Revisitar o Muro de Berlim
Berlim é daqueles sítios onde se pode ouvir grego, japones e hebraico enquanto esperamos pelo eléctrico. Esta multiculturalidade faz-nos sentir no centro do mundo, mesmo que seja só no centro da Europa. Nao me admira que muita gente queira vir a Berlim, para Berlim. Toda a carga histórica é simplesmente fascinante e, a par disso, a oferta cultural e a diversidade sao os chamativos perfeitos para visitar esta cidade. E, por isso, nao seria de pasmar que Berlim estivesse tao cheia de turistas. Mas eu pasmei. Porque de todas as vezes que visitei o Muro, sozinha ou com visitas, nunca tinha visto tanta gente a fazer este trajecto. Encontrava, no máximo, 6 ou 7 pessoas ao longo do passeio da East Side Gallery. Agora, fotografar o Muro é tao difícil como fotografar a Mona Lisa no Louvre: há sempre um japones que se mete à frente.
Desde há oito anos para cá, voltaram a pintar o Muro, massificaram-no, fizeram dele engodo aos turistas sequiosos de carimbarem o seu "passaporte da RDA", deslocaram uma parte do Muro para permitir que se passasse para o lado de lá (na margem do rio, onde agora as pessoas se podem sentar num café, num barco-café, numa praia a fingir ou simplesmente na relva) e houve até quem se lembrasse de encher um dos portoes com cadeados de amor, daqueles como há na ponte francesa. Uma coisa que nao existia há 8 anos, mas que agora faz muita gente parar (será que pensam que sao cadeados de amor entre alemaes de leste e de oeste?).
Se por um lado isto me irritou, toda esta massificacao e comercializacao de Berlim, por outro lado percebo que este é apenas o rumo natural que as cidades tomam quando deixa de haver fronteiras e há livre transito dentro da Europa. O Muro ja nao divide nada em ninguém e tem agora, finalmente, o Memorial merecido que nao deixa esquecer outros muros por esse mundo fora.