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Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

Bolas de Berlim... sem creme

Um blogue que não é de culinária (apesar de ter algumas receitas)

As modas não servem para nada

Passei 23 antes só à procura de calças e saias compridas nas lojas, condicionada pelas modas que nem sempre contemplavam os meus gostos/necessidades. Pode parecer difícil de acreditar, mas houve anos em que não se encontrava uma única saia comprida nas lojas que fosse apresentável.

Ontem, entrei numa loja à procura de saias curtas e só havia saias e vestidos compridos. "Agora é o que se usa", disse-me a senhora, de sobrolho franzido por eu não estar a par da estação. Já vem tarde, pensei eu.

As modas só servem para quem as segue.

Por sorte, umas horas antes tinha trazido uns retalhos lindíssimos da Feira dos Tecidos para fazer vestidos de praia para mim. Agora só tenho de arranjar tempo para os fazer e coragem para os vestir.

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Desarranjos

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A minha máquina de costura foi a arranjar pela segunda vez. Da primeira vez foi para ajustar a tensão, cobraram-me 5 euros, mas veio de lá pior do que estava. Voltei, reclamei e disseram-me que, provavelmente, eu é que não sabia enfiar a linha. Comecei-me a rir, não que eu ache que sei meter a linha como ninguém, mas por achar que uma pessoa não desaprende a pôr a linha assim de um dia para o outro. Três anos depois de uso semi-intensivo, a máquina perde tensão e eu é que deixei de saber pôr a linha. Quer-se dizer.

 

Seguiu-se um pequeno bate-boca entre cliente e funcionária, que lá acedeu em voltar a chamar o técnico e averiguar em profundidade de que males padece a máquina. Demasiados dias depois, telefona-me para ir buscar a máquina. Como previsto, a máquina não sofre de nenhum mal, a tensão está ajustada, como se pode ver pelo tecido com pontos que o técnico deixou, a dona é que não sabe meter a linha. Posto isto, dá para cá dez euros, o dobro do que pagaste da última vez, que é para aprenderes a não nos fazeres perder tempo.

 

No entanto, nem tudo está perdido. É que, assim como desaprendi a enfiar a linha de um dia para o outro, também devo ter aprendido a enfiar a linha de um dia para o outro, porque desde que veio do não-arranjo que já fiz uns calções, umas bainhas e estou mesmo quase a acabar a manta. Desta é que é.

Iletrada

Ao sair da Feira do Livro (contexto importante para o final da história), um senhor parou a olhar para a Alice, perguntou se eu era a mãe e se conhecia o poema do Alfredo Marceneiro sobre as crianças. Respondi-lhe, claramente sem pensar nas consequências, que não, mas que teria muito gosto em conhecer.

Começou por recitar,

 

"É tão bom ser pequenino,
Ter pai, ter mãe, ter avós,
E ter esperança no destino
E ter quem goste de nós"

 

e depois, como deve ser uma infâmia não conhecer a poesia do Alfredo Marceneiro, desatou a recitar vários poemas de Almada Negreiros e outros de que já não me lembro, porque entretanto perdi-me no raciocínio, terminando com uma citação de Fidel Castro (juro) sobre a necessidade de ler quando nada mais há a fazer. No fim, pergunta-me: 

"Acendi uma chama? A menina promete-me que vai começar a ler?"

 

E rodopia, triunfante.

Quando o Universo se ri de nós

A minha osteopata, que é uma senhora toda dada às espiritualidades, ofereceu-me ontem a massa do bolinho das Carmelitas, que tenho de tornar em bolo seguindo umas indicações meio suspeitas e dar a três pessoas, caso contrário vou ser pobre, azarada e enferma o resto da vida.

Eu, que não acredito em nada disto, também sou muito boazinha e não fui capaz de recusar tamanhos votos de saúde e alegria. Até me deu a provar uma fatia do bolo, que eu não achei nem bom nem mau, mas que comi com gosto porque calhou à hora de almoço. 

Trouxe o frasquinho para casa a pensar no que ia fazer da minha vida e ainda me ri com o homem cá em casa à conta da senhora (que já não é a primeira vez que me põe em trabalhos destes, mas isso fica para outra altura).

Ironicamente, nessa mesma tarde comecei a ter dores de barriga e náuseas (aliadas às náuseas dos excessos do fim-de-semana), vontade de ir à casa de banho e muita diarreiazinha. A coisa não melhorou à noite. E, neste momento, encontro-me a trabalhar agarrada ao penico e a pensar quando é que aviso o meu chefe que não dá mais, tenho mesmo de me ir deitar, depois de passar ali pela casa-de-banho outra vez.

Não sei se foi de ter feito pouco das estrelas ou se foi um puro acaso, mas isto de ter comido um bolo que é suposto trazer-me sorte e saúde (saúde!) e ter trazido para casa a respectiva massa para dar a outros e ter a seguir ficado com uma grande caganeira, é caso para pensar se não está aqui alguma coisa trocada. Eu faço o raio do bolo, ok? Eu faço!

O importante é não perder a compostura

No fim-de-semana passado fui a um baptizado e levei uns sapatos de salto que, não sendo muito altos, a meio da tarde já me provocavam um desconforto tal que nem conseguia descer escadas sem parecer uma atrasada mental.
Foi assim, nesta tormenta, que levei a Alice ao piso inferior para lhe mudar a fralda. Sem elevador, as escadas de acesso eram bastante íngremes para o meu sapatinho de donzela e, muito pouco habituada a estas andanças, comecei a descer as escadas uma a uma, tentando equilibrar-me com a bebé meio deitada num braço e o fraldário na outra mão. Lá em baixo vinha uma outra mãe, daquelas que fica logo linda e vaporosa depois de sair da maternidade, com um corte de cabelo todo fashion e óculos escuros à diva, a subir as escadas tal qual uma pluma de pavão (já tinha reparado nela e proferido interiormente uns quantos nomes feios).
Ora eu, que gosto pouco de fazer figura de anormal, achei que não lhe iria ficar atrás, mesmo que não me tivesse penteado para o evento, muito menos aquela coisa do vaporoso, e resolvi descer também eu as escadas qual pluma no ar, leve como uma donzela e sem ter de olhar para baixo porque "saltos é o meu nome do meio"!
Esqueci-me foi que levava uma bebé nos braços e que as escadas tinham um corrimão à altura do meu cotovelo. Na verdade, eu não me esqueci. Na verdade, eu suava por dentro a tentar equilibrar-me sem deixar cair nada, fraldas ou bebé, mas tão focada em não deixar cair nada acabei por me esquecer de afastar a cabeça da Alice da parede.
E foi então que o inevitável aconteceu. Ao dar balanço para descer as escadas sem parecer uma anormal  (percebo agora que não me saí bem), dei com a cabeça da Alice no corrimão. 

Esta é a parte em que vocês esperam que eu diga que parei imediatamente de descer, examinei a cabeça da piquena e a acalmei, alheia a tudo o resto. A história acabava aqui com uma boa lição de moral, certo? 
Errado.

Houve aqueles dois segundos de espera entre bater com a cabeça e começar a chorar. Foram dois segundos de profunda esperança. Esperança de que ela não se tivesse aleijado a sério, mas, principalmente, que ninguém tivesse dado por nada, sobretudo a lambisgóia de penteado fashion! Foram dois segundos em que ainda consegui descer mais um degrau como se nada fosse, a tentar equilibrar-me sem deixar cair nada e a cerrar os dentes com aquele sorriso amarelo não-se-passa-nada.

A lambisgóia, provavelmente, não devia estar a acreditar na negligência que acabara de testemunhar, pois ainda parou a meio das escadas, talvez com a intenção de me avisar "Olhe que a sua bebé bateu com a cabeça...". Mas eu, como se nada fosse, achei por bem nem dar pela sua presença e fingir-me surpreendida quando a Alice, por fim, abriu a goela. 
- Oh, bebé, o que foi bebé? Tem a fraldinha cheia, tem?

A lambisgóia seguiu caminho e eu, quando cheguei lá abaixo, ainda encontrei uma amiga à porta da casa-de-banho a quem confidenciei, com o ar mais natural do mundo:

- Nem sabes, acho que acabei de dar com a cabeça da Alice no corrimão...




* Para que conste, está tudo bem com a Alice. E, até a lambisgóia se ir embora com o seu rebento-capa-de-revista, fui muito bem-sucedida em escapar-me da sua vista.

Num balneário perto de si (Parte II)

É que nem de propósito. No primeiro dia de natação com a miúda na piscina nova, a mãe da minha filha, sem reparar que se encontrava num balneário misto com pais e mães e pais e mães a vestir e despir os petizes, estava distraída e atrasada, foi o que foi, não foi de modas e despiu-se em frente à maralha. Podia ter trazido o fato de banho vestido de casa, mas não. Estava nuazinha como veio ao mundo, felizmente com a depilação feita, mas isso pouca relevância teve, quando ouviu a voz de um pai atrás de si a vestir os seus três filhos rapazes. Apercebendo-se da bronca, a mãe da minha filha corou de todas as cores, fixou o olhar na descendente de fato de banho cor-de-rosa e continuou como se nada fosse. Provavelmente ninguém reparou, tal era a balbúrdia com tanta criançada. Assim como assim, foi despir a parte de cima para a casa de banho, não fosse algum pudico mais atento vir dar-lhe um sermão de moralidade. Depois saiu com a miúda para a piscina e rezou para que ninguém lhe tivesse fixado a cara. Ela, pelo menos, não fixou a de ninguém. Feliz é o ignorante.

Os velhos jarretas

Deixei a bebé no espaço infantil proporcionado pelo ginásio e fui à minha vida. A educadora parecera-me pessoa séria e competente, incapaz de fugir com os filhos dos outros e dotada de suficiente experiência e bom-senso para não se alarmar à vista de um ser humano com tão pouco tempo de vida. Na rua, no supermercado, no centro comercial, as pessoas, normalmente as de cabelo grisalho, costumam parar-me e obrigar-me a esperar que acabem de admirar "a encomendinha", ai que coisa tão rica, benza-a Deus, quantos meses tem, e ficam sempre muito espantados quando lhes digo que ainda só tem 6 semanas. Depois olham para mim, com aquele ar aflito, e perguntam se já são semanas suficientes para vir à rua. Aprendi a ignorar. A sorrir amavelmente e seguir o meu caminho. A maior parte das vezes já nem respondo, agradeço as felicidades e faço-me à vida, que é minha e por isso posso fazer-me a ela como bem entender. Imagine-se, então, se uma dessas pessoas me encontrasse no espaço infantil do ginásio, deixando a minha filha entregue a uma estranha, com tão pouco tempo de vida, ele há gente muito irresponsável, francamente.

No balneário deparar-me-ei também com dois velhos, mas o assunto, esse, já será outro, como veremos.

Entrei, como habitualmente, no balneário que dá acesso às piscinas. Estranhei estar tão vazio, tão despojado de sapatos por baixo dos bancos e cacifos sem cadeados. Ainda voltei atrás e confirmei, é este o balneário feminino de acesso à piscina, não o outro, novo das obras, catita como que saído das páginas de uma revista de decoração, que pelo outro não há passagem de acesso, só pode ser este, pelo outro teria de passar em fato de banho pelos homens das obras, valha-me Deus, só pode ser este. Entrei.

Tinha acabado de despir as cuecas e posto a parte de baixo do fato de banho quando oiço passos de chinelo e vozes masculinas que se aproximavam, oriundas da piscina, mas que raio, parece que vão entrar aqui, e apressei-me a vestir o fato de banho todo, já que tirar o soutien daria menos trabalho do que voltar a vestir as calças. Caem-me os discos de amamentação e eu, cada vez mais atrapalhada e descoordenada com a proximidade das vozes, lá me contorço e consigo colocar a última alça do fato de banho no preciso momento em que dois velhos sobranceiros entram no balneário, estacando de seguida perante a minha figura e atrapalhação. Ah..., dizemos todos quase ao mesmo tempo. Os velhos, jarretas como já se veria, de barrigas proeminentes, cabelo ralo colado à cabeça e touca a resvalar já quase só a tapar o cocuruto, apressam-se a dizer-me que estava mal ali, que o balneário feminino agora era o outro, o novo, o catita, que agora aquele servia à piscina e por ali passariam todos, velhos, novos e assim-assim, mas, abre aspas, que eu não me importasse porque estava muito bem, sim senhora, o fato de banho assentava-me bem, e não tinha nada com que me envergonhar, mas o que se sobressaía mais em mim era mesmo o cabelo, não é nada, são os olhos, gritou o outro, já desaparecendo pela porta. Fecha aspas.

E eu fiquei ali, galanteada mas sem me sentir como tal, de touca na mão, a pensar que afinal tinha mesmo de passar em fato de banho pelos homens das obras e ainda ponderei voltar-me a vestir, ir buscar a gaiata e adiar a natação, mas afinal quem já pariu duas filhas também é capaz de passar em fato de banho pelos homens das obras, posto o que meti a touca à vergonha e caguei de alto.

O resto da tarde decorreria sem incidentes de maior.