Para lá do ecrã
Já não tenho Facebook no meu telemóvel. Na verdade, o plano até era apagar a minha conta temporariamente durante um mês a ver que tal me sentia. Parece-me que dá para fazer isso: quando se volta a criar conta com o mesmo utilizador, está ainda lá tudo. Ouvi dizer, não sei se é verdade. Mas se não estivesse, também não viria mal ao mundo. Voltaria a pedir amizade apenas a quem interessa e retomaria uma utilização do Facebook mais ponderada, com menos informação pessoal, menos fotos das miúdas, menos necessidade de receber likes. Os mais atentos já poderão ter reparado que, durante o último ano, tenho vindo a reduzir bastante a minha intervenção no mural. Ando-me a fartar aos poucos, acho que é isso.
O problema do Facebook são as pessoas. As pessoas que têm necessidade de afirmação. As pessoas que só conhecem as palavras eu, eu, eu. E as pessoas do meu passado longínquo que teimam em reaparecer na minha vida. Quero lá eu aceitar amizade de pessoas que me infernizaram a vida no 7.º ano? Quero lá eu ser amiga virtual do miúdo que só aceitava não me bater se eu lhe fizesse os trabalhos de casa? As pessoas mudam, eu sei. Eu mudei, eles mudaram. São hoje profissionais por conta própria e pais de filhos, como eu. Ainda assim, tenho o direito de, aos 36 anos, não querer ter na minha vida pessoas que gozavam comigo aos 12.
Assusta-me o facto de o Facebook ter muitas caras. The many-faced God. Tanto nos traz boas como má memórias. Tanto serve para nos fazer sentir felizes, como miseráveis. O Facebook é o que fizeres dele, dizia-me ele. E eu não vou deixar que tome conta de mim.
No meu telemóvel já não tenho Facebook. De coisas que me distraiam já só tenho o Instagram, de que gosto muito (ainda) e cuja conta voltou a ser privada, o Pinterest porque me dá jeito para organizar ideias visuais e o Feedly para ler os meus blogues preferidos. Até isso foi alvo de escrutínio, tendo reorganizado e apagado muitos blogues que só serviam para criar em mim frustração: frustração por não ser tão boa mãe, frustração por não ser tão bonita, frustração por não ser tão organizada, frustração por não ser tão divertida. Restaram só os blogues de amigos ou aqueles blogues que, realmente, me entretêm, por razões que só a mim interessam.
O meu feedly, reorganizado por temas principais.
No meu telemóvel as distracções vão sendo cada vez menos. Como já não tenho o que fazer quando estou sentada à espera de alguma coisa ou naqueles breves momentos de ócio, agora é mais natural que, ao invés de ir buscar o telemóvel para me distrair, vá buscar um livro ou que me contente com a única companhia dos meus pensamentos. Às vezes é preciso saber não fazer nada. Reaprender a não fazer nada. A ter as mãos livres. A perceber que a vida continua para lá da Internet e que não é preciso estarmos sempre a partilhar a nossa vida para sermos mais felizes ou nos sentirmos mais acompanhados.
Quanto a este blogue, ainda não sei. Às vezes tenho vontade de aqui vir, mas parece que as palavras não saem de dentro de mim. Já não escrevo como escrevia. Já não tenho vontade de partilhar tudo como fazia. Além disso, há o problema da exposição. Pedi à equipa que gere os blogues da Sapo para deixar de me pôr constantemente nos Destaques. Enervava-me. Angustiava-me. Colocava em mim uma pressão que eu não queria. Agora está mais calmo, como gosto. Quase ninguém me lê. Mas não me importo. Até perceber o que quero fazer com ele, o blogue fica, por enquanto.
(Curiosamente, ao mesmo tempo que a vida continua para lá do ecrã, comecei a ler muito mais. Já vou no sexto livro desde Abril. Tendo em conta que o ano passado não li sequer seis livros durante o ano inteiro, posso dizer que voltei a adquirir os velhos hábitos de leitura. E gosto. Gosto tanto.)