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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Couchpotatos

Nós não temos televisão na nossa residência permanente. Para grande espanto dos senhores da Zon e da Meo quando lá vão a casa tentar impingir-nos pacotes mais baratos, foi uma opção consciente e informada e não sentimos falta nenhuma da mesma. Vemos as séries e os filmes que nós próprios escolhemos no projector, num ecrã gigante na parede, sentindo-nos como se estivéssemos no cinema, mas sem pausas para publicidade. A única coisa chata é que, durante o dia, temos de fechar os estores para conseguirmos ver alguma coisa, mas até a isso uma pessoa se habitua.
Em contrapartida, temos uma tevisão na nossa residência secundária (dito assim até nos faz parecer umas pessoas importantes e deveras abastadas...) onde nos refugiamos no Natal, no Carnaval, na Páscoa, practicamente em todos os fins de semana no Verão e, fora isto, sempre que podemos e nos apetece.
Não é, no entanto, um televisor qualquer. É um daqueles plasmas ou LCD (não sei a diferença) xpto de muitas polegadas que faz praticamente tudo menos fritar pastéis de bacalhau. E nós gostamos muito deste televisor xpto. Tanto que está praticamente sempre ligado, o que é um autêntico contra-senso, se tiverem lido ali o primeiro parágrafo. Mas como é só em alguns fins de semana a gente não se importa e finge que não há problema em deixar a miúda ver o canal Panda como se não houvesse amanhã.
Quando viermos para cá viver definitivamente, contudo, estamos a pensar num esquema para remeter a televisão para segundo plano, escondendo-a atrás de um armário concebido para o efeito ou engenhoca semelhante, pois estamos conscientes de que a televisão exerce um poder maléfico sobre nós, uma espécie de magnetismo que nos faz ficar vidrados, grudados, siderados a ver qualquer porcaria que nos alheie da realidade. Ok, qualquer porcaria não. O programa do gordo continua a despertar em mim instintos homicidas... Urge, portanto, controlar a televisão antes que ela nos controle a nós.
Mas, enquanto isso não acontece, descobri que se tivesse uma televisão que só sintonizasse os canais Nat Geo Wild e Travel Channel (e o AXN, pronto...), era uma pessoa feliz.
De modos que hoje, e era isto que eu vinha aqui dizer, quando estava a ver um programa no Travel enquanto dava de mamar, dei por um daqueles erros de tradução que, se não o tivesse lido com os meus próprios olhos, não acreditava. O tradutor traduziu chopsticks, os famosos pauzinhos chineses, como "pauzinhos de porco". Ainda tentei perceber se os pauzinhos acompanhavam algum prato com porco (não!), mas mesmo que assim fosse continuava a não fazer sentido. É daquelas situações em que o tradutor ou tem uma imaginação muito fértil ou tantas horas de trabalho em cima que começa a juntar vários pensamentos numa só frase (Aqui tem os seus pauzinhos. Mas o que me apetecia mesmo era uma bela entremeada!). Felizmente, ou infelizmente, como se verá a seguir, o programa acabou logo de seguida e mudei para o AXN. Aquilo que vi/li a seguir parecia retirado das listas de exemplos de más traduções/legendagens que me davam na pós-graduação em legendagem que tirei antes de ser mãe (numa outra vida, portanto). Ele eram erros ortográficos, elipses idiotas e/ou negligentes, falta de pontuação ou vírgulas a mais, mau entendimento do original e escolhas de tradução duvidosas, o que indicava que não tinha havido qualquer revisão ou controlo de qualidade do original. 
Casos destes, além de irritarem os espectadores que percebem o original e gostam de acompanhar com as legendas, só servem para denegrir a imagem do tradutor- legendador, é um facto, mas há que ter em conta que muitas vezes se trata de profissionais explorados, mal pagos e que têm de entregar o trabalho dentro de prazos ridículos. Já uma vez mandei um e-mail a este canal por cabo para me queixar da má qualidade das legendas, naquilo que foi indubitavelmente um episódio legendado à pressa (por azar deles, era uma série alemã, o que fez redobrar a minha atenção), mas, curiosamente, não recebi qualquer resposta. 
Não sabendo se é este o caso (tradutor escravizado) ou se as pessoas em questão apenas prestaram um mau trabalho por desleixo e falta de brio (que as há), lanço uns quantos suspiros de desdém e desligo o aparelho, concluindo apenas que ver televisão faz, efectivamente, mal ao coração.

Na boca do crocodilo

Retirado daqui.

Val.nom.est.ar compr."Esper.p/peç"

Até parece latim, mas não é. Isto foi o que resultou da tradução de uma frase completa, originalmente em alemão, depois de aplicar a delimitação de caracteres imposta pelo cliente, esse ser estranho e maniento. O processo para verificar a delimitação é bastante moroso, pois implica que aplique a fórmula em cada célula individual, sendo que, para este trabalho em concreto, estamos a falar de, em média, largas centenas de células por ficheiro. São 8 ficheiros. O maior deles tem 2832 linhas.
Mas prometo terminar este texto antes de dar um tiro na cabeça.

E quem vai ler, ou melhor, perceber uma frase destas? Pois, não sei. Nem sequer sei em que visor de que maquineta é que é suposto isto aparecer. Provavelmente uma embaladora de garrafas ou uma máquina de termocolagem, que é o que me costuma calhar na rifa.

Isto é o meu trabalho,  a maior parte das vezes. Não é tradução. É contagem de caracteres e invenção de abreviaturas. De vez em quando lá aparece uma tradução médica, que eu adoro, ou a revista bimensal de arquitectura, onde costumo atingir o nirvana. Mas as traduções que exigem que mais puxe pela cabeça são as que têm prazos mais (ridiculamente) apertados, ou seja, mais propensas a causar crises de stress. Lá se vai o nirvana.

Muitas vezes me pergunto porque é que ainda não mudei de emprego. Uma vez por ano costumo ter uma grande crise profissional-existencial, longas conversas com o homem da casa que me faz sempre ver porque é que eu tenho um trabalho e uma vida espectaculares, mas, nunca acreditando nele, lá vou eu a uma ou duas entrevistas. Mas nunca nada que me encha as medidas. Porque, na verdade, eu não sei o que fazer para além disto. E porque há sempre a esperança (e a possibilidade) de fazer, nas horas vagas, uma tradução jurídica ou de carácter empresarial. E disso eu gosto e nem sinto o passar do tempo. E depois há os meus chefes. Que são, possivelmente, os chefes mais porreiros do mundo. E o facto de trabalhar em casa. Se eu fosse trabalhar para outro sítio, como raio é que poderia fazer máquinas de roupa à hora de almoço?

De qualquer maneira, é nestas ocasiões em que costumo pensar naqueles trabalhos que ninguém quer ter, para me dar algum ânimo nos dias em que só me apetece chorar e dar murros no Excel. Esta lista é um bom exemplo dos piores trabalhos do mundo. Mais sugestões para incluir no post-it a colar no ecrã ao 14º dia de desânimo?


P.S.- E dispenso comentários do género "Ao menos tens trabalho". Como me disse uma amiga há pouco tempo, não temos de gostar do trabalho que temos e não é por outros estarem no desemprego que temos de dar graças diárias por fazermos aquilo de que não gostamos. Eu gosto do que faço. Dois dias por mês. Por isso, nos outros 20 dias costumo sonhar em ter dinheiro para me poder dedicar àquilo que realmente me dá prazer. Que é? Ah, isso agora.

Dobrador de pessoas


E-mail ao Centro de Terminologia Europeu IATE, uma fonte que, lá por ter Europeu no nome, não quer dizer que seja fidedigna.

Dear Sirs,
The Portuguese Translation for the entry “parachute packer” [1567401], [en] is somewhat funny. If a parachute packer refers to a person skilled in stowing parachutes, is definitely not a “people packer” as implied in the offered translation “dobrador de pessoas”. I would suggest something like “pessoa responsável por dobrar paraquedas”.
Thank you for your time.
Best regards,