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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Quiet book [work in progress]

Está o título em inglês porque acho que "livro de tecido interactivo" não faz jus ao nome em inglês. Quiet book pressupõe divertimento silencioso durante muito tempo - ou seja, não há gritos nem choros durante 20 minutos, o que permite à mãe uns minutos de sossego ou executar tarefas tão simples como fazer chichi sem ninguém ao colo (sim, já aconteceu. Várias vezes). Um Quiet book fomenta ainda o desenvolvimento motor da criança (toddler em inglês é tão mais específico...) em tarefas que ela adora executar por volta do ano e meio, dois anos, como seja tudo o que envolva a exploração pelo tacto (daí o feltro ser ideal - além das propriedades de aderência deste material), movimentos de pôr e tirar, abrir e fechar e fazer puzzles simples. Além disso, gosto do nome, Quiet book, e traindo a minha profissão de tradutora, vou manter a designação em inglês.

 

Ando há meses a pesquisar e tirar ideias de quiet books giros e fáceis de costurar e nesta última semana tenho andado entretida com isto. Na verdade, há muito que não me sentia tão entusiasmada com um projecto. Aproveito todos os bocadinhos para trabalhar no Quiet Book para a Alice. Um bocadinho aqui para pôr o velcro na maçã, um bocadinho ali para cortar um vestido e, linha a linha, já tenho três páginas feitas e vou a meio da quarta.

 

Não resisto a partilhar convosco aquilo que já fiz. 

 

Página da árvore - tirar as maçãs da árvore e colocá-las no cesto, e vice-versa. 

 

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Inspiração daqui.

 

Página dos números - espécie de puzzle básico em que ela tem de ordenar os números (de acordo com a forma e a cor, claro)

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 Inspiração daqui

(na página ao lado vou fazer uma joaninha com fecho éclair para guardar os números)

 

Página dos fechos - a Alice adora abrir e fechar fechos, desde fechos de malas aos fechos das minhas botas. Antes que me estrague as ditas, prevejo muita diversão nesta página!

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Inspiração daqui.

 

Página da boneca - por enquanto ainda só tenho a boneca e os vestidos feitos, mas já estou a trabalhar em mais peças de roupa, que depois serão guardadas num roupeiro para vestir à boneca, que terá uma caminha na página ao lado.

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 Inspiração daqui.

 

Já tenho mais umas 3 ou 4 páginas pensadas, só me preocupa a forma como "encadernar" o livro. Mas cada coisa a seu tempo...

Podem ver mais ideias no meu álbum do Pinterest.

Bananas de Halloween

Em Sesimbra, pede-se o Pão-por-Deus no dia de Todos os Santos. Os miúdos vão de porta em porta com um saquinho na mão e as pessoas dão-lhes o que quiserem ou tiverem por casa, invariavelmente doces ou frutos secos. Lembro-me de, na minha infância, também haver disto na terra dos meus avós, no Alentejo, mas foi hábito de que nunca me apercebi nas grandes cidades.

As minhas filhas ainda são pequenas para irem ao Pão-por-Deus, mas este ano a escola decidiu festejar o Halloween a preceito. Foi assim que a sala da mais velha recebeu a visita de uma avó que foi fazer com os meninos bananas-fantasma e abóboras de tangerina e kiwi. Achei a ideia genial, muito fácil de fazer e acessível a todos os bolsos e mãos pouco dotadas e uma boa maneira de os miúdos comerem fruta.

Vou roubar-lhe a ideia:

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Bananas-fantasmas com pepitas de chocolate e abóboras de tangerina e kiwi (sugestão da avó, se bem que nesta foto parece ser pepino).

Livro de tecido interactivo

Em inglês chamam-se Quiet Books e são muito populares. Por cá já se começam a ver, mas as versões comerciais deixam muito a desejar do ponto de vista da imaginação.

Basicamente desde que aprendi a costurar que penso em fazer uma coisa destas. Nunca tive coragem, porque deve ser projecto para durar um ano inteiro e pôr de lado rapidamente por falta de tempo.

Há umas semanas uma amiga mandou-me este vídeo. É tão delicioso que decidi, naquele momento, fazer um mini-livro de tecido para o aniversário da Alice, já daqui a um mês! Estou preparada para a Inês também querer um, mas para o aniversário dela já tenho outras costuras pensadas.

 

 

Já comecei. Fiz um vestidinho para uma boneca demasiado grande e ando agora à procura de um template online para mãos mais pequeninas. Estou oficialmente em modo Quiet Book. Os vestidos a sério agora vão ter de esperar.

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(O Pinterest está cheio de ideias fantásticas. Houvesse tempo e não fazia mais nada.)

 

 

 

 

... e das coisas que me lembro

A Alice, que vai fazer dois anos para o mês que vem, já diz uma enormidade de palavras compreensíveis. São para aí umas 15, ora deixa ver: mamã, papá, [anda] cá, pão, mão, cão, não, avião, miau, aqui, ó-ó, pópó, totó, chão, tói-tói. Este fim-de-semana começou a dizer "sim" e "chucha", mas a maneira como diz estas palavras, a forma como empurra a língua contra o céu da boca para pronunciar o "sh" faz-me sempre lembrar eu naquela aula de alemão do 3.º ano, a tentar dizer schliesslich sem nunca conseguir não enrolar a língua. A docente achou que eu devia sair da sala a saber pronunciar schliesslich sem mandar gafanhotos e obrigou-me a repetir até a minha cara se transformar num tomate maduro e toda a turma estar a rir. Foi um dos momentos mais constrangedores da minha vida, mas duvido que mais alguém se lembre para além de mim. De qualquer maneira, se hoje encontrasse esta professora na rua, gostava de lhe esfregar na cara o meu schliesslich perfeito, mas o mais provável seria não a reconhecer, de forma que já vamos com 17 palavras compreensíveis. Schliesslich. Ou em bom português, finalmente.

Coisas que não fazem sentido

Estou a ler um livro que menciona um senhor alemão, Franz Konz, um guru da alimentação pré-histórica (não confundir com Paleo). Segundo Konz, um tipo de alimentação baseado em frutos, sementes, flores e ervas encontradas à beira da estrada, sem alimentos cozinhados nem processados, acompanhado de um desporto pré-histórico (seja lá isso o que for) e a renúncia total a cosméticos, sintéticos e medicina tradicional, é o único modo de vida que nos livrará das doenças e nos conferirá uma longevidade superior à média. Konz escreveu um livro, "Der grosse Gesundheits-Konz", ou o grande manual da saúde segundo Konz, a sua bíblia que conta com 9 edições (!), onde inclui fotografias horrendas ilustrativas de todas as maleitas que nos podem acometer se não seguirmos este tipo de alimentação. Faz acompanhar os seus ensinamentos com fotografias de jovens mulheres nuas a fazer desporto pré-histórico (seja lá isso o que for) que, de acordo com o livro da Greta Taubert, eram as suas esposas asiáticas que ele trazia do Oriente.

Isto só por si já tem piada, assim como este vídeo de morrer a rir (tem mais piada se perceberem alemão). Mas a parte melhor é que, depois de passar uma vida inteira a defender um tipo de alimentação anti-cancro, Franz Konz morreu, curiosamente, de cancro. De acordo com quem o conhecia de perto, parece que Franz Konz era, afinal, um homem de vícios e paladar requintado. Durante o dia podia alimentar-se de ervas daninhas, mas à noite empanturrava-se com conservas e comida processada, para depois as vomitar em tremendos acessos de culpa.

Achei esta história muito interessante. Há muita gente assim, que não se rege pelos princípios que advoga. Uma espécie flagrante de "faz o que eu digo, não faças o que eu faço". Como as nutricionistas gordas ou os pneumologistas que fumam. Também me faz lembrar eu, que decidi, durante o mês de Outubro, refrear os meus hábitos de consumo e não fazer compras desnecessárias, mas fui ao chinês comprar os fatos de Halloween para a festa na escola, porque não tenho tempo nem jeito para os fazer eu. Para me redimir, decidi costurar a bolsinha de bruxa que acompanhará o vestido Made in China. Mas isto faz tanto sentido como o senhor Konz ter morrido precisamente da doença que ele dizia poder combater com a sua alimentação, e esta será a única coisa que temos em comum.

Discos de limpeza em crochet

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Quem me conhece sabe que tenho a mania da ecologia, reciclo quase exaustivamente, compro coisas em segunda mão e gosto de dar oportunidade a alternativas ecológicas que não me compliquem muito a vida (não sou fundamentalista, portanto). Este mês decidi refrear bastante o meu consumo e aderir ao Buy Nothing New Month, mas sobre isso falarei mais tarde, porque a coisa precisa de mais contexto.

Decidi, assim, dar mais um pequeno passo na substituição de artigos poluentes, vindos sabe-se lá de onde e feitos sabe-se lá como, como são os discos de algodão de limpar a pele e remover a maquilhagem que uso diariamente. Confesso que me custa dar mais de dois euros por um pacote de algodão biológico e de comércio justo, quando as marcas brancas vendem mais quantidade por menos de 1 Euro. Mas a questão do algodão tem muito que se lhe diga, como podem ler aqui. Por isso, decidi substituir os discos de algodão por discos reutilizáveis.

Inspirei-me em modelos como este, mas na verdade isto não tem nada que saber: é fazer um anel mágico com 12 paus, duplicar o número de paus nas voltas seguintes e, ao fim de três voltas, rematar. Faço três enquanto vejo uma série.

São laváveis à máquina e muito práticos. O único senão é que são demasiado "esfoliantes" para usar de manhã e à noite, por isso da próxima vez estou a pensar coser uns em flanela (tutorial em inglês aqui).

Até visualmente são bastante mais apelativos do que os outros e até a Inês agora já gosta de lavar a cara... Estou fã.

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Coisas que concluí ao organizar o meu roupeiro para o Outono

- O amarelo, em todas as suas tonalidades, é a minha cor preferida e eu não sabia;

- Estou muito grata por a moda este ano ter decidido, finalmente, contemplar as gangas e as camisas de flanela às riscas - já vou poder usar os meus casacos de ganga sem parecer que parei nos anos 80;

- Pensava que eu era mais preto, quando afinal sou mais flores e bolas e riscas: ali um meio-termo entre retro e foleira;

- Toda a gente nesta casa tem mais roupa do que eu e isso deixa-me feliz;

- Consegui, finalmente, chegar ao ponto em que 90% das peças no roupeiro me fazem sentir bem e/ou me favorecem e/ou são a minha cara;

- 90% da minha roupa continua a ser feita na China ou no Bangladesh e, portanto, ainda há muito a mudar;

- Metade dos meus lenços e golas foi feita por mim, de modos que já é um pequeno passo;

- Consegui organizar a roupa de maneira a ficar com uma gaveta livre só para colocar as minhas jóias os meus acessórios (chamar jóias poderá ser algo exagerado, já que a única coisa de valioso que têm é o espaço que ocupam....), que raramente uso, mas como nunca tinha tido uma gaveta só para acessórios sinto-me assim uma espécie de diva sempre que abro a gaveta (só para ver); mas depois passa;

- Prometi a mim mesma não comprar mais roupa este ano e, se precisar mesmo de comprar, fazer escolhas conscientes, mas isso é coisa que só daqui a três meses se verá. Também só prometi isto depois de ter comprado tudo o que precisava para o Inverno, portanto acho que fiz batota;

- A verdade é que eu nem ligo muito a roupa, os blogues de moda enervam-me e não quero saber que trapos é que os outros têm na wish list, por isso posts deste tipo não se irão repetir.

Há um ano

Sem tempo para dar corpo a posts novos, repesco um post antigo, escrito há coisa de um ano, quando nos mudámos para cá. Tenho-me lembrado muito disso, que fizemos o nosso primeiro aniversário nesta casa e nem o celebrámos. Acho que é por parecer que sempre morámos aqui. Mas ainda hoje estava a ouvir as notícias do trânsito em Lisboa e a pensar que foi a melhor decisão que tomámos.

 

(O desaparecimento das chuchas de que falo neste post continua a ser um mistério.) 

 

A casa 

 

 

 

Não há como um dia cinzento de chuva para nos lembrar de que temos uma rotina. A minha (nova rotina) ainda está a instalar-se calmamente, com a paciência de quem sabe que vem para ficar. Ou assim espero.

Gosto de rotinas. Dão-me uma estranha sensação de segurança. A rotina que me foi mais fácil de adquirir foi aquela que depende maioritariamente de mim, o meu trabalho. Cumpro os horários com rigor e na pausa para almoço vou aparando as pontas à casa, arrumando uma ou outra caixa que ainda espera na fila, estendendo a roupa, regando as plantas, escrevendo um post. Do que mais gosto de fazer nesta casa, além de abrir as janelas de manhã para deixar entrar o sol (não foi o caso de hoje), é ir estender a roupa à corda do lado de fora. Poder fazer a lida da casa ao ar livre devia ser um direito adquirido. Aposto que se pudesse engomar no quintal também me iria passar a saber bem.
 
Fora as caixas ainda por arrumar que escondemos na garagem e que vamos buscando à medida que nos vamos lembrando, ou esforçando por lembrar, a casa ficou catita. De uma casa de fim-de-semana meia abandonada nos afectos, à qual prestávamos apenas a atenção que se dá às coisas temporárias, passou a ser uma casa acolhedora, convidativa, reconfortante para a alma, quente para o coração e fresca para a pele, uma casa de família. E com vontade própria. 
Personifiquemo-la, então.
Descobri que a casa é dotada de um humor muito especial. Talvez ache que tem direito ao seu momento de vingança por só agora estarmos a cuidar dela. Talvez seja apenas uma casa como aquelas nos romances latino-americanos, uma mansão com personalidade própria, espírito irreverente e refúgio de segredos e almas penadas. Tirando a parte da mansão, a casa prega-nos partidas. Ainda mal nos tínhamos instalado e já começavam a desaparecer coisas. Não é de estranhar, pensam vocês, acabaram de mudar de casa, têm meia vida enfiada em caixas, esperam encontrar tudo aquilo de que precisam sem vasculharem em, pelo menos, 8 caixas diferentes? Mas quando as coisas desaparecem à nossa frente já começo a franzir o sobrolho. Estava ali e já não está. Primeiro foi a chucha e, de repente, foram todas as outras chuchas, o que deu origem a uma pequena crise resolvida com uma ida de urgência ao único supermercado mais próximo. Depois foram as chaves. Estavam ali e já não estavam. Como um passe de magia, daqueles em que não conseguimos descortinar o truque, mas sabemos que ele existe, as coisas desaparecem. Eu acho-lhe piada, à casa, convivemos muito e acho que já nos entendemos. Ela também já deve começar a gostar mais de mim porque, aos poucos, durante esta semana, começou-me a devolver as coisas perdidas, uma chucha aqui, um casaco aqui, estou certa que as chaves ainda hão-de aparecer, cuspidas de um qualquer buraco negro escondido atrás de uma porta.
Às vezes também há barulhos. De noite ou de dia oiço a casa a respirar. Vou aprendendo a relaxar e a aceitar estes barulhos como sinais de uma nova vida, uma vida sem vizinhos barulhentos ou obras por cima das nossas cabeças. Uma vida sossegada em que de manhã, quando não chove, ainda dá para a mais velha andar um pouco de bicicleta antes da escola. E, depois da escola, tem havido sempre um pouco de praia à tarde. Esperemos que a chuva dê tréguas e nos permita seguir esta nova rotina mais um pouco. Porque esta casa também se vive muito bem lá fora. E estava-nos a saber bem.