Primeiro dia
Sei que é normal, que faz parte, que a vida é para a frente e mais outras frases cliché de que não me lembro, mas que podem juntar ao rol. Mas não consegui evitar uma sensação avassaladora de desamparo quando a deixei na sala da primeira classe, de cabecita por detrás das cartolinas, da caixa cheia de exigências da professora e da mochila que pesa tanto como ela. Ela ficou a sorrir, satisfeita e orgulhosa, e só isso já me devia deixar descansada. Mas assim que lhe fiz adeus e virei as costas, fui assaltada pela hedionda suspeita de que falhei redondamente como mãe, porque a deixei sozinha, entregue à bicharada, aos meninos matulões do 4.º ano, aos livros de fichas e ao refeitório com tabuleiro da escola pública. Quando deveria sentir exactamente o oposto, eu sei. Afinal, a minha menina está a crescer e criei uma menina doce, confiante e bem-disposta que não tem medo de ir para a escola e que, ao contrário da parva da mãe, não ficou a chorar. Mas é que não consigo parar de pensar: e se ela tiver vontade de fazer cocó, quem é que lhe vai limpar o rabo??