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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Nice work

Quais são as probabilidades de sintonizar a Oasis FM e estar, nesse exacto momento, a dar Oasis, a banda? Não gosto nem de uma nem de outra, mas não tive outro remédio senão deixar estar e trautear as partes que toda a gente sabe de cor. And so Sally can wait... É que só podia ser um sinal divino. Um sinal de que as coisas estão a correr bem, os chakras começam a alinhar-se e os astros se conjugam em meu favor.

Esta semana começaram, finalmente, a responder aos meus e-mails, o trabalho começou a chegar em catadupa (ok, quase...), aquele cliente novo gostou do meu trabalho e disse-me "Nice work!", ainda aquele cliente que julgava perdido voltou a lembrar-se de mim e ainda há aqueloutro que acabou por se decidir por mim, entre tantos outros profissionais. Esta semana readquiri uma rotina de trabalho que me agrada muitíssimo, sem pressas, com possibilidade de ir ao café às horas que quiser e as vezes que quiser sem parecer que ando a fugir de ninguém. Nesta semana os dias acabaram com um sentido de dever cumprido e uma satisfação enorme e assentei a cabeça na almofada com a certeza de que no dia seguinte teria trabalho à minha espera, e nos dias a seguir a esse. Nesta semana tudo começou a fazer sentido e os motivos que me levaram a despedir-me de um trabalho fixo e estável vieram finalmente ao de cima para fazer brilhar os meus dias.

Ainda aqui não falei sobre a minha saída da empresa porque não é um assunto fácil, especialmente porque sou lida pelas minhas ex-colegas (olá meninas!) que, com certeza, terão feito o seu juízo de valor sobre as circunstâncias da minha demissão. Não vou estar com grandes explicações sobre a minha saída, mas já era sobejamente conhecido neste blogue que estava descontente com a minha situação, com o tipo de traduções que fazia e a monotonia dos meus dias (podem ler aqui, aqui, aqui e aqui). Sentia que chegara a um impasse a nível profissional (e pessoal) e que, ou mudaria, ou iria passar o resto da minha vida a traduzir as mesmas coisas, sem espaço para novas aprendizagens nem grandes saltos. Um dia fartei-me de me queixar. As circunstâncias em que isso decorreu é que não foram as melhores e passei por um período difícil, de grande incerteza, desconfiança e amargura. Mas já passou, já passou, como tanto canta a minha filha. E depois de umas semanas algo incertas em termos de trabalho, mas que me deram um jeitaço para reorganizar a casa (ainda das mudanças...), estou finalmente a instalar-me confortavelmente no escritório e a trabalhar, para mim, só para mim. Não respondo a chefes, não reporto a ninguém, oriento os meus dias e saio às horas que me apetecer, ainda não me posso dar ao luxo de escolher as traduções que quero fazer (e nem sei se esse dia chegará), mas não me posso queixar nada do que me tem calhado na rifa e o dinheiro, esse malvado que tanta falta nos faz, tem chegado e chegará, certamente, sempre para as coisas mais importantes.

Estou feliz. Tranquila. Animada. E mesmo que voltem aqueles dias vazios em que os e-mails não chegam, não perderei o ânimo. Porque já chega de duvidar das minhas capacidades. Não sei se já aqui disse isto, mas esta coisa do self-employment faz maravilhas à auto-estima. Haviam de experimentar. A sério.

Crónica de um pequeno-almoço








Iogurte de ovelha ou cabra
Dióspiro maduro
Romã
Coco em raspas
Pó de linhaça

* Diz que adquiri uma espécie de intolerância ao glúten. Depois de várias experiências, está mais ou menos confirmado que glúten é coisa que pouca falta me faz. Ao princípio, os pequenos-almoços foram um autêntico desafio. Agora, são um puro prazer. Voltarei aqui para falar sobre isto com mais detalhe.

Ora muito boa noite

Com homem fora e um curso "refresh" de legendagem amanhã, viemos dormir a casa dos meus pais, cá longe, para elas poderem ficar com os avós durante o dia de amanhã e eu poupar nas viagens.
Na hora de vir deitar, a Inês recusa-se a vir dormir para o sótão comigo e faz aquela cara de pânico igual àquela ocasião em que apareceu o boneco gigante da Vaca Que Ri. Percebi que não a iria conseguir convencer por gomas nenhumas deste mundo. Voltámos lá para baixo e negociámos a dormida com o avô. Tudo se arranjou. Neta pequena dorme com a avó, neta grande dorme com o avô. Ou talvez eles troquem as voltas depois. O certo é que eu, de repente, me vi sozinha, a dormir sozinha. No sótão. Com um livro. E tampões nos ouvidos. Sem grandes probabilidades de ser acordada nem para dar biberão nem para pôr a fazer chichi nem porque sim nem porque não.

É capaz de a minha satisfação se ouvir lá em baixo.

Se calhar é melhor apagar já a luz.

Das gentes cá da terra

Pexitos é o nome dado aos habitantes típicos de Sesimbra, mas o termo também se pode referir ao sotaque da região. Não há preconceitos particulares sobre os habitantes deste lado da costa, assim como há com relação aos alentejanos, nem lhes conheço anedotas. Mas, do pouco tempo que já cá estou, já deu para perceber que são gentes sem pressa para muita coisa, nem grande empenho pessoal em estar à altura dos compromissos. Isto não é uma crítica, é assim e pronto, e decerto haverá quem contrarie a tendência, como a senhora da loja das cortinas de banho que efectivamente me encomendou o raio da cortina sem eu lhe ter expressamente pedido que o fizesse e depois lá tive de a comprar.
Talvez seja por culpa do mar que está aqui tão perto ou dos ares da Arrábida e dos arco-íris que fazem parar os carros. E para quem vem de fora e está habituado ao profissionalismo e rapidez dos serviços da capital, é capaz de ter de respirar fundo várias vezes. Senão, vejamos alguns exemplos:

1 - O dentista que foi à rua tratar de um assunto e "deve mesmo mesmo estar aí a aparecer", mas me deixou 50 minutos à espera para ser atendida. 50 minutos. Repito: 50 minutos. Quando ele apareceu e me disse: "Vá, vamos lá ver isso depressa que tenho de sair", escusado será dizer que não me fiquei pelo sorriso amarelo.

2 - A costureira a quem fui deixar umas calças delicadas que não me atrevi a pôr na minha Juki e que me mandou lá ir a determinado dia, e que jeito me dava vestir as calças no jantar que tinha nessa noite, mas que, afinal não tinha as calças prontas nesse dia, nem no dia seguinte porque em vez das calças tinha um papel na porta a avisar "Fui buscar a minha filha" e quando, ao terceiro dia, lá voltei não lhe consegui resistir ao sotaque pexito (ver em cima) e não reclamei como queria ter reclamado. O irónico foi que, ao chegar a casa e experimentar as calças, tive aquela surpresa das-calças-que-vamos-buscar-à-terceira-vez-e-que-a-senhora-afinal-se-esqueceu-de-fazer-a-bainha. Fico cansada só de pensar nas vezes em que terei de lá voltar outra vez se decidir reclamar a sério.

3 - A professora do ginásio onde me inscrevi para a turma da hora de almoço que é composta por pessoas que frequentam a aula há anos e, por isso, é compreensível que se tenha esquecido de avisar a aluna forasteira que à sexta-feira não havia aula porque ela tinha de ir tirar os pontos às mamas na sequência de um implante mamário que lhe fica muito bem, mas pronto.

A liberdade às quatro da tarde

Para comemorar o meu primeiro dia como freelancer, deixo aqui um artigo que só frisa as coisas boas disto de - gente maluca! - deixar um emprego para a vida e atirar-se à incógnita do self-employment (há coisas que em inglês ficam tão melhor) e que até cria a ilusão de que a malta freelancer tem muito tempo livre. Por exemplo, eu hoje, no meu primeiro dia oficial como freelancer, fui levar as miúdas à escola, fui ao cabeleireiro, vim a casa, trabalhei meia-hora, saí e fui ao ginásio, voltei, trabalhei mais hora e meia, concluí o projecto que tinha para hoje, telefonei à Segurança Social a dar a boa-nova (eles já sabiam, os cuscos!) e agora estou a pensar se vou mudar os lençóis da cama, estender a roupa ou fazer um bocadinho de croché (comecei um poncho para mim que não vos digo nem vos conto) antes de ir buscar as crianças. Mas é claro que isto é só enquanto os trabalhos ainda não chovem, só chegam às pinguinhas. O meu homem diz que eu tenho de saber aproveitar os momentos sem trabalho e é isso que quero aprender a seguir ao MemoQ.
Entretanto, há uma coisa muito importante que a senhora do artigo não frisou, mas que vocês vão perceber muito bem com este exemplo: o meu homem ia sozinho a Bruxelas ver o Cat Stevens, mas já não vai, paciência, porque houve ali um momento em que eu me lembrei que era freelancer e que podia trabalhar em qualquer lado desde que tivesse um computador e ligação à Internet e, pronto, comprei um bilhete espontaneamente sem ter de fazer o odioso choradinho das férias. Ah. Liberdade.