Houve uma altura em que pensámos ter três filhos. Foi pouco depois de a bebé Alice nascer, quando eu ainda andava parvinha da occitocina e descobrimos que nos tinha calhado outra bebé pouco chorona e dorminhoca. Mas depois começaram os terrores nocturnos da Inês e, a juntar à dentição da Alice, foi um ano de pura privação de sono (eu sei que há pais que são privados de sono durante mais tempo, mas cada um com os seus problemas, sim?), o que serviu para me desmotivar completamente de ter outro filho.
Além disso, feitas as contas, o nosso carro dá para dois filhos, a nossa casa é ideal para dois filhos, os nossos ordenados não esticam para mais do que dois filhos, as duas voltaram a dormir bem e a vida é perfeita assim com dois filhos.
No entanto, a Inês está sempre a pedir-me um irmão. Já lhe expliquei que tomo um comprimido todos os dias para não ter bebés na barriga, mas ela diz que qualquer dia me esconde os comprimidos. Já lhe expliquei que só tenho duas mãos para as agarrar ao atravessar a estrada, uma de cada lado, e que como iria eu agarrar uma terceira criança, mas ela diz que agarra o papá ou que uma delas pode ir às cavalitas. Já lhe expliquei que depois, quando nascesse o bebé, eu ia ter de cuidar do bebé durante muito tempo e não poderia brincar com ela e com a Alice, mas ela disse que posso perfeitamente deitar o bebé a meu lado enquanto brinco com elas. Há uma solução para tudo, portanto. Calculo que também tenha uma solução para as estrias e as mamas descaídas, mas ainda não fui por aí.
Apesar de tudo, apesar de ser a única nesta casa a defender que duas filhas já chegam (felizmente, o corpo é meu e acho que a última palavra ainda é minha), às vezes ponho-me a pensar como seria ter outra. O caos. A desordem. O barulho. Os banhos. As noites. As fotos. As viagens em família. O riso de todas ao mesmo tempo. As sessões de cócegas. A história à noite com as três em cima de mim. E depois encontro blogues de famílias numerosas que me fascinam, como o recentemente descoberto seis mais dois, e dou por mim a vasculhar os arquivos e a lê-lo de uma ponta à outra e a não evitar uma certa inveja da casa cheia e das atividades em família que parecem sempre um acontecimento.
Vou continuar a ler, este e outros, até perceber como é que estas mães fazem para terem dias mais longos e para conseguirem não andar sempre aos berros pela casa. Quando perceber como se faz e conseguir aplicar isso na minha própria vida, pode ser que consiga ter boas notícias para dar à Inês. Até lá, a vida assim a quatro* está muito bem e recomenda-se.
* e mais uns quantos gatos.