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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Questões que se levantam numa ida ao Jardim Zoológico

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Ontem fomos ao Jardim Zoológico, uma visita há muito aguardada. A Alice não sabia o que era isso de ir a um sítio ver os animais das histórias, enfileirados em caixas de fósforos em pleno coração da cidade. Para mim não é um assunto fácil e fico sempre indecisa sobre que mensagem passar às minhas filhas: a de que os animais não pertencem ali, pois foram retirados do seu habitat natural para que os humanos os possam apreciar em segurança, ou a de que os jardins zoológicos têm um papel essencial na preservação dos animais em vias de extinção, proporcionando-lhes proteção dos predadores e dando-lhes as condições necessárias à procriação e conservação das espécies. Isto dá para os dois lados, claro, dependendo da abordagem que se quer ter e, também, considerando a idade da criança. Seria uma perda de tempo explicar isto à Alice, mas o mesmo já não acontece com a Inês. Aos cinco anos e meio a Inês já faz perguntas e consegue entender a maior parte das coisas que lhe explico. Ficou muito interessada no lince ibérico e nas causas que levaram a que seja uma espécie altamente ameaçada. Curiosamente, foi o único animal que não se deixou ver, mas as perguntas surgiam em catadupa. Mas porque é que as pessoas o matam? Eu nunca ia matar um lince. Tu eras capaz, mamã? Isto aos 5 anos tem, de facto, mais piada. Porque dá para conversar e ensinar coisas e inventar mundos de faz de conta. Se esta girafa vivesse no nosso quintal, ia-te dar os bons dias à janela, já viste como é alta? Fico admirada com as coisas que eu sei sobre alguns animais. Acho que ajuda ter traduzido documentários sobre vida animal e um livro sobre animais selvagens. Será que ela tambéma acha que eu sei muito? Espero criar esta imagem antes de chegarmos à parte em que me vai pedir ajuda a matemática... O pior são os golfinhos. A mim incomoda-me muito ver um espectáculo de golfinhos, confesso. Sinto-me triste por eles, uma espécie de revolta contida, uma desilusão comigo mesma por ir contra a decisão tomada há uns anos de nunca mais assistir a espectáculos com animais. Mas depois uma pessoa tem filhos, estes programas começam a fazer parte das opções possíveis, as crianças gostam e pedem e nós, que não somos fundamentalistas, acabamos por aceder, na ilusão de que as crianças precisam de ver com os seus próprios olhos para perceberem o que está mal, para ganhar sensibilidade. Como me aconteceu com as touradas. Tivemos a sorte de, na semana passada, termos ido de barco ver os golfinhos no Sado. E agora ali, no Jardim Zoológico. Acho que ela consegue perceber a diferença entre os que vivem à solta no rio e os que não saem da piscina da Baía dos Golfinhos. Ainda assim, diz que prefere estes porque saltam e fazem malabarismos, são mais fofinhos e ela consegue vê-los melhor. Claro que sim, perfeitamente compreensível. Com o focinho sempre a parecer que estão a sorrir, os golfinhos são de facto amorosos e mais parece que estão felizes. Não insisti mais. É só uma criança. E tudo a seu tempo. Por agora, os golfinhos, a par dos coelhos e dos papagaios, são os seus animais preferidos. E decidi que não a posso massacrar com ideias menos aprazíveis, não nesta idade tão influenciável. A Alice, essa, não se calava com as cobras. No reptilário, esteve no seu elemento. Não sei bem se isto significa alguma coisa...

Semana da filha única

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Aos 11 meses, já a tentar trilhar o seu caminho sozinha.

 

A mais velha foi passar uma semana com os avós ao Algarve e, por isso, esta semana estamos só os três. As pessoas perguntam-me se a Alice sente falta à mana. Tenho dito que ela ainda não percebe bem, que ainda não racionaliza esta coisa das saudades. Mas, à medida que o tempo passa, percebo que ela sabe perfeitamente que está sozinha connosco. E está a adorar! Tem, finalmente, a oportunidade de ser filha única durante uma semana e nós deixamos que ela a aproveite ao máximo. Também a nós nos está a saber bem. Não que não tenhamos saudades da Inês, porque temos, e muitas, e o silêncio que paira na casa é estranhamante incómodo, mas também sabe bem dedicar todo o tempo só a uma, não demorar uma eternidade a adormecê-las e ficar com bastante mais tempo nas mãos. Ter só um filho é muito mais fácil, não me venham com coisas. E temos muita sorte em ter avós que querem ficar com elas, que as levam de férias e lhes dão carinho e gelados todos os dias (!), e nos permitem respirar um pouco e repor energias para o resto do verão.

Assim está muito bem

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Houve uma altura em que pensámos ter três filhos. Foi pouco depois de a bebé Alice nascer, quando eu ainda andava parvinha da occitocina e descobrimos que nos tinha calhado outra bebé pouco chorona e dorminhoca. Mas depois começaram os terrores nocturnos da Inês e, a juntar à dentição da Alice, foi um ano de pura privação de sono (eu sei que há pais que são privados de sono durante mais tempo, mas cada um com os seus problemas, sim?), o que serviu para me desmotivar completamente de ter outro filho.

Além disso, feitas as contas, o nosso carro dá para dois filhos, a nossa casa é ideal para dois filhos, os nossos ordenados não esticam para mais do que dois filhos, as duas voltaram a dormir bem e a vida é perfeita assim com dois filhos.

 

No entanto, a Inês está sempre a pedir-me um irmão. Já lhe expliquei que tomo um comprimido todos os dias para não ter bebés na barriga, mas ela diz que qualquer dia me esconde os comprimidos. Já lhe expliquei que só tenho duas mãos para as agarrar ao atravessar a estrada, uma de cada lado, e que como iria eu agarrar uma terceira criança, mas ela diz que agarra o papá ou que uma delas pode ir às cavalitas. Já lhe expliquei que depois, quando nascesse o bebé, eu ia ter de cuidar do bebé durante muito tempo e não poderia brincar com ela e com a Alice, mas ela disse que posso perfeitamente deitar o bebé a meu lado enquanto brinco com elas. Há uma solução para tudo, portanto. Calculo que também tenha uma solução para as estrias e as mamas descaídas, mas ainda não fui por aí. 

 

Apesar de tudo, apesar de ser a única nesta casa a defender que duas filhas já chegam (felizmente, o corpo é meu e acho que a última palavra ainda é minha), às vezes ponho-me a pensar como seria ter outra. O caos. A desordem. O barulho. Os banhos. As noites. As fotos. As viagens em família. O riso de todas ao mesmo tempo. As sessões de cócegas. A história à noite com as três em cima de mim. E depois encontro blogues de famílias numerosas que me fascinam, como o recentemente descoberto seis mais dois, e dou por mim a vasculhar os arquivos e a lê-lo de uma ponta à outra e a não evitar uma certa inveja da casa cheia e das atividades em família que parecem sempre um acontecimento. 

Vou continuar a ler, este e outros, até perceber como é que estas mães fazem para terem dias mais longos e para conseguirem não andar sempre aos berros pela casa. Quando perceber como se faz e conseguir aplicar isso na minha própria vida, pode ser que consiga ter boas notícias para dar à Inês. Até lá, a vida assim a quatro* está muito bem e recomenda-se.

 

* e mais uns quantos gatos.