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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Primeiro dia (actualização)

- Do que gostaste mais do dia de escola?

- Da professora simpática e do recreio gigantesco.

- E do que gostaste menos?

- Hmmm... De nada!

 

- A comida do refeitório é boa?

- Estava óptima! Até tinha sabor!

 

- Já tens trabalhos de casa?

- Não, isso é só quando estivermos habituados a ler e a fazer contas. Sabes, a professora vai ensinar-nos a fazer magia com os números!

 

- Dorme bem, minha aluna do 1.º ano!

- Dorme bem, minha mamã do 2.º ano!

 

(Pronto. Acho que correu bem.)

Primeiro dia

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Sei que é normal, que faz parte, que a vida é para a frente e mais outras frases cliché de que não me lembro, mas que podem juntar ao rol. Mas não consegui evitar uma sensação avassaladora de desamparo quando a deixei na sala da primeira classe, de cabecita por detrás das cartolinas, da caixa cheia de exigências da professora e da mochila que pesa tanto como ela. Ela ficou a sorrir, satisfeita e orgulhosa, e só isso já me devia deixar descansada. Mas assim que lhe fiz adeus e virei as costas, fui assaltada pela hedionda suspeita de que falhei redondamente como mãe, porque a deixei sozinha, entregue à bicharada, aos meninos matulões do 4.º ano, aos livros de fichas e ao refeitório com tabuleiro da escola pública. Quando deveria sentir exactamente o oposto, eu sei. Afinal, a minha menina está a crescer e criei uma menina doce, confiante e bem-disposta que não tem medo de ir para a escola e que, ao contrário da parva da mãe, não ficou a chorar. Mas é que não consigo parar de pensar: e se ela tiver vontade de fazer cocó, quem é que lhe vai limpar o rabo??

Perguntas difíceis

- Mãe, porque é que tu e o papá não casaram?

- Mãe, eu sou batizada? Porquê?

- Mãe, as fadas não fazem magia?

- Mãe, o poder das mãos não existe?

- Mãe, existe um Pai Natal a sério e outros que são só ajudantes?

- Mãe, posso ir ao MasterChef?

 

Há perguntas para as quais nunca estamos preparados. Muito menos quando são todas feitas praticamente no mesmo dia.

A Heidi, o Cutchi e uma noite de lágrimas

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 Ontem a Inês chorou pela primeira vez de emoção ao ver uns desenhos animados. Era a Heidi, naquela parte em que ela parte para Frankfurt para estudar na escola e deixa o avô e o Pedro nas montanhas. As lágrimas caíam-lhe cara abaixo e ela bem tentava secá-las com a mão, mas quando se apercebeu que estava a ser observada começou a chorar copiosamente. Achei super ternurento, especialmente porque ela nunca admitiu estar a chorar por causa de um filme, mas disse que se tinha lembrado do Cutchi, um balão golfinho que foi para a lua, e que tinha muitas saudades dele. Pois claro.

 

Lembrei-me de mim, um pouco mais velha do que ela, quando a minha mãe me apanhou a chorar por causa de uns desenhos animados (o avô da menina tinha morrido, há lá coisa mais triste?) e eu não fui capaz de admitir a verdadeira razão porque chorava (ou teria já medo que me achassem ridícula?) e disse que me estava a chorar porque ainda não tinha feito os trabalhos de casa.

Acho que a minha mãe não acreditou: eram seis da tarde de uma sexta-feira...

 

Não sei quem nos mete na cabeça desde pequenos que faz mal chorar. A culpa será provavelmente dos pais e educadores que passam a vida a dizer "Vá, não chora" quando acho que chorar é, muitas vezes, além de involuntário, uma excelente forma de lavarmos a alma. Eu admito que sou a primeira a chorar num filme (e noutras ocasiões...). E acho super ternurento que a minha filha, com quatro anos e meio, já tenha a sensibilidade e empatia suficientes para perceber o drama nuns desenhos animados e chorar como se percebesse exactamente o que os bonecos estariam a sentir.

Se calhar é melhor não a pôr já a ver o Bambi...

Em casa

Hoje a mais velha ficou connosco em casa. Como temos de trabalhar, há que mantê-la entretida ao pé de nós a fazer "coisas importantes". Estou fascinada com tudo o que se encontra na Internet para entreter e estimular os petizes, desde desenhos para colorir, a jogos, labirintos, desenhos para encontrar as diferenças, you name it! Há pouca coisa em português de Portugal, mas muita coisa em português do Brasil e em inglês e para pintar ou encontrar o caminho certo num labirinto, as crianças não precisam de saber ler. 

Se algum dia precisarem:

 

- Desenhos para encontrar as diferenças, aqui.

- Labirintos para imprimir, aqui e aqui.

- Desenhos para colorir aqui.

- Desenhos para ligar os pontos aqui.

- A página da Crayola tem desenhos para todas as idades e gostos, para recortar, para desenhar, para jogar. É só escolher. Aqui.

 

E muito mais, mas a malta tem de trabalhar...

 

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Conversas ao telefone

Durante esta semana, tenho falado com a Inês todos os dias por telefone. Está com os avós na praia e tem sempre muito para contar.

 

Dia 2

- Mamã?

- Olá, Inês! Estás boa?

- Porque é que, quando falas comigo ao telefone, nunca me chamas filha? Dizes sempre Inês! Mas eu sou tua filha!

 

Dia 3

- Olá, filha! Estás boa?

- Mamã, já tenho muitas coisas da Violetta. A avó comprou-me uns chinelos da Violetta e tudo!

- Ai, sim? Que vaidosa!

- Espera aí, mamã. (fala para o lado) Avó, a mamã disse que eu sou vaidosa! (volta a falar para o telefone) Mamã, sabes que eu tenho comido um gelado todos os dias?! (fala para o lado) Avó, é melhor não dizer à mamã que comi uma pastilha, porque ela não deixa. (volta a falar para o telefone) Mamã, também comi um rebuçado!

- E também comeste pastilhas?

- (silêncio) Como é que tu sabes??? (fala para o lado) Avó, a mamã sabe tuuudoooo!

 

Dia 5

- Olá, filha! Estás boa?

- Mamã, tenho uma coisa para te dizer. Adoro-te, és muito fofinha e tenho 40 saudades de ti!

- Eu também te adoro e tenho 70 saudades de ti!

- Ok, pronto...

Assim está muito bem

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Houve uma altura em que pensámos ter três filhos. Foi pouco depois de a bebé Alice nascer, quando eu ainda andava parvinha da occitocina e descobrimos que nos tinha calhado outra bebé pouco chorona e dorminhoca. Mas depois começaram os terrores nocturnos da Inês e, a juntar à dentição da Alice, foi um ano de pura privação de sono (eu sei que há pais que são privados de sono durante mais tempo, mas cada um com os seus problemas, sim?), o que serviu para me desmotivar completamente de ter outro filho.

Além disso, feitas as contas, o nosso carro dá para dois filhos, a nossa casa é ideal para dois filhos, os nossos ordenados não esticam para mais do que dois filhos, as duas voltaram a dormir bem e a vida é perfeita assim com dois filhos.

 

No entanto, a Inês está sempre a pedir-me um irmão. Já lhe expliquei que tomo um comprimido todos os dias para não ter bebés na barriga, mas ela diz que qualquer dia me esconde os comprimidos. Já lhe expliquei que só tenho duas mãos para as agarrar ao atravessar a estrada, uma de cada lado, e que como iria eu agarrar uma terceira criança, mas ela diz que agarra o papá ou que uma delas pode ir às cavalitas. Já lhe expliquei que depois, quando nascesse o bebé, eu ia ter de cuidar do bebé durante muito tempo e não poderia brincar com ela e com a Alice, mas ela disse que posso perfeitamente deitar o bebé a meu lado enquanto brinco com elas. Há uma solução para tudo, portanto. Calculo que também tenha uma solução para as estrias e as mamas descaídas, mas ainda não fui por aí. 

 

Apesar de tudo, apesar de ser a única nesta casa a defender que duas filhas já chegam (felizmente, o corpo é meu e acho que a última palavra ainda é minha), às vezes ponho-me a pensar como seria ter outra. O caos. A desordem. O barulho. Os banhos. As noites. As fotos. As viagens em família. O riso de todas ao mesmo tempo. As sessões de cócegas. A história à noite com as três em cima de mim. E depois encontro blogues de famílias numerosas que me fascinam, como o recentemente descoberto seis mais dois, e dou por mim a vasculhar os arquivos e a lê-lo de uma ponta à outra e a não evitar uma certa inveja da casa cheia e das atividades em família que parecem sempre um acontecimento. 

Vou continuar a ler, este e outros, até perceber como é que estas mães fazem para terem dias mais longos e para conseguirem não andar sempre aos berros pela casa. Quando perceber como se faz e conseguir aplicar isso na minha própria vida, pode ser que consiga ter boas notícias para dar à Inês. Até lá, a vida assim a quatro* está muito bem e recomenda-se.

 

* e mais uns quantos gatos.

vitórias

Sabemos que todo o esforço foi recompensado quando, depois de deitarmos as duas, lermos a história, apagarmos a luz e virmos embora quase logo a seguir, ouvimos a mais velha acalmar a mais nova

- A mana está aqui.

e adormecerem as duas, sozinhas no quarto, sem precisarem de nós uma única vez.

 

Da sensibilidade

Diálogo anos balneários da piscina:

Eu: Inês, porque é que não quiseste dar mergulhos?
Inês: Porque me entra água para o nariz.
Eu: Mas o professor já te ensinou um truque para isso. Tens de aprender a mergulhar para, no Verão, poderes dar mergulhos na praia.
Inês: Mas eu não quero dar mergulhos no mar. Há tubarões!
Eu: Não há nada. Eu já te expliquei que na praia de Sesimbra não há tubarões.

Diz a senhora que estava ao lado a vestir o neto:
- Ai, há, há! Ainda no ano passado apareceu um no Cabo Espichel, não viu as notícias? E o meu irmão, que faz mergulho, também já viu um tubarão martelo. Ai não que não há tubarões...

Ele há gente que tem uma sensibilidade inata, disso não há dúvida.