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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Problemas

Tenho, há vários dias, um post pensado que falaria sobre os meus problemas: os meus complexos, a minha falta de tempo, os pequenos contratempos do dia-a-dia, o gafanhoto que se instalou no meu canteiro, aquele cliente que ainda não me pagou, entre outras coisas deveras importantes das quais já me esqueci.

Mas todos os dias vejo imagens dos migrantes mortos e de rostos desesperados e leio artigos sobre as crianças que chegam sozinhas à Europa que ficam à mercê de gente sem escrúpulos que se tenta aproveitar delas e sinto vergonha. Vergonha por achar que tenho problemas, por sequer considerar este título para falar de coisas tão vãs.

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Imagem retirada da Internet

 

Eu não tenho problemas.

Mas quero ajudar.

E depois de alguns dias a pensar nisto (a sonhar com isto), mandei um e-mail ao Conselho Português para os Refugiados. Ao contrário da SIC, espero que me respondam.

Quanto tempo o tempo tem

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Hoje perguntaram-me como tinha tempo para tudo o que fazia pois, pelas minhas fotos no Facebook, dava para ver que tinha tempo para trabalhar, para estar com as minhas filhas, para costurar, para fazer desporto, enfim, uma imensidão de coisas vetadas ao comum dos mortais que não tem tempo nem para se coçar. Fiquei intrigada com isto, porque passo a vida a queixar-me que não tenho tempo para nada. Isto é, não tenho tempo para tudo aquilo que gostaria de fazer. E o ser humano quer sempre fazer muita coisa.

 

Na verdade, não perco tempo no trânsito, porque trabalho em casa. Não perco tempo a cozinhar o jantar porque é o marido que cozinha. Não perco tempo a ver televisão, porque não me interessa (prefiro só ver séries escolhidas por nós e sem publicidade) e durmo sete horas por noite, ou menos (calha ser assim, mas sete horas bem dormidas chegam-me). Isto garante umas quantas horas a mais por dia em comparação com alguém que, por exemplo, tenha de atravessar a 25 de Abril para ir trabalhar, tenha de fazer o jantar todos os dias enquanto o homem vê a televisão e depois disso se sente no sofá a ver a novela. Costumo aproveitar esse tempo que não perco para trabalhar, estar com as minhas filhas e dedicar-me aos meus hobbies (costurar, crochet, blog, jardinar, coisas que me dão prazer mas que são perfeitamente dispensáveis para o eficaz funcionamento da rotina familiar). Mas acho sempre que o tempo nunca chega, porque tenho sempre mais projectos na cabeça do que os que consigo realizar, mais tecidos na gaveta do que os que consigo aproveitar e mais vontade de não precisar tanto de dinheiro para viver do que aquela que, no fim do mês, subsiste.

 

Num paralelismo muito mal amanhado, diria que assim é com as necessidades que nascem consoante o ordenado que se tem. Uma família que ganhe 1200 euros por mês dificilmente poderá arrendar uma casa por mais de 600 euros, mas uma família que ganhe 3000 já se poderá dar ao luxo de morar num apartamento de 1000 euros (digo eu, que nunca morei num apartamento de 1000 euros). Logo, as obrigações financeiras aumentam e as necessidades de bens, diversão e qualidade/quantidade também aumentam, porque o ordenado o permite. Assim é com o tempo. Nunca ouvi ninguém dizer que tem tempo para fazer tudo o que quer, a não ser que a única aspiração na vida seja a de passar o dia a meditar...

 

Isto também mostra que as fotografias do Facebook enganam muito. Nos últimos dois meses, sou capaz de ter publicado três ou quatro fotos de mim e da minha família. Uma mostrava os meus tecidos, a outra mostrava-me a mim numa canoa e a outra numa casa ao pé da praia. E pronto, etá instalado o mito de que sou a super mulher que tem tempo para tudo!

Portanto, da próxima vez que me queixar de que não tenho tempo, vou pensar nesta minha amiga que acha fantástico que eu tenha tempo para tudo e talvez mude de opinião.

[....]

 

Um projecto que acabo de conhecer através desta música lindíssima dos Dear Reader, cujo vídeo foi filmado em Berlim, where else?

 

 

[Agosto está a ser um mês inesperadamente longo a tentar gerir o trabalho com as férias das miúdas e, por isso, há coisas que terão de ficar na vossa imaginação, como o fim-de-semana passado em que fomos acampar e a ida ao cinema com a minha mais velha...]

Mudar os paradigmas

Coisas destas, que talvez há uns tempos só me inquietassem ligeiramente, agora incomodam-me verdadeiramente. A SIC, em pleno prime time, lança uma notícia, cuja utilidade não vou comentar, sobre as mulheres mais influentes do Instagram. Logo no início, a jornalista (mulher, é preciso que se note), sai-se com um "Mas não é qualquer mulher que se pode mostrar assim" (com pouca roupa).

 

Congelei.

 

Não pode?? Quem disse? Claro que pode. Talvez não ouse. Talvez se envergonhe. Talvez tenha medo de ser ridicularizada por gente com menos de dois dedos de testa ou que tenha tido o azar de ser educada no contexto errado. Mas PODE! Com barriga, sem barriga, com pêlo, sem pêlo, com pernas ou sem pernas, qualquer pessoa PODE andar na rua como quiser e ter orgulho nisso, ou pelo menos aceitar-se assim, ou querem lá ver que temos de andar tapadas?

 

Mas depois vem uma jornalista (mulher, é preciso que se note) dizer que não senhora, não se pode, porque só as giras e bronzeadas e definidas é que podem andar de biquini e ter orgulho nisso. Já se sabe que a comunicação social tem o poder de moldar opiniões. Poderiam, deveriam, usá-lo para moldar as opiniões certas, em vez de contribuir para o aumento de preconceitos e a consolidação de uma definição de beleza totalmente desajustada da realidade.

 

Não espero certamente nenhuma resposta, mas escrevi para lá. Para a SIC. Mandei um e-mail a expressar a minha indignação e só por isso já me sinto mais leve.

Como ter pernas para usar calções? Veste uns calções. (*)

Fomos à Lagoa andar de canoa. Fui eu que sugeri, o que me faz desconfiar que ou estou louca ou então estou louca. Tenho um medo de morte de tudo o que envolva água e peixes na água, fundos do mar e desportos aquáticos. Mas a minha mente faz uma ligação estranha entre a recuperação da auto-estima e aceitação do meu corpo tal como ele é com a superação de medos e fobias. Este fim-de-semana pedi ao homem para me levar a dar uma voltinha curta na prancha de SUP (foi mesmo muito curta) e hoje decidi que devíamos repetir. Ele sugeriu a canoa e, contente de vida, fui de biquini e calções cor-de-rosa, porque estava calor e não deve dar jeito andar de canoa com muita roupa.

Chegámos, saímos do carro, falámos com a senhora, fomos até ao barracão das canoas, descobrimos que ia fechar daí a 10 minutos, hoje não dá, talvez amanhã se vierem mais cedo, voltámos para o carro, decidimos o que íamos fazer e não aconteceu mais nada. Isto é, eu saí de casa de calções cor-de-rosa e não aconteceu nenhuma hecatombe, nenhum efeito borboleta, nenhum desastre natural, nenhum acidente, nenhum revirar de pescoços, nada de nada. Eu saí de casa de calções cor-de-rosa e o mundo continuou o seu ritmo, a terra continuou o seu movimento de rotação natural, as horas foram passando, as pessoas continuaram na sua vidinha e eu vim o caminho de volta a pensar que, se soubesse que era assim tão simples, talvez me tivesse atrevido a isto mais cedo.

 

Nas minhas mini-férias andei sempre de calções ou vestido. Tinha umas calças na mala para o frio nocturno, mas exerci o meu direito de não as vestir, porque não tive frio. Estava rodeada de amigos e família e sentia-me bem. Também tenho ido ao café de manhã de saia, porque de manhã é o que me apetece vestir e não penso mais nisso. Não sei durante quanto tempo vou continuar a sentir este à-vontade, talvez até ter o primeiro contratempo, o primeiro olhar mais curioso, o primeiro comentário menos feliz. Nessa altura, vou ter duas opções: ou me encolho e volto ao que era ou ignoro e continuo como estou, na maravilhosa descoberta da libertação que é o poder escolher aquilo que quero vestir em função do calor, do frio ou das vontades. Nunca tinha tido essa opção. Se não eram calças, eram saias compridas. Se não eram saias compridas, eram calças. E não podiam ser calças justas, nem calças curtas, nem saias acima do tornozelo. Basicamente, era uma chatice. Um aborrecimento. Uma prisão. De repente, sentir o fresquinho nas pernas passa a ser uma espécie de nirvana.

 

Se calhar, o tema já vos começa a aborrecer. Mas temos pe(r)na (ahaha, perceberam?) porque só agora começou. Vou continuar a mostrar a minha perna deficiente e o meu pé cheio de cicatrizes ao mundo e quem não gosta, não tem de olhar. Ando muito "fuck society".

É claro que nem sempre é assim tão simples. Já tive uma crise de choro em pleno restaurante porque estava cheio de gente à entrada e já me aborreci com o homem por não ter esperado por mim e me ter feito andar sozinha na rua de saia. Já senti olhares postos em mim e já reprimi malcriações "Nunca viu, não?" que eram muito bem metidas, mas há que ter classe. Hei-de ter recaídas e maus momentos, mas por enquanto a viagem corre bem. "Fuck society", pois então.

 

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(*) O título pode não ser original e até ser um bocado parvo, mas era isso ou ia parecer o subtítulo de um livro do Pedro Chagas Freitas e isso é que não.

Quero voltar

Há, claramente, um deus dos freelancers mais mesquinho e possessivo do que o deus do Antigo Testamento - os crentes que me perdoem, mas eu até li a Bíblia - que decide vingar-se de mim de cada vez que eu decido tirar uns diazinhos de férias para me mostrar que a mandriice e a vagabundagem andam de mãos dadas com os pecados capitais. Foram 5 dias, senhor, 5 míseros dias, menos do que os dias da criação, havia necessidade de voltar de um sítio destes e ter um dos dias mais stressantes do ano, havia?

 

Quero voltar!

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Uma toalha de capulana para a praia

Antes de ir de férias, meti na cabeça que queria uma toalha nova. Lembrei-me da capulana que trouxe de Moçambique em 2011, oferecida por uma amiga, com um padrão lindíssimo mas que dava pena cortar porque iria quebrar o desenho.

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 Não é lindo? Agora faz-me lembrar o leão Cecil...

 

Ficou 4 anos na gaveta, até ter tido a ideia de fazer uma toalha para levar para a praia. Como as bainhas até já estavam feitas, só tive de comprar umas franjinhas, uma fita grega, coser em baixo e em cima e... voilá, uma toalha gira para a praia!

 

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 Agora vou ali de férias e já venho.

Parabéns, acabou de passar de nível

Meti um vestido curto e fui à retrosaria. Depois a uma grande superfície comercial. Andei de escadas rolantes. Entrei em lojas. Esperei em filas. Fui à casa-de-banho. Queria entrar numa sapataria, mas isso é uma espécie de fase 3 (a fase 1 foi a fase controlada e cronometrada, ir à praia e voltar, ir ao restaurante e voltar; a fase 2 é a fase descontrolada e espontânea, sem fim à vista, 4 horas numa grande superfície comercial com necessidade de comprar várias coisas em várias lojas em vários andares). Quando voltámos ao carro, percebi que não tinha visto ninguém a olhar para mim porque não olhei para ninguém para não ver ninguém a olhar para mim. Olhei para o chão, para o tecto, para as montras, para o telemóvel, para lado nenhum, para todo o lado, menos para os olhos das pessoas.

Quando lhe perguntei se tinha visto alguém a olhar para mim, respondeu-me Mas estás parva? "As pessoas estão na sua vida, nem reparam em ti", o que eu acho uma grande injustiça, porque fico estonteante de vestido preto curto. De qualquer modo, estou a pensar fazer uma tatuagem na perna, para me lembrar sempre de ter coragem. Mas ainda não sei bem que desenho poderá simbolizar a coragem da auto-aceitação. Chamar a atenção, por chamar, ao menos faço o meu statement (ele sugeriu um manguito, na brincadeira, eu penso mais num Fuck Society, fosse eu um bocadinho mais anarquista).

Mas isso será só na fase 5. Quando conseguir olhar de frente para os outros.

 

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Quando o sol se deita

Uma vez fomos ao cabo Finisterra de propósito ver o pôr-do-sol. Nós e umas boas dezenas de outras pessoas. Arranjar um bom lugar foi pior do que conseguir entrar nas lojas no primeiro dia de saldos. Não havia nuvens, estava calor, a paisagem era fantástica, mas o pôr-do-sol não foi nada por aí além. Já na Tailândia vi os melhores pores-do-sol de sempre com umas cores que metem os filtros do Instagram num canto...

 

Irritam-me aquelas pessoas que dizem que não vale a pena ir lá para fora se temos tantos sítios bonitos cá em Portugal, porque gosto de viajar e conhecer outras culturas e Portugal não tem florestas tropicais nem desertos e isso também é bonito, mas também não sou daquelas que acham que só lá fora é que se vêm paisagens bonitas e que o nosso Portugalito não consegue competir em termos de Natureza com mais nenhum país, porque é verdade que temos paisagens de cortar a respiração e que estão no Top 10 dos guias turísticos. 

Por exemplo, a semana passada fui fazer os Passadiços do Paiva com paisagens lindíssimas e recantos espectaculares (fica a promessa de um post dedicado a isso) e este domingo fomos simplesmente ver o pôr-do-sol ao cabo Espichel e respirar os tons da nossa terra.

 

Às vezes estávamos no quintal, víamos o céu vermelho ao pôr-do-sol e pensávamos como devia estar bonito do cabo, mas entre ver e chegar lá (ainda são 15 km), já o sol se pôs. Ontem arrancámos com tempo, levámos a bicicleta e bolachas para enganar a hora do jantar e só nos esquecemos do casaco, pois no cabo está sempre vento (sempre!). Foi bom e muito bonito e fez-me desdenhar do pôr-do-sol assim-assim em Finisterra. Está certo que não temos pimentos Padrón nem queijo Manchego nos menus dos restaurantes, mas temos o Mequinhos no Meco que ontem também não estava mau e nos serviu um choco frito de comer e chorar por mais.

 

E foi assim que entrámos em modo pré-férias a desejar terminar o trabalho depressa para podermos ir uns dias para aqui. Está mesmo quase.

*suspiro*

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