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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

São todos assim, mas podiam não ser

A maior parte dos pais quer que os seus filhos sejam iguais aos filhos dos outros, no sentido de apresentarem mais ou menos os mesmos padrões de desenvolvimento e comportamentais das outras crianças que é para ter a certeza que está tudo como deve estar: dentes aos seis meses, andar aos doze, conhecer um determinado número de palavras aos dezoito e conseguir desenhar a figura humana algures antes dos três. Tudo o que sai de determinados padrões causa ansiedade aos pais que temem que o seu filho apresente algum atraso no desenvolvimento. Ser diferente só se for para ser mais inteligente.
Isto, claro, sou eu a generalizar. Nunca me preocupei demasiado com patamares. É bom saber que eles estão a desenvolver-se bem, mas também é desejável que, a determinada altura, se comecem a distinguir dos outros miúdos e a apresentar sinais característicos de uma personalidade vincada que não segue a carneirada. Mas há uma coisa em especial em que eu, e tenho a certeza que todos os pais do mundo, gostava que as minhas filhas fossem diferentes de todos os outros miúdos: que ao fim de semana nos deixassem dormir até uma hora que não se aproximasse tanto da madrugada... Durante a semana é tão difícil acordar a mais velha para ir para a escola, mas ao fim de semana às sete da manhã parece ela que tomou uma injecção de adrenalina. São todos assim, dir-me-ão. Isso, desta vez, não me serve de grande consolo...

Este post também se podia chamar "Injustiças desta vida".

Pós-amamentação

Assim como há a consulta da revisão pós-parto aproximadamente 6 semanas após o parto, também devia haver a consulta de revisão pós-amamentação aproximadamente 3 a 4 semanas depois de deixarmos de amamentar de vez. Idealmente seria uma consulta tripartida: médico de clínica geral para avaliar o estado geral das coisas, seguido de consulta com profissional de estética para prescrever uns quantos cremes refirmantes e, para finalizar, consulta com psicólogo só para garantir que não houve danos emocionais irreparáveis na mulher depois de descobrir que mamas boas já era. Nos casos mais gravosos ou naqueles em que se comprovasse ser indispensável para o bem-estar da mulher, consulta totalmente comparticipada com cirurgião plástico e demais intervenções recomendadas.

Isto é, claro, uma ideia estapafúrdia. Mas foi a que me ocorreu enquanto olhava para o espelho e era apresentada às minhas maminhas novas: duas saquetas de chá!

Chantagens

Na nossa casa não se obriga ninguém a comer do estilo "não sais da mesa até rapares o prato", mas insiste-se, principalmente de manhã, naquela que é a primeira refeição do dia. Ficamos, os adultos, mais descansados se sairmos todos de casa com o estômago aconchegado.
Num destes dias, a conversa sobre a necessidade de comer tomou outras proporções. Ora vejamos.

- Vá lá, Inês, se não queres a torrada, ao menos tens de comer a banana.
- Não quero...
- Tem de ser. Não podes ir para a escola sem comer. Come lá a banana...

10 segundos depois...

- Mamã, sabes o João da minha sala?
- Sim.
- Ele deixou de gostar de cenoura.
- Deixou de gostar?
- Sim. Ele ontem gostava, mas deixou de gostar.
- E como é que isso aconteceu?
- Na casa dele a mamã dele dizia-lhe que ele tinha de comer cenoura, sabes. E ele agora já não gosta de cenoura.


O que responder a isto? Certamente não aquilo que eu fiz, que foi sair da cozinha para me rir à vontade. Na verdade, não sei porque o fiz. Isto não tem piada. Isto é verdadeiramente trágico. Já estou a vê-la a acusar-me de querer que seja uma infeliz e solitária adolescente por não a deixar ir para a discoteca com 12 anos. É que disto até lá é um passo. Senhor González, alô?

Entre pais e filhos não se mete a colher. Ou mete?

Anda aí uma nova polémica lançada pelo blogue Pais de Quatro na sequência da entrevista ao pediatra espanhol Carlos González pelo Observador. Tenho seguido o assunto com atenção e lido todos os posts relacionados (são como as cerejas!) de que tenho vindo a ter conhecimento e até já fui agraciada com uma menção honrosa a um comentário meu no Pais de Quatro. 
Este é um assunto que me interessa bastante e com o qual me tenho vindo a debater ao longo da minha ainda curta experiência de mãe. Cresci com palmadas e castigos e, se durante toda a minha vida sempre disse que não fiquei traumatizada por isso, a verdade é que dar uma palmada é coisa que me incomoda e não me pareça que o castigo seja solução a longo prazo. No entanto, também não concordo com as teorias do co-sleeping, da amamentação prolongada e do embalar o bebé até adormecer (por sistema ou em bebés com mais idade). Por outro lado, também acho um disparate aqueles pais que refreiam os seus instintos e têm medo de dar colo a um bebé para ele não criar manha. Um recém-nascido não nasce já a "sabê-la toda". Ele só quer calor e conforto, tal como tinha no útero da mãe, e, mais tarde, com 3 ou 4 meses, e mesmo depois, quando eles aprendem que a mãe aparece se eles chorarem, também não é manha, é puro instinto de sobrevivência. 

Traduzido em miúdos, o João Miguel Tavares passou-se com as teorias do pediatra Carlos González, que ele designa como "parentalidade cutchi-cutchi" e apresenta uma série de argumentos contra, com base apenas na entrevista e não nos livros do pediatra, é preciso notar. Os vários posts dele fizeram furor (este é pertinente, com algum humor, e o último e em tom mais sério é este, mas é só pesquisar os outros mais para trás). Concordo com ele em parte, mas a verdade é que a existência de uma pessoa com as ideias do Carlos González me tranquiliza. Não preciso que me digam que tenho de dar muito amor às minhas filhas, mas preciso que me vão lembrando de quando em vez que tenho de ter mais paciência, que ela (a mais velha, porque a bebé não entra ainda na equação) ainda é só uma criança e que as rotinas dos adultos não são compatíveis com o mundo que vai na sua cabecinha e eu não posso exigir dela mais do que ela me consegue dar do alto dos seus três anos e meio. Às vezes, na inflexibilidade do dia-a-dia, é fácil esquecermo-nos disto. E é nessas alturas que tenho de parar, respirar fundo e deixá-la ser a criança que é. No entanto, com regras bem definidas, como ressalva tão bem a Mum´s the Boss. Afinal, estamos a educar seres humanos para viver em sociedade e não serem selvagens ou meninos mimados que ninguém suporta. Como em tudo, é preciso encontrar o meio termo. E é essa a busca incessante que faço dentro de mim.
Um poço sem fundo, é o que é.

A epifania adiada

Foi a última vez que me apanharam no Rock in Rio. Depois dos Arcade Fire, acho que só Morrissey me conseguiria convencer a voltar a pôr os pés no Parque da Bela Vista, mas como Morrissey não é menino para ir a um RiR, estou mais ou menos safa.
Por todos os motivos e mais algum. Primeiro, porque é demasiado grande. Logo, leva demasiadas pessoas. Para meu espanto, há malta que vai ao RiR para tudo menos para ouvir música. Vai para andar na Roda Gigante ou para andar de bicicleta e ganhar uma peruca ou para estar duas horas na fila para os sofás insufláveis ou, basicamente, para passar muito tempo numa fila qualquer para levar de borla qualquer merda que não serve para nada. 
Em segundo lugar, é a publicidade escarrapachada em todo o lado, menos nas casas de banho (o que, se virmos bem, foi uma grande falha da organização, pois eu fui pelo menos três vezes à casa de banho e ter-me-ia dado jeito conhecer a fundo mais uma seguradora ou operadora móvel). Tudo o que era palco ostentava a publicidade gritante de uma marca, tudo o que era circo de diversões também, as bugigangas para as quais as pessoas gastavam horas nas filas em pé também ostentavam o nome, o logo e a cor de uma marca,  não fosse uma pessoa confundi-las. Eu, que sou pessoa para me enervar com publicidade em excesso, fiquei bastante enervada. Mas aquilo é o Rock in Rio e RiR sem entretenimento para as massas não é RiR. Quem é que quer saber da música para alguma coisa?
Em terceiro lugar, é o vento e o frio. Não vale a pena dissertar muito sobre isto, porque não é culpa de ninguém. Mas que é desagradável, é, e andar vestida num recinto de festival parque de diversões como se estivéssemos em Janeiro não tem grande piada.
Em quarto lugar, o piso do palco principal não é lá muito fixe. Ficaram a doer-me os pés dos altos e baixos do piso como se tivesse andado aos pulos em solo lunar, mas sem a parte da gravidade. E depois é tudo longe. Se fôssemos para a colina da direita não víamos o palco. Se fôssemos para a colina da esquerda não víamos o palco. Se fôssemos lá para a frente não víamos nada, nem palco nem ecrãs gigantes, posto o que optámos por ficar lá atrás, num sítio de passagem que dá sempre aquele calorzinho num concerto.

Tenho a certeza de que o concerto dos Arcade Fire foi muito bom. Espectacular, mesmo. Mas lá à frente e se eu tivesse 1,80m. Porque lá atrás só deu para pensar em como os Arcade Fire se tornaram numa banda mainstream que enche áreas gigantes, alcança os tops de vendas, lança álbuns produzidos pelo James Murphy e videoclips (ainda se diz assim?) realizados por nomes de luxo. Eu, que pretensiosamente me orgulho de não gostar de coisas demasiado mainstream, sinto-me um pouco na corda bamba com estes. Como o meu homem tão bem me definiu um dia, "ela era daquelas que lia o Blitz na faculdade, estás a ver?". Não sabendo bem onde isso me coloca, garanto que nem sempre me traz felicidade.

Foi o terceiro concerto de Arcade Fire que vi. Gostei, como gostei de todos, porque gosto da música, mas um pouco menos. Se tivesse estado lá à frente as minhas palavras seriam outras. Mas como não estive, resta-me chorar mais um pouco por não ter estado em Paredes de Coura em 2005. Diz que aí é que foi.


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