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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

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Celebrar as marcas da gravidez... como?

Alguém me explica o que há de bonito nesta foto?


Segundo este artigo, baseado neste projecto, um corpo que gerou vida deve ser celebrado e a beleza redefinida. Eu, contudo, vejo uma barriga flácida, com estrias acentuadas que vão da barriga às pernas, fruto de uma gravidez, ou várias, em que a mulher engordou demasiado e/ou não teve nenhum cuidado com a pele durante e depois.
Arriscando-me a que me caia o cuspo em cima daqui a uns meses (dizem que a segunda gravidez deixa as suas marcas), eu não consigo ver nenhuma beleza num corpo deformado pela gravidez. Serei só eu?

A minha mãe tem uma barriga assim (bom, um bocadinho pior). Lembro-me de uma vez lhe ter perguntado o que tinha acontecido e de a resposta me ter marcado até hoje: "Fiquei com a barriga assim depois de tu nasceres". Devia ter aí uns dez anos. A culpa que se apoderou de mim por ter deixado a minha mãe disforme foi tal que durante uns tempos achei que era uma péssima pessoa só por ter nascido. Mas, afinal, eu nunca pedira para nascer.

Na primeira gravidez, tive todos os cuidados com a barriga. Metia creme gordo de manhã e à noite, hidratava bastante a pele com óleos e géis de duche o mais gordos possível e não engordei muito. No pós-parto, fui à farmácia comprar um creme anti-estrias especial para o pós-parto e fiquei bastante orgulhosa com o resultado final. Tirando o peito (já lá vamos), quem olhava para a minha barriga não percebia que já tinha tido um filho. 
Nesta gravidez estou a ter os mesmos cuidados, mas estou com algum medo porque me sinto a engordar com mais rapidez, sinto a pele a repuxar durante a noite e nada me garante que a pele aguente. Mas, ainda assim, estou confiante, porque estou a ter cuidados ao nível da hidratação. Quanto ao peito, nunca mais voltou a ser o que era, não. Um peito que amamenta fica irremediavelmente preso na teia da gravidade e muitas foram as vezes em me olhei ao espelho e pensei que começava a compreender as mulheres que optavam por não amamentar para não "estragar" o peito.

A questão é: se eu voltasse atrás, iria optar por não amamentar? Não! Vou não querer amamentar a minha segunda filha? Não! Se eu ficar com estrias na barriga vou atribuir as culpas às minhas filhas e fazê-las saber disso? Não! Vou provavelmente pensar "não tiveste cuidados suficientes" e procurar outras alternativas, agora daí a olhar para o espelho e sentir-me super sexy num corpo cheio de estrias ou anular-me de tal maneira como se a única coisa que importasse fosse o nascimento das minhas filhas, ui, vai uma diferença monumental.

Eu sou eu, uma pessoa individual, uma pessoa que deixará de ser sentida como o prolongamento das minhas filhas (e vice-versa), uma pessoa com uma vida íntima, uma vida sexual, uma necessidade de me sentir minimamente atraente aos olhos do meu homem que é completamente diferente de todo o amor que possa sentir pelas minhas filhas, de toda a gratidão que possa expressar pelo seu nascimento.
A minha vida sexual não tem espaço para estrias profundas e mamas descaídas.

A meu ver, este tipo de projectos de que falei em cima é para mulheres que precisam urgentemente de aceitar o corpo que têm, que precisam de uma desculpa para se acomodarem e que precisam que lhes afaguem a auto-estima e lhes digam que ser mãe é uma maravilha e tudo o resto não interessa. Eu digo que ser mãe é uma maravilha, sim, mas tenho olhos na cara para me olhar ao espelho e, se não gosto do que vejo, está nas minhas mãos mudar. E deus me livre andar por aí a mostrar orgulhosa a minha barriga descaída.

Haja auto-estima. E muito creme gordo.

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