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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

É só uma fase

Em circunstância alguma me arrependi alguma vez de ter tido as minhas filhas. Não quando estão doentes e me obrigam a faltar ao trabalho, não ao revolucionarem a minha vida social, não ao contribuírem para o meu cansaço generalizado, não ao me darem mamas de velha, viroses ou até mesmo piolhos. Mas esta noite, enquanto, pela terceira vez, me sentei à beira da cama da Inês, desassossegada pelos gritos, sem saber se devia acordá-la à força do pesadelo ou não, sem perceber se aquele choro iria extrapolar para um terror nocturno a que nos tem vindo a habituar desde Dezembro, já sem dedos das mãos para contar as noites de merda desde que veio de férias com os avós e com a paciência presa por um fio, a invejar a "sorte" do pai dela que pode ficar sempre na cama porque ela só me quer a mim, houve ali um breve momento, uns milissegundos em que me perguntei oh, mas porquê, mas por que é que eu tive filhos? Depois repeti três vezes para mim própria "isto é só uma fase, isto é só uma fase, isto é só uma fase", segurei-lhe a mão e esperei que parasse de gemer para eu voltar, pé ante pé, à minha cama, espreitar a outra a quem os pesadelos ainda tardarão a chegar e readormecer com relativa facilidade.

Missão "Adeus parede!"

Isto foi o resultado de uma ideia filha da mãe que tive para a festa que demos este sábado na nossa em breve "casa nova". Esqueci-me de pôr a tocar a playlist que passei uma semana a compor, é certo, mas não me esqueci das tintas, dos pincéis, dos marcadores e das t-shirts velhas para os miúdos poderem dar azo à criatividade! Durante 40 minutos, uma simples parede branca, que vai ser deitada abaixo em breve, foi o centro das atenções de miúdos e graúdos.

O resultado não ficou nada de espectacular (quando os miúdos se põem a misturar as tintas, as cores resultantes não costumam variar muito do acastanhado e aquela mancha ali no meio.... bom...), mas foi bastante divertido e agora funciona como um lembrete constante e bem visível de que temos mesmo de avançar com as obras!

Houve até direito a algumas revelações criativas, como o pequeno G. que fez toda a gente rir com os seus tiques de mini-Picasso. Afinal, não é preciso muito para deixar as crianças serem crianças. Mas, até elas se esquecerem, é melhor esconderem as canetas em vossa casa que não quero ser responsável por remodelações forçadas...





Tradutor a dias

Fui contactada por uma empresa de tradução que me ofereceu 3 cêntimos por palavra com a justificação de que a grande oferta obriga a baixar os preços. Respondi educadamente que não podia aceitar semelhantes valores com a justificação de que não me é possível apresentar um trabalho de qualidade a esse preço, independentemente da oferta que ande por aí.

Há uns anos tive uma amena discussão com um amigo que ficou escandalizado quando eu lhe disse que trabalhava com empresas que me pagavam 5 cêntimos. Não sabia eu ainda, muito menos saberia ele, que nos tempos que correm dignifiquei-me e elevei a fasquia para bem mais que isso. Calculo que daria outra amena discussão, caso o assunto viesse novamente à baila.

Estamos a falar de uma profissão qualificada, para a qual estudei e me formei e na qual conto com 7 anos de experiência o que não é mau nem bom, mas estou longe de ser uma simples estagiária. E por isso não admito que me queiram pagar menos do que eu pago à minha empregada doméstica. É que, se formos a fazer bem as contas ao que representa o pagamento de 3 cêntimos por palavra ao final de um mês (tendo em conta que se espera que eu traduza, em média, 2400 palavras por dia, sem contar com o tempo dispensado para a revisão e a indispensável leitura final), subtraindo aquilo que um freelancer tem de pagar de IVA, à segurança social, ao seguro de acidentes de trabalho que é obrigado a ter e mais o diabo a sete (férias, direito a baixa que ninguém lhes paga, bla bla bla...), o resultado é bem menos do que recebe a minha mulher a dias. E, se eu acho que ir limpar escadas não é mais ou menos desdignificante do que traduzir, também não acho que traduzir seja mais ou menos desdignificante do que ser consultor, como o amigo lá em cima. E se é para ser mal paga, mais vale ir tratar da casa dos outros que sempre mexo mais o rabo e aprendo a tirar nódoas difíceis.

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