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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

A era pós-torradas com manteiga (ou o combate às banhas)

Teaser (daqui)

Farta das banhas acumuladas na gravidez, ando a tentar emagrecer. Já não tentava emagrecer há uns 6 anos quando fui diagnosticada com pré-diabetes - emagreci, mudei a minha alimentação, comecei a fazer exercício (nem sempre numa base regular) e reverti os valores para um estado de não (pré-)diabética. 1-0 para mim. 

Engravidei da Alice e a coisa descambou. Não só comecei a comer o que me apetecia (e apetecia-me tudo a toda a hora), como tive uma gravidez bastante sedentária devido à baixa forçada. É claro que os quilos a mais ainda se fazem sentir 4 meses depois do parto. Não estando gorda, estou com "aquele" pneu na zona abdominal e pernas que parecem claras em castelo. Como já não sou pessoa para me conformar com o meu corpo e não me escondo atrás da gravidez como desculpa para me desleixar (continuo a pensar mais ou menos da mesma maneira desde este post, se bem que não tão fundamentalista), iniciei uma dieta pró-amamentação com o início da Quaresma Infiel. Como estou a amamentar, não posso entrar em dietas extremas, mas posso perfeitamente cortar nas comidas processadas, no pão e nos doces, comer mais salada às refeições, fruta em vez de sobremesa, beber muita água e sumos verdes (diz que está na moda mas eu já os ando a beber há algum tempo), comer mais vezes durante o dia e menos de cada vez, e foi o que fiz. Comecei também a investir no exercício físico. Voltei a correr (ou mais ou menos), tenho tido treinos personalizados uma vez por semana que me deixam com um andar estranho durante cinco dias e estou agora a complementar este treino com aulas de ginástica localizada no ginásio e outros treinos que o PT me manda fazer em casa (que incluem coisas que parecem tão simples como saltar à corda, mas gostava de vos ver a saltar à corda durante oito minutos seguidos sem vomitarem os pulmões!). Todos os dias tenho dores musculares em alguma zona do corpo, mas a verdade é que já reduzi 2 cm de perímetro abdominal desde há um mês, portanto vejo estas dores como aliadas de um corpo esbelto e firme (haha!).

Mas eu gosto de comer. E, portanto, a comida na fase de emagrecimento tem de me saber bem. Começando com o pequeno-almoço, aquela refeição que nos deve dar energia para o dia, gosto de alternar e, principalmente, de ir para a cama a pensar no pequeno-almoço do dia seguinte. Isso nunca me aconteceu quando comia só torradas! E o pequeno-almoço que mais me faz salivar (literalmente) são as overnight oats. Ou seja, papas de aveia com iogurte e fruta em camadas preparadas na noite anterior (o que ajuda a ir para a cama a pensar nelas), uma espécie de trifle de aveia saudável. Já experimentei várias receitas, mas tenho-me mantido fiel à mesma receita básica que já não sei se fui eu que inventei se vi em algum lado. Como nenhuma das minhas experiências ficou dignamente fotografável, a coisa parece-se mais ou menos com isto

imagem do Pinterest

[e faz-se assim:

2 colheres de sopa de aveia
leite vegetal para cobrir a aveia
1 banana pequena
1 iogurte grego natural (ou outro qualquer)
5 ou 6 framboesas (ou outra espécie de fruto silvestre)
frutos secos (noz, amêndoa, avelã e caju, 2 ou 3 de cada qualidade) e/ou bagas góji
Xarope de agave (ou de áçer ou mel) por cima dos frutos secos

Juntar a aveia com o leite no fundo do frasco, depois juntar os ingredientes em camadas pela ordem da lista de ingredientes (primeiro a banana, depois o iogurte, etc.) sem mexer (esta parte é importante) e reservar 6-8 horas no frigorífico.]

Fica delicioso! Vão por mim: é de comer e chorar por mais. Logo de manhã recebo assim a minha dose de fruta, cereais e energia para uma manhã proveitosa.

Mais receitas de overnight oats aqui e a receita base.
Outras imagens de babar no sítio do costume.

Se tiverem interesse, posso escrever sobre os ditos sumos verdes de que toda a gente fala agora. Se não tiverem interesse, escrevo à mesma que de democracia não reza a blogosfera.

Breves notas sobre um nascimento


Chegou e deu-me um passou-bem. Atrás de si vinha a aluna, de ar doce e quase tímido. Ele, e o seu bigode, ia lançando piadas e gracejos às grávidas que estavam para indução e a quem ele próprio, pouco mais tarde, se encarregaria de escoltar até ao bloco de partos.
Avisei-o para não pisar as águas que me haviam rebentado há 20 minutos. Ele fez então o que tinha a fazer, o famoso toque seguido pela aluna, que foi bem mais gentil. Mas às horas tantas já só queremos que nos arranquem a criança, mais toque menos toque pouca diferença faz.
Em menos de nada estava pronta para ir para baixo, "já tem três dedos". Eu já só ouvia a palavra epidural.
Dizem que as dores de uma indução são muito mais intensas do que num parto espontâneo. Nem tudo o que se diz por aí se aplica a todos os casos (como o segundo filho ser sempre mais cedo do que o primeiro!! Ha ha ha!), mas esta posso eu confirmar. Desci e subi dos infernos durante a hora que levou todo o processo desde a ruptura da bolsa de aguas à epidural, foi uma só hora intensa de dor profunda em que me agarrava às grades da cama e continha os gritos. Eu não grito de dor, porra, eu não grito de dor. Agora já não sei se gritei, nem isso me interessa muito. Porque logo chegou a epidural e logo entrei naquele estado zen de que o mundo podia acabar que eu não me importava.
O enfermeiro Fernando, chamemos-lhe assim, ainda veio ver como avançava a coisa, como o treinador de castigo no balneário que espreita pela janelinha do duche do fundo aos 80 minutos.
A coisa avançaria definitivamente pouco depois, num rol de acontecimentos e pormenores que não interessa agora aqui expor, e terminando na vinda ao mundo do segundo ser excepcionalmente belo e perfeito que, vejam só, saiu mesmo de mim.
No dia seguinte, o enfermeiro Fernando e a sua extremosa pupila haveriam de me visitar no quarto para ver o resultado da sua "obra" e me desejar as mais sinceras felicidades. Há pessoas assim, únicas, que nos roubam um espacinho no coração quando julgamos já tê-lo todo reservado.

...
A Alice chegou ao mundo na noite de quarta-feira para me arrebatar todo o coração de uma só vez. Olho para ela e por vezes julgo recuar três anos, tais são as parecenças com a irmã. Mas, depois, quando o olhar dela encontra o meu e levanta a cabecinha de tartaruguinha para olhar em redor, percebo que estou perante outro ser completamente diferente, outra parte de mim, que em breve manifestará a sua individualidade e logo me vai fazer perceber melhor porque é que isto faz todo o sentido.

Maternity fashion

Já percebi por que é que a camisa de dormir da outra (ver alguns posts atrás, sem paciência para fazer hiperligações) era tão farelosa. Aqui ninguém anda de camisa de dormir da Intimissimi. A moda é mesmo a bata do hospital daquelas que deixam o rabo à mostra. Yep. Sempre sexy!

Induzir, sim, mas só com um robe à altura

No último post, quando disse que não ia fazer pressão para acelerar o parto, é claro que estava a mentir. O que eu queria mesmo dizer era que ia (tentar) deixar-me de ansiedades contraproducentes, mas não posso simplesmente depositar o meu destino nas mãos da Virgem Maria, que a gente já sabe como reza o ditado.
Esta quinta-feira, daqui a dois dias portanto, entro nas 40 semanas. A médica tem vindo a anunciar há algumas semanas que, na consulta das 40 (que também calha na quinta), me vai marcar a indução. Ora, se bem me lembro da última vez que me quiseram marcar a indução depois das 40 semanas, não é coisa para ansiar com excitação. 
Tendo calhado na semana antes do Natal, a maternidade parecia o Colombo em vésperas de Natal. Não havia camas suficientes para quem não estivesse em iminente trabalho de parto, posto o que todas as grávidas que esperavam indução se tinham de juntar no átrio dos internamentos a partir das 8 da manhã e esperar até ao meio-dia que lhes dissessem se tinham vaga. Como critério de entrada, contava-se o tempo de gestação das grávidas, sendo que eu, apenas com 40+5 semanas, fiquei sempre em último lugar nos dois dias em que andei nesta rambóia. As manhãs passávamo-las a jogar Angry Birds (note-se: estávamos em 2010) e a tentar adivinhar o tempo de gestação da concorrência só por olhar para o tamanho das barrigas. Por volta do meio-dia, a enfermeira chegava e lia os nomes das contempladas. Às outras aconselhava-as a voltar no dia seguinte. Assim um pouco como acontece em qualquer repartição pública do país. Só que ali tínhamos camas à nossa espera e a promessa de que só sairíamos de lá com um bebé nos braços e seis quilos mais magras.
Na segunda manhã, lembro-me de ver uma das grávidas que tinha entrado na manhã anterior a deambular pelos corredores da maternidade, vestida com uma camisa de dormir encardida e um robe muito pouco sexy, pantufas do chinês e meia branca, o cabelo pastoso e olheiras até ao umbigo, de mão nas costas a segurar as dores e eu, com tão pouca inveja, pensei na figura que faria, eu que nem robe tinha. Vinte e quatro horas depois a rapariga ainda por ali andava, provavelmente cheia de oxitocina artificial e vontade de ir para casa enrolar-se no colo do marido, mas ali presa à espera que o corpo colaborasse.
Mais uma vez me foi negada a entrada, mais uma vez voltei para casa e fui caminhar. Foi nessa caminhada que comecei a sentir umas dores esquisitas e implorei ao meu treinador que me deixasse ir para casa. Horas mais tarde, estava a dar entrada na maternidade pelo meu próprio pé e não me foi negada nenhuma cama. Vinte e três horas depois nascia a Inês. Menos tempo do que a rapariga que tinha visto essa manhã, mas com a benesse de poder ter  ido para casa, tomar um duche na minha banheira e comer uma última refeição de pizza mesmo que, a alturas tantas, já não me soubesse a nada.
Na próxima quinta a médica vai marcar a indução e eu posso dizer-lhe que não quero. Posso, mas não vou. E, portanto, tenho duas opções. Ou me preparo para me pavonear em roupa de dormir nos corredores do hospital ou continuo a fazer a minha parte nisto de tentar induzir o parto naturalmente e pode ser que me safe das esperas por vaga. Muitas caminhadas, muitas escadas, agachamentos - e certas posições de yoga, descobri eu hoje. Já não posso com os glúteos. Mas nem tudo custa, também há a parte do sexo. Yey! Ou de coisas parvas como isto.
No entanto, pelo sim pelo não, não vá o corpo preguiçar mais uns dias, já tenho um robe de fazer inveja a qualquer parturiente. Pois. E é nisto que estamos.

A teoria do parto anunciado

Em vez de andarem para aí com políticas de austeridade, que tal se tratassem de arranjar uma maneira de mudar as leis naturais da gestação e implementar a minha nova teoria: o parto devia estar ao mesmo nível de, por exemplo, um exame de admissão à faculdade, uma operação cirúrgica, uma viagem à volta do mundo ou o casamento. Passo a explicar. Todos estes acontecimentos exigem uma preparação prévia, em alguns casos ao longo de mais do que 9 meses, e todos eles permitem ou sugerem uma espécie de comemoração/ritual de preparação no dia anterior, desde a despedida de solteiro, a jejum ou uma noite bem dormida. Não seria bem mais fácil se no parto fosse igual? Salvo os partos que são marcados, devia haver um sinal infalível que nos indicasse que iríamos entrar inequivocamente em trabalho de parto nas próximas 24 horas e nos permitisse providenciar os arranjos necessários (levar a miúda aos avós, fazer as últimas comprinhas, fazer a depilação ou simplesmente dormir) com a certeza de que não teríamos de repetir tudo daí a uma semana ou mandar vir a miúda dos avós com um sorriso amarelo. Principalmente para a depilação dava jeito não sofrer em duplicado. Já basta... Saía-nos o rolhão mucoso ou qualquer coisa nojenta e gelatinosa do género e já sabíamos, pronto, amanhã é o dia, vamos lá comer uma última feijoada, dizer à família que já podem parar de nos telefonar dia sim dia sim e preparar o último jantar romântico dos próximos seis meses.
Mas não. Ainda ninguém se lembrou disto e, portanto, cá andamos nós à espera que o corpo deixe de brincar às contracções, a caminhar e subir escadas não como se não houvesse amanhã, mas consoante o que o corpo nos permite nesta fase, e a constatar que os nossos bebés gostam mesmo é de ficar cá até à última. Se, quando entrei de baixa às 28 semanas com risco de parto prematuro, alguém me dissesse que ia chegar às 39 semanas e meia, rir-me-ia. Mas como não sabia, nunca esperei chegar a esta fase e acabei por deixar que a ansiedade e a frustração tomassem conta de mim na passada semana, o que foi assim meio contraproducente. Por isso, optei por uma estratégia diferente. A estratégia do que se lixe. Ai estás com contracções? Vai mas é ver uma série. Pode ser que tenha um desfecho mais adequado à situação do que desatar a subir escadas assim que as contracções começam a atingir a regularidade desejada. Já percebi que não adianta. Assim como assim, ela não vai ficar cá dentro para sempre, certo? Então mais vale começar um novo livro ou a quarta temporada do Parenthood e deixar-me de cenas. É quando quiseres, filha. Juro que agora só te pressiono outra vez contra a tua vontade quando me vieres pedir para ir para a catequese. Palavra de mãe.

Querida Alice

Querida Alice,

às 37 semanas acabou-se o perigo. Nasce quando quiseres, mas, já agora, era bom que esperasses que a tua irmã ficasse boa da virose, que não estava nada a apetecer entrar em trabalho de parto enquanto a mais velha anda com febre a vomitar pelos cantos. Fora isso, está mesmo tudo pronto para a tua chegada.
Dica 1: o teu único tio direito está no país até ao fim do mês e acho que ele era capaz de gostar de te conhecer antes de se ir embora.
Dica 2: a tua mãe já não tem posição para quase nada, doem-lhe as costas e praticamente tudo o resto, levanta-se do sofá a gemer e curvada feita velhinha, não há casaco de inverno que consiga abotoar e o teu pai acha que ela passa o tempo a choramingar. Estamos na iminência de uma crise familiar...

Enquanto isso, a mãe agradece as palavras de apoio e esperança que lhe têm chegado e pede só que se refreiem de lhe perguntar de dois em dois dias se já nasceu. É que pode ser bastante enervante, tendo em conta que, a bem ver, ainda faltam 3 semanas para cumprir o tempo. Também dispensa as histórias macabras de como os irmãos mais velhos regrediram com a chegada do mais novo, a ponto de fazerem os pais recordarem a fase como "ai, foi mesmo horrível!", mas entende que certas pessoas tenham uma necessidade incontrolável de contar a sua experiência. Desejem-lhe mas é uma hora pequenina que, muito sinceramente, (Dica 3) para além de uma bebé sem cólicas, é tudo o que ela quer neste momento.

Até breve, minha pequenina.

A tua mãe, com uma barriga que chega ao Arco do Triunfo.

A culpa foi do Trifle

Sábado. Festa de aniversário da sogra com direito a jantar pré-festa e a almoço pós-festa. Uma alarvidade e uma indecência, se considerarmos a quantidade maléfica e a aparência perniciosa das sobremesas. Parece que também houve leitão, sopa de peixe, rissóis, pastéis de bacalhau e salada de polvo, mas foi coisa que não retive na memória. Lembro-me apenas daquele Trifle ma-ra-vi-lho-so, do outro Trifle também quase tão bom, da sobremesa de suspiros estilo Trifle (nota-se um padrão nesta família), da tarte de maçã e da deliciosamente enjoativa mousse de Oreo. Comecei no Trifle, acabei no Trifle, pelo meio ainda fui ao Trifle. Por mim ter-me-ia escondido atrás da tenda das bebidas com a taça de Trifle na mão e a concha da sopa, mas algo me impediu de o fazer. Certo é que há qualquer coisa de indecente na relação de uma grávida terminal (por que é que isto me soa a doença?) e uma sobremesa cheia de doces. E no modo como os outros nos olham, de sorriso aberto, quase a esfregarem-nos a mão nas costas e a darem-nos chapadinhas amigáveis, como quem diz "Isso, aproveita agora... Sua lambona!"

Ora.

Expectante

Tenho andando a refrear um pensamento que não me sai da cabeça. Como aquelas pessoas que preferem arranjar bodes expiatórios na inveja dos outros e no mau olhado da lua para os seus problemas ao invés de analisarem a génese da coisa como gente grande, eu meti na cabeça que a miúda vai nascer com a lua cheia. Espera, a miúda já tem nome! Confesso que, depois de 8 meses a chamar-lhe bebé, criatura, coisa, ela, miúda, aquela a quem serão renegados os direitos de primogénita para todo o sempre, tenho de fazer um esforço para me recordar do nome real... Alice. Alice. Depois, quando me lembro, gosto tanto, que me apetece repeti-lo até à exaustão. A Alice vai nascer esta semana - pensa o diabinho cornudo. Não vai, não, ainda não está no tempo - sussurra o anjinho no canto da orelha. Mas há já uns dias que parece que a sinto já com uma orelha de fora e a barriga que parece que já não está tanto lá em cima e cada vez que dou um passo depois de ter vindo da casa-de-banho parece que a bexiga continua a querer explodir e os sonhos em que me rebentam as águas em pleno espaço público à la filme preenchem as minhas noites tão bem dormidas (reparem na ironia) e depois a lua cheia é dia 17. E eu ainda com tanta coisa por fazer!

Que esta superstição não vos iluda. Não sou quase nada supersticiosa. Não gosto de ver o pão virado para baixo nem de tesouras abertas, mas fora isso não há nenhum medo popular que me tire o sono. Por isso não se explica bem esta minha ideia feita de que, lá porque uma nasceu com a lua (e não com o toque da médica nem as caminhadas infindáveis que dava nesses dias, não, nada disso), não quer dizer que a outra repita a façanha. Acho que é a ansiedade a curiosidade de saber como é ter um bebé recém-nascido e uma miúda de quase 3 anos que, apesar de o pai dela me contradizer neste ponto, gosta de enfiar os dedos nos olhos dos bebés e de os estrafegar com aquela meiguice só dela, a conviver na mesma casa, sendo que temos ainda o problema acrescido de o gato Dexter pensar que o berço para a Alice afinal era a prenda dos donos para ele e eu não saber como lhe dizer, sem ferir susceptibilidades felinas, que daqui a uns dias umas semanas vai ter de saltar de lá para fora.
Estou tão expectante que já não caibo em mim. Literalmente. O ponteiro da balança acabou de chegar a um novo recorde e eu já tenho a mala feita há 3 semanas. 

Reparem no ar tranquilizador do bicho: só para que saibas, tenho um olho meio aberto e as garras em riste prontas para te dar uma valente unhada ao mínimo movimento para me tirares daqui. 

33 semanas ou como estou tão feliz por não ter de sair de casa num dia como o de hoje

Abri um olho, ainda meio aturdida do sonho. Do corredor nem uma fresta de luz. Ainda deve ser de noite, pensei. Mas o facto de o gato já estar sentado na cama a olhar para mim em tom descriminatório indicava que já seriam mais que horas de me levantar e de lhe ir encher o prato. Sozinha em casa, sem marido nem filha, entregara-me ao sono dos justos e descansara o corpo durante tantas horas seguidas que a minha bexiga se deve ter compadecido de mim e só me acordara uma vez durante a noite. Repousada e enramelada, percorri as outras divisões da casa na esperança de encontrar uma boa razão para me vestir, pentear, lavar os dentes e assim, essas coisas que as pessoas que são obrigadas a sair de casa de manhã costumam fazer. Ponderei entre enrolar-me no sofá de taça de cereais na mão a ver a minha série de domingo à tarde preferida do momento ou ligar o computador e ver o que anda o mundo a fazer. Fosse como fosse, tive de acender a luz que isto hoje de luz natural não está famoso e lembrei-me dos tempos em que vivia em Berlim, em que dias como o de hoje eram uma constante. Com uma agravante: o céu nublado, cinzento, carregado parecia que descia e se acercava dos nossos ombros, pressionando, ameaçando, vou-te cair em cima, fazendo-nos perder qualquer vontade de andar na rua ou sequer olhar pela janela. É mais ou menos como me sinto hoje. Acho que foi por ter dormido muito. Ou por já estar um bocadinho farta desta coisa do repouso forçado. Ou por nos últimos dois dias, numa espécie de auto-compensação, me ter enchido de panquecas de banana e coisas fritas porque agora é que começaram os desejos (não sei se me safo sem ir ao MacDonalds comer aquelas batatas fritas do demo...) e estar assim numa espécie de coma de açúcar que só me faz ansiar por mais açúcar. Entretanto, para escrever este post estou a demorar tanto tempo como se estivesse a usar um computador dos anos 80 e, como tenho mais que fazer, vou mesmo ali enroscar-me no sofá, já sem ramelas, e decidir que coisa maravilhosa vou fazer nas 9 horas que se seguem até voltar a estar com outro ser humano. Parece-vos que estou muito aborrecida? É impressão vossa, a sério. Afinal de contas já só faltam 4 semanas para deixar de me preocupar. 4 semanas de pastelice! Yey!