Todos os dias da nossa vida
Uma breve brecha no trabalho, homem e filha fora, acordo às 6:30 sem sono (!) e decido que a cozinha tem mesmo de ser arrumada. Depois passo para o estendal, para a roupa por pendurar, enquanto isso as minhas papas de aveia ficam prontas e lembro-me, bom, bom, era sentar-me agora ao computador e escrever sobre o fim-de-semana. Depois de me perder na blogosfera, no facebook, que já tanto me vai cansando, ponho o prato das papas de lado e olho para o relógio. Já passa das 8 e ainda nem sequer tomei banho. Mas eu queria mesmo era escrever sobre o fim-de-semana, sobre a ligeira ansiedade que senti antes perante a inevitabilidade de passar dois dias e meio com 6 pessoas, excluindo crianças, com quem, por força das circunstâncias, nunca tive muito contacto, via apenas pontualmente num jantar por ano ou de fugida no café, simpatizando mais com umas do que com outras, mas que o homem já me vinha dizendo que eram pessoas muito importantes na vida dele (afinal, cresceram juntos), como que a dizer: vê lá se te portas bem e não metes o ar carrancudo de quem não quer conversas. Um fim-de-semana inteiro numa casa de campo (com piscina), num monte alentejano bem isolado, logo sem grande escapatória possível (mas com piscina) e eu a pensar, ai que vou apanhar uma grande seca.
Mas não. E quando eu disse que queria falar sobre o fim-de-semana, o que eu queria dizer era mesmo isto: foi um fim-de-semana bem passado, mais que bem passado, assim mesmo fixe e relaxado, com 6 pessoas com quem me fartei de falar (!) e interagir e rir e divertir e dar mergulhos na piscina (ai a piscina), uns anfitriões incansáveis que não nos faziam sentir mal por a comida, sempre muito saborosa, vir para a mesa sem nós darmos por isso, e gostei tanto que até me esqueci de pôr o meu ar carrancudo. Resta dizer que agora não me importo nada de voltar a estar com estas pessoas, ou melhor, se calhar até sou eu que vai insistir para as convidar para um jantarinho na nossa "casa de campo", enquanto fico à espera, sem qualquer ponta de interesse (nada!), que me convidem outra vez para aquela casa de campo (e a piscina). Resta ainda dizer que foi no meu querido Alentejo, a poucos quilómetros da terra onde nasci (com inevitável visita aos parcos familiares que ainda por lá vivem), numa casa de campo cheia de tralha nostálgica tipicamente alentejana, com cavalos e gatos e galinhas e cães e gafanhotos. Ah, e piscina. E foi no sábado ao fim da tarde, sentados no terraço a contemplar o sol a pôr-se na serra de S. Mamede, que perguntei ao meu homem, meio a brincar, mas muito a sério:
- Não querias morar numa casa assim? Não só para as férias, mas assim sempre? Todos os dias da nossa vida?