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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Berlim revisitada - primeiras impressoes

(Post escrito num computador sem acentos)

Nao e preciso que ninguem me diga para eu perceber que Berlim mudou. Num breve passeio a pe, pasmei com o numero de novas lojas que vieram substituir tudo aquilo que eu conhecia. Agora ja nao e tanto "Olha, abriu um novo sitio", agora e mais "Uau, aquele cafe ainda existe!". O numero de hipsters por metro quadrado que enchem as esplanadas de sitios trendy de raw food e superfoods e impressionante e algo repelente. Os antigos edificios historicos e decadentes foram comprados por grandes imobiliarias que os renovam para depois os venderem ao preco do ouro. Os inquilinos que la vivem estao protegidos por uma lei que impede qualquer accao de despejo durante 7 anos. Findos este periodo, nem eles sabem como vai ser. Onde era a Saturn e as escadinhas da Saturn onde me sentava a observar os outros, e agora uma Primark caotica e bulicosa, com escadinhas a abarrotar de miudos com sacos da New Yorker, onde ja mais ninguem se quer sentar. Ainda assim, eu sentei-me durante 3 minutos, nao se tratasse isto de reviver...

Ouve-se muito mais espanhol na rua e os alemaes estao mais simpaticos, mas uma coisa nao deve estar relacionada com a outra. Quando meti conversa na Dussman a pedir opiniao sobre que livros poderia uma estrangeira como eu gostar de ler, tive tres funcionarias solicitas de roda de mim e uma ate mandou uma piada, coisa raramente vista. Trouxe tres livros.... Quando me sentei no banco de uma tasca a beber uma cerveja e a observar os hipsters todos nos cafes ao lado, tambem me admirei quando dois alemaes que se sentaram ao meu lado me cumprimentaram e perguntaram como estava. Nao me lembro de isto alguma vez ter acontecido com gente que nao fosse de ascendencia turca, visivelmente embriagado e/ou nao me quisessem engatar. E minimamente estranho...

 

De resto, os cheiros. O cheiro do metro, o cheiro das padarias, o cheiro dos Kebabs,  o chero da comida asiatica que escapa dos restaurantes, o cheiro da street food alema (aka salsichas). So falta mesmo o cheiro das casas aquecidas a carvaon no Inverno. E depois o cheiro do sushi, onde fui jantar e revi pessoas e memorias e quase senti que nao tinham passado 8 anos. Mas por muito que me digam "Nao mudaste nada!" (eu sabia que cortar a franja poucos dias antes de vir para Berlim teria este efeito...), a verdade e que estamos todos um bocadinho mais velhos, um bocadinho mais cansados, com vontade de programas mais calmos e com toda a carga emocional que os filhos nos trazem. Ja quase toda a gente tem filhos e e inevitavel a troca de fotografias exibicionistas. Eu mostro sempre aquelas em que as miudas estao na praia, para fazer mais inveja. Ahahah.

Por falar em filhos, eu pensava que vinha para aqui contente da vida por nao ter de mudar fraldas, procurar chuchas a meio da noite, acordar mil e uma vezes. Mas sempre que vejo meninas na rua da idade aproximada das minhas filhas, da-me uma especie de sentimento de desacompanhamento ou sentimento de culpa, como lhe queiram chamar. E daquelas coisas de que as maes nunca se livram, a par da celulite e dos cabelos brancos. E o que temos.

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O unico predio na Choriner Strasse que ainda nao foi renovado, apesar de ja ter sido comprado por uma imobiliaria... image.jpgO Tacheles foi fechado. Admira-me como e que ainda nao foi transformado num hotel, mas nao deve tardar...

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O Palast der Republik, icone da RDA mas com um gravde problema de asbeto, foi demolido ainda no meu tempo. 8 anos depois, ainds estao a construir o Berliner Schloss, que, a julgar pelo tamanho, devera vir a ter outros propositos do que apenas os de um palacio-monumento.image.jpg

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Ha coisas que nao mudam. Com tanta cerveja a disposicao eu gosto mesmo e da Becks, fazer o que...

Alemães

Na Spandauer Strasse, três miúdas espanholas dos seus 18 anos atravessam a estrada com o sinal vermelho. Ao meu lado, à espera que o sinal ficasse verde, três miúdos alemães dos seus 18 anos olham para elas e começam a falar em números. Pensei que estivessem a dar pontuação a cada uma delas, como se de um concurso se tratasse. Mas depois percebo que estão apenas a avaliar o montante da multa aplicada a cada uma delas. Por terem passado a estrada com o sinal vermelho... Bem-vinda à Alemanha!

Regresso

Voltei de Berlim no dia 2 de Julho de 2007, exactamente 4 anos depois de ter chegado. A coincidência das datas foi isso mesmo, uma coincidência, que logo assumi como um sinal do universo que me dizia que era o fechar de um ciclo e o início de outro, e que isso só podia ser bom. E foi. Apesar de os primeiros meses terem sido conturbados: voltar para casa dos pais, começar a ganhar o ordenado português, perceber que os meus amigos, depois da euforia inicial do meu regresso, se esqueciam que eu continuava por cá. Depois arrendei uma casa em condições pouco invejáveis e, dois dias depois do concerto dos Interpol no Coliseu - das coisas que eu me lembro - conheci aquele que é hoje o meu amor, o pai das minhas filhas. Sem dúvida, o fechar de um ciclo, o início de outro, e isso foi bom.

 

Voltei a Berlim apenas uma vez, logo em 2008, quando as saudades ainda não eram muitas. O então ainda apenas namorado, mas já o amor da minha vida, foi comigo e pude mostrar-lhe, com algum orgulho pouco disfarçado, os sítios aonde ia, as ruas por onde passava diariamente, os museus, o rio, o brunch ao domingo no Frida Kahlo. A nostalgia ficou guardadinha dentro de mim e assim permaneceu até há uns meses em que uma visita de Berlim despertou em mim toda a nostalgia acumulada. Não aguentei e planeei o regresso. Tenho de ir sozinha, disse-lhe. Ele percebeu, como percebe sempre, que com ele não poderia falar alemão nem ter o espaço necessário para curtir a minha nostalgia. Basicamente, reviver. Reviver o trajecto diário da linha U6 de fones nos ouvidos e, de preferência, com a mesma música. Na altura, era muito Interpol, Nick Cave, Bloc Party, The Shins, American Music Club, Arcade Fire. Tirando estes últimos, não será a música para a qual ando com mais paciência e temo que poderá fazer-me mal à alma ouvir a Leif Erikson enquanto espero pelo metro na Leopold Platz.

 

Talvez escolha, assim, alguma coisa mais soft, mas sempre igualmente triste, que eu nunca fui uma pessoa demasiado alegre. Uma Sharon van Etten (qualquer uma), por exemplo, será a banda sonora ideal para passear nas margens do Spree, ou a Doused dos Diiv (esta já não é tão triste) quando me sentar nas escadinhas da Alexander Platz a observar. Quando sair à noite, sem dúvida uns Hot Chip (One Life Stand) ou uns Yeah Yeah Yeahs (Head will Roll) - no pun intended. E depois há aquelas músicas que poderiam perfeitamente, pela sonoridade que vivi entre 2003 e 2007, fazer parte da banda sonora de Berlim: 5 Chords dos The Dears ou What Did My Lover Say? (It Always Had To Go This Way) dos Wolf Parade e, claro, mas não só pelo nome, Berlin Sunrise dos Fink. Já me estou a imaginar aos saltos no Magnet Club ao som destas músicas.

 

Mas não, desta vez não vai haver Magnet Club nem Karrera Klub, porque - atenção: caretice! - à noite já só quero mesmo dormir, especialmente quando vou passar 5 noites sem ter de me levantar para pôr ninguém a fazer chichi ou acalmar um pesadelo. Vai haver, sim, muitos passeios que já revi na minha cabeça vezes sem conta, reencontros que são capazes de me deixar com a lágrima no olho, e no fim só espero sobreviver intacta, fazer uns contactos (pensavam que era só boa vida??), falar muito alemão até desembaraçar a língua e comer tantos Pretzels quantos a minha pseudo-intolerância ao glúten mo permitir.

 

Não me aguento.

 

Faltam 3 dias e sinto-me como uma miúda de 6 anos na véspera do primeiro dia de escola. 

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Espero tirar fotos melhores desta vez. 

 

Linha a linha

O "mal" de estar quase a acabar a manta (é que está mesmo quase), foi ter despertado o bichinho da costura. Com o bom tempo aí, só me apetece encher o meu roupeiro de blusas Wiksten. As duas que fiz o ano passado foram usadas até à exaustão e este ano já foram estreadas, o que prova que isto de fazer roupa para vestir, quando fica bem feita, é um caso de sucesso. Não só são peças feitas totalmente ao nosso gosto e medida, com tecidos que escolhemos intencionalmente, como ainda nos enchem de orgulho por terem sido feitas por nós, o que dá vontade de as usar e usar e usar.

Este ano, vou aventurar-me com a Wiksten Tova. Provavelmente na versão sem mangas, que o calor está aí e a minha inaptidão para mangas está mais do que comprovada. Mas, para já, vou refrescar a memória com mais um ou dois Wiksten Tank Top, nas suas mais variadas versões.

Dou por mim a desejar terminar o trabalho mais cedo para ir costurar (nunca consigo) ou a escapulir-me durante a confecção do jantar (que cá em casa está sempre a cargo do homem) o tempo suficiente até a Alice dar pela minha falta (situação revisitada) que normalmente dá só para marcar uma das partes do molde no tecido...

Mas grão a grão, linha a linha, estou certa que antes do final do Verão terei roupa nova!

 

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Gomez

A única razão que encontro para só ter descoberto esta música de 1999 agora, em 2015, é porque acredito que, tal como a How it Ends dos Devotchka ou a Fuzzy dos Grant Lee Buffalo, estas músicas estavam-me veladas por um propósito. Pois se as tivesse ouvido há 15 anos atrás, provavelmente não teria a maturidade (musical e não só) suficiente para sentir que foram escritas para mim.

da minha manta (e das outras)

Está quase a minha manta. Quase, tão quase, aquele quase que precede o fim de um bom livro e que nos faz sentir tristes por estarmos a chegar ao fim. Mas, ao contrário de um livro, que depois de lido servirá apenas como lembrança e objecto decorativo nas prateleiras (não no meu caso, que tento sempre fazer circular os livros), uma manta destina-se a aconchegar muitas sestas, brincadeiras e andanças felinas, a ser usada de estação em estação, de geração em geração, com a ambição imodesta de que a minha manta chegue às minhas netas, tal como a manta de crochet da minha avó me chegou a mim.

 

Está quase a minha manta. Só falta coser o debrum à mão, que tenho vindo a fazer na calma dos serões sempre que as miúdas dormem bem e não tenho de trabalhar. Mais um serão e acaba e depois fica aquela nostalgia do produto acabado e aquele orgulho e sentimento de empoderamento que me acomete sempre que termino uma peça feita por mim, à mão. Eu, a desastrada, eu, a trapalhona, eu que consigo fazer uma manta de patchwork à mão. A Rosa ajudou-me muito, está claro. Não fossem os seus conselhos e a sua motivação e ainda hoje estaria enredada na teia de cores e padrões a escolher para a manta. Não fosse a obrigatoriedade do curso e teria certamente ficado presa na teia dos dias e procrastinado como tão bem sei fazer. Às vezes, confesso aqui que ninguém me ouve, senti-me assoberbada. Desde Fevereiro, quando começou o curso, poucas foram as vezes que consegui ter o tpc pronto antes da véspera, com tempo para deixar as costuras marinar de um dia para o outro, descoser e voltar a coser numa linha um pouco mais recta, um pouco mais perfeita. Não ficou perfeita, nem de longe nem de perto. Tem linhas tortas e a tensão desalinhada naquela parte em que a minha máquina se cansou. Mas assim se querem as coisas feitas à mão: um pouco tortas ao olhar treinado, mas com aquele valor que nenhuma peça feita industrialmente consegue roubar.

 

Está quase a minha manta. E quando esta terminar, farei outra. Um dia, farei outra. Mas primeiro virei aqui mostrar esta.

 

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Foto retirada do blog da Rosa Pomar que dedicou um post à turma

do Workshop Manta de Retalhos de Fevereiro/Maio. Obrigada, Rosa!

 

Temos de falar melhor sobre isso

- Eu queria ter um animal só para mim.

- Mas já temos o Dexter.

- Mas o Dexter é de todos, eu quero um animal só para mim. Por exemplo, quero ter peixes bebés e tubarões bebés e um armário.

- Um armário? - Espera, não era isso que queria dizer. É aquela coisa onde estão os peixes.

- Um aquário?

- Sim, um aquário com tubarões bebés!

Livros que deviam ser queimados

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 Venho, por este meio, declarar a minha hostilidade à Princesa Poppy! A senhora que escreveu esta saga completamente sexista para miúdas a partir dos 4 anos, que as ensina que usar vestidos é que é digno de princesas, que insinua que devem suspirar por casamentos de sonho e príncipes encantados e que escolhe nomes completamente idiotas para as suas personagens (Dedal de Açafrão? a sério?!?) devia ser chicoteada nos dedos tantas vezes as que fossem necessárias para nunca mais conseguir teclar uma letra que fosse!

 

Já não basta a Inês ter uma queda natural para os vestidos de princesa e estar declaradamente na fase pirosa do cor-de-rosa, já não basta na escola lhe terem dito que duas mulheres não podem casar uma com a outra, já não basta a sociedade reforçar a ideia de que há brinquedos e cores para meninos e brinquedos e cores para meninas, como depois ainda há estes livros parvos. Já lhe expliquei que não lhe compro livros da Princesa Poppy e que só a deixo trazer um da biblioteca se também trouxer outro mais educativo, mas ela olha sempre para mim como se a estivesse a proibir de ler o Diário de Anne Frank ou assim...

Trinta e cinco

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Inicialmente tinha planeado fazer uma festa para todos os amigos, um pouco na imitação da festa gigante que dei aos 25, mas não arranjámos a garagem a tempo, tive preguiça de marcar um restaurante e, bom, aos 35 as prioridades são outras...

O tempo foi passando e começou também a passar a vontade de estar com mais de 6 pessoas ao mesmo tempo. A falta de energia e de tempo para organizar uma festa (um jantar que fosse) levaram a sua avante e acabei por planear passar o dia em família. Uma voltinha de barco no Estuário do Sado para ver os golfinhos, um almocinho de choco frito, uma voltinha a Tróia. Mas outros motivos acabaram por fazer com que mudássemos novamente os planos e abraçássemos a simplicidade de um piquenique a 4 no parque da vila, decidido praticamente no próprio dia. Muito pouco romântico, diga-se, com vista para o Lidl de um lado e a via rápida do outro, mas esta terra acha que ser abençoada pelo mar e pela Arrábida - onde não se pode assentar um manta de piquenique por causa das áreas protegidas e o raio - é mais do que suficiente e não tem um único parque de jeito onde nos consigamos sentir numa redoma idílica. Mas quem não se importou nada com a falta de romantismo foram as miúdas que adoraram a ideia de um piquenique (a Alice, a pequena trituradora, sem descansar enquanto não provava um pouco de tudo e a Inês, que está naquela fase da comida, a concentrar todas as suas energias para reservar as Oreo só para si). O sol chegou para nos aquecer ainda mais e, por momentos, esquecemo-nos que não estávamos no Lago de Como.

 

Passei, assim, o dia com as pessoas que preenchem os meus dias. Isto deveria chegar. Mas a verdade é que só agora, aos 35 anos, aprendi que o dia de anos não precisa de ter festa marcada para ser bom, não precisa de ter mesa marcada num restaurante da moda para ser especial, não precisa de ter prendas para que me sinta amada. Simplicidade. Tranquilidade. É tudo. E, este ano, toda a gente que interessa se lembrou de mim. Não podia pedir mais nada.

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