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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Uma espécie de western capilar

Dia de ir ao cabeleireiro.
Nunca as minhas emoções haviam oscilado tanto entre o fascínio pela forma como o cabeleireiro manobrava a tesoura e o pente, qual cowboy do toucador, e a preocupação perante a iminente possibilidade de levar com uma tesourada no olho. É que, substituindo as pistolas por uma tesoura e um pente, a coisa foi mais ou menos assim:


Perante isto, não ousei tecer comentários sobre o facto de o resultado final não estar exactamente igual à foto que mostrara ao início. Não quis parecer mesquinha, foi isso.

Menina de vidro

Domingo de chuva. O homem vai à bola e eu fico, pela primeira vez, sozinha com as duas durante mais de duas horas. Corre bem. Jogamos uns legos, vemos um filme, lemos umas histórias, fazemos um bolo. Actividades suficientes para um dia inteiro, mas ainda só são quatro e meia. Depois sesta. Corre bem. Adormece depressa, aninhada em mim, o barulho da chucha a funcionar como uma espécie de ruído branco que me embala até ser tempo de acudir à mais nova.
Ainda de pijama penso que dava tudo para me enroscar no sofá a ler um livro, mas por estes dias o meu conceito de descanso é pôr a bebé à mama e conseguir equilibrar um livro no braço livre. Corre bem. A bebé volta a pegar no sono rapidamente e eu posso, enfim, pôr-me mais ou menos confortável e pegar num livro. Decido não desperdiçar o silêncio com thrillers de meia tigela e revisito o México da Alexandra. Antes de me afundar na leitura, volto a pensar na mais velha e em como com apenas três anos já fracturou o ombro e torceu o joelho. Em menos de seis meses o histórico de visitas ao hospital daria uma bela história de suspeita de maus tratos. A rapariga cai muito, o que quer que lhe faça, ainda no outro dia estava aos saltos na cama e caiu de cabeça no meio do chão. Juro que acudi de imediato, Senhora Assistente Social, mas se quiser venha cá a casa um dia destes, toma um cházinho e vê com os seus próprios olhos que por aqui é só mimo e muito azar. Quais são as probabilidades de a miúda saltar em insufláveis duas vezes por ano, uma vez na Nazaré no Verão e outra ontem numa festa de anos, e numa delas fazer uma entorse? Azarinho, é o que lhe digo.
Mas venha antes amanhã que hoje ainda não lavei as remelas. E, sobretudo, há este silêncio precioso que tenho de aproveitar antes que qualquer uma delas acorde. E o livro, e o livro.

 

A rapariga até é de letras e tem a mania que sabe o que é literatura


A minha mãe, que é fã daquele famoso escritor que é também apresentador de televisão do canal público, não sei se estão a ver quem é, convenceu-me a trazer um dos best sellers do senhor. Garantiu-me que era muito bom, um autêntico page turner, embora não tenha usado esta expressão, e que era o livro ideal para ocupar a minha mente cansada. - Ainda ontem não fui capaz de dizer a data de nascimento da mais nova sem me enganar duas vezes e, logo a seguir, inventei, sem querer, o meu número de telemóvel. Assim vão as coisas. - Já tinha lido um romance dele, o primeiro, que não achei nem bom nem mau, mas aquela cena de amor demasiado ao jeito dos livros da Harlequin deu-me, muito sinceramente, vontade de rir e só por causa disso achei-o, afinal, um bocado pobre.

Lá trouxe o livro para casa, convencida de que se fosse uma espécie de Dan Brown português a coisa até seria agradável, visto que durante as mamadas da noite confesso que os meus olhos e a minha mente precisam de algo estimulante e com o nível de dificuldade da banda desenhada do Tio Patinhas.
Mas este livro... Por onde hei-de começar? Pelas palavras em estrangeiro pretensiosamente colocadas por dá cá aquela palha, que mais parecem serem obra de vaidade do que propriamente para dar alguma veracidade aos diálogos? Aposto que a maioria dos leitores deste senhor não sabe inglês e estou mesmo a ver a minha mãe aos papéis em certas passagens.
Depois há a infantilização da personagem principal, um historiador e criptógrafo de 40 anos que é tratado pela mãe como se ainda tivesse 12 anos e que, apesar da sua implícita literacia, revela ter a cultura geral de uma minhoca. Além disso, nos diversos diálogos que mantém com outras personagens o leitor fica mesmo com a impressão de que a sua idade mental não será 12, mas 18. Os diálogos são todos um pouco adolescentes... as cenas de engate, então, de bradar aos céus. E depois aquele diálogo-monólogo enooorme com o pai dele não passa de masturbação científico-religiosa-intelectual.

Confesso, estou a ter dificuldades com o calhamaço. Achei o Ulisses bem mais fácil de ler e até esse ficou pendente ao nono parágrafo. Mas vou insistir para perceber como raio é que este senhor vende milhares de livros de uma assentada. Já deixei livros a meio por menos, por isso é bom que nas próximas 50 páginas a coisa comece a ficar interessante.

Querida Alexandra, perdoar-me-ás por te ter interrompido por isto?

Os velhos jarretas

Deixei a bebé no espaço infantil proporcionado pelo ginásio e fui à minha vida. A educadora parecera-me pessoa séria e competente, incapaz de fugir com os filhos dos outros e dotada de suficiente experiência e bom-senso para não se alarmar à vista de um ser humano com tão pouco tempo de vida. Na rua, no supermercado, no centro comercial, as pessoas, normalmente as de cabelo grisalho, costumam parar-me e obrigar-me a esperar que acabem de admirar "a encomendinha", ai que coisa tão rica, benza-a Deus, quantos meses tem, e ficam sempre muito espantados quando lhes digo que ainda só tem 6 semanas. Depois olham para mim, com aquele ar aflito, e perguntam se já são semanas suficientes para vir à rua. Aprendi a ignorar. A sorrir amavelmente e seguir o meu caminho. A maior parte das vezes já nem respondo, agradeço as felicidades e faço-me à vida, que é minha e por isso posso fazer-me a ela como bem entender. Imagine-se, então, se uma dessas pessoas me encontrasse no espaço infantil do ginásio, deixando a minha filha entregue a uma estranha, com tão pouco tempo de vida, ele há gente muito irresponsável, francamente.

No balneário deparar-me-ei também com dois velhos, mas o assunto, esse, já será outro, como veremos.

Entrei, como habitualmente, no balneário que dá acesso às piscinas. Estranhei estar tão vazio, tão despojado de sapatos por baixo dos bancos e cacifos sem cadeados. Ainda voltei atrás e confirmei, é este o balneário feminino de acesso à piscina, não o outro, novo das obras, catita como que saído das páginas de uma revista de decoração, que pelo outro não há passagem de acesso, só pode ser este, pelo outro teria de passar em fato de banho pelos homens das obras, valha-me Deus, só pode ser este. Entrei.

Tinha acabado de despir as cuecas e posto a parte de baixo do fato de banho quando oiço passos de chinelo e vozes masculinas que se aproximavam, oriundas da piscina, mas que raio, parece que vão entrar aqui, e apressei-me a vestir o fato de banho todo, já que tirar o soutien daria menos trabalho do que voltar a vestir as calças. Caem-me os discos de amamentação e eu, cada vez mais atrapalhada e descoordenada com a proximidade das vozes, lá me contorço e consigo colocar a última alça do fato de banho no preciso momento em que dois velhos sobranceiros entram no balneário, estacando de seguida perante a minha figura e atrapalhação. Ah..., dizemos todos quase ao mesmo tempo. Os velhos, jarretas como já se veria, de barrigas proeminentes, cabelo ralo colado à cabeça e touca a resvalar já quase só a tapar o cocuruto, apressam-se a dizer-me que estava mal ali, que o balneário feminino agora era o outro, o novo, o catita, que agora aquele servia à piscina e por ali passariam todos, velhos, novos e assim-assim, mas, abre aspas, que eu não me importasse porque estava muito bem, sim senhora, o fato de banho assentava-me bem, e não tinha nada com que me envergonhar, mas o que se sobressaía mais em mim era mesmo o cabelo, não é nada, são os olhos, gritou o outro, já desaparecendo pela porta. Fecha aspas.

E eu fiquei ali, galanteada mas sem me sentir como tal, de touca na mão, a pensar que afinal tinha mesmo de passar em fato de banho pelos homens das obras e ainda ponderei voltar-me a vestir, ir buscar a gaiata e adiar a natação, mas afinal quem já pariu duas filhas também é capaz de passar em fato de banho pelos homens das obras, posto o que meti a touca à vergonha e caguei de alto.

O resto da tarde decorreria sem incidentes de maior.

Modo: Edit

Enquanto não decido que rumo dar a este blogue quanto a mudanças de servidor e de nome, dei uns retoques ao layout antigo. Ficou mais clean, mais fácil de ler (digam-me vocês) e com uma imagem mais apropriada ao título. Continuará a ser confundido com um blogue de culinária, mas receitas foi coisa que por cá nunca se viu...

A ideia até é gira, não fosse toda a gente estar a fazer o mesmo

Vi o 52 Project ("A portrait of my children, once a week, every week, in - colocar o ano") pela primeira vez no Bleubird Blog. Deve ser especialmente espectacular para quem tem 4 filhos como a autora, pensei, mas com duas filhas o resultado também deve ficar fofinho. Achei giro e quis copiar. Depois lembrei-me que adoro ver fotografias dos filhos dos outros e adoro exibir as minhas filhas aos amigos, mas não no blogue, não num espaço aberto onde não consigo controlar quem cá vem. A possibilidade de alguém poder usar as fotos das minhas filhas para coisas que não a mais pura e ingénua admiração provoca-me suores frios e, se quando a Inês nasceu não estava tão alerta para este perigo, agora estou e tenho vindo a refrear bastante a exposição pública das minhas filhas nas redes sociais. Só coloco fotos delas esporadicamente no Facebook, para uma lista de pessoas bastante selectiva, e no Instagram, onde tenho um perfil privado e recuso convites de meros conhecidos. Ainda assim, acho que estou só a tapar o sol com a peneira... Mas adiante.

Decidi, assim, manter o projecto - tirar o maior número de fotografias das minhas filhas, semanal ou diariamente, conforme a disponibilidade - mas colocá-las no blogue privado que criámos já há algum tempo e onde temos vindo a registar a sua passagem neste mundo com fotos e pequenos textos sobre o que fazem, o que dizem, as primeiras conquistas, as pequenas tristezas, as grandes alegrias, como uma herança que lhes queremos deixar para quando tiverem idade suficiente para o saber apreciar. Para aí aos 30.

Entretanto, começou o ano e de repente toda a blogger portuguesa que é mãe decidiu participar no mesmo desafio e começar a colocar fotos dos seus rebentos no blogue. E uma data de bloggers americanas também. 
E pronto, foi o que bastou para a coisa perder totalmente a piada. 

Aconteceu-me o mesmo com os Coldplay. Eles até eram fixes. Mesmo fixes. A melhor coisa que me aconteceu a nível musical em 2000. Mas depois toda a gente começou a gostar deles.

Em jeito de retrospectiva: este não é um blogue sobre costura

Ao passar rapidamente os olhos pelos posts que escrevi em 2013, fiquei espantada com o número inesperado de visualizações de página que certos posts tiveram. Tendo em conta que este blogue é lido por umas poucas, muito poucas dezenas de pessoas, ter cento e tal visualizações é, para mim, digno do mais absoluto e genuíno espanto. A tendência deixa facilmente perceber que os visitantes não habituais não vêem à procura de histórias da carochinha e reflexões inúteis que pouco interessarão à esmagadora maioria. Além dos pobres coitados que chegam ao engano (não, não vão encontrar a receita das bolas de berlim...), a maior parte das leitoras (atrevo-me a usar o feminino por puro preconceito) vem à procura de um blogue de costura. Chega a ser flagrante o desinteresse que um post a anunciar o nascimento da Alice provocou, que nem a um único comentário de felicidades teve direito, a favor de um post sobre uma colcha e um cortinado que costurei, publicado imediatamente a seguir, e que teve direito logo a 3 comentários (o que é uma autêntica loucura!).
Assim, posts sobre os humildes resultados das minhas costuras como este e este ou ainda este (na onda dos tutoriais, o tutorial que ensina a transformar roupa com naperons de renda foi um autêntico líder de visualizações e comentários) são vistos pelo dobro ou triplo das pessoas que normalmente me lêem. É claro que não batem o meu post mais polémico sobre as marcas da gravidez com 200% mais visualizações e um número extraordinário de comentários (9!!!!), nem sempre bajuladores, como se esperaria. Ainda assim, não foi este o post com mais visualizações. Foi este, um post sobre as dificuldades da maternidade (parece que muitos se identificam) com feedback sobre o workshop da Mum´s the Boss, ficando a dever a maior parte das visualizações a esta mesma referência, mas juro que não foi de propósito.

Conclusão, se quiser dinamizar este blogue é só ir colocando posts sobre costura e tutoriais DIY para alimentar as estatísticas e angariar seguidores. Mas, apesar de a costura fazer parte dos meus interesses, este não é um blogue sobre costura. Este não é um blogue sobre nada, para dizer a verdade, é um nada que é tudo, tudo aquilo que me interessa, tudo o que me passa pela cabeça e sinto que quero ou posso partilhar com o mundo. Passa muito pelos filhos, pela maternidade, mas não se resume a isso, por isso estará longe de ser um baby blog. É aquilo que o Feedly agruparia como blogue generalista e assim deverá permanecer. Só gostava de escrever mais e melhor, como alguns blogues que sigo religiosamente e a que bebo as palavras, pela beleza da escrita e a profundidade dos pensamentos. Mas sabendo que, além do talento, a escrita requer treino e tempo, sei que ainda tenho um longo caminho pela frente até que a mão me pare de tremer.

Portanto, com ou sem mudanças de servidor, com ou sem mudanças de layout, com ou sem mudanças de nome (haverei de falar sobre isto do nome um dia), este blogue continuará a ser um blogue sobre tudo e sobre nada, com posts enfadonhos sobre a maternidade, séries de televisão e relatos de experiências, polvilhado aqui e ali com alguns apontamentos sobre costura, crochet e essas coisas do DIY para quem tem mais jeito do que tempo.

Vão por mim: há blogues muito mais interessantes do que este. Se, no entanto, vos faltar empenho em procurá-los e quiserem continuar a fazer-me companhia, prometo não distanciar-me muito do que já conhecem. Para o bem e para o mal.

Breaking Bad - O sonso que se tornou vilão

As boas séries têm destas coisas. Tanto são capazes de nos fazer ter empatia por serial killers como de torcer por traficantes de droga sem escrúpulos.
Mesmo antes de acabar o ano, terminámos de ver as cinco temporadas da série Breaking Bad. O que ficou depois foi uma espécie de vazio, não que não tivéssemos como ocupar as nossas noites, mas porque as personagens da série já eram como família. Falo por mim, a sentimentalóide lá de casa. Fiquei mesmo com saudades destes dois.


Tínhamos vindo a acompanhar as peripécias do Mr. White e de Jesse Pinkman, os fabricantes de metanfetamina mais fixes do mundo, há coisa de dois meses, com uma breve interrupção na semana do nascimento da Alice, a um ritmo de um ou dois episódios por dia. Ao princípio confesso que não gostei. Aliás, já tínhamos tentado ver a série há 3 anos e, por causa de minha falta de entusiasmo, interrompemo-la abruptamente. Mas o homem insistia, e porque dizem que a última temporada é brutal, e olha só, há aqui um episódio que tem pontuação de 10 no IMDB, 10, já viste bem, e temos de ver e temos de dar mais uma hipótese e vá lá e tanto chateou que lá cedi só para o calar.

Pois foi o melhor que fiz. Porque é brutal, genial, épica e essas coisas todas. Está mesmo entre o meu Top 5 das séries (liderado por aquela fantástica série de culto do princípio dos anos zero).

Se querem um spoiler, O Arrumadinho já falou disto aqui, resumindo na perfeição as principais personagens, ao que não tenho mesmo nada a acrescentar. A não ser... a não ser aquela cena de que ninguém fala, mas que eu achei simplesmente brutal, em que o Skinny Pete, um autêntico meth head, meio ignorante e de aspecto arrepiante, se põe a tocar música clássica no órgão como se tivesse passado ao lado de uma grande carreira como pianista. Ainda pensamos que é uma cena retirada de um sonho. Mas não. O Skinny Pete kicks ass a tocar piano. São pormenores destes, tal como cada início que funciona como uma antevisão de algum episódio futuro, que fazem desta série uma merda mesmo boa.

Quanto à minha personagem favorita? O Jesse Pinkman, obviamente. O drogado, o fabricante bronco e fútil, com uma maneira de falar que nos contagiou durante dois meses (yo, bitch!), por quem ao princípio ninguém dá nada, mas vai-se a ver e é um gajo mais ou menos às direitas, com princípios e conflitos interiores como o mais comum dos mortais, capaz do amor e da amizade, cuja fidelidade ao Mr. White o põe em apuros mais do que uma vez, e por quem ficamos a torcer até ao último minuto. 




E o Mr. White? O paz de alma que se transforma num bad ass? Haveria muito por dizer, claro, mas o melhor é mesmo começarem a ver a série e terem paciência que a coisa só fica mesmo boa a partir da segunda temporada. A primeira temporada é assim um bocado seca, mas não desanimem. Ouviram, bitches?

MUSIC BOX# 20 - I Wanna Be Yours



Não me conseguindo decidir se AM ocupa o primeiro ou o segundo lugar dos melhores álbuns de 2013 (está ali num braço de ferro com Reflektor dos Arcade Fire), fica aqui a deliciosa e embaladora versão acústica de I Wanna Be Yours dos Arctic Monkeys, em jeitos de ó ano volta para trás, que em 2014 ainda não consegui dormir nada de jeito.