De barriga cheia
O relato que se segue vai, provavelmente, fazer-me perder alguns dos seguidores que me adicionaram ultimamente, mas a alegria que eu e a minha filha sentimos ontem ao jantar foi tanta que perder seguidores é coisa que pouco me importará em comparação.
Começo por dizer que não me orgulho disto, mas que também não é caso para a Assistência Social me vir pedir explicações, posto o que ontem à noite tivemos pizza para o jantar! Pizza e gelado, como ela repetiu vezes sem conta. Mas tenho para mim que dias não são dias e em breve o cozinheiro salvador está a chegar para nos livrar do mal das refeições prontas.
A tarde estava solarenga e tanto eu como ela sentimos necessidade de aproveitar o sol que não molha os baloiços e o sol que nos faz querer sentar num banquinho de olhos fechados e o sol que nos leva a vaguear pelas ruas atarefadas de Algés atentas a tudo e a nada. Foi assim que, sendo quase oito da noite, mas quase ainda de dia, lembrei-me, distraída, que não tinha jantar para ela. Podia ter vindo para casa e ter feito qualquer coisa rápida, podia ter vindo para casa e ter feito qualquer coisa demorada enquanto lhe acalmava a fome com pão, mas acabei por telefonar e pedir a pizza mais simples que tivessem.
O delírio começou mal a pizza chegou. Como se fosse dia de festa, ela ria e escondia o riso como se fosse marotice, e depois de muito comer (era uma pizza individual que eu cortei em muitas fatias fininhas para parecer mais), houve uma de nós, não interessa agora quem!, que deixou escapar um arroto. Isso é que foi o fim da picada. Começámos as duas a fingir arrotos maiores do que o outro, com a língua de fora e os olhos revirados, e depois ríamos, ríamos, ríamos, e voltávamos a fingir arrotos, e ríamos, e ríamos, e ríamos, ríamos com prazer e ingenuidade até ficarmos as duas com soluços e a pizza começar a ficar fria, mas nós ríamos como se estivéssemos possuídas por um qualquer deus do riso, que depois ainda nos pôs a comparar as barrigas dilatadas do tanto que comêramos, e a fazer como os homens do campo, de perna aberta e barriga grande, e ela a prestar-se a tudo e a imitar-me e a fazer-me rir tanto que no fim só podíamos ter acabado abraçadas.
E é assim que se está a acabar o nosso girly time. Acho que nos divertimos e ganhámos as duas muito nas duas últimas semanas, mas o papá também já faz muita falta... Para fazer suminhos verdes e andar às cavalitas. Vá, anda, papá, anda.