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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Guarda-roupa sustentável

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Desde a primeira vez que escrevi aqui sobre a questão de saber o que se compra, isto é, comprar com consciência, saber de onde vem a nossa roupa (extensível a todos os produtos que compramos, desde brinquedos a comida), quem a fez e em que condições, a par do impacte ambiental das nossas escolhas, aconteceram algumas coisas que gostaria de partilhar convosco.

 

1. Escrevi à Lanidor e à Salsa a perguntar sobre as políticas de ética e responsabilidade das marcas. No caso da Salsa, perguntei ainda especificamente porque é que tenho um par de calças Made in Portugal e os restantes Made in Tunisia e Made in India. A Salsa respondeu de imediato e passo a citar:

"(...) a Salsa é uma marca portuguesa, e como tal, todo o valor acrescentado dos nossos produtos é criado em Portugal, desde o estilismo, design, modelação, escolha de matérias primas, confecção, lavagens, acabamentos finais, etc. … Para ter uma ideia, temos uma lavandaria (em Vila Nova de Famalicão) com mais de 150 especialistas que efectuam manualmente os acabamentos dos nossos jeans, mesmo que não tenham sido totalmente confeccionados em Portugal.

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A Salsa é uma marca global – estamos presente em mais de 35 países - e estamos em concorrência directa com as marcas mais conhecidas no mercado dos Jeans. Neste sentido existem algumas situações em que para conseguirmos manter-nos competitivos efectuamos parte do processo de confecção noutros locais. O que podemos assegurar é que a maior parte do valor acrescentado associado à nossa actividade fica associado a Portugal.
No processo de selecção de fornecedores internacionais asseguramo-nos que cumprem os mesmos padrões de qualidade e respeito pelas normas de trabalho que os fornecedores nacionais."
Traduzindo em miúdos: para manter os preços competitivos, recorrem a mão-de-obra mais barata. No entanto, afirmam estar atentos (acham eles) às condições em que isto acontece. Eu acho que estão a tentar deitar-me areia para os olhos, mas agradeço a disponibilidade de resposta e transparência. Irei estar atenta às linhas Made in Portugal.
 

A Lanidor não respondeu. 

 

2. Durante este tempo, não comprei uma única peça de roupa para mim. Têm-me valido as roupas que herdei da minha avó e que tenho vindo a modificar para que me assentem na perfeição e não pareça que ando de bata. De vez em quando, lá faço uma ou outra peça.

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O vestido preto foi mandado apertar (confesso que não sei apertar roupa) e tem sido bastante usado em celebrações. O vestido verde estava todo alinhavadinho e só precisou de ser cosido à máquina. Das roupas da avó, ainda tenho dois vestidos prontos a usar, à espera do Verão, mais três vestidos e quatro saias neste momento na costureira. Com tanta roupa "nova", acho que não vou precisar de comprar trapos novos este Verão.

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Nos anos, recebi uma peça da Zara dos meus cunhados que, uns queridos, me disseram que se viram gregos para encontrar alguma feita que não fosse feita na Índia ou na China. É giro ver como as pessoas se esforçam quando conhecem os nossos valores. Acabaram por me dar uma túnica feita na Turquia, porque foi o mais próximo da Europa que encontraram :) Valeu o esforço, além de que, como não sou fundamentalista, vou certamente usar o que me deram com muito gosto.

 

3. Para as miúdas é mais difícil. Não tenho tido tempo para lhes fazer a roupa que gostaria e o facto de estarem em crescimento faz com que me custe dar o triplo do preço por uma t-shirt que vai ser usada apenas durante 6 meses. Por isso, no outro dia fui com elas à H&M. Optei pela linha Conscious, mas tenho plena consciência que não foi a melhor escolha. Redimi-me com um upcycling de roupas e a compra de três camisas para a Alice feitas à mão por uma senhora que encontrei na Etsy

 

4. Tinha prometido publicar aqui uma lista de marcas de roupa éticas e sustentáveis, mas a verdade é que não sou nenhuma autoridade no assunto e percebi que a minha pesquisa nunca terá fim. Tenho alguns nomes, mas além de não querer fazer grande publicidade, não tenho a certeza de constituirem uma solução definitiva e inequívoca de moda consciente. Isto é, o facto de uma marca se autodenominar de "nacional" não quer dizer que as roupas sejam cá feitas (vejam o caso da Salsa), ou o facto de na etiqueta dizer Made in Portugal não quer dizer que essa roupa tenha sido inteiramente feita em Portugal. Sobre isto, chamo a atenção para o Manual da Origem das Mercadorias, que elucida este ponto na página 11:

"Quando dois ou mais países estão envolvidos na produção de uma mercadoria (é o caso na maioria dos produtos manufacturados), o artigo 24º do CAC estabelece a “última transformação ou operação substancial” como o factor decisivo para a determinação da origem da mercadoria em causa. Assim, nos termos do CAC, um produto obtém a origem do país onde teve lugar a última transformação ou operação de complemento de fabrico substancial, desde que:

- seja economicamente justificada;

- seja efectuada numa empresa equipada para esse efeito;

- resulte na obtenção de um produto novo ou represente uma fase importante do fabrico.

Os dois primeiros requisitos são: a de que a transformação ou operação deve ser a última e deve ser substancial. Estes dois requisitos têm de se verificar em simultâneo, uma operação substancial que não é a última já não cumpre a regra, podendo, igualmente, acontecer que a última operação efectuada não seja substancial."

Isto é tudo muito chato e complicado, especialmente para quem vive sem tempo para grandes reflexões. Por isso, o melhor é cada um, sem fundamentalismos, adoptar estratégias que melhor se adequem a si. Quem não tem jeito para a costura, pode mandar fazer ou transformar roupa, em vez de a deitar fora; vender e comprar roupa em segunda mão ou apoiar aquelas marcas pequenas que se encontram no Facebook e no Etsy. Quando comprarem nas grandes cadeias de roupa, procurem as linhas sustentáveis. As grandes marcas já vão tendo linhas que apostam na redução da quantidade de água usada na confecção da roupa, que usam algodão orgânico, ou até mesmo que apoiam determinadas associações de beneficiência.

Estas são algumas opções a que já recorri ou que considero para mim, mas estou aberta a novas sugestões. O meu guarda-roupa atual não é de todo sustentável, mas para lá caminha. Não sou fundamentalista, nem gosto de andar a pregar e impor os meus valores a outros. Ainda assim, acho que o melhor seria mesmo reduzir o número de roupa que compramos e nisso acho que estou a fazer grandes progressos. O meu não é ainda um roupeiro cápsula, mas sou a pessoa nesta casa que tem menos roupa e que vive bem com isso.

Upcycling de roupa

Volto a falar em roupa. Desta vez não se trata de roupa nova, mas sim de roupa usada, velha, em mau estado, fora de moda. O que fazer com os trapos?

Deitar fora, simplesmente por deitar, está fora de questão por todo o impacte ambiental que isso acarreta.

Durante muito tempo, costumava vender a roupa em bom estado mas que ou já não me servia ou já não queria. Há várias lojas de roupa em segunda mão que compram a nossa roupa, havia uma em Algés e agora há uma em Sesimbra. Não era pelo dinheiro que rendia, porque não rendia nada. Quando eu digo nada, é mesmo nada. Quase nem dá para ir à Zara comprar um trapo novo feito no Bangladesh...

Fazia-o para dar uma segunda oportunidade à roupa que ainda estava boa. Mas a trabalheira que me dava lavar a roupa, passá-la a ferro, ir à loja e voltar lá dali a poucos meses buscar a roupa que não foi vendida, pois a venda é à consignação, e acabar por deitá-la no contentor da Humana, não compensava o esforço. Passei, assim, a deitar a roupa logo no contentor da Humana.

Mas depois de ver naquele documentário de que vos falei no post anterior o que acontece à roupa que doamos (mesmo tratando-se no filme do universo americano, nada me garante que as roupas que eu doo têm o destino que eu acho que deviam ter), decidi mudar de estratégia: reutilizar ou reaproveitar roupa. Em inglês, o termo upcycle designa o processo de converter artigos velhos ou inutilizados em artigos úteis e, por vezes, ainda mais bonitos.

E foi assim que fui repescar duas peças de roupa da Inês, um casaco e umas calças, que tinham nódoas impossíveis de limpar (tentei tudo ou, bom, quase tudo). O casaco ficou com as mangas inutilizadas e as calças tinham uma das pernas com uma grande mancha de qualquer coisa indecifrável - seria cola??

Em vez de os deitar fora, cortei as partes com mancha e transformei-os em peças úteis e quase novas.

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 O antes: manga com uma mistura de nódoa de chocolate e bolor...

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 O depois: um casaco novamente branco.

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No caso deste casaco, nem é preciso saber costurar, pois dá para fazer tudo à mão: cortei as mangas e cosi uma fita de renda em toda a volta. Tão simples e ficou logo com outro ar. 

 

No caso das calças, não há foto do antes, mas o depois ficou bem giro, muito ao estilo que a Inês gosta. Tem brilhantes? Então visto!

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Depois de fazer a bainha, usei a mesma fita de renda do casaco e colei umas pedras brilhantes com uma pistola de cola quente. E ela adorou, mesmo achando que tinha poucos brilhantes...

 

No passado, já aqui dei outras ideias para reaproveitar roupa velha: meias, remendos em crochet, camisas de homem, decotes de t-shirts e dar graça a t-shirts sem graça.