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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Nível zero ponto zero um

Uma das sugestões que ele me deu para superar o meu medo de gafanhotos (não é fobia, é trauma, e é real, não se riam) foi ir colocando, aqui e ali, pequenos gafanhotos de plástico, fotografias ou desenhos de gafanhotos e até, quem sabe um dia, um gafanhoto verdadeiro de estimação numa gaiola de grilo ou assim. Mas 1) esse dia está a anos-luz e 2) até uma coisa nojenta como um gafanhoto tem direito a viver em liberdade, por isso prometi-lhe só a parte dos gafanhotos de plástico. A ideia é começarem a fazer parte do meu dia-a-dia ao ponto de a sua visão deixar de me assustar e depois ir aumentando o "nível de dificuldade" até chegar à derradeira confrontação.

Não faço ideia se é assim que se tratam fobias de bichos. Mas é ou isto ou beber meia garrafa de uísque antes de, por exemplo, ir fazer uma caminhada. Aposto que nenhum gafanhoto me assustaria. Mas também era capaz de não conseguir fazer a caminhada.

Então lá fui procurar coisas com gafanhotos. Comecei pelo Etsy e fiquei espantada com a oferta quando se insere simplesmente grasshopper na caixa de pesquisa. Não admira, também metem os grilos e os louva-a-deus no mesmo saco, o que não deixa de ser curioso porque também não suporto nenhum deles. Adiante. O facto é que encontrei coisas absolutamente nojentas. Não consigo descrevê-lo de outra forma. É nojento, pronto. A simples fotografia de um gafanhoto provoca-me náuseas e tonturas, dá-me palpitações, eriça-me os pêlos e arranha-me as cordas vocais. Estou a pontos de desmaiar.

 

É assim: não sei se alguma vez conseguirei fazer isto.

 

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Da coragem

Tinha 12 anos da última vez que usei uma saia acima dos tornozelos. Hoje, aos 35, entrei numa loja com o propósito definido de experimentar um vestido curto. Quase não me reconheci. E gostei. Tanto que entrei em mais lojas e acabei por comprar três vestidos curtos e dois calções (confesso que aqueles calções cor-de-rosa foram um desvario dos saldos e fruto imperdoável do entusiasmo...). Tenciono usá-los, fora de portas, sem calças, ainda este verão. Decidi isso há coisa de pouco tempo, já aos 35 anos, que é aquele marco simbólico que, na minha cabeça, faz sentido existir. Quando lho comuniquei, ele respondeu-me: "Não sei porque não o fizeste há mais tempo. Ou melhor, sei. Mas era inevitável. Já estavas no bom caminho há algum tempo."

Este texto, e especialmente a frase em que ela diz "(...) people are going to stare at you. They’re going to have ideas about you. The only thing that you can control is your reaction to that." foi o que me inspirou a tomar a derradeira decisão. Mas esse texto foi apenas a gota de água. O trabalho a sério já vem a ser feito há anos... Praticamente desde que o conheci, ao meu amor. Foi por causa dele que cheguei aqui, com a ajuda dele. É por ele, mas é essencialmente por mim. 

 

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P.S. - Entrei ainda numa quarta loja, de outro tipo, à procura de um gafanhoto de plástico. Decidi seguir a sugestão de uma querida leitora (Olá, Dulce!) e comprar um gafanhoto de plástico para ter cá por casa e ir perdendo o medo (glup). Tinham aranhas, baratas, carochas, moscas. Não tinham gafanhotos. Azar. Isto da coragem às vezes só se tem uma vez...

Como não fazer um piquenique

 (na verdade, este texto é sobre gafanhotos, mas não queria estragar o título)

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O Tiago já lá tinha ido de paddleboard e este fim-de-semana resolvemos ir até lá a pé. Para isso, tivemos de estudar mapas e desenvolver uma estratégia, fazer a marmita e enrolar a manta do piquenique. Bom, talvez não tenha sido assim tão romântico. Foi o GPS que decidiu qual o melhor caminho e a estratégia consistiu em pular a cerca, literalmente, junto ao observatório de aves. A marmita consistiu num frango assado que comprámos no dia, batata frita, tomatinhos, queijo e pão e num bolo de iogurte com mirtilos que eu e a Inês tínhamos feito no dia anterior. Descomplicar é mais ou menos a palavra de ordem. (Também havia uma garrafa de tinto que muito me acalmou, cuja razão se perceberá mais à frente).

 

O posto de observação de aves da Lagoa Pequena (ali como quem vai para o recinto do SBSR no Meco) está fechado aos domingos e na maior parte dos outros dias, vá-se lá saber porquê, mas há um caminho pedestre onde a cerca está rebaixada e deu para passar com as miúdas.

 

Íamos contentes. Bom, eu ia um pouco apreensiva pois num sítio daqueles cheio de mato, por onde é raro pisar pé humano, devia haver gafanhotos aos montes - se restavam dúvidas até aqui sobre a minha fobia, este relato é capaz de elucidar bem os mais desatentos. Não ajudou que um gafanhoto do tamanho de uma unha tivesse aterrado no vidro do carro quando lá chegámos, mas o pior foi quando os comecei a ver, de tamanho considerável (do tamanho de um dedo, portanto, enormes!), a saltitar pelo caminho. Havia também uns moscardos, ou o raio, que saltavam e voavam e me batiam nos braços e comecei a entrar em pânico ao fim de 500 metros. Ou talvez fosse 200 m. Ou 100, vá. Ainda tentei disfarçar, tirar umas fotos do caminho, respirar fundo, tentar com que a Inês, já de si algo medrosa, não se apercebesse, mas não deu. Eu estava de saia e chinelos, caramba! - se não percebem a relevância desta informação é porque são pessoas normais. Parabéns! - Resumindo: obriguei a família a dar meia volta e a improvisar o piquenique por baixo do toldo do posto de turismo do observatório de aves e passei o resto da tarde a sobressaltar-me com qualquer mosca! Sim, sou um bocado triste, eu sei. Como se não bastasse, passei o medo à Inês que, como ela explicou muito racionalmente no rescaldo da coisa, aconteceu da mesma maneira como, há uns tempos, lhe passei a gripe.

Portanto, há muitas formas de ser boa mãe. Uma delas é não passar os nossos medos (nem as nossas gripes) aos nossos filhos e conseguir transmitir-lhes sempre a segurança de que eles precisam para viver felizes. Neste dia, eu não consegui. Bom, há muitos outros dias em que não consigo, mas neste dia posso dizer que falhei redondamente no meu papel de mãe segura e autoconfiante. Ela ficou aflita por me ver aflita, com verdadeiro pânico no olhar como reflexo do meu pânico e tive de fazer o caminho de regresso com ela ao colo (18 kg...) a sussurrar-lhe ao ouvido que não se devia ter medo de gafanhotos e que os insectos eram nossos amigos. Ainda por cima, menti-lhe.

 

Podem rir se quiserem (embora sou capaz de ficar ofendida), mas eu sofro com isto, com o facto de parecer uma autência anormal e começar aos guinchos por causa de umas criaturas de 5 cm. Tenho pesadelos com gafanhotos e deixo de ir a sítios e fazer coisas por causa de gafanhotos. É ridículo se pensarmos que eles não picam, nem mordem, nem matam. Mas então. As fobias são assim mesmo patológicas, irracionais, ridículas. Uma vez, no gozo, ofereceram-me um gafanhoto de plástico que me assustou a sério. Enfiei-o na varanda para não ter de o ver e lá ficou durante 3 semanas. Quando precisei mesmo de arrumar a varanda e tive mesmo de pegar nele (vivia sozinha...), usei um pano da cozinha, mas mesmo assim gritei. Sim, gritei. E depois atirei o pano fora.

Querem mais ridículo do que isto?

 

Se calhar não acreditam, mas quando chegámos a terreno seguro e nos acalmámos, o piquenique acabou por ser um sucesso e prometi à família que voltamos em Outubro para ver a migração dos patos. Contando que, em Outubro deste ano, já esteja frio e os gafanhotos já tenham ido para África, claro.

Agora tento brincar com o assunto, mas depois deste dia, sinto que estou numa posição muito má. Aquela em que percebo que, para a minha filha não ter medos, eu também não os posso ter. Para os perder sou capaz de  ter de os confrontar. E só isso mete-me medo.

 

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Como não fazer um piquenique (na verdade, este texto é sobre gafanhotos)

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O Tiago já lá tinha ido de paddleboard e este fim-de-semana resolvemos ir até lá a pé. Para isso, tivemos de estudar mapas e desenvolver uma estratégia, fazer a marmita e enrolar a manta do piquenique. Bom, talvez não tenha sido assim tão romântico. Foi o GPS que decidiu qual o melhor caminho e a estratégia consistiu em pular a cerca, literalmente, junto ao observatório de aves. A marmita consistiu num frango assado que comprámos no dia, batata frita, tomatinhos, queijo e pão e num bolo de iogurte com mirtilos que eu e a Inês tínhamos feito no dia anterior. Descomplicar é mais ou menos a palavra de ordem. (Também havia uma garrafa de tinto que muito me acalmou, cuja razão se perceberá mais à frente).

 

O posto de observação de aves da Lagoa Pequena (ali como quem vai para o recinto do SBSR no Meco) está fechado aos domingos e na maior parte dos outros dias, vá-se lá saber porquê, mas há um caminho pedestre onde a cerca está rebaixada e deu para passar com as miúdas.

 

Íamos contentes. Bom, eu ia um pouco apreensiva pois num sítio daqueles cheio de mato, por onde é raro pisar pé humano, devia haver gafanhotos aos montes - se restavam dúvidas até aqui sobre a minha fobia, este relato é capaz de elucidar bem os mais desatentos. Não ajudou que um gafanhoto do tamanho de uma unha tivesse aterrado no vidro do carro quando lá chegámos, mas o pior foi quando os comecei a ver, de tamanho considerável (do tamanho de um dedo, portanto, enormes!), a saltitar pelo caminho. Havia também uns moscardos, ou o raio, que saltavam e voavam e me batiam nos braços e comecei a entrar em pânico ao fim de 500 metros. Ou talvez fosse 200 m. Ou 100, vá. Ainda tentei disfarçar, tirar umas fotos do caminho, respirar fundo, tentar com que a Inês, já de si algo medrosa, não se apercebesse, mas não deu. Eu estava de saia e chinelos, caramba! - se não percebem a relevância desta informação é porque são pessoas normais. Parabéns! - Resumindo: obriguei a família a dar meia volta e a improvisar o piquenique por baixo do toldo do posto de turismo do observatório de aves e passei o resto da tarde a sobressaltar-me com qualquer mosca! Sim, sou um bocado triste, eu sei. Como se não bastasse, passei o medo à Inês que, como ela explicou muito racionalmente no rescaldo da coisa, aconteceu da mesma maneira como, há uns tempos, lhe passei a gripe.

Portanto, há muitas formas de ser boa mãe. Uma delas é não passar os nossos medos (nem as nossas gripes) aos nossos filhos e conseguir transmitir-lhes sempre a segurança de que eles precisam para viver felizes. Neste dia, eu não consegui. Bom, há muitos outros dias em que não consigo, mas neste dia posso dizer que falhei redondamente no meu papel de mãe segura e autoconfiante. Ela ficou aflita por me ver aflita, com verdadeiro pânico no olhar como reflexo do meu pânico e tive de fazer o caminho de regresso com ela ao colo (18 kg...) a sussurrar-lhe ao ouvido que não se devia ter medo de gafanhotos e que os insectos eram nossos amigos. Ainda por cima, menti-lhe.

 

Se calhar não acreditam, mas quando chegámos a terreno seguro e nos acalmámos, o piquenique acabou por ser um sucesso e prometi à família que voltamos em Outubro para ver a migração dos patos. Contando que, em Outubro deste ano, já esteja frio e os gafanhotos já tenham ido para África, claro.

Agora tento brincar com o assunto, mas depois deste dia, sinto que estou numa posição muito má. Aquela em que sinto que, para a minha filha não ter medos, eu também não os posso ter. E só isso mete-me medo.

 

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Meter a mão na terra

 

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É uma espécie de terapia. Semear, regar, transplantar, podar. No final, colher a salsa para os temperos, apanhar a alface para a salada, o alho francês, que comprei a pensar que era cebolinho, para a sopa. Comer aquilo que plantamos é tão bom como vestirmos aquilo que cosemos. Dá uma ínfima e efémera sensação de poder e autossuficiência, mas boa na mesma. Mas, ao contrário de uma blusa que se cose numas horas, o jardim e a mini horta exigem dedicação constante, um carinho diário, uma atenção permanente. Normalmente, rego no final do dia, quando o calor abranda e elas já estão em casa. Gostam de ajudar a regar as plantas (e os próprios pés), a pôr a terra nos vasos (ou onde calhar), a sujar as unhas e a roupa enquanto ignoram os meus protestos para lavarem as mãos antes de pegarem em comida e perguntam se hoje há sopa, quando apanho o último alho francês, que devia ser cebolinho, sobrevivente.

 

Tenho pena de não ter mais espaço, mais terra para plantar mais coisas. Aos poucos, vou percebendo quando se deve podar, vou conhecendo as manhas às plantas e aprendendo as estações e os tempos certos. Estava quase capaz de me atirar às cebolas e aos tomates e assim ter sempre salada fresca para o jantar. Com direito a caracóis, lesmas, minhocas e outros bichos com quem vou aprendendo a conviver e respeitar (menos os gafanhotos, de quem ainda não gosto), e a pôr para o lado, para que não me comam a salsa. Mas acho que estou a deixar morrer o mirtileiro, por isso não devo ser ainda muito boa jardineira. Vale o prazer que dá pôr a mão na terra e rezar para que tarde o dia em que me vai saltar um gafanhoto verde, grande e gordo do meio das margaridas. Até lá, vivo na ingenuidade de achar que já estou a superar a minha fobia, só porque no outro dia dei uma mangueirada a um gafanhoto verde e pequeno sem mandar um grito que se ouvisse na Arrábida.

Estou no bom caminho, pois.