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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Soluções

Estou, neste momento, num bar da praia à espera que a Inês faça todos os castelos de areia que tem na vontade enquanto penso que, se morasse no Algarve, era capaz de encontrar sempre solução para tudo. Deve ser do sol e da sensação constante de estarmos em plenas férias grandes. Por exemplo, resolveu-se o problema do banho da bebé no lavatório da casa-de-banho e o da sopa com uma varinha mágica de marca alemã que encontrámos à venda por dez euros. Depois, talvez também pelo ar da praia e do sol, a Alice resolveu, por fim, pegar no biberão e voltar a comer a sopa. Ainda mama, no entanto, porque decidi que o desmame vai ser feito aos poucos. As noites têm sido tranquilas, tranquilas porque dormimos todos no mesmo quarto e o facto de haver vista para a piscina no caminho de casa para o carro provoca uma euforia tal na mais velha que dá gosto vê-la assim de contente.
Vamos já amanhã para cima, mas isso agora não interessa nada porque hoje, agora, ainda estamos aqui. E estamos todos de manga curta.


Mala de viagen

Viemos de fim-de-semana prolongado para o sul mais leves do que quando só tínhamos uma filha. No cúmulo da minha descontracção achei que não precisava de me preocupar com camas, porque das almofadas do sofá-cama se fazem caminhas no chão do quarto (assim foi), não trouxe banheira para a mais nova porque há-de haver um alguidar na casa de certeza (pouca sorte com isto), não trouxe varinha mágica para as sopinhas porque sei lá (mas confio que isso também se arranjará), mas não ter trazido wi-fi ambulante é que foi mesmo um esquecimento imperdoável.

Liberdade

Amanhã celebra-se a liberdade.
Ontem a pediatra da Alice deu-me uma nova razão para celebrar a liberdade.
"Mãe, o seu leitinho já não chega. Está na hora de passar para o leite artificial."

Eu, que sempre achei isto do leite materno já não ser suficiente 1) um azar do catano, 2) sabedoria popular de pacotilha e 3) uma boa desculpa para as mães beberem vinho, senti-me a ser atropelada por um camião TIR. Daqueles com atrelado e com carga até ao tejadilho.

Apesar de já saber que a Alice não andava a engordar o que era suposto e de ter optado por iniciar as papas e sopas mais cedo do que o previsto, não estava preparada para isto. E, apesar de achar que dar de mamar depois dos sete, oito meses não é para mim, deixar aos cinco parece-me demasiado cedo.

A porra é que me custa imenso começar a separar-me dela, cortar este vínculo tão íntimo, tão nosso, que me custou tanto a conquistar para agora ter de ser numa questão de dias.

E depois a sacana também não está para aí virada. Biberão? Mas que merda é esta?!? E como eles sentem a nossa ansiedade, a magana hoje já nem a sopa quis comer e eu estou aqui assim numa espécie de frangalho a pensar que, se calhar, adiava bem aquele copo de Merlot por mais duas semanas de amamentação.

Mas é o que temos e não vale a pena chorar. Só espero que o primeiro copo de vinho que beber seja bem melhor que um Merlot.

Mães com sentido de humor (e ainda o Dia Mundial do Livro)

Acontece-me sempre que tenho filhos (até parece que já tive uns quatro...). Logo nos meses a seguir ao nascimento, consigo manter mais ou menos os hábitos de leitura, aproveitando o tempo em que dormem ou mamam. Mas por volta do quarto ou quinto mês, tendo a adormecer à segunda página, perco o fio à meada, pego noutro livro, volto a perder o fio à meada, às tantas já ando a ler quatro ou cinco livros ao mesmo tempo e acabo por não ler nenhum.

Desta vez, por ter um telemóvel daqueles inteligentes que faz tudo menos fritar batatas, o telemóvel acaba por ser a minha grande companhia quando tenho de dar de mamar a meio da noite. Podia ler livros no telefone, podia, mas acabei por substituir a leitura de livros pela leitura de blogues, não só aqueles que sigo diariamente, como até mesmo a leitura integral de alguns (poucos) blogues que me fascinaram ao ponto de querer descobrir o que se escondia nos arquivos.

Li na íntegra uns quantos desses blogues, maioritariamente blogues de mães como eu para quem a maternidade não é um quadro cor-de-rosa cheio de fofos e folhos, mas sim uma realidade dura que nos cansa e enche de culpa, mas também nos recompensa com aqueles momentos de ternura e auto-realização que nos marejariam os olhos de lágrimas se fôssemos do tipo romântico. Daí que, nos últimos cinco meses, a meio da noite, enquanto vocês dormem, eu ando a investigar os arquivos dos blogues do outros, familiarizando-me com as autoras desses blogues e as suas famílias como se de personagens literárias se tratassem. Não as conhecendo pessoalmente, resta-me imaginar como serão os seus gestos no dia a dia, a sua voz, as suas roupas, a forma como fazem festinhas ou gritam com os filhos.

Foi mais ou menos assim que fui dar ao blogue da Inês Teotónio Pereira, um blogue divertido sobre as aventuras de ser mãe de seis filhos (sim, seis!), e ao seu livro Humor de Mãe. Mesmo que algumas das suas ideias de direita sobre o aborto, a co-adopção e outras que tais estejam em extremos opostos das minhas, divirto-me muito com a maneira irónica como escreve sobre a maternidade e revejo-me bastante em alguns pontos. Foi este o livro que comprei ontem (porque a Feira do Livro ainda tarda) e é esta a recomendação que deixo aqui para o Dia Mundial do Livro. Por doze euros (e uma capa que faz lembrar a vaselina Couto!), vale a pena dar algumas gargalhadas e pensar que não estamos sós nesta dicotomia de amarmos os nossos filhos, mas às vezes já não os podermos ver pela frente.

Aqui um pequeno excerto.

Feliz Dia do Livro

Ontem, numa livraria, um senhor de alguma idade e desmazelo, uma espécie de cientista maluco das letras, pedia conselhos sobre a obra mais conhecida de Fernando Pessoa. Passaram-lhe a "Mensagem" para as mãos e ele perguntou se ali se encontrava tudo o que de mais importante o poeta tinha escrito.

Ó lá! Daqui vai sair boa, pensei. Agucei o ouvido e pus-me à espreita.

Depois de folhear algumas páginas, ler meio desconfiado, virar e revirar o livro, o senhor entrega-o à menina, agradece e despede-se em jeito de lamento:

- Uma pobreza de espírito, este Pessoa. Estrofes irregulares, desritmadas, sem respeito pelas regras... Ai, que miséria! Os alentejanos é que valem a pena ler. A Florbela e esses. Agora o Pessoa... É que não há quem o entenda.

O empregado teve alguma dificuldade em conter o riso enquanto fazia a minha conta. E eu pus-me a pensar em todos os heterónimos de Pessoa. Se calhar, coitado, nem ele próprio se entendia, por isso é que teve de se recriar tantas vezes.

De qualquer maneira, sendo hoje o Dia Mundial do Livro, acho que deviam ir ler qualquer coisa. Não necessariamente Pessoa. Mas também pode ser.

O importante é não perder a compostura

No fim-de-semana passado fui a um baptizado e levei uns sapatos de salto que, não sendo muito altos, a meio da tarde já me provocavam um desconforto tal que nem conseguia descer escadas sem parecer uma atrasada mental.
Foi assim, nesta tormenta, que levei a Alice ao piso inferior para lhe mudar a fralda. Sem elevador, as escadas de acesso eram bastante íngremes para o meu sapatinho de donzela e, muito pouco habituada a estas andanças, comecei a descer as escadas uma a uma, tentando equilibrar-me com a bebé meio deitada num braço e o fraldário na outra mão. Lá em baixo vinha uma outra mãe, daquelas que fica logo linda e vaporosa depois de sair da maternidade, com um corte de cabelo todo fashion e óculos escuros à diva, a subir as escadas tal qual uma pluma de pavão (já tinha reparado nela e proferido interiormente uns quantos nomes feios).
Ora eu, que gosto pouco de fazer figura de anormal, achei que não lhe iria ficar atrás, mesmo que não me tivesse penteado para o evento, muito menos aquela coisa do vaporoso, e resolvi descer também eu as escadas qual pluma no ar, leve como uma donzela e sem ter de olhar para baixo porque "saltos é o meu nome do meio"!
Esqueci-me foi que levava uma bebé nos braços e que as escadas tinham um corrimão à altura do meu cotovelo. Na verdade, eu não me esqueci. Na verdade, eu suava por dentro a tentar equilibrar-me sem deixar cair nada, fraldas ou bebé, mas tão focada em não deixar cair nada acabei por me esquecer de afastar a cabeça da Alice da parede.
E foi então que o inevitável aconteceu. Ao dar balanço para descer as escadas sem parecer uma anormal  (percebo agora que não me saí bem), dei com a cabeça da Alice no corrimão. 

Esta é a parte em que vocês esperam que eu diga que parei imediatamente de descer, examinei a cabeça da piquena e a acalmei, alheia a tudo o resto. A história acabava aqui com uma boa lição de moral, certo? 
Errado.

Houve aqueles dois segundos de espera entre bater com a cabeça e começar a chorar. Foram dois segundos de profunda esperança. Esperança de que ela não se tivesse aleijado a sério, mas, principalmente, que ninguém tivesse dado por nada, sobretudo a lambisgóia de penteado fashion! Foram dois segundos em que ainda consegui descer mais um degrau como se nada fosse, a tentar equilibrar-me sem deixar cair nada e a cerrar os dentes com aquele sorriso amarelo não-se-passa-nada.

A lambisgóia, provavelmente, não devia estar a acreditar na negligência que acabara de testemunhar, pois ainda parou a meio das escadas, talvez com a intenção de me avisar "Olhe que a sua bebé bateu com a cabeça...". Mas eu, como se nada fosse, achei por bem nem dar pela sua presença e fingir-me surpreendida quando a Alice, por fim, abriu a goela. 
- Oh, bebé, o que foi bebé? Tem a fraldinha cheia, tem?

A lambisgóia seguiu caminho e eu, quando cheguei lá abaixo, ainda encontrei uma amiga à porta da casa-de-banho a quem confidenciei, com o ar mais natural do mundo:

- Nem sabes, acho que acabei de dar com a cabeça da Alice no corrimão...




* Para que conste, está tudo bem com a Alice. E, até a lambisgóia se ir embora com o seu rebento-capa-de-revista, fui muito bem-sucedida em escapar-me da sua vista.

Dormir

Ter insónias é capricho de quem pode dormir.
Quem tem filhos pequenos (e rinossinusite), como eu, olha para trás para o tempo de solteira e para as noites de insónia parva e tem vontade de dar estaladas a si própria. Ora é a filha pequena que quer mama ou perdeu a chucha, ora é a outra filha pequena que só quer a mamã e quer água ou chichi ou só porque sim, ora é o nariz que se fechou outra vez, ora é a trigésima série de espirros que não espera a chegada do lenço, hoje não consegui dormir mais do que hora e meia seguida. Isto para quem está de férias (porque a licença já se acabou), é sofrível, o pior vai ser daqui a 18 dias quando voltar a trabalhar. 
As pessoas com filhos pequenos (e rinossinusite) deviam beneficiar de uma imunidade especial que fosse para além dos 30 dias permitidos de assistência à família. Em trabalhos como o meu, em que até a posição das virgulas é sujeita ao mais rigoroso escrutínio, receio que em dias como o de hoje não consiga sequer encontrar a tecla da vírgula, quanto mais perceber onde é que ela encaixa numa frase.
Tenho, assim, 18 dias para continuar a dormir mal e me poder queixar. Depois disso acabaram-se as frescuras.

Boa Páscoa.

Lisboa marsupial

Fui fazer coisas para a Baixa de Lisboa e cheguei a várias conclusões:

1. Os senhores que projectaram o parque de estacionamento subterrâneo da Praça da Figueira esqueceram-se que para os utentes que andam de carrinho de bebé não serve de muito haver elevador até ao -1 se para subir à superfície têm de ir pela rampa dos carros. Para subir o senhor dos bilhetes ajuda, para descer é um bocado à sorte.

2. A maior parte das lojas não tem espaço para passar um carrinho de bebé, pelo que, a juntar ao ponto 1, é uma grande burrice levar o carrinho para a Baixa.

3. Trocado o carrinho pelo marsúpio, virada para o mundo, a bebé é acarinhada por tudo quando é gente que gosta de bebés, mas não pede licença nem tem grande noção do estado de impureza das suas mãos. Às tantas a mãe aborrece-se e pára de sorrir.

4. Os turistas não conhecem o conceito de dar prioridade a bebés, salvo aquela senhora espanhol que gritou "Cuidado"!

5. As Padarias Portuguesas já são mais que as mães, mas continuo a preferir a bela da bica na tasca da esquina.

6. No Camões há toda a espécie de malucos, artistas e malta que gosta de dar nas vistas mas não é nem maluca nem artista, só parva.

7. Às vezes é cansativo andar com um bebé às costas, mas porra que esteve um dia mesmo fixe.

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