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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Executiva

Preparei os cartões de visita, arranjei um outfit business casual jeitoso que já me fica bem desde que perdi aquele quilograma peçonhento, pedinchei à sogra uma mala adequada à ocasião porque a minha estava cheia de bolor e o site está finalmente online. Pode dizer-se que já sou uma mulher de negócios.

Ao despedir-se de mim à porta da estação, ele avisou-me, em jeito de brincadeira, que não me habituasse demasiado a fins de semana deste, mas ambos sabemos que estou bastante feliz (apesar de estar a ser obrigada a ouvir a RFM porque não trouxe iPod e o menino do lado guincha demasiado alto).

Sei perfeitamente que não vou conseguir abordar as pessoas que me interessam amanhã, na conferência de tradução. Não sou boa a vender-me, penso eu, não me está no sangue abordar potenciais clientes e apresentar-me como a tradutora espectacular que tem um site espectacular e traduz espectacularmente bem. E mesmo se conseguisse, pediria um preço espectacularmente baixo, porque tenho pena que as pessoas gastem muito dinheiro. Sou assim, o que querem. Levo na cabeça constantemente por causa disto e um dia hei-de aprender, eu sei. Até lá, vou tentar distribuir uns quantos cartões de visita espectaculares e tentar desfrutar ao máximo deste sentimento de me sentir importantemente dona do meu destino.

Um ano diferente


Quando surgiu no Kickstarter, contribuí imediatamente para o financiamento do livro da Monika Kanokova, This Year Will Be Different. Nesta fase de lançamento do meu trabalho por conta própria, o tema não poderia ser mais apropriado: uma colecção de histórias inspiradoras sobre mulheres que, como eu, um dia decidiram que não iriam mais trabalhar para outros e que estava na hora de seguir o seu sonho.
O livro foi totalmente financiado por crowdfunding e eu recebi o meu exemplar digital. Mas não o li logo e iria ficar esquecido nos confins do meu computador se não fosse o meu homem ter decidido fazer-me uma surpresa e ter-me comprado a versão encadernada, com direito a uma dedicatória da autora. Foi, sem dúvida, uma boa surpresa! Comecei a lê-lo nessa mesma noite e posso dizer que estou fascinada. Ainda só li 6 histórias/entrevistas (entre as quais, uma portuguesa cujo blog já seguia, aliás, foi ela que me deu a conhecer este projecto) e já sinto que aprendi imensa coisa sobre a forma como posso ser bem-sucedida na minha carreira independente.
Cada entrevista tem uma espécie de prefácio com dicas e truques para ser uma freelancer bem-sucedida. O livro está escrito no feminino e, talvez por isso, aliado a um discurso directo e apelativo, parece que se dirige directamente a mim. Consigo rever-me até mesmo nas histórias de mulheres com carreiras no extremo oposto da minha, como fashion bloggers ou designers de fontes de letras, e retirar ideias de sugestões de capítulos que inicialmente pouco ou nada me diziam, como o capítulo sobre deixar o nosso eu-perfeccionista lá fora (perfeccionista, eu?).

Aprendi, por exemplo, que tenho mesmo de trabalhar no meu website profissional e como o posso fazer da melhor maneira, que tenho de fazer os meus preços e ser-lhes fiel (confesso que me adapto ao preço que as agências fazem, quando devia ser ao contrário, e que sou demasiado mole quanto tenho de negociar preços e prazos) e que a melhor maneira de apresentar amostras do meu trabalho sem comprometer a confidencialidade a que sou obrigada quando faço uma tradução, é colocar no meu website traduções realizadas por iniciativa própria e que tenham a ver com as minhas áreas de especialidade para apresentar a potenciais clientes sem violar nenhuma questão ética. Nunca tinha pensado nisso, mas parece-me uma excelente ideia.

Não me parece que haja algum capítulo que ensine a dizer que não, a pesar os prós e os contras de aceitar determinados trabalhos e a tal relação custo/benefício de já falei aqui, pois é uma das coisas em que tenho mais dificuldade... Mas estou certa de que hei-de aprender isso a algum custo (o meu, certamente) e até já estou a dar pequenos passos que me libertem algum tempo livre e espaço para trabalhar na minha apresentação aos clientes, na minha presença nas redes sociais como tradutora e na optimização dos processos de trabalho. Porque tudo isto é importante.
(O facto de a minha mais velha ter ficado doente e me ter obrigado a esvaziar a agenda foi, sem dúvida, uma boa maneira de conseguir um final de semana de trabalho mais desafogado).

Além disso, sinto-me impelida a contribuir para o sucesso de alguns dos projectos destas mulheres, como o copo menstrual da Maxie Matthiessen que ajuda à escolarização das meninas em África ou os livros que Frances M Thompson publicou sozinha e estão à venda na Amazon a um preço muito simpático. São mulheres como eu que concretizaram os seus sonhos e merecem continuar a ter anos diferentes, todos os anos.

(Falei deste livro a primeira vez aqui. É bom saber que há ideias que não caem em saco roto.)

Este ano vai ser diferente

Se ainda estivesse a trabalhar por conta de outrem, neste momento (às 16:15 de domingo) estaria a entrar no modo neura porque amanhã recomeça a semana de trabalho, principalmente depois desta época festiva, em que as miúdas ficaram em casa e o pouco trabalho que tive me deu um gostinho de férias. Logo à noite, estaria insuportável, ansiosa e deprimida, simplesmente porque amanhã tenho de voltar ao trabalho, sentar-me ao computador, deixar de fazer as coisas de que gosto para passar o dia a traduzir textos aborrecidos. Iria passar o dia a suspirar, com um mau-humor descomunal e a contar as horas para me ir embora.

Tenho a certeza de que sabem do que estou a falar.

Mas este ano não sinto nada disso. Confesso até que estou ansiosa pela positiva, excitada por finalmente retomar a rotina, expectante para ver que trabalhos me calharão na rifa ou que clientes me contactarão. Não espero ter muito trabalho este mês. Como já aqui disse, Janeiro costuma ser um mês meio parado no mundo da tradução. Mas, em vez de me lamentar, vou investir o tempo naqueles trabalhos que não pagam a curto prazo, como organizar e optimizar o meu sistema de trabalho, preparar notas de honorários e facturas predefinidas, melhorar o meu website profissional para poder, finalmente, mostrá-lo ao mundo (na verdade, já está online, mas ainda está longe de ser perfeito) e preparar uma nova estratégia de marketing dos meus serviços.

É por estas e por outras que não me arrependo da decisão que tomei há uns meses de me tornar freelancer. É claro que, em termos financeiros, um mês com pouco trabalho não augura nada de bom, e mentiria se dissesse que não estou preocupada com isso. Mas aprendi que há outras coisas que compensam a falta de dinheiro para extras, desde que haja dinheiro para o essencial, e isso felizmente não faltará. A liberdade que sinto e a alegria pelo que faço são a melhor recompensa.

Por isso, e porque ainda tenho dúvidas sobre a melhor forma de abordar uma carreira freelance bem-sucedida, contribuí para que o projecto da Monika Kanokova vá para a frente, um livro, intitulado "This year will be different" que reúne entrevistas a mulheres empreendedoras (inclusive a uma portuguesa) que se tornaram freelancers, com truques e dicas para ser bem-sucedida. O sucesso no feminino para quem, como me aconteceu a mim, sente que tem de dar o passo, mas não sabe como ou não tem coragem. Sei, pelo menos, de uma querida leitora que anda a pensar nisto. Toma, é para ti.

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Para saber como contribuir, saibam mais aqui. Eu já tenho o meu exemplar digital assegurado.
Este ano vai mesmo ser diferente.

A liberdade às quatro da tarde

Para comemorar o meu primeiro dia como freelancer, deixo aqui um artigo que só frisa as coisas boas disto de - gente maluca! - deixar um emprego para a vida e atirar-se à incógnita do self-employment (há coisas que em inglês ficam tão melhor) e que até cria a ilusão de que a malta freelancer tem muito tempo livre. Por exemplo, eu hoje, no meu primeiro dia oficial como freelancer, fui levar as miúdas à escola, fui ao cabeleireiro, vim a casa, trabalhei meia-hora, saí e fui ao ginásio, voltei, trabalhei mais hora e meia, concluí o projecto que tinha para hoje, telefonei à Segurança Social a dar a boa-nova (eles já sabiam, os cuscos!) e agora estou a pensar se vou mudar os lençóis da cama, estender a roupa ou fazer um bocadinho de croché (comecei um poncho para mim que não vos digo nem vos conto) antes de ir buscar as crianças. Mas é claro que isto é só enquanto os trabalhos ainda não chovem, só chegam às pinguinhas. O meu homem diz que eu tenho de saber aproveitar os momentos sem trabalho e é isso que quero aprender a seguir ao MemoQ.
Entretanto, há uma coisa muito importante que a senhora do artigo não frisou, mas que vocês vão perceber muito bem com este exemplo: o meu homem ia sozinho a Bruxelas ver o Cat Stevens, mas já não vai, paciência, porque houve ali um momento em que eu me lembrei que era freelancer e que podia trabalhar em qualquer lado desde que tivesse um computador e ligação à Internet e, pronto, comprei um bilhete espontaneamente sem ter de fazer o odioso choradinho das férias. Ah. Liberdade.