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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Gola em crochet

Um destes dia vi uma mulher com uma gola em crochet feita com granny squares. Era em tons de verde, creme e castanho e era lindíssima. Pensei imediatamente "Quero uma igual". Não pensei em ir à procura de uma igual nas lojas, porque 1) já sabia que não ia encontrar, ou muito dificilmente, e 2) é uma coisa que eu consigo fazer, por isso só se ficasse sem mãos é que iria procurar uma de compra. Querer é poder ou, neste caso, saber fazer é poder.

 

E foi assim que, aproveitando que deu o badagaio à máquina de costura pela terceira vez este ano (nada que uma boa limpeza no interior e umas gotas de óleo não resolvessem temporariamente, mas ainda assim), comecei a fazer a gola durante os serões, enquanto víamos uma série. Confesso, fiz tudo um bocado de cabeça. Não há receita, portanto. Escolhi as cores que tinha cá por casa (não havia verde) e fui fazendo os quadrados e experimentando à volta do pescoço. Quando achei que estava bom, comecei a uni-los e fiz a segunda fila. São 6 quadrados em cada fila, duas filas. Usei uma agulha 3,5 mm, o que quer dizer que, em função da linha, podem usar uma agulha maior para dar uma textura mais grossa e, assim, fazer menos quadrados. É ir experimentando.

 

Isto só prova que não é preciso ter projectos difíceis e longos com materiais xpto e receitas difíceis de decifrar para usarmos peças feitas por nós. E assim vou adiando a questão das prendas de Natal...

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Discos de limpeza em crochet

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Quem me conhece sabe que tenho a mania da ecologia, reciclo quase exaustivamente, compro coisas em segunda mão e gosto de dar oportunidade a alternativas ecológicas que não me compliquem muito a vida (não sou fundamentalista, portanto). Este mês decidi refrear bastante o meu consumo e aderir ao Buy Nothing New Month, mas sobre isso falarei mais tarde, porque a coisa precisa de mais contexto.

Decidi, assim, dar mais um pequeno passo na substituição de artigos poluentes, vindos sabe-se lá de onde e feitos sabe-se lá como, como são os discos de algodão de limpar a pele e remover a maquilhagem que uso diariamente. Confesso que me custa dar mais de dois euros por um pacote de algodão biológico e de comércio justo, quando as marcas brancas vendem mais quantidade por menos de 1 Euro. Mas a questão do algodão tem muito que se lhe diga, como podem ler aqui. Por isso, decidi substituir os discos de algodão por discos reutilizáveis.

Inspirei-me em modelos como este, mas na verdade isto não tem nada que saber: é fazer um anel mágico com 12 paus, duplicar o número de paus nas voltas seguintes e, ao fim de três voltas, rematar. Faço três enquanto vejo uma série.

São laváveis à máquina e muito práticos. O único senão é que são demasiado "esfoliantes" para usar de manhã e à noite, por isso da próxima vez estou a pensar coser uns em flanela (tutorial em inglês aqui).

Até visualmente são bastante mais apelativos do que os outros e até a Inês agora já gosta de lavar a cara... Estou fã.

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Coisas de vestir feitas à mão - Poncho em crochet

Nunca pensei ficar contente por ter chegado o frio, mas ontem vesti pela primeira vez o meu primeiro poncho feito à mão, que é também a primeira peça acabada e rematada que já fiz em crochet.


A satisfação de vestir uma coisa feita por nós é enorme e este poncho é tão fácil de confeccionar que qualquer estreante em crochet o pode fazer. Baseei-me neste modelo de um revista de crochet (quem quiser pode pedir-me a receita do modelo),


mas achei as explicações muito confusas e decidi simplificar a coisa. Foi mesmo muito simples de fazer e com a escolha da lã adequada e de cores bonitas fica uma peça bem gira.

Quanto à lã, comprei dois novelos de cada cor da Schachenmayr Boston, mas isto foi porque a comprei antes de fazer o workshop de tricot com a Rosa Pomar e saber tudo sobre as várias lãs portuguesas 100% de algodão, fiadas e tingidas por processos artesanais e obtidas de ovelhas bem portuguesas que andam soltas, felizes e são tosquiadas por processos que não as magoam, que há à venda na Retrosaria (exemplos: Beiroa, João, Zagal...). A lã que comprei antes de saber isto tudo é alemã, 70 % de acrílico, feita sabe-se lá onde (sabiam que a nossa marca Rosários manda vir a lã da Nova Zelândia? ah pois...) e sabe-se lá de que ovelhas tristes e mal tratadas. Mas isso sou eu que ligo a estas coisas. De qualquer maneira, precisam de, pelo menos, 100 gr para o tamanho M.

A receita é mais ou menos assim:

1. Façam um círculo de correntes que caiba na vossa cabeça (no meu caso, fiz cento e tal, mas como não anotei, já não me lembro...), prendam na primeira corrente com um ponto baixo. Convém ser múltiplos de quatro, um número par, portanto, para bater certo e conseguirem uma assimetria entre a parte da frente e a parte de trás.
2. 1.ª volta: façam a seguinte sequência: 1 pau em cada um dos 3 pontos seguintes, 1 corrente e salta um ponto, consecutivamente até ao fim. Deverão terminar com uma corrente a unir ao primeiro pau que fizeram. Portanto: 3 paus em 3 pontos, respectivamente, 1 corrente e salta um ponto (são 4 pontos no total, 4 pontos da corrente anterior).
3. 2.ª volta: no primeiro espaço de corrente da volta anterior, façam 3 paus. Depois, uma corrente e novamente 3 paus no espaço de corrente anterior. E assim sucessivamente até chegarem ao ponto onde querem fazer os aumentos, atrás e à frente (tem de ser simétrico). Aí têm de fazer um aumento: 3 paus + 1 corrente + 3 paus no mesmo espaço de corrente. Fazem isto duas vezes, atrás e à frente. Faz uma espécie de V.
Não sei se me consigo explicar bem, não estou nada habituada a ensinar crochet, mas espero que dê para perceber melhor por esta foto:


4. Para as restantes voltas, ir trocando de cor e fazer sempre o mesmo processo descrito em 3. Usei 6 cores que alternei a partir de uma sequência definida. O rosa é a cor predominante que serviu para o decote e o cós. O tamanho é a gosto. No meu caso, fiz 4 sequências de cores + 1 volta, portanto 25 voltas, começando e terminando com o rosa.

5. No cós fiz um picô de pontos duplos e baixos e no decote fiz uma espécie de canal para passar uma trança de fio rosa para acomodar melhor ao decote, mas que é perfeitamente dispensável se fizerem o decote à vossa medida, sem ficar demasiado largo.

6. No final, para rematar as pontas, usem de toda a vossa paciência, munam-se de um copo de vinho ou aluguem mãos alheias. É que rematar pontas é mesmo a parte pior.

Ah, já me esquecia: usei uma agulha 8!




Entretanto, não resisti e já comecei a fazer um igual para a Inês, com a lã que sobrou e outras cores mais infantis. Para o tamanho de 4 anos, fiz 64 malhas para o círculo do decote.



Entretanto, já decidi que a Alice também merece, coitada, mas como ainda é bebé vai ser com a lã João, daqui, 100% de lã  e 100% portuguesa, e umas cores tão doces que vou querer estar sempre a apertá-la.

Quem quiser ir acompanhando este projecto, ou simplesmente para cuscar a minha vida, podem ir ao meu Instagram que lá levantei a censura.

Voltar a pegar nas agulhas

Costumo ir nadar na pista ao lado enquanto a Inês tem aula de adaptação ao meio aquático. Mas hoje a recepcionista era outra e tinha outro horário na mão e disse-me que àquela hora não havia natação livre. Saí, um pouco irritada, e dirigi-me ao centro da vila, ainda com o cheiro a cloro nas narinas e uma frustração a transbordar da algibeira. Entrei na biblioteca, folheei as revistas, ainda me sentei para logo me levantar como uma mola. Não consegui decidir se comprava um Twix ou parava na marginal a olhar o mar, por isso entrei na Universal para ver que tal as novidades. Foi aí que o vi, perdido no meio das revistas espanholas de crochet e tricot. Trouxe-o, iludida pela senhora asiática das fotografias. É que os livros japoneses de costura, crochet e tricot têm fama de ser bons, mas este, afinal, de japonês tem muito pouco, a começar pelo título: Mon cours de crochet. Não fiz caso e folheei-o avidamente com aquela esperança de que a minha recém-adquirida vida de freelance me permita voltar às agulhas. Infelizmente, ou felizmente, desde que saí da empresa ainda só consegui fazer a bainha de meio cortinado e um babete para o Nenuco, mas estou tão esperançosa de voltar a ocupar os meus serões de roda dos pontos altos em vez de traduzir até às tantas que só folhear este livro me faz feliz.
Em português aqui.








Mesmo feliz, acabei por comprar o Twix.

Dois em um: vestido com top em crochet

Ora há lá alguma coisa melhor do que juntar dois amores num só, costura e crochet?
Pode não parecer, mas este vestidinho com top em crochet foi das coisas mais fáceis e mais rápidas que já fiz. E foi tudo mais ou menos a olho (talvez por isso tenha tido de refazer a saia do vestido que à primeira ficou um tanto ou quanto pequena..).




Tamanho: 6-9 meses
Tempo total de confecção: aprox. 3 horas (com direito a um engano!)
Esquema de crochet inspirado daqui.
Mais ideias para outros vestidos com tops em crochet aqui, aqui e aqui (tudo em inglês).

Remendos de crochet

Aprender a costurar foi das coisas mais úteis que podia ter feito. Vai-se a ver e aprender crochet também. Porque de vez em quando dá para aliar um ao outro e salvar uma peça de roupa que, de outra maneira, iria direitinha para o lixo.

A Inês herda muita roupa das primas e amigas. Um dos vestidos, que ela adorou, veio com uma nódoa que nunca consegui tirar. Como nunca gostei muito do vestido, pensei em fazê-lo desaparecer misteriosamente, mas seria uma injustiça, pois é um dos "vestidos de princesa" que a minha filha adora.


Uma solução seria retirar o forro, mas se é o forro que lhe dá o ar rodado, mais valeria deitá-lo para o lixo. Pensei em colocar um daqueles apliques termocolantes, mas depois lembrei-me de fazer um remendo em crochet do tamanho da nódoa.


Assim, em menos de nada fiz dois quadrados que uni e cosi com linha da mesma cor. A nódoa ficou apenas visível do avesso.



O aspecto final fica bem discreto.




O processo todo não demorou mais de meia hora e ficou uma solução bem mais barata e ecológica do que deitá-lo fora e comprar outro.

Crochet é fixe #1



Daqui
Porque ainda franzem o sobrolho quando eu digo que gosto de fazer crochet, que é coisa de velha. Para mostrar como crochet não é renda de naperon (e até essas podem ser reaproveitadas para fazer coisas giras), vou deixando aqui algumas imagens de artigos cool em crochet (ou, pelo menos, na minha óptica de cool...), começando pela minha mais recente obsessão: os quadrados, ou granny squares. Fazer um casaco de quadrados é um objectivo completamente inatingível, não pelo grau de dificuldade, mas pela minha falta de paciência. Já pensei em fazer um para uma das pequenas, mas quando o acabasse elas já teriam, pelo menos, 18 anos, de modos que fica para uma outra vida.

Partos difíceis

Arundhati Roy escreveu a sua obra-prima "O deus das pequenas coisas" aos bochechos. Tinha o manuscrito na gaveta e, sempre que podia, escrevia duas linhas às escondidas. Ou isto é mentira ou é deveras impressionante como ela conseguiu manter o fio condutor e escrever uma história com cabeça, tronco e membros. Ainda este fim-de-semana falei nisto.
 
Similarmente, embora noutro registo completamente diferente e sem as mesmas genialidade e perfeição, assim aconteceu com o meu primeiro tank top Wiksten. Invejando as blusas da Rosa Pomar, decidi comprar o molde e confeccionar a peça em casa. Comprei um tecido para o efeito que adorei e que me custou os olhos da cara (bem feita para aprenderes a perguntar o preço antes), mas à laia de teste experimentei antes numa capulana escura (sempre disfarça melhor as imperfeições) que trouxe de Moçambique.
 
 
Foi um parto difícil. Não pela dificuldade de confecção em si, porque não é mesmo nada difícil, mas porque nunca me consegui sentar diante da máquina de costura durante mais de 20 minutos seguidos. Ora era a bebé que me pedia colo, ora eram as obras no andar de cima que me obrigavam a sair de casa, ora isto ou aquilo, o certo é que demorei bem mais de duas semanas a fazer uma coisa que se pode fazer numa manhã. Quando finalmente a acabei, foi uma emoção e constatei que está quase-quase perfeita e que sem soutien de amamentação é que vai ficar mesmo bem... Agora é esperar pelo bom tempo para a poder usar!
 
De parto bem mais difícil foi o cachecol de quadrados (granny squares) que fiz para a mais velha. A bem dizer, era para ser para mim, mas a preguiça falou mais alto e para a pequena sempre foram uns quantos quadrados a menos que tive de fazer. Comecei durante a minha baixa forçada, ainda grávida, mas só voltei a pegar nele depois do workshop que me ensinou a pegar quadrados e a fazer rosetas, a minha nova perdição. E também foi assim, aos bochechos como o livro de Arundhati, tentando não lhe perder o fio à meada. As  pontas ia-as rematando enquanto passageira nas viagens de carro e aos fins-de-semana com as minhas filhas ao lado, uma a olhar e a outra já a querer imitar-me, e percebi que isto de rematar pontas de quadrados e rosetas é tarefa para levar qualquer pessoa à loucura total. A blusa em rosetas que estou a fazer para mim é bem capaz de ficar pelo caminho só de pensar no trabalho de remate que me espera. Ainda assim, a satisfação de ver acabado algo manufacturado por nós é impagável. Uma espécie de cura para a falta de auto-confiança. Mesmo.
 
 
 


 

 
 

Fuga

Hoje é dia de workshop no sítio do costume. O homem fica cinco horas sozinho com as miúdas, e sem carro, coisa nunca antes vista. Deixo-lhe leite para o biberão, não meu, que assim quis o destino e a minha preguiça, e a promessa de não ficar na conversa no fim do workshop. Por muito mal que isto me fique, estou deserta de me pisgar daqui para fora e só voltar à hora do jantar. Só tenho pena que o rádio do carro já não leia cds.