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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

As mães de cinco

Já há algum tempo que andava à procura de um blogue como este, um blogue de gente normal que decidiu ter uma catrefada de filhos. Fascina-me a ideia de que alguém, hoje em dia, possa querer, de livre vontade e não por qualquer imposição moral ou religiosa, ter mais de, vá, 3 filhos. No meu íntimo, gostava de poder provar, com um exemplo vivo, que, sem ama nem avós a morar na casa ao lado, é impossível criar 5 crianças e continuar a manter a sanidade mental e, pasme-se, tempo para trabalhar, ver um filme ou até mesmo dormir!
Achei as primeiras páginas do blogue demasiado bonitas e inspiradoras para serem verdade. Não acreditei quando ela confessa que também há momentos de caos e invejei de imediato a vida no campo entre galinhas, crianças e máquinas de costura (foi assim que lá cheguei).
Não acreditando que pudesse ser tão fácil, fui ao arquivo do blogue, à procura dos podres, e dei com posts sobre partos em banheiras em casa com a família toda a assistir (nesta altura ela já tinha dois filhos com idade para se lembrarem disso) e homeschooling (ah, és dessas!). Na leitura na diagonal, apanho frases como "moments of absolute bliss with three amazing little beings I can't believe I'm blessed to hang out with for a few years", fotos de vida em família no campo tão fixes que desejo ser teletransportada e indícios de uma espécie em vias de extinção: a mulher que trabalha em casa, vive de patrocínios no blogue, livros que publicou e artes manuais que vende, ensina os filhos em casa (não vão à escola, portanto, estão sempre em casa), cose a roupa toda lá de casa, jardina, trata dos animais e ainda tem tempo para tirar fotografias, cozinhar coisas de fazer crescer água na boca, recuperar móveis antigos e postar no blogue (ah, é verdade, é o trabalho dela!). No meio disto tudo, não esquecer que há 5 crianças permanentemente em casa. Permanentemente. Cinco.
Ah, afinal, sempre há super mulheres.

Não me consigo decidir se lhe mando um e-mail a perguntar mas como é que tu fazes diz-me quero ser como tu, se apago o blogue dos meus favoritos e não se fala mais nisso.

Ser mãe suficiente

Sou mãe há quase 17 meses. Sublinho o "quase", porque foi neste quase que a minha filha alcançou mais um estágio de independência: passou do já querer comer sozinha para o já comer sozinha, ponto. E eu, feliz da vida, que já posso finalmente espetar-lhe o prato à frente e ir à minha vida enquanto ela se entretém a levar a colher à boca e a acertar quase sempre. Quando já está satisfeita, arruma a colher no prato, pega nele, levanta-o e diz: "Já está!" muito pronta e arrebitada, mas em jeito ameaçador como quem diz: se não apanhas já o prato, atiro-o para o chão.
Está uma crescida e sai à mãe no mau feitio. Mas uma criança com 17 meses não tem mau feitio. É como dizerem que um recém-nascido com 10 dias já tem manha do colo. Oh senhores, dêem-lhe colo e mimo e deixem-se vocês, sim, de manhas para não mexerem o cu do sofá.
Mas não é por isso que aqui vim hoje.
É por causa desta foto:

Calculo que a maior parte das poucas pessoas que lêem este blogue se hão-de chocar com esta imagem. Outras, as mães que, como eu, deram de mamar até aos 7 meses, hão-de sentir-se ultrajadas não com a foto mas com o título: "Are you mom enough"? Como se só fôssemos mães suficientemente boas se dermos de mamar até o puto entrar na escola.

Eu entro nas duas categorias: sinto-me chocada e ultrajada. A verdade é que esta neocorrente do vamos dar de mamar até não podermos mais me faz impressão. O pai da minha filha não gosta muito que eu diga que acho esquisito que um bebé com dentes ainda mame e tanto mais obsceno e inquietante quanto mais velha for a criança. Diz que é uma decisão individual e que não me cabe a mim criticar, que o obsceno está na minha cabeça e que um bebé não tem qualquer instinto sexual (isto já não foi ele que disse, acho que li em qualquer lado). E ele tem razão, mas a contar pelo número de artigos de mães enervadas por esta capa da TIME, não é um tema lá muito consensual. A verdade é que nós, as mães, temos a mania de nos arrepelarmos sempre que ouvimos uma opinião diferente. Achamos que temos o direito de julgar a forma como outras mães pensam e educam os seus filhos. E achamos, como eu, que nos devemos sentir ofendidas e ocupar o lugar de mártires injustiçadas se alguém ousar insinuar que podemos não estar a cumprir o nosso papel em pleno. Serve-me a carapuça na perfeição. Sou pró em sentir-me mártir injustiçada.

Mas o que me causa realmente urticária é isto de associarem o ser boa mãe com o "attachment parenting". Acaso as outras mães são menos attached? São mais egoístas e desapegadas só porque preferem fazer o desmame mais cedo? Como se eu, por ter dado de mamar até aos 7 meses, me devesse sentir mal. Como se tudo o resto não bastasse. E as vezes que acordo a meio da noite para a confortar? E o tempo que passo a cantar-lhe canções para adormecer? E as vezes que tive de a acalmar sabe deus como? E as horas passadas a brincar, a rebolar no chão, a fazer de cavalinho e elefante e leão e chão para ela pisar? E o cocó que já apanhei com as minhas-próprias-mãos, senhores? E o vomitado que já limpei? E as vezes que só me apetece sufocá-la de beijinhos e mordê-la e trincá-la? Nada disso conta?

Não, porque não desisti do meu emprego para ficar com ela em casa, porque não continuo a dar de mamar, porque não sou adepta do co-sleeping, claro que não. Porque não quero criar uma pessoa super dependente da mim, insegura, mimada e super protegida, que um dia teria, isso sim, de ir para a escola e aprender a socializar com meninos da sua idade que já estariam mais do que habituados ao mundo selvagem  lá de fora e que fariam dela gato-sapato como fizeram de mim. Isto sem falar na necessidade natural que os pais, às tantas, têm de voltar a ter tempo para eles, para o casal, para cada um individualmente e de encontrar um equilíbrio saudável entre si e o(s) outro(s). Mas nada disto é importante, claro que não. O importante é arranjar um banquinho seguro para a criança conseguir chegar à mama de pé.

Aposto que quem escreveu este artigo nem sequer tem filhos.