Estou a chegar
Já cá estou, mas às vezes parece que ainda estou lá. Ou como os moçambicanos dizem "Estou a chegar". Vou chegando, devagarinho, para não custar tanto de uma só vez.
Na verdade, não custou voltar. Não custou retomar a rotina. Não custou regressar ao trabalho. Porque já antes de chegar as saudades eram tais que nem consegui apreciar bem a última almoçarada no Mercado do Peixe em Maputo, as saudades eram tais, que me obriguei a dormir no avião para que o tempo passasse depressa, as saudades eram tais que, quando cheguei, quase não reconhecia a bebé que cá tinha deixado e que já não era assim tão bebé e até já dizia frases no pretérito perfeito e me deu tantos beijinhos que desejei que todos os dias fossem dias de reencontro.
E, de repente, foi como se nunca me tivesse ausentado. Desfeitas as malas, distribuídos os presentes, empilhados os 70 metros de capulanas que trouxe (...), o que custa mesmo é lembrar-me que fui e já voltei, o que custa mesmo é passar as fotografias para o computador e pensar que já lá não estou, o que custa mesmo é dizer tanto em tão pouco tempo, que é o tempo que me sobra no fim. O que custa mesmo é o frio que por cá faz. Ou não custa, na verdade. É que ouvir a minha filha dizer "Está friooooo!" sempre que saímos de casa, faz-me querer ir e voltar outra vez para me reapaixonar por ela a cada segundo.
O gato, esse, engordou. Patrão fora...