As baleias são nossas amigas
A nossa visita à Ilha do Pico foi curta, mas ficou marcada por dois acontecimentos que dificilmente esquecerei. O primeiro meteu baleias, o segundo levou-me às nuvens.
Já se sabe que sou maricas, sofro de vários medos e fobias entre eles um que conta aqui para o caso que é o medo de tudo o que é peixe maior que a sardinha. A primeira vez que me convenceram a saltar para uma água profícua em vida marinha foi na Tailândia, numa daquelas excursões de grupo para fazer snorkelling em que os guias acham que o turista gosta mesmo é de ver peixes e então toca de atirar pão para o pé do turista para chamar os peixinhos. A coisa acabou por não ser muito traumática porque uma coisa que aprendi é que os peixes nunca nos tocam. A não ser que seja uma tubarão fêmea desnorteada com as crias. Mas felizmente não era.
Felizmente também consegui superar o medo ao ponto de, no dia seguinte, já andar completamente sozinha a espreitar a vida aquática dos nemos tailandeses enquanto o homem fazia mergulho a sério.
Depois veio aquele episódio do tubarão-baleia e agora esperava-se que me sentasse num semi-rígido rumo a alto mar para ver cachalotes e baleias azuis, só as maiores baleias do mundo. Mas as baleias não são peixes, dizem vocês. Pois não, mas não foi isso que me tirou os nervos.
Antes da partida, nem consegui almoçar bem e fui a única pessoa do grupo a indagar sobre questões de segurança. Mas deixem-me que vos diga, o primeiro vislumbre do monstro marinho, aka baleia azul, tirou-me toda a rigidez do corpo e toda eu era ahhhhs e ohhhhs e depois chegaram os golfinhos e era um grande cutxi-cutxi que eu lhes fazia se me deixassem. Fantástico! Maravilhoso! Espectacular! Não tenho palavras para descrever aquelas três horas de safari dos oceanos em que perseguimos e procurámos e estivemos a apenas 50 metros (a lei não permite mais) dos maiores animais do mundo. Aprendemos imensa coisa sobre as baleias (vimos três espécies), sobre os golfinhos (vimos duas espécies) e até sobre tartarugas que decidiram presentearem-nos com a sua presença. Por exemplo, sabiam que uma das razões para as baleias mostrarem a cauda é quando dão balanço para ir ao fundo do mar? Eu não sabia, mas vi e tirei foto.
No dia seguinte, subimos ao Pico. Em rigor da verdade, subimos só até um pouco acima das nuvens, o que equivaleu apenas ao segundo poste de orientação. Até lá acima há mais 45 postes, mas (felizmente para mim que subo tudo, descer é que é mais difícil) tínhamos um barco para apanhar e tivemos de ficar por ali. Estar acima das nuvens dá aquela sensação poderosa de conquista do mundo e é uma sensação um pouco difícil de superar.
O homem tentou convencer-me a lá voltar e subir mesmo até lá acima, dormir na cratera e assistir ao nascer do sol. Ele já fez isso e garante que é uma one lifetime experience, mas há coisas a que eu demoro a dizer que sim...
De qualquer maneira, se quiserem lá ir acima, façam uns quantos agachamentos nas semanas anteriores. Os vossos quadrícepes vão agradecer...
Informações práticas: há voos directos para a Horta (Faial) e depois podem apanhar o barco para a Madalena (Pico) várias vezes por dia. A vida no Pico é parada, paradinha e além de actividades como whale watching ou trekking, há pouca coisa para fazer. A animação está mesmo toda (cof cof) no lado do Faial. Para comer recomendo umas lapas grelhadas no Ancoradouro bem regadas a vinho da região. Tem vista para o Faial que, não sendo tão espectacular como a vista do Faial para o Pico, também tem o seu encanto.
Os outros dois dias passámo-os no Faial sempre de olho no Pico. Um deslumbre, só vos digo.