Meter a mão na terra
É uma espécie de terapia. Semear, regar, transplantar, podar. No final, colher a salsa para os temperos, apanhar a alface para a salada, o alho francês, que comprei a pensar que era cebolinho, para a sopa. Comer aquilo que plantamos é tão bom como vestirmos aquilo que cosemos. Dá uma ínfima e efémera sensação de poder e autossuficiência, mas boa na mesma. Mas, ao contrário de uma blusa que se cose numas horas, o jardim e a mini horta exigem dedicação constante, um carinho diário, uma atenção permanente. Normalmente, rego no final do dia, quando o calor abranda e elas já estão em casa. Gostam de ajudar a regar as plantas (e os próprios pés), a pôr a terra nos vasos (ou onde calhar), a sujar as unhas e a roupa enquanto ignoram os meus protestos para lavarem as mãos antes de pegarem em comida e perguntam se hoje há sopa, quando apanho o último alho francês, que devia ser cebolinho, sobrevivente.
Tenho pena de não ter mais espaço, mais terra para plantar mais coisas. Aos poucos, vou percebendo quando se deve podar, vou conhecendo as manhas às plantas e aprendendo as estações e os tempos certos. Estava quase capaz de me atirar às cebolas e aos tomates e assim ter sempre salada fresca para o jantar. Com direito a caracóis, lesmas, minhocas e outros bichos com quem vou aprendendo a conviver e respeitar (menos os gafanhotos, de quem ainda não gosto), e a pôr para o lado, para que não me comam a salsa. Mas acho que estou a deixar morrer o mirtileiro, por isso não devo ser ainda muito boa jardineira. Vale o prazer que dá pôr a mão na terra e rezar para que tarde o dia em que me vai saltar um gafanhoto verde, grande e gordo do meio das margaridas. Até lá, vivo na ingenuidade de achar que já estou a superar a minha fobia, só porque no outro dia dei uma mangueirada a um gafanhoto verde e pequeno sem mandar um grito que se ouvisse na Arrábida.
Estou no bom caminho, pois.