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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Gostar de ti

Quando fui mãe, percebi que ia ter um desafio. Além de todos os desafios inerentes à maternidade, eu iria ter um desafio especial em transmitir segurança e autoestima às minhas filhas. Há umas semanas, a minha filha mais velha, de apenas cinco anos, começou a queixar-se dos sinais que tem na zona do decote, que eram feios e queria escondê-los. Não sei se alguém lhe chamou a atenção para os sinais, se foi ela própria que reparou neles e decidiu que eram feios. Ainda tentei dissuadi-la, mas nesse dia foi para a escola de lenço enrolado no pescoço. Passei o dia todo o pensar nisso. No dia seguinte, não a deixei pôr o lenço ao pescoço. Recordei-a de que a mamã tem um problema num pé e numa perna e que as pessoas olham para as minhas cicatrizes, mas que, ainda assim, às vezes ando de saias ou calções. Temos de gostar de nós como somos e não deixar que ninguém diga como devemos ser. Ela percebeu e não voltou a pedir para tapar os sinais. Porque, às vezes, a mamã anda mesmo de saia ou calções e, por isso, a mamã faz o que diz.

Há apenas dois anos não poderia ter dado o exemplo. Como é que eu lhe poderia dizer que não devemos ter vergonha do nosso corpo quando eu tinha vergonha do meu? O que lhe responderia se me confrontasse? Felizmente, já não estou nessa posição. Felizmente, estou a construir uma suficiente dose de autoestima em mim para a poder passar às minhas filhas.

Gostava que o tivessem feito por mim. 

 

Este trailer é de um filme visa inspirar as mulheres em todo o mundo a gostarem de si mesmas. Infelizmente, está a ser banido das saladas de cinema por, aparentemente, mostrar "demasiada carne". Vê e partilha se te identificas e se gostarias de o ver numa sala de cinema. Vê e partilha para que mais mulheres possam ter acesso a esta mensagem: ninguém te pode dizer como é que o teu corpo deve ser para que possas gostar de ti. Ninguém.

Olhos sem pena

Há dois tipos de reacções perante a observação de uma pessoa com deficiência: a reacção de surpresa e consequente encantamento (no sentido de não conseguirem resistir à tentação de olhar e fixar o olhar) e a reacção de normalidade (viram, assimilaram, está visto, sem aparentes juízos de valor). Infelizmente, a segunda reacção é muito menos frequente. 

Estas reacções provêem também, na generalidade, de dois tipos de pessoas diferentes: a primeira é a reacção das pessoas mais velhas, a segunda das mais novas. Os velhos não resistem a olhar, os novos não estão nem aí. Os velhos, se for preciso, até se viram nas cadeiras e seguem a pessoa com o olhar até esta desaparecer de vista. Os novos olham, se calha, mas a vida continua no momento logo a seguir.

O que não deixa de ser curioso. Uma pessoa pensa que pelos olhos dos velhos já terá passado tudo, uma vida inteira, cheia de descendência de primos casados e maleitas físicas que a medicina não conseguiu curar. Mas não, são exactamente esses que mais se espantam quando vêem um pé deformado. Dá vontade de perguntar: "Nunca viu?"

Mas, afinal de contas, é normal olhar. É normal que as pessoas se espantem com o que nunca viram, com o que julgavam ser direito e afinal é torto, é normal que olhem, uma, duas, três vezes, para depois se habituarem. Um dia, vão deixar de olhar. Até lá, vejo que me olham, assimilo e aprendo a gerir isso dentro de mim. Nos dias de mau humor sou capaz de olhar de volta com um olhar desafiador, mas no geral nada faço, nada digo. Não é preciso, porque a vida continua no momento logo a seguir e é a repetição destes momentos que fará com que, daqui a uns tempos, as pessoas com quem me cruzo todos os dias se habituem a ver sem olhar.

 

Quer olhem, quer não, o importante é educar os outros a não terem pena. Porque há pessoas com deficiência capazes de coisas que pessoas sem deficiência nem sequer sonham alcançar. 

 

 

Sair à noite em Sesimbra: é complicado

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Gosto de festas em sítios improváveis. Faz-me lembrar Berlim. Em Sesimbra, também se aproveitam os monumentos históricos para mais do que apenas visitas de turistas e, com sorte, até temos direito a maresia.

Fui para ver como é. Não estaria bem entrosada na comunidade se não soubesse como são as famosas festas anuais que têm o objetivo de reviver a antiga e popular discoteca da vila, La Belle Epoque. Há que estar a par de tudo, certo? Além disso, vai toda a gente a estas festas. A senhora da loja das cópias, a senhora da hora do conto, a farmacêutica, praticamente todos os pais da escola, a senhora da secretaria da escola, o homem que nos pintou a casa, os primos do homem (em primeiro, segundo e terceiro graus), os colegas do ginásio, a vila em peso, portanto. E ainda não conheço eu toda a gente...

 

Primeiro foi a Festa do Castelo. Fui simples, de blusa preta e calças rasgadas, sem grandes produções, afinal para dançar há que estar confortável. Cedo percebi que mais ninguém pensou como eu. É uma das festas do ano, disseram-me, a malta arranja-se bem. Ver e ser visto - há quem defina os eventos em Sesimbra desta forma. É fácil de perceber logo pelas fotografias à entrada, qual revista Caras. Depois lá dentro a malta relaxa mais um bocadinho. Bom, força de expressão.

 

Três semanas depois, foi a Festa na Fortaleza. Ah, agora já não me apanham desprevenida, pensei. Estava uma noite de verão daquelas, meti uma blusa fina de alças que só uso em raras ocasiões, as sandálias que levo aos casamentos, pintei-me e pus uns berloques, confiante de que ia estar à altura do esperado. Mas quando entro no carro de quem me veio buscar, gaguejei:

- Ninguém te disse que era para ir de branco?

 

Resumindo: em Sesimbra, é bem mais fácil ir à praia.

Petiscos

É por estas e por outras que depois amigos que não vemos há algum tempo nos telefonam a dizer que estão em Sesimbra precisamente no dia em que nós não estamos por cá. Mas logo nos descansam, dizendo:

- Ah, mas não era para nos encontrarmos! É só para me dizeres onde é que se come bom petisco.

...

Deixo, assim, aqui as minhas três sugestões de bom petisco a preço razoável na vila de Sesimbra:

1.º - Rodinhas

2.º - Formiga

3.º - Modesto

Se me telefonarem, ainda se arriscam a que possa mesmo ir ter convosco.

Um mês

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Faz um mês que não escrevo aqui.

Muita coisa aconteceu neste mês. Fui aos Alpes (ver foto) e subi, de elevador, ao Aguille du Midi que fica a 3842 metros e, a pé, ao refúgio Bonatti que fica no lado italiano dos Alpes. Caminhei, entre subidas, descidas e travessias pela neve, 11 km numa manhã e achei-me com coragem e entusiasmo para me meter nisto das caminhadas a sério. Visitei um glaciar por dentro e voltei a pensar na Islândia e em como gostaria de regressar. Neste mês, chegou também o verão e, com ele, vários amigos polacos e muita agitação ao nosso pequeno condomínio familiar. Neste mês aconteceram ainda outras coisas, como por exemplo, a festa do Castelo, Portugal sagrar-se campeão no Europeu de futebol e os Arcade Fire terem vindo ao Alive para um (o meu quarto) concerto memorável. São demasiadas coisas para contar de uma só vez, por isso, hão-de perdoar-me o forward, mas vou tentar retomar o blogue como se nada fosse. A ver como me saio.