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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Coisas que concluí ao organizar o meu roupeiro para o Outono

- O amarelo, em todas as suas tonalidades, é a minha cor preferida e eu não sabia;

- Estou muito grata por a moda este ano ter decidido, finalmente, contemplar as gangas e as camisas de flanela às riscas - já vou poder usar os meus casacos de ganga sem parecer que parei nos anos 80;

- Pensava que eu era mais preto, quando afinal sou mais flores e bolas e riscas: ali um meio-termo entre retro e foleira;

- Toda a gente nesta casa tem mais roupa do que eu e isso deixa-me feliz;

- Consegui, finalmente, chegar ao ponto em que 90% das peças no roupeiro me fazem sentir bem e/ou me favorecem e/ou são a minha cara;

- 90% da minha roupa continua a ser feita na China ou no Bangladesh e, portanto, ainda há muito a mudar;

- Metade dos meus lenços e golas foi feita por mim, de modos que já é um pequeno passo;

- Consegui organizar a roupa de maneira a ficar com uma gaveta livre só para colocar as minhas jóias os meus acessórios (chamar jóias poderá ser algo exagerado, já que a única coisa de valioso que têm é o espaço que ocupam....), que raramente uso, mas como nunca tinha tido uma gaveta só para acessórios sinto-me assim uma espécie de diva sempre que abro a gaveta (só para ver); mas depois passa;

- Prometi a mim mesma não comprar mais roupa este ano e, se precisar mesmo de comprar, fazer escolhas conscientes, mas isso é coisa que só daqui a três meses se verá. Também só prometi isto depois de ter comprado tudo o que precisava para o Inverno, portanto acho que fiz batota;

- A verdade é que eu nem ligo muito a roupa, os blogues de moda enervam-me e não quero saber que trapos é que os outros têm na wish list, por isso posts deste tipo não se irão repetir.

Como ter pernas para usar calções? Veste uns calções. (*)

Fomos à Lagoa andar de canoa. Fui eu que sugeri, o que me faz desconfiar que ou estou louca ou então estou louca. Tenho um medo de morte de tudo o que envolva água e peixes na água, fundos do mar e desportos aquáticos. Mas a minha mente faz uma ligação estranha entre a recuperação da auto-estima e aceitação do meu corpo tal como ele é com a superação de medos e fobias. Este fim-de-semana pedi ao homem para me levar a dar uma voltinha curta na prancha de SUP (foi mesmo muito curta) e hoje decidi que devíamos repetir. Ele sugeriu a canoa e, contente de vida, fui de biquini e calções cor-de-rosa, porque estava calor e não deve dar jeito andar de canoa com muita roupa.

Chegámos, saímos do carro, falámos com a senhora, fomos até ao barracão das canoas, descobrimos que ia fechar daí a 10 minutos, hoje não dá, talvez amanhã se vierem mais cedo, voltámos para o carro, decidimos o que íamos fazer e não aconteceu mais nada. Isto é, eu saí de casa de calções cor-de-rosa e não aconteceu nenhuma hecatombe, nenhum efeito borboleta, nenhum desastre natural, nenhum acidente, nenhum revirar de pescoços, nada de nada. Eu saí de casa de calções cor-de-rosa e o mundo continuou o seu ritmo, a terra continuou o seu movimento de rotação natural, as horas foram passando, as pessoas continuaram na sua vidinha e eu vim o caminho de volta a pensar que, se soubesse que era assim tão simples, talvez me tivesse atrevido a isto mais cedo.

 

Nas minhas mini-férias andei sempre de calções ou vestido. Tinha umas calças na mala para o frio nocturno, mas exerci o meu direito de não as vestir, porque não tive frio. Estava rodeada de amigos e família e sentia-me bem. Também tenho ido ao café de manhã de saia, porque de manhã é o que me apetece vestir e não penso mais nisso. Não sei durante quanto tempo vou continuar a sentir este à-vontade, talvez até ter o primeiro contratempo, o primeiro olhar mais curioso, o primeiro comentário menos feliz. Nessa altura, vou ter duas opções: ou me encolho e volto ao que era ou ignoro e continuo como estou, na maravilhosa descoberta da libertação que é o poder escolher aquilo que quero vestir em função do calor, do frio ou das vontades. Nunca tinha tido essa opção. Se não eram calças, eram saias compridas. Se não eram saias compridas, eram calças. E não podiam ser calças justas, nem calças curtas, nem saias acima do tornozelo. Basicamente, era uma chatice. Um aborrecimento. Uma prisão. De repente, sentir o fresquinho nas pernas passa a ser uma espécie de nirvana.

 

Se calhar, o tema já vos começa a aborrecer. Mas temos pe(r)na (ahaha, perceberam?) porque só agora começou. Vou continuar a mostrar a minha perna deficiente e o meu pé cheio de cicatrizes ao mundo e quem não gosta, não tem de olhar. Ando muito "fuck society".

É claro que nem sempre é assim tão simples. Já tive uma crise de choro em pleno restaurante porque estava cheio de gente à entrada e já me aborreci com o homem por não ter esperado por mim e me ter feito andar sozinha na rua de saia. Já senti olhares postos em mim e já reprimi malcriações "Nunca viu, não?" que eram muito bem metidas, mas há que ter classe. Hei-de ter recaídas e maus momentos, mas por enquanto a viagem corre bem. "Fuck society", pois então.

 

IMG_8995.JPG

 

(*) O título pode não ser original e até ser um bocado parvo, mas era isso ou ia parecer o subtítulo de um livro do Pedro Chagas Freitas e isso é que não.