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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

A única razão para desejar que Agosto acabe

É o documentário sobre o novo álbum de Nick Cave & The Bad Seeds que vai ser mostrado em todas as salas de cinema do mundo numa única sessão, a 8 de Setembro, às 21:30. O seu 16.º álbum, Skeletton Tree, que poderá ter como pano de fundo a morte do seu filho de 15 anos há um ano, é lançado no dia seguinte. Fico arrepiada só de pensar nisso.

 

[....]

 

Um projecto que acabo de conhecer através desta música lindíssima dos Dear Reader, cujo vídeo foi filmado em Berlim, where else?

 

 

[Agosto está a ser um mês inesperadamente longo a tentar gerir o trabalho com as férias das miúdas e, por isso, há coisas que terão de ficar na vossa imaginação, como o fim-de-semana passado em que fomos acampar e a ida ao cinema com a minha mais velha...]

True Detective

Há séries que me prendem pela música. Esta, não só tem um elenco poderoso, como um argumento muito bem conseguido, como uma banda sonora do catano. Só no primeiro episódio da segunda temporada, temos Leonard Cohen, na música de abertura, Nick Cave and Warren Ellis, no tema final, e esta maravilhosa Lera Lynn, ali a meio como quem não quer a coisa, a arrebatar-me totalmente do sofá com My Least Favorite Life.

Vai certamente estar em loop nos próximos tempos.

 

 

Gomez

A única razão que encontro para só ter descoberto esta música de 1999 agora, em 2015, é porque acredito que, tal como a How it Ends dos Devotchka ou a Fuzzy dos Grant Lee Buffalo, estas músicas estavam-me veladas por um propósito. Pois se as tivesse ouvido há 15 anos atrás, provavelmente não teria a maturidade (musical e não só) suficiente para sentir que foram escritas para mim.

A epifania adiada

Foi a última vez que me apanharam no Rock in Rio. Depois dos Arcade Fire, acho que só Morrissey me conseguiria convencer a voltar a pôr os pés no Parque da Bela Vista, mas como Morrissey não é menino para ir a um RiR, estou mais ou menos safa.
Por todos os motivos e mais algum. Primeiro, porque é demasiado grande. Logo, leva demasiadas pessoas. Para meu espanto, há malta que vai ao RiR para tudo menos para ouvir música. Vai para andar na Roda Gigante ou para andar de bicicleta e ganhar uma peruca ou para estar duas horas na fila para os sofás insufláveis ou, basicamente, para passar muito tempo numa fila qualquer para levar de borla qualquer merda que não serve para nada. 
Em segundo lugar, é a publicidade escarrapachada em todo o lado, menos nas casas de banho (o que, se virmos bem, foi uma grande falha da organização, pois eu fui pelo menos três vezes à casa de banho e ter-me-ia dado jeito conhecer a fundo mais uma seguradora ou operadora móvel). Tudo o que era palco ostentava a publicidade gritante de uma marca, tudo o que era circo de diversões também, as bugigangas para as quais as pessoas gastavam horas nas filas em pé também ostentavam o nome, o logo e a cor de uma marca,  não fosse uma pessoa confundi-las. Eu, que sou pessoa para me enervar com publicidade em excesso, fiquei bastante enervada. Mas aquilo é o Rock in Rio e RiR sem entretenimento para as massas não é RiR. Quem é que quer saber da música para alguma coisa?
Em terceiro lugar, é o vento e o frio. Não vale a pena dissertar muito sobre isto, porque não é culpa de ninguém. Mas que é desagradável, é, e andar vestida num recinto de festival parque de diversões como se estivéssemos em Janeiro não tem grande piada.
Em quarto lugar, o piso do palco principal não é lá muito fixe. Ficaram a doer-me os pés dos altos e baixos do piso como se tivesse andado aos pulos em solo lunar, mas sem a parte da gravidade. E depois é tudo longe. Se fôssemos para a colina da direita não víamos o palco. Se fôssemos para a colina da esquerda não víamos o palco. Se fôssemos lá para a frente não víamos nada, nem palco nem ecrãs gigantes, posto o que optámos por ficar lá atrás, num sítio de passagem que dá sempre aquele calorzinho num concerto.

Tenho a certeza de que o concerto dos Arcade Fire foi muito bom. Espectacular, mesmo. Mas lá à frente e se eu tivesse 1,80m. Porque lá atrás só deu para pensar em como os Arcade Fire se tornaram numa banda mainstream que enche áreas gigantes, alcança os tops de vendas, lança álbuns produzidos pelo James Murphy e videoclips (ainda se diz assim?) realizados por nomes de luxo. Eu, que pretensiosamente me orgulho de não gostar de coisas demasiado mainstream, sinto-me um pouco na corda bamba com estes. Como o meu homem tão bem me definiu um dia, "ela era daquelas que lia o Blitz na faculdade, estás a ver?". Não sabendo bem onde isso me coloca, garanto que nem sempre me traz felicidade.

Foi o terceiro concerto de Arcade Fire que vi. Gostei, como gostei de todos, porque gosto da música, mas um pouco menos. Se tivesse estado lá à frente as minhas palavras seriam outras. Mas como não estive, resta-me chorar mais um pouco por não ter estado em Paredes de Coura em 2005. Diz que aí é que foi.


MUSIC BOX# 20 - I Wanna Be Yours



Não me conseguindo decidir se AM ocupa o primeiro ou o segundo lugar dos melhores álbuns de 2013 (está ali num braço de ferro com Reflektor dos Arcade Fire), fica aqui a deliciosa e embaladora versão acústica de I Wanna Be Yours dos Arctic Monkeys, em jeitos de ó ano volta para trás, que em 2014 ainda não consegui dormir nada de jeito.

MUSIC BOX #19 - Arcade Fire

http://www.youtube.com/v/7E0fVfectDo?autohide=1&version=3&feature=share&autohide=1&attribution_tag=znnfioBkjDhatDCs1EXM0g&showinfo=1&autoplay=1

Lembro-me da primeira vez que ouvi Arcade Fire. Foi em 2004, numa playlist feita por uma amiga. A Neighborhood #2 (Laika) era a segunda música e lembro-me bem de, à primeira audição, ter sido acometida por num misto de assombro e humildade perante uma manifestação divina. Os Arcade Fire chegavam numa altura de algum desencanto musical e vieram oferecer à cena indie uma sonoridade completamente nova e arrojada mas despretensiosa. E, para uma pequena legião, foi amor à primeira audição.

Em 2013 chega-nos Reflektor, o quarto álbum de originais da banda canadiana, desta feita produzido por James Murphy, dos LCD Soundsystem, o que, só por si, faz com que o álbum seja muito mais dançante do que os anteriores, relembrando as batidas dos anos 80 (juro que há duas músicas que me fazem lembrar isto). Na verdade, confesso que a primeira vez que ouvi o single Reflektor fiquei algo desiludida. Com medo, mesmo. Mas a Rádio Radar foi insistindo e eu fui-me habituando. Às tantas, até já a Inês sabia que aquela era a música preferida da mamã e que podíamos/devíamos dançar no carro. E agora, depois de ouvir o álbum todo algumas vezes, tenho a dizer que era mesmo disto que andava a precisar. Eles inovaram, arrojaram e, como me disse um amigo, a via electrónica era o único caminho que poderiam seguir para não correrem o risco de ser "mais do mesmo". Concordo. E acho que este álbum está bom, muito bom. E para aqueles que teimam em ficar presos ao passado e dizer que no tempo dos Talking Heads (a comparação é do Nuno Markl) é que era, eu só tenho uma palavra para vos dizer: calai-vos!

MUSIC BOX #18 - Nick Cave & The Bad Seeds



Tive um namorado que adorava Nick Cave. Na altura Nick Cave, para mim, resumia-se às Murder Ballads que se resumiam aos duetos com a Kyllie Minogue e a PJ Harvey. Tudo o resto era sinónimo de tortura às mãos da PIDE. De cada vez que ele punha Nick Cave a tocar no autorádio era como se me estivessem a arrancar as unhas uma a uma, com um alicate de podar flores e, claro, sem anestesia. Numa certa altura ele lembrou-se que a antiga banda de Nick Cave, os Birthday Party, é que era, e obrigava-me a ouvir uma música horrorosa em que eles (o Nick e o namorado, por imitação) se punham a zurrar, repito, zur-rar como se fosse uma coisa mesmo fixe de se fazer. Mais valia terem-me mergulhado as mãos, ensanguentadas das unhas arrancadas a alicate, num balde cheio de álcool puro, que a dor teria sido menor do que ter de ouvir/assistir àquilo.
Um dia eu e o namorado acabámos. Ou melhor, ele deixou que eu pensasse que tinha sido eu a acabar com ele. Deixou também de ter piada alimentar um ódio só para fazer pirraça. Libertei-me do jugo do burro e estava tão imersa na minha dor que achei que o facto de o Nick ter, daí a poucos meses, lançado um álbum com o título No More Shall We Part cheio de músicas de cortar os pulsos e arrancar o coração só podia significar que entendia o que eu estava a passar. Ele e o Manel Cruz.
E foi aí, nesse álbum, que me (re)apaixonei. A partir daí, foi um amor sem fim, em que valeu tudo menos burros a zurrar (há limites, sim?). Até hoje, dia em que o último álbum de Nick Cave & The Bad Seeds pode, por fim, tocar no meu autorádio iTunes. O homem teima em manter o penteado idiota, mas felizmente já rapou o bigode e a sua voz continua a tocar cá bem no fundo como se só (*suspiro*) cantasse para mim.