desContracções
No princípio foram os enjoos. Enjoos que duravam de manhã à noite, chegando até a acordar-me durante a noite para avisar que só dariam tréguas a partir dos 4 meses. Depois foi o cansaço, as dores nos braços e em praticamente tudo o que eram articulações, o que levou a médica do centro de saúde a ponderar a hipótese de Lúpus e a descartar-se airosamente de uma grávida "complicada", recambiando-me de volta para o hospital. Agora é a baixa antecipada que, por muito que os meus olhos brilhem ao ler estas cinco letrinhas, não é pelos melhores motivos e me deixa mais desmotivada do que feliz por passar os dias literalmente a não fazer nenhum.
Comecei a sentir as contracções de Braxton Hicks já há algum tempo, eu diria mesmo há um mês, mas, como eram esporádicas, fui achando normal. Comecei a estranhar quando deixaram de ser esporádicas, quando eram tantas que já me incomodavam, mesmo que não me doessem. Comentei com o pai, comentei com uma amiga e resolvi ir à procura de mais informações na Internet. Percebi, então, que, às 28 semanas, não é suposto ter mais do que 4 contracções por hora. Comecei a contá-las. Não sendo todas as horas (apenas quando estava sentada), quando apareciam, apareciam às 7 de cada vez, em cada hora. Ups. Ainda ponderei correr para as urgências. Mas isto de ser a segunda gravidez dá-nos uma descontracção abusiva (er... desleixo?). Resolvi esperar pela consulta e foi com alguma surpresa que ouvi a médica dizer, depois de me examinar e verificar que tenho o cólo do útero demasiado molinho para o tempo de gestação, que tinha de ficar em casa.
"Mas eu trabalho em casa", ainda disse eu. Não é do stress, não é de apanhar os transportes públicos que não apanho, não é de andar muito, não é de fazer grandes esforços. É, segundo a médica, simplesmente porque, devido à minha profissão, passo demasiado tempo sentada. Ora essa. Prescrição médica: magnésio três vezes por dia, baixa médica de duas semanas daquelas "olhe que é para prolongar", ordem de repouso não absoluto, mas mais ou menos, vá, tenha bom senso.
E é assim que tenho passado os meus dias mais ou menos recostada (quando já se tem um filho "repouso" é uma palavra imperceptível), a contar as contracções e a tentar não alarvar muito à hora das refeições, porque, já se sabe, comida e pouca actividade nunca fizeram uma boa equipa. Não estou muito entusiasmada, confesso, especialmente quando o número de contracções chega a 35 num só dia. Tirando o número de horas que passo a dormir ou a andar no meu passo vagaroso, a média por hora pode ser superior às inofensivas 4 contracções por hora. Mas o truque é, como diz o sábio pai das crianças, não stressar, cumprir as ordens médicas e levar um dia de cada vez. Posto o que nos próximos dias ou semanas me vou ter de entreter com muitas das coisas para as quais nunca tenho muito tempo: dormir, ler, dormir, fazer crochet, ah, e dormir. Um post de vez em quando para não me esquecer de como se conjugam os verbos. E, quando precisar de esticar as pernas, ir lavando já a roupa toda de recém-nascido que já tenho cá em casa (mais não, por favor...), porque, lá está, as coisas não acontecem só aos outros e eu quando calha sou um bocado pessimista.
Entretanto, ponho-me a pensar se Alice não será um nome angelical demais para uma pirralha que já me está a dar tanto que fazer (ou que não fazer). Rita seria muito mais apropriado (faz alusão a determinadas atitudes relacionadas com a tenacidade e com a força de vontade). São poucas as Ritas que conheço que não são obstinadas, teimosas e com personalidade "de gancho". Mas o pai não pode ler isto...