeira audição.

Em 2013 chega-nos Reflektor, o quarto álbum de originais da banda canadiana, desta feita produzido por James Murphy, dos LCD Soundsystem, o que, só por si, faz com que o álbum seja muito mais dançante do que os anteriores, relembrando as batidas dos anos 80 (juro que há duas músicas que me fazem lembrar isto). Na verdade, confesso que a primeira vez que ouvi o single Reflektor fiquei algo desiludida. Com medo, mesmo. Mas a Rádio Radar foi insistindo e eu fui-me habituando. Às tantas, até já a Inês sabia que aquela era a música preferida da mamã e que podíamos/devíamos dançar no carro. E agora, depois de ouvir o álbum todo algumas vezes, tenho a dizer que era mesmo disto que andava a precisar. Eles inovaram, arrojaram e, como me disse um amigo, a via electrónica era o único caminho que poderiam seguir para não correrem o risco de ser "mais do mesmo". Concordo. E acho que este álbum está bom, muito bom. E para aqueles que teimam em ficar presos ao passado e dizer que no tempo dos Talking Heads (a comparação é do Nuno Markl) é que era, eu só tenho uma palavra para vos dizer: calai-vos!