Logo se vê
Já comecei um post a falar sobre o primeiro aniversário da Alice, que já passou, e em como ela já tem grandes conversas connosco, mesmo sem ninguém perceber o que ela tanto diz, ou como ela já levanta o pé para lhe calçar o sapato ou ainda como ela gosta de fugir de mim, de rabo desfraldado, na hora de vestir. Acabei por desistir. Depois comecei um post a contar tudo sobre o calendário do advento que estou a costurar e sobre ideias não comestíveis para colocar no calendário que agradem à Inês e não lhe provoquem cáries. Mas isso coincidiu com mais um ciclo de terrores nocturnos da mais velha que têm tornado as nossas noites numa viagem pelo comboio fantasma, quando ele ainda era imprevisível e metia respeito. Acabei por desistir. Depois comecei outro post sobre qualquer coisa tão importante que já não me lembro o que era. Acabei por desistir.
A verdade é que não sei que rumo dar a este blogue. Se por um lado nunca ninguém cá vem e quando vem, raramente comenta, o que me podia dar a liberdade para falar livremente, por outro lado sei que me lêem pessoas com quem não me apetece partilhar certas coisas. Já vi blogues acabarem por menos. E depois há a questão do tempo, que não sei como certa gente faz, com filhos e trabalho que é o que, vai-se a ver, me sucede a mim, para ainda arranjar tempo para escrever três posts por dia. Se eu já nem três posts por semana... Já lá vai o tempo em que me aborrecia no trabalho e roubava o tempo às traduções para escrever umas linhas aqui, umas linhas ali. Agora cá vai o tempo em que não me apetece roubar tempo nem às traduções, nem ao ginásio, nem às filhas, nem ao sono para escrever umas linhas onde quer que seja. Já vi blogues desfalecerem por menos. E depois é esta mania que a malta tem de ter blogues para se mostrar ao mundo, olhem tudo o que eu faço e roam-se de inveja da minha vida pastel e das minhas festas de aniversário tão Pinterest e da mãe espectacular que sou e das coisas giras que faço ao fim-de-semana e da puta que o pariu que são tão fixes que metem nojo. Porque eu não sou fixe, a minha vida mete formigas e chuva a entrar por baixo da porta, tenho sempre a casa desarrumada e o cabelo preso num elástico porque odeio o corte, o meu fim-de-semana é muitas vezes passado a pensar na segunda-feira de manhã em que volto a ter a casa em silêncio, despedi a mulher a dias mas menti-lhe porque não tive coragem de lhe dizer que ela não sabe limpar, e, agora é que são elas, sou uma péssima mãe que não sabe lidar com uma criança que não adormece e que às vezes se esquece de fazer sopa para a mais nova. Até este post estou a escrever, só com uma mão, com a mais nova enrolada no meu colo entre ranho e dentes, vejam lá até onde se estende o glamour.
Mas se calhar é disto que a malta gosta, de vidas sem glamour. Talvez para se poderem sentir acompanhados (riso maquiavélico).
Sinto-me desencantada com este blogue, essa é que é essa. Acabar este e começar outro para fugir às pessoas seria mais infantil do que despedir a mulher-a-dias e não lhe dizer a verdadeira razão por que o faço. Acabar este e começar outro para fugir a mim mesma também seria estúpido porque a Polliejean não pode ir para lado nenhum. Por isso, não estranhem se deixarem de me avistar por uns tempos. Mas também não estranhem se continuar a escrever com a mesma (ir)regularidade por uns tempos. Porque como não sei o que fazer, é ir andando ao sabor da (des)vontade.
É mais ou menos assim: logo se vê.
É mais ou menos assim: logo se vê.