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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Da coragem

Tinha 12 anos da última vez que usei uma saia acima dos tornozelos. Hoje, aos 35, entrei numa loja com o propósito definido de experimentar um vestido curto. Quase não me reconheci. E gostei. Tanto que entrei em mais lojas e acabei por comprar três vestidos curtos e dois calções (confesso que aqueles calções cor-de-rosa foram um desvario dos saldos e fruto imperdoável do entusiasmo...). Tenciono usá-los, fora de portas, sem calças, ainda este verão. Decidi isso há coisa de pouco tempo, já aos 35 anos, que é aquele marco simbólico que, na minha cabeça, faz sentido existir. Quando lho comuniquei, ele respondeu-me: "Não sei porque não o fizeste há mais tempo. Ou melhor, sei. Mas era inevitável. Já estavas no bom caminho há algum tempo."

Este texto, e especialmente a frase em que ela diz "(...) people are going to stare at you. They’re going to have ideas about you. The only thing that you can control is your reaction to that." foi o que me inspirou a tomar a derradeira decisão. Mas esse texto foi apenas a gota de água. O trabalho a sério já vem a ser feito há anos... Praticamente desde que o conheci, ao meu amor. Foi por causa dele que cheguei aqui, com a ajuda dele. É por ele, mas é essencialmente por mim. 

 

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P.S. - Entrei ainda numa quarta loja, de outro tipo, à procura de um gafanhoto de plástico. Decidi seguir a sugestão de uma querida leitora (Olá, Dulce!) e comprar um gafanhoto de plástico para ter cá por casa e ir perdendo o medo (glup). Tinham aranhas, baratas, carochas, moscas. Não tinham gafanhotos. Azar. Isto da coragem às vezes só se tem uma vez...

Papagaios à solta

Se o inverno foi um pouco mais calmo por estas bandas, em termos de actividades ao ar livre, a primavera e o verão chegam com promessas de nos cansar o corpo e relaxar a alma. A nossa lista das coisas que queremos fazer com as miúdas esta temporada inclui actividades como seguir as pegadas de dinossauro no trilho da Pedra da Mua, ir ver (várias vezes) o pôr-do-sol ao Cabo Espichel, fazer caminhadas na Arrábida e ir ver os pirilampos à noite (diz que a Arrábida é um dos melhores sítios em Portugal para se ver pirilampos), dar um passeio debaixo de água com este barquinho, retomar o SUP (stand up paddle) na Lagoa de Albufeira (ele, que eu vou ficar a tomar banhos de sol... ah, espera, tenho duas filhas pequenas...) e fazer imensos piqueniques, incluindo na relva do nosso quintal. Além das idas obrigatórias à praia depois da escola, claro...

Mas este sábado, juntámos uma nova actividade à lista: lançar papagaios! Com uma zona ventosa como é o Cabo Espichel aqui pertinho, é imperdoável que nunca nos tenhamos lembrado disso, mas a verdade é que eu nunca tinha lançado papagaios na vida e, se me tivessem perguntado antes se queria, era capaz de não me entusiasmar. Mas quando o Centro de Apoio Sócio Cultural do Zambujal, uma freguesia de Sesimbra, organizou um lançamento de papagaios no Cabo Espichel para o dia da liberdade, não hesitámos. Convidámos uns amigos, a mais velha passou a semana a falar nisso e acabámos por ter uma manhã simplesmente espectacular. Lançar papagaios e controlá-los lá bem no alto pode ser bastante relaxante. É claro que comecei logo a pensar em fazer o meu próprio papagaio de tecido, mas já sei que não vou ter tempo nenhum para isso, por isso vamos ficar com os papagaios da CASCUZ que são bem resistentes.

 

Não podíamos estar mais entusiasmados com a chegada do bom tempo. Como ele diz, um verão vale por dois invernos. E o inverno agora está bem lá longe!

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Ideias que me "tiram do sério"



Sair da minha zona de conforto não é só correr ou deixar de esconder a minha pequena deficiência. Há uma coisa que me deixa extremamente angustiada, mas que, em contrapartida, faz a minha filha extremamente feliz: ir à escola ler uma história aos meninos. Santo deus, só de pensar nisto fico com azia. Eu costumo dizer que não tenho jeito para crianças, só para as minhas, porque são minhas e uma pessoa perde a vergonha com os da casa. Com todas as outras crianças, chego a ter medo que se metam comigo. Isto é uma parvoíce, claro, porque as crianças não estão nem aí para a minha vergonha. E a primeira vez que fui ler uma história à sala da Inês, o ano passado, foi uma experiência fascinante. Não só consegui com que os miúdos estivessem sossegados a ouvir, como no fim eles interagiram muito bem e adoraram as fotografias de animais selvagens que levei (tinha a ver com a história e com o projecto anual). Depois até fiquei com pena de só ter ido ler a história no fim do ano lectivo e de não poder repetir, mas prometi a mim mesma que todos os anos iria à sala da Inês (e da Alice quando ela for mais velha) ler uma história aos meninos.

Este ano lectivo ainda não tinha tido coragem. O tema do projecto não tem muito a ver comigo e usei-o como desculpa para ainda não ter proposto nenhuma actividade à educadora. Mas no primeiro dia de aulas de Janeiro, ganhei coragem e sugeri à educadora ir ler uma história que não tenha a ver com o projecto. Ela aceitou (na verdade, ficou toda contente, não devem ser muitos os pais que têm tempo para ir ler uma história às 10 da manhã) e marcámos para a semana.

Confesso, estou a tremer. Não só tenho de ler uma história, como também de fazer uma actividade relacionada com a história. Mas sei que, no final, a experiência vai ser mais do que positiva, vou ficar muito satisfeita comigo, por ter conseguido, e vou deixar a Inês muito orgulhosa da sua mamã.

Então, como este ano optei pelo tema "Felicidade", pensei levar um de dois livros que tenho lido à Inês que tratam deste tema. São eles:


Depois, pensei em fazer uma actividade de desenho, pintura e colagem com eles, na qual lhes proponho que pensem no que os faz feliz (comer um gelado, ir à praia, dormir em casa dos avós, etc.), fazer um desenho alusivo e depois colar todos os desenhos numa cartolina gigante. Seria o placard da felicidade, com inúmeras sugestões. Para tirar ideias, trouxe da biblioteca um livro que ao princípio me pareceu parvo, mas agora há livros que ensinam a fazer coisas com os filhos?, mas que, ao folheá-lo, me apercebi que tem ideias muito giras para sermos uma família criativa.


Chama-se "365 actividades para fazer com os seus filhos" e, à falta de imagens no livro, há um blogue que complementa o livro. Espreitem aqui.
Encontrei imensas ideias para desenvolver o tema da felicidade, tais como o caderno das coisas boas (um pouco à semelhança do Livrinho da Gratidão), o quadro dos sonhos, o livro da minha vida, o pote das coisas de que mais gostamos, jogo do abecedário da gratidão, e imensas outras actividades de pintura e manualidades, reciclagem e jogos. Acho que não consigo retirar grande coisa para a sala de aula, mas consigo certamente retirar ideias cá para casa.. Inclusivamente, já pus a miúda em pulgas com a ideia de fazermos um caderno da felicidade com base em fotografias dela a fazer as coisas de que mais gosta. Tanto que hoje de manhã me perguntou: "Mamã, depois da escola podemos ir à loja imprimir as fotografias?"
Raça da miúda.

Diário da felicidade


  


O ano não começou assim. Mas como prometi ao Tal Ben-Shahar que ia passar a estar grata pelas coisas boas que me acontecem, celebro publicamente o pequeno momento de união familiar durante o nosso passeio de Ano Novo pela, cito, "floresta assustadora cheia de lobos esfomeados" aqui ao pé de casa para apanhar pinhas.


Contexto

O Tal Ben-Shahar foi professor de Psicologia Positiva em Harvard e é o autor de best sellers sobre a temática da felicidade. Num dos seus livros, Even Happier, Tal Ben-Shahar incita os seus leitores a manterem uma espécie de diário da felicidade, em que registam, semanalmente, as coisas pelas quais estão gratos e diversos pensamentos e exercícios propostos pelo autor para cada semana. Assim, a Semana Um foca-se na Gratidão, a Semana Dois nos Rituais, a Semana Três no Exercício Físico, e assim por diante, durante 52 semanas. Se quiserem conhecer outras versões deste projecto, a Mum´s the Boss já o pôs em prática em 2012. 
Paralelamente, e porque ressuscitei o meu Kindle dos mortos, estou a reler o The Happiness Project da Gretchen Rubin e a tirar as devidas notas digitais e mentais para o primeiro mês do ano. Voltarei a falar disto mais tarde.
No campo profissional, o meu homem trouxe ao meu mundo a Passion Planner, à qual estou a decicar a máxima atenção para tirar o melhor partido de uma agenda que é muito mais do que um calendário: para além da calendarização normal de tarefas, permite elaborar listas de coisas para fazer, a nível pessoal e profissional, fazer listas de desejos e prioridades, criar um plano para alcançar os nossos objectivos, e fazer um balanço no final do mês. Vou experimentar primeiro a versão PDF (disponível aqui, se partilharem o projecto com os vossos amigos no Facebook) e, se me der bem, talvez compre a versão encadernada.

Não são resoluções, são prioridades

Tenho pensado muito sobre o novo ano e o que eu quero que seja diferente no futuro. Não gosto de retrospectivas, mas 2014 foi um ano de mudanças - de casa, de distrito, de emprego - mudanças sérias na vida de uma pessoa. Ainda me estou a adaptar a essas mudanças e a tentar contornar alguns contratempos, como o facto de trabalhar em casa num meio pequeno a 45 minutos de Lisboa, sem trânsito, ser tão diferente de trabalhar em casa nos agitados subúrbios a 5 minutos de Lisboa. Mas sobre isso falarei mais tarde, pois estou a criar subterfúgios que me permitam sentir-me mais acompanhada.
Mas tudo isto vem com o tempo, assim como o construir uma rede sólida de clientes que me permita ter um fluxo de trabalho constante. Isso ainda não aconteceu. Tenho andado muito ao sabor da maré e a tentar perceber as flutuações do mercado. Ora não tenho mãos a medir, ora não tenho trabalho durante dias a fio. Sei que o mercado demora tempo a reagir e já tenho alguns trunfos na manga, alguns bons clientes com bons trabalhos e boas tarifas que ficaram contentes com o meu trabalho, mas que precisam de algum tempo para perceberem que me devem colocar na lista de tradutores preferenciais. Tudo isto leva o seu tempo, claro. Afinal, só estou por minha conta há três meses. Pela minha experiência, em Janeiro o mercado da tradução estará mais ou menos estagnado, por isso, em vez de andar a chorar pelos cantos, vou aproveitar o tempo para me dedicar à legendagem (que paga muitooo mal, mas é tão giro!), aos meus projectos pessoais e... às minhas resoluções.

Não são bem resoluções. Este ano, não me fez muito sentido fazer uma lista de coisas como ler mais, comer melhor, fazer mais desporto, fazer mais sexo. É claro que quero isso tudo, não necessariamente por esta ordem. Mas este ano sinto necessidade de, muito mais do que introduzir novos hábitos, mudar aquilo que não está bem. Comecei, então, a pensar no que não está bem. Pensei em como me tenho sentido ultimamente, comigo mesma e na minha relação com os outros, ou melhor, com a família mais próxima.
E a verdade é que me tenho sentido frequentemente muito infeliz. Zangada com a vida. Impaciente. Aborrecida. Colérica. A mais velha tem-me dado cabo do juízo com a forma peçonhenta como lida com a irmã mais nova. Eu tendo a sair em defesa da mais pequena, mas depois vem o pai e alerta-me para os perigos do meu comportamento. E depois ela porta-se mal, muito mal, mal ao ponto de estarmos a jantar com amigos e não conseguirmos conversar, e eu pergunto-me se não estará apenas a chamar a atenção. Não há dúvidas de que está. E eu pareço que ando sempre zangada com ela.
Ontem foi um dia especialmente mau. Depois de uma noite de apenas três horas de sono por causa de alguma coisa que afligiu a mais nova, coube-me a mim sair de casa com elas para o pai poder trabalhar descansado. Não vou descrever em pormenor o que aconteceu nas três horas que se seguiram e que incluíram um almoço desastroso, mas digamos que foi bastante aborrecido. As duas estavam nos seus piores dias e eu, privada de sono e de amor-próprio, cheguei àquele ponto em que comecei a ficar com os olhos marejados de lágrimas e tive sérias dificuldades em disfarçar.
Então,  percebi. Percebi que tem havido um conflito constante no meu interior. Ora advogo as premissas da parentalidade positiva, ora desato a berrar quando ela faz disparates. Ora me ponho a ler as lamechices do Doutor Carlos González, ora sou de palmada fácil. E depois fico angustiada comigo própria e tenho insónias à conta disto. O não agir em consonância com aquilo em que acredito faz-me deixar de acreditar em mim, desacredita-me como mãe, como pessoa. E torna-me infeliz.

Mais do que uma resolução, esta vai ser a minha prioridade para 2015: agir de acordo com as minhas convicções, agir como me quero sentir, especialmente no que diz respeito à forma como educo as minhas filhas. Por muito que custe, e vai custar, e não vou conseguir sempre, mas quero focar-me nisso no início do ano, arranjar estratégias que me ajudem, para que as coisas comecem a fluir mais do meu agrado ao longo do ano.

A segunda prioridade, e fiquemos por aqui porque estas duas já me vão dar muito trabalho, tem a ver com a minha zona de conforto e os meus complexos. Para quem não está a par da minha história, pode lê-la aqui. Quem me conhece bem sabe que, até há alguns anos, eu não ia à praia, ou ia a muito custo e só com pessoas da máxima confiança, Sabe também que deixei de usar saias aos 12 anos, que não tomava banho em ginásios, que não corria, que não fazia ioga ou qualquer outra coisa que expusesse o meu pé e a minha perna a olhares e julgamentos. Porque as pessoas descriminam sem dar por isso. Está-nos no sangue, acho. A maior parte não faz por mal. Mas dói. Cresci a ouvir familiares, vizinhos, amigos dos meus pais, pessoas adultas portanto, a rotularem-me de "coitadinha" e "deficiente". Cresci a pensar que não podia correr nem fazer grandes caminhadas porque me doía o pé. E doía. Mas, já em adulta, fui percebendo que, por muito que me doesse ao princípio, o treino acabaria por mitigar as dores e quando comecei a correr, com motivos muito para além do estar em forma ou perder peso, comecei a acreditar que era possível, que afinal eu era igual aos outros, conseguia correr três, cinco, oito quilómetros, ainda que com dores, ainda que mais devagar, mas conseguia. Foi um grande passo para mim e para a minha auto-estima. É claro que precisei de alguma ajuda especialista nesse campo e foi graças a essa ajuda que comprei o meu primeiro vestido e o usei com botas altas há dois Invernos. Continuo a esconder, continuo a disfarçar, mas já não disfarço completamente e já não me importa muito se alguém estiver a olhar para as minhas pernas porque há algo de estranho ali, mesmo com botas. Já não quero saber o que pensam. Pelo menos no Inverno...

Mas houve um dia que, enquanto corria, um instrutor de desporto veio ter comigo perguntar se estava lesionada. Reagi bastante bem, contei-lhe o meu problema (há uns anos teria simplesmente inventado uma lesão) e falámos sobre como podia correr sem maltratar a coluna. Infelizmente, depois nunca mais consegui correr. O facto de alguém ter reparado que arrastava uma perna ao fim de três quilómetros foi o suficiente para perder a coragem de me continuar a expor. Voltei à minha zona de conforto e dela não saio há quase um ano. Entretanto, voltei ao ginásio, mas há pequenas nuances no meu comportamento no ginásio que indicam que estou prestes a deixar de lutar contra os meus complexos, como o facto de não tomar banho no ginásio. Uma coisa leva à outra e sei que, se continuar assim, todo o trabalho psicológico feito ao longo de dois anos vai por água abaixo, se não me obrigar a sair da minha zona de conforto de novo. Para ajudar à festa, no outro dia li este artigo no Público, pensei, porra, há gente com coragem e tive vergonha de mim por ter perdido a coragem.

E é por isso que vou voltar a correr. Não é por ser o desporto da moda agora (parece que ultimamente toda a gente começou a correr e a comer pão sem glúten), não é para emagrecer (se bem que, depois deste Natal...), não é para poupar dinheiro no ginásio. É mesmo para mostrar a mim própria que não há assim nada de tão errado comigo e que, pois claro, eu também sou capaz. Em suma, para ter mais confiança em mim. No fundo, para ser mais feliz.

Bom Ano.

Nice work

Quais são as probabilidades de sintonizar a Oasis FM e estar, nesse exacto momento, a dar Oasis, a banda? Não gosto nem de uma nem de outra, mas não tive outro remédio senão deixar estar e trautear as partes que toda a gente sabe de cor. And so Sally can wait... É que só podia ser um sinal divino. Um sinal de que as coisas estão a correr bem, os chakras começam a alinhar-se e os astros se conjugam em meu favor.

Esta semana começaram, finalmente, a responder aos meus e-mails, o trabalho começou a chegar em catadupa (ok, quase...), aquele cliente novo gostou do meu trabalho e disse-me "Nice work!", ainda aquele cliente que julgava perdido voltou a lembrar-se de mim e ainda há aqueloutro que acabou por se decidir por mim, entre tantos outros profissionais. Esta semana readquiri uma rotina de trabalho que me agrada muitíssimo, sem pressas, com possibilidade de ir ao café às horas que quiser e as vezes que quiser sem parecer que ando a fugir de ninguém. Nesta semana os dias acabaram com um sentido de dever cumprido e uma satisfação enorme e assentei a cabeça na almofada com a certeza de que no dia seguinte teria trabalho à minha espera, e nos dias a seguir a esse. Nesta semana tudo começou a fazer sentido e os motivos que me levaram a despedir-me de um trabalho fixo e estável vieram finalmente ao de cima para fazer brilhar os meus dias.

Ainda aqui não falei sobre a minha saída da empresa porque não é um assunto fácil, especialmente porque sou lida pelas minhas ex-colegas (olá meninas!) que, com certeza, terão feito o seu juízo de valor sobre as circunstâncias da minha demissão. Não vou estar com grandes explicações sobre a minha saída, mas já era sobejamente conhecido neste blogue que estava descontente com a minha situação, com o tipo de traduções que fazia e a monotonia dos meus dias (podem ler aqui, aqui, aqui e aqui). Sentia que chegara a um impasse a nível profissional (e pessoal) e que, ou mudaria, ou iria passar o resto da minha vida a traduzir as mesmas coisas, sem espaço para novas aprendizagens nem grandes saltos. Um dia fartei-me de me queixar. As circunstâncias em que isso decorreu é que não foram as melhores e passei por um período difícil, de grande incerteza, desconfiança e amargura. Mas já passou, já passou, como tanto canta a minha filha. E depois de umas semanas algo incertas em termos de trabalho, mas que me deram um jeitaço para reorganizar a casa (ainda das mudanças...), estou finalmente a instalar-me confortavelmente no escritório e a trabalhar, para mim, só para mim. Não respondo a chefes, não reporto a ninguém, oriento os meus dias e saio às horas que me apetecer, ainda não me posso dar ao luxo de escolher as traduções que quero fazer (e nem sei se esse dia chegará), mas não me posso queixar nada do que me tem calhado na rifa e o dinheiro, esse malvado que tanta falta nos faz, tem chegado e chegará, certamente, sempre para as coisas mais importantes.

Estou feliz. Tranquila. Animada. E mesmo que voltem aqueles dias vazios em que os e-mails não chegam, não perderei o ânimo. Porque já chega de duvidar das minhas capacidades. Não sei se já aqui disse isto, mas esta coisa do self-employment faz maravilhas à auto-estima. Haviam de experimentar. A sério.

A liberdade às quatro da tarde

Para comemorar o meu primeiro dia como freelancer, deixo aqui um artigo que só frisa as coisas boas disto de - gente maluca! - deixar um emprego para a vida e atirar-se à incógnita do self-employment (há coisas que em inglês ficam tão melhor) e que até cria a ilusão de que a malta freelancer tem muito tempo livre. Por exemplo, eu hoje, no meu primeiro dia oficial como freelancer, fui levar as miúdas à escola, fui ao cabeleireiro, vim a casa, trabalhei meia-hora, saí e fui ao ginásio, voltei, trabalhei mais hora e meia, concluí o projecto que tinha para hoje, telefonei à Segurança Social a dar a boa-nova (eles já sabiam, os cuscos!) e agora estou a pensar se vou mudar os lençóis da cama, estender a roupa ou fazer um bocadinho de croché (comecei um poncho para mim que não vos digo nem vos conto) antes de ir buscar as crianças. Mas é claro que isto é só enquanto os trabalhos ainda não chovem, só chegam às pinguinhas. O meu homem diz que eu tenho de saber aproveitar os momentos sem trabalho e é isso que quero aprender a seguir ao MemoQ.
Entretanto, há uma coisa muito importante que a senhora do artigo não frisou, mas que vocês vão perceber muito bem com este exemplo: o meu homem ia sozinho a Bruxelas ver o Cat Stevens, mas já não vai, paciência, porque houve ali um momento em que eu me lembrei que era freelancer e que podia trabalhar em qualquer lado desde que tivesse um computador e ligação à Internet e, pronto, comprei um bilhete espontaneamente sem ter de fazer o odioso choradinho das férias. Ah. Liberdade.

Arco-íris

Há muito tempo que não via um arco-íris assim, tão vivo, tão nítido, de uma ponta à outra. A viagem do centro de Sesimbra até casa pela Arrábida demorou o triplo do tempo. Devo ter parado umas 5 vezes para apreciar a paisagem, o formato três-dê das nuvens, a imensidão do arco-íris, para desenhar no ar as sete cores como na música dos Caricas ("Mamã, mas eu já não acho muita piada aos Caricas. É para bebés, sabes..."). As minhas filhas olhavam para mim surpreendidas e divertidas com os meus guinchos de alegria. Há muito tempo que não via um arco-íris assim, tão vivo, tão nítido, de uma ponta à outra. A câmara do telefone não conseguiu apanhá-lo em toda a sua extensão, mas juro que dava para ver onde começava e onde terminava, os potes de ouro esperando em cada extremidade. Pus-me a pensar se, de todos os arco-íris que já vi na vida, nunca tinha prestado a devida atenção a nenhum ou por que é que só agora é que me espanto por ver um arco-íris assim, tão vivo, tão nítido, de uma ponta à outra. Depois lembrei-me. É que vivi demasiado tempo nas grandes cidades onde os prédios altos só deixam vislumbrar uma parte do arco. E acho que acabei por perder a esperança nos arco-íris da vida. ("Se chove e faz sol, aparece o arco-íris, pois é, mamã?")

Sete anos depois (e eu que ligo tanto a coincidências cronológicas), tenho a oportunidade de uma nova vida. Nova casa, nova terra, novo emprego. É tudo quase tão novo que, por momentos, me deu medo e aquele aperto no peito que não me deixava respirar ali entre a uma e as duas. Mas de repente, a sensação de aperto passou, o coração acalmou e percebi ali, com aquele arco-íris, que não pode chover para sempre.

O texto pode estar cheio de clichés, mas as fotos são sem filtro.





Feliz é o ignorante

Eu já antes sentia que seria muito mais feliz se não visse ou ouvisse as notícias. Mas desde que estoirou a notícia da bebé que morreu com água a ferver, seguida da mulher a quem encharcaram de álcool e atearam fogo, à mulher e ao filho de sete meses mortos no último ataque na Palestina, ao jornalista decapitado na Síria, isto só para falar no que mais me chocou nos últimos três dias e sem contar com a perigosíssima epidemia do ébola que nem quero pensar se alastra até nós, que ando a congeminar uma maneira de ficar um mês sem saber o que se passa fora do meu perímetro familiar. Em vez de mudar de casa para um sítio mais pacato, mas aonde as notícias chegam à mesma velocidade, devia mudar para a Antártida ou algo que o valha. É que, quando me ponho a imaginar o sofrimento dos que morreram de uma maneira atroz, sou assolada por uma ansiedade maior do que aquela que julgo aguentar. Quero parar com isto. Quero parar com a maldade no mundo. Quero parar com bebés que têm maus pais ou mães inocentes que estão no sítio errado  à hora errada. Não quero ver mais o telejornal ou ouvir rádio até que a maldade se evapore do mundo, pronto.

E vão ver como o meu índice de felicidade dispara em flecha.


É claro que isto é só uma ideia estúpida.