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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Simplicidade (ou como conseguir juntar as palavras destralhar, escrever e exercício físico em dois parágrafos)

Tal como aprendi na Oficina de Escrita Habitual sobre a simplicidade dos textos e a necessidade de cortar e editar a tralha de palavras que não servem para nada a não ser para encher e desconcentrar o leitor, também na minha vida estou a precisar de cortar e editar umas quantas pontas soltas. Faz de conta que só agora percebi que na casa nova não cabem todos os meus livros e material áudio. Nem toda a minha roupa, que não é assim tanta, mas há o azar de termos quatro estações neste país. Nem todos os brinquedos das miúdas que afinal só servem para as dispersar. Estou, assim, em pleno processo de destralhamento de tudo: de palavras, de coisas, de tempo. 

Como o tempo me tem faltado para, por exemplo, falar das outras coisas que aprendi na Oficina, acho que vou ter de perceber bem onde gasto o meu tempo e simplificar as minhas tarefas diárias. Por exemplo, hoje à noite quando o homem quiser fazer aquela série de exercícios abdominais que combinámos fazer sem falta depois de as miúdas irem dormir (há quem escolha fazer outras coisas depois de os miúdos irem para a cama, eu sei), eu vou-lhe dizer que não posso fazer cá abdominais, que preciso mesmo é de escrever. 
Tenho a certeza que ele não se vai importar nem me vai olhar com aqueles olhos suplicantes de quem está com a paciência por um fio. "Mas escrever o quê, mulher?"*

*exemplo copiado da Dora, que tanta graça (e verdade) teve.

Estrelinha

Ainda hoje na Oficina de Escrita Habitual fizemos um exercício em que tínhamos de tirar fotografias com os olhos, ou seja,  escrever sobre o que vimos.
Quando, mais tarde, estava a tirar desenfreadamente fotografias à Inês durante a sua actuação na festa de fim de ano da escola, apercebi-me de que não estava realmente a prestar atenção. Além disso, as fotografias não estavam a ficar nada de jeito. Então guardei o telefone e observei. Tirei uma fotografia com os olhos.
De fita no cabelo, brilhantes na cara, saia de tule e fato de estrelinha, estava tão linda que me apeteceu vesti-la assim todos os dias. Ela decerto não se importaria... Só se esqueceu de sorrir, tão concentrada estava no seu papel de estrela.
Logo a ver se lhe digo que as estrelas também podem sorrir. Não é por isso que descem à terra.

Dois em um: vestido com top em crochet

Ora há lá alguma coisa melhor do que juntar dois amores num só, costura e crochet?
Pode não parecer, mas este vestidinho com top em crochet foi das coisas mais fáceis e mais rápidas que já fiz. E foi tudo mais ou menos a olho (talvez por isso tenha tido de refazer a saia do vestido que à primeira ficou um tanto ou quanto pequena..).




Tamanho: 6-9 meses
Tempo total de confecção: aprox. 3 horas (com direito a um engano!)
Esquema de crochet inspirado daqui.
Mais ideias para outros vestidos com tops em crochet aqui, aqui e aqui (tudo em inglês).

Do autocontrolo

Primeiro, ia só levantar o meu cartão de cidadão. Depois, lembrei-me que podia dar um saltinho à loja de tecidos para comprar aquele tecido que me faz falta para o quilt. Depois achei que era boa ideia passar na loja de tecidos ao lado para espreitar as promoções.

Quando saí de lá, a única diferença entre mim e um viciado em jogo que sai depenado do casino é que eu, provavelmente, nunca irei vender as minhas filhas para comprar aqueles tecidos tão giros que ficavam mesmo bem para fazer o que quer que seja que eu me tenha lembrado naquele momento de fazer.

Por isso é que nunca hei-de aprender tricot.


Lei da compensação

A minha mais velha parte hoje com os meus pais para uma semana de praia e piscina no sul. Só a volto a ver daqui a 8 dias, na festa de final de ano da escola. Sinto-me como uma espécie de quente e frio: se, por um lado, vou ter uma semana mais relaxada em que vou ter tempo para me dedicar a alguns projectos pessoais, por outro lado as saudades já apertam e ela ainda nem sequer acenou adeus. Não sei como vou sobreviver a uma semana só com uma filha. É que uma pessoa a sério que se habitua.

* Convém dizer que foram os avós que insistiram muito nesta semana de férias. Talvez se a tivéssemos "despachado" por motivos de liberdade pessoal (aqui, os pais extremosos devem tapem os olhos) só começasse a suspirar pelos cantos lá para o fim da semana... O que vale é que, quando há dois filhos, a lei da compensação funciona melhor. Ou acabei de dizer um grande disparate?

Humor de mãe*

Eu já disse várias vezes que a fase dos três anos estava a ser a mais difícil, um poço de desafios, birras, recusa em comer, noites difíceis, you name it.
Felizmente as coisas acalmaram bastante. Não sei se foi o facto de a mais velha ter percebido que a mais nova não lhe roubou o lugar (e que bem que elas se dão), se simplesmente ela percebeu quem é que manda aqui, se é a chegada do calor e dos dias longos que torna tudo mais fácil, a verdade é que as coisas melhoraram bastante. É claro que continua a fazer das suas, mas se não fizesse seria de estranhar... No entanto, acho que posso afirmar que estamos a sair da fase má para entrar numa nova fase.
A fase do... cocó!

Se não, vejamos: não há dia nesta casa em que não se use a palavra cocó nas mais variadas e inesperadas ocasiões. Por exemplo:

- Qual é a tua comida preferida?
- Carninha com massinha e... cocó!

(A brincar aos restaurantes)
- Que gelados tem?
- Tenho gelado de morango, de kiwi e de cocó!

- Estes sapatos já não te servem, pois não?
- Não, e cheiram a cocó!

Tenho a certeza que será uma fase normal. De qualquer maneira, ontem entrei na brincadeira e, quando me falou em cocó a meio de uma conversa que metia comida, propus-lhe, da próxima vez, pôr o seu cocó numa marinada de mostarda, cozinhá-lo e servi-lo ao jantar com batatinhas fritas. Olhou para mim como se eu fosse louca, fez um esgar de nojo e depois disse:

- Mamã, eu estava só a brincar!

Afinal eu não percebo mesmo nada.



* título não roubado ao livro, porque não tem mesmo nada a ver.

O meu fairplay hoje é este

Perdoem-me o estrangeirismo, mas tenho, muitas vezes, a sensação de overwhelm. De me sentir oprimida por tudo aquilo que quero fazer (mas especialmente pelo que tenho de fazer), de me sentir esmagada por tudo aquilo que é esperado de mim (como trabalhadora, como mãe, como mulher, como filha, como amiga), de me sentir sufocada, por sua vez, pela sensação de sentir o tempo a esvair-se dos meus dedos, como grãos de areia em dia de vento. Detesto começar a semana com a sensação de já estar atrasada para alguma coisa. Detesto começar a trabalhar com a cabeça noutro sítio. Detesto saber que, de tudo aquilo que se espera de mim, acabo por falhar redondamente sempre no mais importante. 
Cheguei ao ponto em que tudo me parece um bicho de sete cabeças e deixei de conseguir distinguir as prioridades. O simples facto de andar há dias a tentar fazer um gorro em crochet para a iniciativa solidária da escola da minha filha está a consumir-me tanto como o facto de saber que nos mudamos daqui a dois meses e está tudo tão pouco preparado para a nossa mudança. Meter a miúda na banheira parece também ser tão difícil de encaixar no calendário como ir ao Leroy escolher azulejos. Isto para não falar da minha máquina de costura que, desde que voltei ao trabalho, nunca mais viu a luz do dia. E que me esqueci que a minha mãe faz anos hoje e não fiz/comprei nada para ela.
E, por isso, para conseguir respirar antes que a semana chegue a meio, decidi hoje não ir com a malta ver o jogo que meio Portugal vai parar para ver, ir buscar as minhas filhas sem pressas e, quando as conseguir distrair com algum tipo de entretenimento fácil, telefonar à minha mãe para dar aquele beijinho e tentar fazer mais uma voltinha do gorro, só para dar a ideia de que avancei com alguma coisa da minha vida.

Espero que Portugal ganhe hoje para dar algum ânimo ao país, mas, na verdade, a título pessoal é coisa que pouco me interessa.

Coisas da idade

Na sequência disto, senti necessidade de renovar o meu stock de suportes de saquetas de chá. Pedi ajuda à funcionária, porque não fazia grande ideia de qual seria a copa e o número actuais e, depois de uma série de provas frustradas e de ter chegado à conclusão que ter baixado número e meio nos últimos três anos me põe naquele lugar difícil de não encontrar suportes adequados, porque não há meios números, apontei para um que me parecia inofensivo e bastante confortável. 

- Ah, esse? Esse não. Não é nada adequado para a sua idade.

Engoli em seco e peguei nos meus soutiens de velha. É o que me resta aos 34 anos.

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