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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Como arrumar a roupa de maneira feliz

Ando a ler, desde 2015, o livro de Marie Kondo, Arrume a Sua Casa, Arrume a Sua Vida (em inglês: The Life-Changing Magic of Tyding Up: The Japanese Art of Decluttering and Organizing). Estava a achar o livro uma autêntica pérola na arte de bem destralhar e arrumar a casa (ela assevera repetidamente que, se seguirmos o método dela - destralhar por categoria e não por divisão-, nunca mais vamos ter de destralhar na vida!) até chegar à parte em que ela fala sobre como dobrar a roupa de forma a poupar espaço no armário, em especial o subcapítulo sobre as meias, "Storing socks: treat your socks and stockings with respect" (só tenho a versão em inglês).

Ora bem, só de ouvir falar em tratar as peúgas com respeito dá-me vontade de rir. E isto não fica pelo título. A Marie Kondo fala das peúgas (e da roupa em geral) como se fossem seres sencientes, logo, com sentimentos que devemos tentar não ferir. E como se podem ferir os sentimentos das peúgas, perguntam vocês? Por dobrá-las tipo envelope ou em forma de bola, algo assim...

meias potato.jpg

...como eu sempre fiz e aposto que vocês também!

Segundo Marie Kondo, as meias devem descansar enquanto estão arrumadas na gaveta e esta forma de as dobrar não as deixa descansar nem respirar. Já não basta o trabalho árduo de passarem o dia dentro dos sapatos, aguentando pressão e fricção para proteger os nossos pés malcheirosos, como depois ainda terem de suportar a tensão de estarem mal dobradas durante o tempo em que deveriam recuperar energias para a utilização seguinte.

Imaginei peúgas com olhos, nariz e boca a soltarem gotinhas de suor da testa imaginária, ali pela zona do calcanhar, destinadas a uma vida miserável dentro da gaveta.

Comecei-me a rir e achei que a mulher era maluca. Onde é que já se viu peúgas com sentimentos? Pousei o Kindle e não voltei a pensar mais nisso até que...

... houve um dia em que me esqueci de umas peúgas e collants no meio da roupa para passar a ferro e a minha empregada da limpeza tomou a iniciativa de as dobrar e arrumar. Quando abri a gaveta ia tendo uma coisa. As collants estavam dobradas de uma maneira como eu nunca tinha visto e que nem sequer consigo explicar aqui, mas naquele momento percebi perfeitamente o que Marie Kondo queria dizer com as meias não conseguirem respirar! Além de que aquela forma de dobrar as collants ocupa imenso espaço...

Nessa noite, voltei ao livro e li com mais atenção a parte das meias. Seguiu-se a parte racional: dobrar bem a roupa, no geral, não só conserva melhor a roupa (não estraga elásticos, etc.), como poupa espaço no armário e isso para mim é razão suficiente para reinventar a forma como dobro a roupa cá em casa.

E é um mundo, senhores! Um mundo! Uma simples pesquisa no Google com algo como "Marie Kondo folding clothes" leva-vos a um admirável mundo novo repleto de entradas de blogues de adeptos deste método e vídeos explicativos sobre como dobrar a roupa ao estilo KonMari. Este guia ilustrado do método KonMari é o meu preferido com vídeos e isso.

Confesso que a ideia de dobrar as t-shirts em rolinhos me faz alguma confusão, porque me parece que a roupa vai ficar toda vincada. Mas ela diz que não, por isso vou testar primeiro com as meias, cuecas e t-shirts do desporto e depois digo-vos, se bem que desconfio que é só a mim que isto interessa...

 

Aqui ficam mais vídeos:

 

 

 

Coisas que concluí ao organizar o meu roupeiro para o Outono

- O amarelo, em todas as suas tonalidades, é a minha cor preferida e eu não sabia;

- Estou muito grata por a moda este ano ter decidido, finalmente, contemplar as gangas e as camisas de flanela às riscas - já vou poder usar os meus casacos de ganga sem parecer que parei nos anos 80;

- Pensava que eu era mais preto, quando afinal sou mais flores e bolas e riscas: ali um meio-termo entre retro e foleira;

- Toda a gente nesta casa tem mais roupa do que eu e isso deixa-me feliz;

- Consegui, finalmente, chegar ao ponto em que 90% das peças no roupeiro me fazem sentir bem e/ou me favorecem e/ou são a minha cara;

- 90% da minha roupa continua a ser feita na China ou no Bangladesh e, portanto, ainda há muito a mudar;

- Metade dos meus lenços e golas foi feita por mim, de modos que já é um pequeno passo;

- Consegui organizar a roupa de maneira a ficar com uma gaveta livre só para colocar as minhas jóias os meus acessórios (chamar jóias poderá ser algo exagerado, já que a única coisa de valioso que têm é o espaço que ocupam....), que raramente uso, mas como nunca tinha tido uma gaveta só para acessórios sinto-me assim uma espécie de diva sempre que abro a gaveta (só para ver); mas depois passa;

- Prometi a mim mesma não comprar mais roupa este ano e, se precisar mesmo de comprar, fazer escolhas conscientes, mas isso é coisa que só daqui a três meses se verá. Também só prometi isto depois de ter comprado tudo o que precisava para o Inverno, portanto acho que fiz batota;

- A verdade é que eu nem ligo muito a roupa, os blogues de moda enervam-me e não quero saber que trapos é que os outros têm na wish list, por isso posts deste tipo não se irão repetir.

Essa coisa do Feng Shui

Nem de propósito: ontem fui a uma palestra sobre destralhar. Não estava previsto ir ontem, mas consegui organizar-me e tive a preciosa ajuda do homem que ficou com as meninas em plena hora do caos.

Não foi tanto o que aprendi, foi mais a curiosidade que a palestra me despertou para certas áreas, como o Feng Shui. Em certas alturas, pensei "mas isto faz todo o sentido", mas depois a formadora começou a falar de sinais de que a casa fala connosco e como curar a casa com cristais e ficou o caldo entornado. Sou muito céptica com certas coisas. E sei perfeitamente que a humidade que se instalou nas paredes da casa se deve ao microclima aqui da zona e à proximidade da serra e do mar e não necessariamente a áreas estagnadas da minha vida sentimental! Quer-se dizer. Não há necessidade de rebuscar. Por outro lado, há coisas que, de tão simples, fazem todo o sentido. Se entra água pela janela da sala quando chove, porque raio é que não mandamos arranjar aquilo? Não acredito que seja um sinal de que as finanças andam mal (e vai daí...), é simplesmente um sinal de desleixo! E o Feng Shui não se presta a desleixos. 

De qualquer maneira, falou-se em coisas muito interessantes e que acho que posso aplicar na minha vida sem fundamentalismos. Destralhar não só para limpar os espaços e celebrar o desapego ao passado, como também para criar espaços vazios para deixar entrar coisas novas no futuro e, assim, desbloquear as nossas aspirações. Destralhar é uma purga que fazemos, não só à casa, como a nós próprios. A verdade é que me sinto sempre muito mais leve depois de uma sessão valente de destralhamento. Não só porque, visualmente, o espaço fica muito mais acolhedor e convidativo, mas também porque é uma forma de sentir que andei para a frente, que mexi o rabo e estou pronta para novas mudanças.

Destralhar não se limita apenas a zonas da casa, divisões ou roupeiros. Praticamente tudo é passível de destralhamento, senão vejamos:

- Quarto da tralha, sótãos, arrecadações, garagens (o nosso caso)
- Debaixo da cama (culpados, culpados, culpados)
- Roupeiros
- Estantes dos livros
- Malas e carteiras de senhora (quem consegue encontrar as chaves à primeira?)
- O carro (quem me conhece sabe que o nosso é uma vergonha pegada...)
- O e-mail
- O telemóvel (quantas aplicações é que usam realmente?)
- O PC/portátil (fotos desorganizadas, documentos obsoletos, etc.)
- O escritório, quer seja em casa quer na empresa

E, por falar em escritório, sabem como devem organizar a vossa secretária para promover a criatividade e a concentração? Parece que há um espaço certo para tudo e eu já mudei ali o lugar das canetas (diz que é mais para a direita).


Entretanto, uma dica que não é para mim que tenho meia dúzia de sapatos, mas que pode dar jeito a muita menina vaidosa que se queixa que sai pouco: arrumem os sapatos com as biqueiras viradas para fora. Diz que isso promove uma vida social mais activa. E não digam que vão daqui.

Calo no pé


Deambulando pelos corredores da biblioteca à procura de um dicionário de direito alemão que não havia, resolvi trazer um livro para casa. Depois de me admirar com a arrumação minuciosa da secção de ficção, com os livros organizados por país de origem, demorei muito tempo a escolher um livro. Mesmo muito tempo. Confesso, aliás, que foi dramático. Nenhum dos livros que pedi para o Natal se encontrava disponível e a maior parte dos livros que me chamaram a atenção eram livros, cujos exemplares tenho eu em casa, o que diz muito sobre esta necessidade de trazer coisas novas para casa quando ainda temos coisas novas em casa. Lá peguei num livro de Virginia Woolf e levei-o para a mesa para me ir habituando à ideia, mas acabei por decidir que não tenho paciência para Virginia Woolf e devolvi-o à estante. Peguei neste e naquele livro, folheei este e aquele livro, li o primeiro parágrafo deste e daquele livro e acabei por devolver todos à estante. Por fim, peguei num Doris Lessing e deixei-o repousar nas minhas mãos. Requisitei-o, sem grande convicção, contudo. Estava-se mesmo a ver que não vou conseguir lê-lo até ao fim antes de o prazo de entrega terminar, mas trouxe-o, mesmo assim. Porque tinha mesmo de trazer um livro novo para casa.

Isto fez-me lembrar a minha filha mais velha e acho que consegui entender, finalmente, o que ela sente quando entra no quarto das brincadeiras (nesta casa partilho o quarto onde está a minha máquina de costura com os brinquedos das miúdas) e vê tantos brinquedos à sua disposição*. 

E foi assim que cheguei à magnífica conclusão de hoje: destralhar é como ter um calo no pé. Por muito que se tire, que se raspe, que se amacie, o calo volta sempre a nascer. A não ser que se ampute o pé. Mas agora já estou a desconversar.


É o princípio de alguma coisa

Foi preciso mudarmos para uma casa maior para o homem empregar, de sua livre e espontânea vontade, o verbo "destralhar" na primeira pessoa do plural do futuro próximo.

Demorei dois anos a conseguir isto. Ironicamente, a primeira coisa de que se quer livrar é da fritadeira inteligente que frita batata doce sem gordura quase nenhuma. Por pura vingança, convenci-o de que não precisávamos do micro-ondas (ninguém precisa, na verdade).

Esperam-se grandes feitos nesta família.

A psicologia da tralha

Já se sabe que vou mudar de casa em pouco tempo. Como consequência, estou em mais um processo de destralhamento. Comecei pela roupa, que já doei ou pus de lado para vender, peguei nos cds, livros e dvds e já tenho destino para quase todos. Um ou outro anúncio do Freecycle e também me desfiz de outros objectos que não me farão falta. Há outras coisas que se vão partir convenientemente durante a mudança e ainda outras para as quais arranjarei, certamente, um destino adequado. Mas isto são as minhas coisas e as das miúdas, sobre as quais ainda tenho total controlo. Nem os pertences do felino escaparam. O pior são as coisas do homem da casa: as roupas que ocupam 70% do roupeiro comum, os ténis e sapatos (em quantidade de fazer inveja a qualquer mulher) e os gadgets. É um homem que gosta de estar preparado para todas as eventualidades, nomeadamente todos os pesos: convém ter roupa para os 70 quilos, roupa para os 80 quilos, roupa para os 90 quilos e, não vá o diabo tecê-las, roupa para um peso intermédio. Para não falar na roupa de desporto, mas é melhor nem ir por aí.

É certo que, por ser um adepto incondicional das novas tecnologias, possui muito poucos cds, mas tem, por exemplo, livros em duplicado porque, quando os comprou, não se lembrava que já os tinha, e livros de cozinha que davam para encher uma biblioteca municipal. Por outro lado, como está sempre a par das novas invenções e é pessoa que gosta de ter tudo o que são gadgets, cá há em casa temos pelo menos um dispositivo para, por exemplo, medir a actividade física, desidratar, encher a vácuo e outras coisas mais ou menos inclassificáveis.

Isto tudo dá-me grandes dores de cabeça.
Já concordámos que a casa nova, apesar de ser maior, não tem espaço para tudo pois já tem bastantes coisas e mobília do seu tempo de solteiro que lhes foram oferecidas pela mãe, pela madrinha, pela avó e que, portanto, vão estar no centro de uma verdadeira crise um verdadeiro dilema familiar.

Por conseguinte, estou constantemente a lembrá-lo que tem de dar uma volta aos sacos dele (não vou dizer que são de plástico) onde guarda os papéis para o IRS, ou aos livros do tempo da Maria Cachucha ou àquela roupa que parece saída de uma aldeia algures no Tirol... Mas ele nada. Proibiu-me, inclusivamente, de mexer nas suas coisas e até de deitar fora seja o que for, mesmo que sejam coisas tão úteis como as National Geographic que recebe desde 1988.

Mas depois manda-me este artigo para o mail. Para "reflectir". E eu, que não gosto de me ficar atrás nas respostas, mando-lhe este de volta. Para reflectir.

Depois falamos.

Simplicidade (ou como conseguir juntar as palavras destralhar, escrever e exercício físico em dois parágrafos)

Tal como aprendi na Oficina de Escrita Habitual sobre a simplicidade dos textos e a necessidade de cortar e editar a tralha de palavras que não servem para nada a não ser para encher e desconcentrar o leitor, também na minha vida estou a precisar de cortar e editar umas quantas pontas soltas. Faz de conta que só agora percebi que na casa nova não cabem todos os meus livros e material áudio. Nem toda a minha roupa, que não é assim tanta, mas há o azar de termos quatro estações neste país. Nem todos os brinquedos das miúdas que afinal só servem para as dispersar. Estou, assim, em pleno processo de destralhamento de tudo: de palavras, de coisas, de tempo. 

Como o tempo me tem faltado para, por exemplo, falar das outras coisas que aprendi na Oficina, acho que vou ter de perceber bem onde gasto o meu tempo e simplificar as minhas tarefas diárias. Por exemplo, hoje à noite quando o homem quiser fazer aquela série de exercícios abdominais que combinámos fazer sem falta depois de as miúdas irem dormir (há quem escolha fazer outras coisas depois de os miúdos irem para a cama, eu sei), eu vou-lhe dizer que não posso fazer cá abdominais, que preciso mesmo é de escrever. 
Tenho a certeza que ele não se vai importar nem me vai olhar com aqueles olhos suplicantes de quem está com a paciência por um fio. "Mas escrever o quê, mulher?"*

*exemplo copiado da Dora, que tanta graça (e verdade) teve.

Doação de livros (para bibliotecas e não só)

Pesquisei muitas vezes esta frase "Doação de livros para bibliotecas" no google e tudo o que encontrava, para além de páginas brasileiras, eram artigos sobre doações de livros escolares, ou livros para África ou fóruns em que alguém perguntava exactamente o mesmo que eu e obtinha invariavelmente a resposta "As bibliotecas não costumam aceitar doações de particulares" e contavam casos em que foram muito mal atendidos. Típico.
Na verdade, quando enviei um e-mail à biblioteca do Goethe Institut a inquirir se podia doar as dezenas de livros em alemão que trouxe de Berlim, a resposta não foi muito diferente: não aceitamos doações de particulares, mas se quiser pode cá deixar os livros que os encaminhamos para vendedores de livros em segunda mão. Como?? Se eu quiser que alguém lucre com os meus livros, vendo-os eu na ebay, pois claro. Na verdade, só não o fiz, vender na ebay, por pura preguiça e porque o meu objectivo principal não é fazer dinheiro, é passar os livros a outra pessoa, que os leia, e desocupar espaço cá em casa - toda a gente sabe que sou adepta do destralhanço.
Para algumas pessoas pode parecer esquisito como é que eu me consigo desfazer dos livros com tanta facilidade. A minha relação com os livros é simples: li um livro, gostei, não foi um dos livros da minha vida, então não precisa de ficar guardado no relicário, ou não gostei e nem sequer o acabei, não terá direito a uma segunda oportunidade, vai fora - no sentido de sair cá de casa. 
E há várias maneiras de o fazer:

- Vendas de feira. Seen that, done that. Por três vezes que já levei os meus livros a passear por feiras de artigos em segunda mão e a minha experiência diz-me que não vale a pena o esforço. Os livros acabam por ficar com as pontas viradas (uma vez choveu, foi um desastre) e eu com a moral em baixo. As pessoas desvalorizam um livro usado a ponto de não consideraram dar mais de três euros por ele. É ridículo. Um livro de 400 páginas, em bom estado, sem rasuras, sem páginas dobradas, relativamente recente e, vá, até interessante, vale muito mais do que aquilo que as pessoas estão dispostas a dar. Mas se calhar sou eu que não tenho E. L. James para vender...

- Bookcrossing. É preciso ser membro e registar os livros. Ainda é o meu método preferido porque sei que os livros vão parar a pessoas que os vão ler realmente: anuncio no fórum que tenho livros para dar e mando ao primeiro interessado. Desvantagens: só dá para enviar um livro de cada vez, temos de pagar os portes e o envelope (apesar de a tarifa de livro ser bastante em conta) e os bookcrossers costumam preferir livros em português. Enviar livros em estrangeiro para outros países fica mais dispendioso e, tendo em conta o número de livros que ainda tenho para dar, não me adianta mandar só um de cada vez. 

- Freecycle. Apesar de ser uma utilizadora frequente, ainda não tinha falado aqui do Freecycle. Merece um post exclusivo, dedicado especialmente aos utilizadores, mas, apenas em jeito de explicação sobre o funcionamento, basta dizer que o Freecycle é uma organização que incentiva à reutilização e reciclagem das coisas, em cujo fórum podemos anunciar gratuitamente aquilo que queremos dar ou de que estamos à procura e, do mesmo modo, responder a anúncios do mesmo género. Sou uma grande utilizadora da rede, em especial no que toca a dar coisas que já não me fazem falta. Os livros que o Goethe Institut recusou foram para três pessoas no Freecycle que mostraram interesse em livros em alemão. A desvantagem da rede é mesmo ter de lidar com os respectivos membros. Já encontrei gente dita normal, super simpática, com quem mantenho uma relação freecycliana (muitas vezes contacto-os directamente quando tenho algo que sei de que vão gostar), mas também já me deparei com cada figurinha de bradar aos céus...

- Bibliotecas municipais. Até há bem pouco tempo, eu pensava que as bibliotecas municipais não aceitavam doações de particulares. Mas, como não faz mal perguntar, acabei por enviar um e-mail à direcção do grupo das Bibliotecas de Oeiras. Para meu espanto, responderam-me no próprio dia a dizer que sim, senhora, aceitamos doações de particulares, incluindo livros em estrangeiro, desde que os livros estejam em excelente estado de conservação e não sejam de carácter demasiado técnico ou livros escolares. Fiquei radiante. Peguei nos meus melhores livros e lá fui com dois sacos cheios. Explicaram-me que, se a biblioteca não precisar dos livros em questão, serão encaminhados para outras bibliotecas do concelho ou para outras entidades do género (calculo tratar-se de bibliotecas de escolas). Em caso extremo, se o livro estiver em mau estado ou não for adequado para qualquer biblioteca, será colocado na "Mesa das ofertas" que se encontra no átrio de entrada para qualquer pessoa que o queira levar para casa. Disse-me ainda que também aceitam DVDs e CDs, o que me deu novas ideias...

É bom saber que os meus livros não ficam a ganhar pó nas prateleiras e que, no caso das bibliotecas, vão ser lidos por dezenas de pessoas ao longo de muito tempo. Ou não, e ficam a ganhar pó nas prateleiras da biblioteca... Mas, como aprendi no Freecycle, há sempre alguém que quer alguma coisa, há sempre alguém com os mesmos gostos que nós, e, mesmo que sirva só para aumentar o espólio bibliotecário do estado, sabe muito bem ir a uma biblioteca e encontrar todos aqueles livros que queremos ler e que já não precisamos de comprar nos próximos vinte anos! E as bibliotecas do concelho de Oeiras estão muito à frente nesse campo.

Que isto contagia-se

E quando ele, sem eu lhe ter pedido nada, começa a arrumar a estante das especiarias que, entretanto, se transformou numa espécie de vidrão e depositório de tudo aquilo que deixámos de usar recentemente, faz uma limpeza aos frascos de conserva vazios, deita metade fora, lava a outra metade e arruma longe da vista, e ainda me vem dizer, de mão na anca como se ele é que já tivesse tido esta ideia há meses atrás e eu o impedisse de a concretizar, "Temos de limpar esta cozinha, olha lá para este frigorífico cheio de tralha lá em cima, assim não pode ser!", eu só aceno e digo que sim e penso que tenho de continuar a mandar mais indirectas através do blogue. Agora só falta que tenha inspiração para fazer a mesma coisa com os cabos eléctricos...

Destralhar em 10 passos

Uma das coisas que comecei a fazer no ano novo foi dar uma nova volta ao meu roupeiro e a cantos esquecidos da casa para deitar fora o que já não uso ou o que não passa de lixo, como os talões de compra que gostamos de ir acumulando num recipiente de arrumação na casa de banho (don´t ask...). Mais ou menos ao mesmo tempo, comecei a ler o e-book The Happiness Project da Gretchen Rubi. Logo no primeiro capítulo (semana três), ela fala exactamente do acto de "destralhar" (já falei disto aqui) e divide a tralha em 8 categorias que não podiam encaixar melhor naquilo que encontrei e deitei fora. Tomei a liberdade de acrescentar mais duas categorias (as últimas duas), exemplos do que abunda cá por casa

1 - A tralha nostálgica (nostalgic clutter), composta por todas as relíquias de tempos passados que fomos guardando, mas de que nunca mais nos servimos, como os inúmeros dossiers de apontamentos da licenciatura, fotos de ex-namorados (para que é que vamos ser nostálgicos neste ponto, a não ser que queiramos arranjar problemas na nossa relação actual ou viver agarrados a um passado que não faz mais sentido no presente?) ou os bloquinhos com bonecada que guardei para a minha filha escrever só quando já souber escrever, ou seja, daqui a 5 anos. Vamos lá a ver: hoje em dia também se fazem bloquinhos. Assim, para que é que vou estar a guardar bloquinhos com meia dúzia de páginas, só porque os desenhos me fazem lembrar o tempo da primária, em que as miúdas tinham por hábito escrever versos nos blocos umas das outras? E versos do mais foleiro que há? Tirar uma foto não chega? Além disso, são blocos óptimos para a miúda escrevinhar no carro. Não vou desperdiçar oportunidades de ajudar a formar uma autêntica artista!

2 - A tralha útil (conservation clutter), mesmo que não seja útil para nós. Para que é que vamos guardar vasos de florista, se a nossa varanda não é agraciada pelo sol e, portanto, qualquer tentativa de jardinagem é um fracasso total? Ou aqueles frascos todos que o homem teima em expor na estante da cozinha, porque "podem vir a dar muito jeito", apesar de só usarmos um terço deles?

3 - A tralha que comprámos em saldos (bargain clutter), mas que é completamente desnecessária. Acho que todos nos conseguimos lembrar de um ou dois exemplos...

4 - A tralha grátis (freebie clutter), tudo aquilo que ganhámos, que adquirimos por ter comprado outro artigo ou que veio no jornal. Por exemplo, aquele lenço horroso da revista ou as bases para copos que nos saíram nas rifas de Santo António, mas que, na verdade, nunca tirámos da embalagem original.

5 - A tralha que não devíamos usar, mas usamos (crutch clutter), basicamente, aquela que nos envergonha. Por exemplo: aquelas calças que nos fazem mais gordas ou a camisola de lã cheia de borbotos que guardamos para usar só em casa, mas que, na verdade, usamos mais vezes do que o desejável... na rua.

6 - A tralha que aspiramos usar, eventualmente (aspirational clutter), como o material de fazer bijuteria pelo qual, entretanto, perdemos todo e qualquer interesse e já lá vai um ano.

7 - A tralha que já está gasta e desgastada (outgrown clutter), mas que teimamos em não deitar fora (como a tal camisola cheia de borbotos).

8 - A tralha resultante de uma má compra (buyer´s remorse clutter), mas que nunca chegámos a devolver e tentamo-nos convencer de que ainda vamos encontrar uma boa ocasião para usar.

9 - A tralha que está à espera de conserto. Por exemplo, as coisas que deixaram de ser usadas porque se partiram, romperam ou descolaram, mas que nós teimamos em guardar, porque vamos, certamente, arranjar tempo para remendar ou consertar. No entanto, passado um ano, ainda está o botão por pregar (como o meu casaco da Desigual que comprei nos saldos e que é demasiado vistoso para mim) ou a moldura por colar (mas que continua bem à vista na nossa sala). Será que um ano é um limite aceitável para perceber que, na verdade, não conserto o artigo porque não me identifico assim tanto com ele?

10 - A tralha com valor sentimental, como aquele gato de loiça que uma amiga me deu em 2003, que foi e voltou de Berlim comigo, mas que entretanto já perdeu a cabeça e eu teimo em mantê-lo em cima da mesinha. A sério, um gato sem cabeça? Não é isso que me fará lembrar-me da minha amiga...


Depois disto tudo, devem pensar que a minha casa ficou bem mais vazia e despojada de objectos desnecessários. Pois não. Enchi mais um saco de roupa, dei mais uns quantos livros e livrei-me de mais uns quantos medicamentos fora de prazo, mas às vezes sinto que isto é um projecto para um ano inteiro (se bem que a Rita diz que é possível fazê-lo em 7 dias!) Declutter your home in 12 months kind of project. E mesmo assim, mesmo se embarcasse num projecto deste tipo, acho que a papelada do IRS desde 2003 iria ficar convenientemente esquecida...