Num pequeno ginásio perto de si
Desde miúda que me inscrevo em ginásios, mas nem por isso sempre fui magra ou atlética. Também nem sempre fui uma frequentadora assídua ou, caso sendo, nem sempre tive uma alimentação equilibrada fora dali. Mas é ponto assente que sempre me dei melhor com ginásios pequenos, de bairro, com menos condições e menos oferta, mas onde sabem o meu nome e estranham se eu não for. No ginásio onde ando há um ano, desde que nos mudámos para aqui e que frequento 4 vezes por semana à hora de almoço, o número de participantes da aula de spinning nos seus dias mais concorridos não chega para, num dos ginásios mais famosos do país (aquele começado em agá, onde andei e odiei), manter uma aula aberta. No entanto, é este grupo coeso de pessoas que vão sempre à mesma hora e se conhecem desde crianças que me dá alento para ir nos dias em que menos apetece. Felizmente, esses dias em que menos apetece vão sendo cada vez menos.
Consigo fazer uma analogia com todos os trabalhos que já tive: sempre preferi trabalhar e sempre trabalhei em micro e pequenas empresas. A única vez em que trabalhei numa multinacional foi uma nódoa no meu currículo e, anos depois, recusaria uma posição bem paga numa outra multinacional por uma remuneração miserável como tradutora num gabinete de vão de escada. Nem toda a gente entende isto, mas sempre achei que o dinheiro não é tudo. Deve ser o meu lado anti-capitalista, anti-urbanista (?), anti-massificação.
Desde que vim morar para Sesimbra, descobri que não gosto de andar anónima na rua e que gosto de ser cliente habitual, que me tratem pelo nome, que me tratem por tu, que conheçam as minhas filhas e saibam onde moro, para me poderem avisar se deixei a luz de fora acesa ou se o meu gato está no quintal da vizinha, ou outra coisa pior. Gosto de ir à piscina e encontrar mães de colegas das minhas filhas e estar um pouco à conversa e gosto que me deixem não pagar no café porque me esqueci da carteira. Gosto que a senhora que cá faz limpeza também me venda viagens e que o meu cabeleireiro só cá venha de 15 em 15 dias. Gosto de ir à vila e encontrar sempre algum colega de escola do homem, apesar de às vezes ser chato porque ele não se lembra do nome deles e fazemos invariavelmente figura de parvos.
Em suma, estou muito feliz por ter saído da cidade. Sempre pensei que me sentisse sufocada com a falta de anonimato e, às vezes, de privacidade, mas a verdade é que me sinto confortada por esta sensação constante de estar sempre acompanhada.
[Só para voltar ao tema inicial do post, se há dois anos me dissessem que, um dia, iria ao ginásio 4 vezes por semana por gosto, rir-me-ia muito. E não é para ser má língua, mas o meu treinador tem mais músculos do que os treinadores da nova edição do Peso Pesado.]