Na serra, tu e eu
Fim-de-semana a dois. Prenda de anos e Natal para usar. Destino escolhido, quarto reservado, cá vamos nós. Calor. Praias fluviais. Piscinas fluviais com água verde-esmeralda. Aldeias de xisto. Almoço para lá na Casa Ti’Augusta, seguido de banhos em Janeiro de Baixo. Bom sítio para passar um fim-de-semana com as miúdas. Parque de Campismo colado à praia. De areia. Canoas para alugar. Barco de madeira à disposição. Seguimos para cima. Pousada da Serra da Estrela com aquelas almofadas grandes e fofas que tenho mesmo de arranjar para mim. Jantar de vinho da região com arroz de zimbro. Ficamos com a última mesa vaga. Sem vista. Mas com entrada de queijos e enchidos serranos. Alma cheia e estômago também. No dia seguinte, caminhada até ao Covão dos Conchos. Coisa linda. Diz que na Primavera é mais bonito. Em Agosto está seco. Ainda assim, faz soltar a imaginação e pensar o que estará ali debaixo. O centro da terra. Núcleo ardente ilustrado nos livros de geografia. Tentamos prosseguir viagem, mas o caminho, marcado numa rota não oficial, não apresenta condições. Demasiadas pedras inultrapassáveis, demasiados arbustos à altura do peito, demasiados gafanhotos por todo o lado. Breve crise de pânico. Voltamos para trás. Está o covão visto. E que vista. Piscina interior. Piscina exterior. Putos aos berros. Faz parte. Acabo um livro. Apanharam os maus, como sempre. Se assim não fosse, perdíamos a esperança. Começo outro livro. Saímos para a noite de Manteigas. Pedimos um gin com zimbro e mais outro. Depois, jantar, desta vez com vista. E que vista. Parece que aqui é tudo assim. Posta mal passada com queijo da Serra. Não me lembro quando comecei a gostar de carne em sangue, mas soube-me bem. Também sabe bem estarmos só os dois. Falar da vida, fazer planos para o futuro. Estamos bem. Mais vinho. Não muito bom. Que o diga o sabor a papel a meio da noite. Nem as almofadas me safaram. No outro dia, adeus pousada, olá Piódão. Porra, mais gafanhotos. Quem disse que em altitude não havia gafanhotos? Devia estar caladinha. Quinhentas fotografias, que a aldeia merece. E a piscina. Água verde-esmeralda, fria como tudo, mas com nadador-salvador como mandam as regras. Não se percebe bem porquê, mas está bem. Esquecemo-nos do fato de banho no carro e agora subir tudo outra vez só para ir embora. Molhamos o pé, molhamos a ponta dos dedos e está visto. E que vista. À saída de Piódão, um tesouro escondido. Foz D’Égua. Vão ver ao Google. Bate todas as praias de água natural que vi até hoje. Mais gafanhotos. Sempre os gafanhotos. Conversamos e decidimos que assim não pode ser. Tenho de ver isto, tratar-me ou assim. Mas por hoje chega. Carro, curvas e mais curvas para sair da serra. Adeus gafanhotos, adeus serra. Vamos buscá-las.