Um passo de cada vez
Sabem quando saem de casa e têm a sensação de que se esqueceram de alguma coisa importante, as chaves, o telemóvel, a carteira? Procuram na mala, nos bolsos, e encontram tudo aquilo de que precisam, mas, mesmo assim, continuam a sentir que se esqueceram de alguma coisa? Assim estou eu, neste primeiro dia que saí à rua de vestido curto. Mais do que medo ou vergonha dos olhares alheios, é esta sensação constante de que me falta alguma coisa. Um dos meus pesadelos recorrentes, que tenho em períodos de mais stress, é sair à rua de saia. O que para muitas pessoas é uma coisa perfeitamente normal, a mim causava-me suores frios. Por isso, achei bastante normal que hoje, a primeira vez que saí de casa de saia curta desde os 12 anos, me tenha sentido como estando a viver um dos meus pesadelos de sempre. Mas, mesmo assim, fiz o passadiço todo até à praia, fui e voltei do café, fui ao supermercado, fiz conversa com a senhora da caixa e fui almoçar a um restaurante onde abri a porta para uma sala cheia. Se me encolhi? Houve alturas que sim, que fiquei zangada por me ter colocado nessa situação. Mas a verdade é que tenho calor e o vestido sabe bem. Ainda não o tirei e vou mantê-lo até à noite onde vou a outro restaurante com sala cheia. E estou cada vez mais a borrifar-me para o que pessoasque não me conhecem possam pensar de mim. Um passo de cada vez.