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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Sem título

No espaço de 24 horas tenho 1500 palavras para traduzir, um velório, um funeral e uma mudança para fazer. Esta tarde, já com isto tudo na mira, gastei mais tempo do que queria a reencaminhar a tralha a quem lhe dê uso efetivo, mas às tantas fartei-me e deitei um saco de botas ainda  em bom estado diretamente para o lixo. Por mais tralha que deite fora, continuo a sentir que tenho tralha a mais e começo a desconfiar que o segredo não estará tanto em destralhar, mas em não comprar. Vou pensar muito bem nisto e voltarei aqui para falar sobre o assunto com mais vagar. Entretanto, estou a caminho de um velório. Sobre isso também farei mais tarde um post. Vou chamá-lo "o ano da morte das minhas avós".

É o princípio de alguma coisa

Foi preciso mudarmos para uma casa maior para o homem empregar, de sua livre e espontânea vontade, o verbo "destralhar" na primeira pessoa do plural do futuro próximo.

Demorei dois anos a conseguir isto. Ironicamente, a primeira coisa de que se quer livrar é da fritadeira inteligente que frita batata doce sem gordura quase nenhuma. Por pura vingança, convenci-o de que não precisávamos do micro-ondas (ninguém precisa, na verdade).

Esperam-se grandes feitos nesta família.

Feliz é o ignorante

Eu já antes sentia que seria muito mais feliz se não visse ou ouvisse as notícias. Mas desde que estoirou a notícia da bebé que morreu com água a ferver, seguida da mulher a quem encharcaram de álcool e atearam fogo, à mulher e ao filho de sete meses mortos no último ataque na Palestina, ao jornalista decapitado na Síria, isto só para falar no que mais me chocou nos últimos três dias e sem contar com a perigosíssima epidemia do ébola que nem quero pensar se alastra até nós, que ando a congeminar uma maneira de ficar um mês sem saber o que se passa fora do meu perímetro familiar. Em vez de mudar de casa para um sítio mais pacato, mas aonde as notícias chegam à mesma velocidade, devia mudar para a Antártida ou algo que o valha. É que, quando me ponho a imaginar o sofrimento dos que morreram de uma maneira atroz, sou assolada por uma ansiedade maior do que aquela que julgo aguentar. Quero parar com isto. Quero parar com a maldade no mundo. Quero parar com bebés que têm maus pais ou mães inocentes que estão no sítio errado  à hora errada. Não quero ver mais o telejornal ou ouvir rádio até que a maldade se evapore do mundo, pronto.

E vão ver como o meu índice de felicidade dispara em flecha.


É claro que isto é só uma ideia estúpida.

Ainda a centopeia

O segundo momento mais engraçado da história da centopeia (a seguir ao histerismo feminino colectivo que só teve piada depois de passado o perigo) é capaz de ter sido o momento em que destapei a Alice no hospital. Ela estava enroscadinha no ovinho a dormir e tinha-a tapado por causa do vento lá fora. Quando, na triagem, explico que a Alice tinha sido picada por uma centopeia e a enfermeira arregala logo os olhos, a destapo e damos de caras com uma bebé cheia de picadas (de melgas, mas isso a enfermeira não sabia) na cara, nos braços, nas pernas e a enfermeira quase salta da cadeira e emite um esgar de arrepio, e eu digo, muito despreocupadamente, "ah, não é isto, isto foi só uma melga, a centopeia foi nas virilhas" e a enfermeira fica confusa, esse sim foi aquele momento em que me apeteceu mandar uma grande gargalhada.

Entretanto, não acham que esta história da centopeia dava uma bela BD da Marvel? A história da menina que é picada por uma centopeia em bebé que lhe concede poderes que ficam, contudo, ocultos e só se revelam no dia em que a menina faz 20 anos. Ninguém quer pegar nisso, não?

Centopeias

Que não se pense que não ando por cá, que fugi ou fui de férias, que encerrei o estaminé ou perdi a vontade. Ando por aqui e tenho muita coisa para contar. Na verdade, há algum tempo que não tinha assim tanto para contar. Por exemplo, hoje a Alice teve uma centopeia na fralda que a picou em quatro sítios e nos obrigou a ir ao hospital rir um bocadinho do insólito com uma médica com a idade que eu tinha há dez anos atrás. Como vêm, falta de coisas para contar não há. Não há é tempo para as contar, apesar de Agosto, ou capacidade para as contar antes do tempo, porque nem tudo depende de nós. Grandes reviravoltas implicam, normalmente, grandes necessidades de reflexão. Quando perceber melhor o meu lugar no mundo no meio de tantas mudanças, virei cá falar sobre a minha nova vida.

Até lá, virei apenas deslumbrar-vos sobre as coisas vãs e banais que me acontecem regularmente. Como descobrir uma centopeia na fralda da mais nova. A quem é que nunca aconteceu isto?

A morte no mundo dos contos de fadas

A ver a notícia de mais um bombardeamento de uma escola em Gaza.

- Mamã, aqueles senhores estão a apanhar o quê?
- Pessoas que morreram, querida.
- Ah, eu sei o que é morrer. Eles tocaram numa roca, pois foi?

(Não fosse o contexto tão triste e teria sorrido.)